1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Abril de 2016:
Queridos amigos,
Há qualquer coisa na atmosfera tomarense que me fala incessantemente em resistência e tratamento a um fausto perdido e, em simultâneo, tem-se um sentimento de abandono e mesmo de capitulação. Ninguém ignora o que aconteceu quando se volatizaram as grandes fábricas e as pequenas indústrias, a cidade foi perdendo estatuto, deixou mesmo de ser sede de Região Militar, ficou com uma imagem de relíquia do passado, uma encruzilhada turística porque há o Convento de Cristo, há cidadania militante que faz cineclubismo, teatro amador, há artífices, atividades culturais múltiplas, mas tudo conjugado teme-se pelo futuro. Na circunstância, limito-me a desvelar peles de grande valor, imagens da cidade que merecem ser olhadas como joias fora do cofre.
Um abraço do
Mário
A pele de Tomar (11)
Beja Santos
É evidente o esforço de recuperação do património arquitetónico, e momentos há em que o nosso olhar é atraído por um relicário, uma prova de amor em pôr muito antigo com sinais de vitalidade. Mas há o choque da imagem, o contraste entre o que se pôs de pé e o que aguarda na agonia expectante ou a boa sorte ou a má morte.
Não é preciso adivinhação, o viajante veio até à Mata dos Sete Montes, à procura de odores primaveris, foi um Abril de águas mil, de céus de chumbo, de ventanias mais sibilantes do que é costume. Mas a natureza tem um relógio implacável, brota a florescência a despeito das intempéries, dos caprichos do tempo. E dá gosto por aqui passear, ouvir o escorripichar da água por regos, vendo crescer os fetos, é como se esta natureza quebrasse as regras aos dias tristes da invernia e anunciasse uma juventude eterna, indomável.
Também não é preciso fazer nenhum esforço de adivinhação, este é o convento da padroeira, quem aqui arriba velozmente em autocarros de excursão até é capaz de pensar que o miolo é compatível com a fachada. Desgraçadamente, não é. A fachada está retocada para não se esbarrondar, tem belas fotografias, e quem se passeia na Ponte Velha nem tem a dimensão da grandeza da ruína. O viajante percorreu o interior e momentos houve em que até pensou que houvera um bombardeamento pesado, ou de canhões ou aviões. O que houve foi desprezo, abandono. Vejam-se estes azulejos e o que foi um belo espaço para mirar a cidade. Nem tudo está irremediavelmente perdido, mas até se pergunta se na arquitetura não é como na saúde: mais vale prevenir do que remediar.
Os anos passam e ganha cada vez mais consistência a afirmação de que olhamos para quase tudo sem ver. Foi preciso uma chuvada arreliadora, ali à saída da Mata dos Sete Montes, para ter corrido para a proteção desta arcada de um belo edifício onde se continuam a dar informações sobre turismo. Segundo consta, um antigo presidente de câmara determinou que se aproveitassem restos de edifícios e casas demolidas. Verdade ou não, quando aqui se entra fica-se com a sensação de um caleidoscópio de estilos, embora, no seu conjunto, haja uma apreciável harmonia. O que acontece é que por causa da chuva arreliadora, o viajante teve tempo para ver a qualidade dos relevos das portas, o belíssimo fecho de abóbada que foi adossado ao teto da arcada e a lanterna, diz-se sem qualquer exagero, é de uma grande harmonia. Bendita chuva arreliadora que permitiu tais delícias para os olhos.
(Continua)
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Nota do editor
Poste anterior de 22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16227: Os nossos seres, saberes e lazeres (160): A pele de Tomar (10) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 29 de junho de 2016
Guime 63/74 - P16246: (De)Caras (43): Domingos Ramos, o "incendiário do leste": (i) João Cá, de seu nome de guerra; (ii) antigo 1º cabo miliciano das NT; (iii) amigo e camarada do Mário Dias (, do 1º CSM, Bissau, 1959): (iv) reconhecido em Bafatá, no bairro da Nema, por volta de maio de 1963, por Alcídio Marinho e Mamadu Baldé; (v) volta a encontrar o amigo e antigo camarada "tuga" nas matas do Corubal, em 1965: e (vi) "tem a felicidade de morrer em combate", em Madina do Boé, em 10/11/1966, ao lado do 'internacionalista' cubano Ulises Estrada...
Guiné > 1964 > PAIGC > Cassacá > I Congresso.do PAIGC, Quinta, 13 de fevereiro de 1964 - Segunda, 17 de fevereiro de 1964, Da esquerda para a direita, Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek durante o I Congresso.do PAIGC, em Cassacá",
Fonte: Portal Casa Comum / Fundação Mário Soares, Consult em 28 de junho de 2016. Disponível em http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05224.000.056 (Reprodução parcial, com a devdia vénia)
1. Dois comentários ao poste P16226 (*):
(i) Alcídio [José Gonçalves] Marinho [, foto à esquerda, da sua página no Facebook, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65); vive no Porto; é membro da nossa Tabanaca Gradne desde 23/9/2011]
Conheci de relance o Domingos Ramos (**) em Bafatá. Assim, a CCaç 412 chegou a Bafatá a 9 de abril de 1963.. Já havia passado cerca de três semanas e um fim de tarde resolvi ir conhecer o bairro da Nema, que ficava a Leste da cidade,pois os outros bairros já os conhecia bem (Rocha e Ponte Nova).
Estava destacado na Companhia um cabo Mamadu Baldé (fula-forro) e pedi-lhe para me acompanhar, tendo ele correspondido ao meu pedido. Seguimos pela Rua, passamos a casa da D.Rosa [,. a libanesa,] , em frente das instalações do Batalhão 238 e entramos na Nema.
Ao virarmos para uma rua transversal vimos um indivíduo alto, que passou por nós, o cabo estremeceu e disse "Domingos Ramos!". Então fixei outra vez o individuo e vi distintamente que era exactamente igual à fotografia, existente na secretaria da Companhia.
Viramos para trás e corremos para apanhá-lo, mas ele já havia desaparecido.
Entretanto, já tinha tirado a pistola Walter que levava presa no cós traseiro das calças por baixo da camisa e esta fora das calças.
Depois viemos a correr à companhia, demos o alarme e foram deslocados diversos pelotões para cercar a Nema e outros para patrulhar a cidade.
Na altura foram capturados uns tipos suspeitos que acabaram por confirmar que o Domingos Ramos havia estado dois dias em Bafatá-Também se veio a saber que ele escapou, atravessando o rio Colufe para oN regulado de Badora, em direcção ao sul.
(ii) Manuel Luís Lomba [ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp.]
Os militares adquirem uma especial sensibilidade face à injustiça. Tive essa experiência própria.
Invoco o então capitão Vasco Lourenço, de boa idade e recomenda-se, a quem as injustiças do general Bethencourt Rodrigues, então ministro do Exército, em 1969, referidas à sua mobilização para a Guiné, do general Spínola, no seu escrutínio da responsabilidade da morte do régulo de Cuntima, terão sido a causa remota da sua transformação no motor com turbo do MFA/25 de Abril/25 de Novembro.
O herói nacional bissau-guineense Domingos Ramos, o Kant de seu nome de guerra [, ou melhor, João Cá], foi aliciado por Amílcar Cabral para o PAIGC, através do seu irmão Luís [Cabral], de quem era colega quando era balconista da Casa Gouveia, tendo sido preterido como funcionário das Finanças, após estágio na respectiva Repartição, talvez por efeito da aludida "porrada" sofrida no CIM [de Bolama].
À data em que o Alcídio o viu junto ao quartel [, ou melhor, no bairro da Nema, em Bafatá], era o comandante da Frente Leste, que havia rendido o comandante Pascoal Costa [ou melhor, Vitorino Costa, 1937-1962] - despromovido, transferido por fracassar e que morrerá no contexto do cerco e assalto à tabanca de S. João (Fulacunda), executado pela CCaç 153 [em julho de 1962]-, sendo suposto a fazer o reconhecimento [do quartel de Bafatá] para o atacar, como a cidade natal do Amílcar e a segunda cidade da Guiné´, objectivo que, a par de Bissau, será deferido no tempo.
Quanto aos seus rendimentos (*)- haverá no mundo algum militar profissional que não perceba ordenado ou soldo? Pela regra do Exército Português, 80 contos corresponderia ao rendimento anual e, como se tratava de "progressistas", talvez incluísse os subsídios de férias e de Natal...
2. Domingos Ramos, o "incendiário do leste", que teve a "felicidade de morrer em combate", ou seja, como "herói":
Como aqui temos dito, Domingos Ramos é um dos nomes míticos da fase inicial da guerrilha do PAIGC que teve a "felicidade de morrer" como herói, no campo de batalha, muito antes de chegar ao poder, portanto em "estado de graça". Sobre ele não pesam as suspeitas, as sombras e as acusações de traição, nepotismo e corrupção que mancham a memória de muitos outros "filhos" de Amílcal Cabral como Osvaldo Vieira ou 'Nino' Veira...O próprio Amílcar Cabnral, o "pai da Pátria", não chegou a conhecer a autora da liberdade... E a maior parte dos seus camaradas de luta já morreram. A última foi a Carmen Pereira, desaparecida aos 79 anos, em 4 do corrente.
Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado, expressão "politicamemnte correta" usada na época pelas autoridades portuguesas, para distinguir os guineenses "civilizados" e "não-civilizados".
Fez, juntamente com o nosso camarada Mário Dias, o 1º curso de sargentos milicianos (CSM), em 1959, em Bissau. Infelizmentye, este curso iria ser um autêntico viveiro de quadros político-militares para o o PAIGC. Não sabemos em que data precisa o Domingos Ramos aderiu a (ou foi aliciado para) a "causa nacionalista". Mas terá sido no ano de 1960...
Fez, juntamente com o nosso camarada Mário Dias, o 1º curso de sargentos milicianos (CSM), em 1959, em Bissau. Infelizmentye, este curso iria ser um autêntico viveiro de quadros político-militares para o o PAIGC. Não sabemos em que data precisa o Domingos Ramos aderiu a (ou foi aliciado para) a "causa nacionalista". Mas terá sido no ano de 1960...
Em 10 de agosto foi o juramento de bandeira. Quatro dias depois, a 14, inicia-se o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM) que houve na Guiné, e para a frequência do qual se exigia já, como escolaridade, pelo menos o 2º ano do liceu, na época chamado 1º ciclo liceal.
Em 29 de novembro de 1959 tanto o Domingos Ramos como Mário Dias são promovidos a primeiros cabos milicianos. Ao que sugere o Mário Dias, o Domingos Ramos ter-se-á alistado nas fileiras do PAIGC, um ano depois, em novembro de 1960, depois de ter sido vítima de uma grave injustiça (***) enquanto 1º cabo miliciano, no CIM de Bolama, por parte de um oficial português cuja identidade está por descobrir (*),
Guiné > Bissau > 1959 > 1ºs cabos milicianos Mário Dias (à direita, na segunda fila, de pé), Domingos Ramos (à esquerda, na priemria fila) e outros...
"De cócoras, a partir da esquerda: Domingos Ramos; um outro cujo nome não me lembro mas que também foi para a guerrilha; e depois o Laurentino Pedro Gomes. De pé: não me recordo o nome mas também foi para a guerrilha; Garcia, filho do administrador Garcia, muito conhecido e estimado em Bissau; mais um de cujo nome não me recordo; eu [, Mário Dias]; e mais outro futuro guerrilheiro."
Foto (e legenda): © Mário Dias (2006). Todos os direitos reservados
Logo em janeiro de 1961, ele é enviado por Amílcar Cabral para a Academia Militar de Nanquim, na China, frequentando o primeiro curso de comandantes do PAIGC, juntamente com João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes [ou Francisco Tê], Constantino Teixeira, Pedro Ramos ( irmão de Domingos), Manuel Saturnino, Rui Djassi, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa (, irmão mais velho de Manuel Saturnino) e Hilário Gomes, (Manuel Saturnino Costa, nascido em 1942, é o único deste grupo que ainda está vivo).
Em 1962, Domingos Ramos organiza, na região de Xitole (que abarcava Bambadinca e Bafatá), as primeiras ações de sabotagem e aliciamento da população [, vd. documento abaixo, do Arquivo Amílcar Cabral].
Em 1964, participa no I Congresso do PAIGC, em Cassacá. na região de Quitafine.
O Domingos haveria de encontrar-se com o seu amigo e ex-camarada de armas, do 1º CSM, o furriel mil comando Mário Dias, pela última vez, em 1965... Em circunstâncias insólitas, em pleno mato,... É uma das histórias mais fantásticas que já lemos sobre a guerra e a grandeza humana que pode haver mesmo numa situação de guerra (****)....
Foi na região do Xitole, na zona entre Amedalai e os rápidos de Cussilinta, perto da estrada Xitole-Aldeia Formosa-Mampatá... Vale a pena reler o segredo que o Mário guardou durante toda uma vida e revelou, em primeira mão, em 2006,. aos seus amigos e camaradas da Tabanca c Gradne, Foi um dos momentos altos da história do nosso blogue. (*****).
Um ano depois, morreu prematuramente em combate, a 10 de novembro de 1966, em Madina do Boé, ao lado do "internacionalista" cubano Ulises Estrada, tendo-se tornado num dos heróis da luta de libertação nacional.
Os seus restos mortais repousam agora no panteão nacional da Guiné-Bissau,m na antiga Fortaleza da Amura,
O Domingos haveria de encontrar-se com o seu amigo e ex-camarada de armas, do 1º CSM, o furriel mil comando Mário Dias, pela última vez, em 1965... Em circunstâncias insólitas, em pleno mato,... É uma das histórias mais fantásticas que já lemos sobre a guerra e a grandeza humana que pode haver mesmo numa situação de guerra (****)....
Foi na região do Xitole, na zona entre Amedalai e os rápidos de Cussilinta, perto da estrada Xitole-Aldeia Formosa-Mampatá... Vale a pena reler o segredo que o Mário guardou durante toda uma vida e revelou, em primeira mão, em 2006,. aos seus amigos e camaradas da Tabanca c Gradne, Foi um dos momentos altos da história do nosso blogue. (*****).
Um ano depois, morreu prematuramente em combate, a 10 de novembro de 1966, em Madina do Boé, ao lado do "internacionalista" cubano Ulises Estrada, tendo-se tornado num dos heróis da luta de libertação nacional.
Os seus restos mortais repousam agora no panteão nacional da Guiné-Bissau,m na antiga Fortaleza da Amura,
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Portal: Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04609.056.033 [Clicar aqui para aceder ao original]
Título: Comunicado - Zona 7, 8 e 11
Assunto: Transcrição de um comunicado em código, assinada por João Cá (Domingos Ramos), sobre as operações de sabotagem nas áreas de Xitole / Bambadinca, bem como sobre a acção militar portuguesa na mesma zona. O comunicado solicita o envio de "camaradas" e de armamento e refere-se à situação das zonas 7, 8 e 11 como um inferno.
Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
(s.d.), "Comunicado - Zona 7, 8 e 11", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40543 (2016-6-28)
Cortesia do portal Casa Comuim / Fundação Mário Soares / Arquivo Amílcar Cabral
[ Este documento manuscrito deve ser de junho de 1962, uma vez que nele se faz referência a um dos nossos T-6 (T6-G #1677) que se despenhou, no rio Corubal, em 29 de maio de 1962, na região de Mina / Fiofioli, roubando a vida a dois camaradas nossos da FAP. o fur mil pil Manuel Soares de Matos, natural de Arrifana, Santa Maria da Feira, e o ten pilav José Cabaço Neves, Embora tenham sido comsideradas mortes "em combate", o T 6 deve ter-se despenhado, não por ter sido atingido por fogo IN, mas em resultado de uma manobra, aquando do reconhecimento de uma piroga suspeita, no rio, perto da tabanca de Mina, na maregm direita do rio Corubal. Na época poucos militantes do PAIGC teriam armas, a não ser gentílicas, e quando muito pistolas para defesa pessoal. A pistola P38 aqui citada seria uma Walther, roubada ao exército português... Segundo o nosso especialista em, armamento, o Luís Dias, "a pistola usada pelas forças de guerrilha do PAIGC era, principalmente, a Tokarev TT-33"]
Domingos Ramos, "herói nacional": ilustração do Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).
Lição nº 23: Um grande patriota... [Destaque para a frase: "Ele gostava muito dos seus soldados e não gostava de maltratar os prisioneiros".]
Portal: Casa Comum
Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 05360.000.084 [Clicar aqui para ampliar a imagem]
Título: Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China
Assunto: Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China, para iniciarem treino militar na Academia Militar de Nanquim: João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Manuel Saturnino, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa e Hilário Gomes.
Data: 1961
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Arquivo Amílcar Cabral > 11. Fotografias > 3.PAIGC > Exterior
Citação: (1961), "Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43247 (2016-6-27)
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Notas do editor:
Comentário de um leitor (guineense):
(...) Chamo me Adilson Adolfo Mendes Ramos... tanto pesquisei sobre histórias da minha família, e este blog é certamente o que mais me ajudou. Obrigado por o ter criado... Grande abraço
6 de agosto de 2013 às 15:40 (...)
(***) Vd. poste de 23 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16123: O segredo de... (28): Domingos Ramos e Mário Dias, dois camaradas e amigos da recruta e do 1º CSM (Bissau, 1959), que irão combater em lados opostos... No último trimestre de 1960, Domingos Ramos terá sido vítima do militarismo e racismo de um oficial português quando foi colocado no CIM de Bolama, como 1º cabo miliciano
(****) Vd. poste de 30 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações
(*****) Último postye da série > 28 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16242: (De)Caras (42): A minha lavadeira Aline... "herdou-me" (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto 1971/73)
(****) Vd. poste de 30 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações
(*****) Último postye da série > 28 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16242: (De)Caras (42): A minha lavadeira Aline... "herdou-me" (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto 1971/73)
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Guiné 63/74 - P16245: Parabéns a você (1102): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil do Pel Mort Ind 912 (Guiné, 1964/66)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 27 de Junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16239: Parabéns a você (1101): Vítor Caseiro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4641 (Guiné, 1973/74)
terça-feira, 28 de junho de 2016
Guiné 63/74 - P16244: Em busca de... (265): Camaradas da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), que ajudaram o meu pai, José Salvador Pinto Aires: cap mil Mansilha, alf mil Gouveia, 1º cabo aux enf Martins (José Carlos Aires, filho)
1. Do nosso leitor José Carlos Aires, filho de José Salvador Pinto Aires, militar da CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganture. 1967/68 [, crachá, abaixo, cortesia do nosso amigo e camarada Carlos Coutinho]
Data: 27 de junho de 2016 às 20:06
Assunto: Localização de ex combatentes - Guiné Zorba 1659
Boa tarde, ilustres Senhores.
Devido à vossa facilidade de localizarem antigos combatentes, recorro aos senhores, com o intuito de vos pedir uma ajuda, caso esteja ao vosso alcance, claro.
Assunto: Localização de ex combatentes - Guiné Zorba 1659
Boa tarde, ilustres Senhores.
Devido à vossa facilidade de localizarem antigos combatentes, recorro aos senhores, com o intuito de vos pedir uma ajuda, caso esteja ao vosso alcance, claro.
O meu pai, José Salvador Pinto Aires, teve um acidente com alguma complexidade, quando esteve em comissão na Guiné, caiu de um veículo de combate.
Teve a ajuda de alguns camaradas, com os quais gostaria de voltar a contactar ou saber o seu paradeiro para poder também mais uma vez agradeçer.
Não sei se me podem ajudar, ou se me indicam, quem possa facultar esta informação.
O meu pai que era atirador especial, ainda recebeu um louvor, por ter salvo o grupo em que seguia, porque ao caírem numa emboscada com fogo cerrado, pegou num morteiro que estava ao seu alcance e conseguiu afastar o inimigo.
Ficam aqui os dados do meu pai, se for preciso mais alguma informação é só dizerem para o meu Mail, o que necessitam mais.
Guiné - Companhia Zorba 1659
José Salvador Pinto Aires
Nº 004749
Teve a ajuda de alguns camaradas, com os quais gostaria de voltar a contactar ou saber o seu paradeiro para poder também mais uma vez agradeçer.
Não sei se me podem ajudar, ou se me indicam, quem possa facultar esta informação.
O meu pai que era atirador especial, ainda recebeu um louvor, por ter salvo o grupo em que seguia, porque ao caírem numa emboscada com fogo cerrado, pegou num morteiro que estava ao seu alcance e conseguiu afastar o inimigo.
Ficam aqui os dados do meu pai, se for preciso mais alguma informação é só dizerem para o meu Mail, o que necessitam mais.
Guiné - Companhia Zorba 1659
José Salvador Pinto Aires
Nº 004749
Obrigado pela vossa atenção e tempo dispensados.
Atenciosamente
Com os melhores cumprimentos
José Carlos Ferreira Correia Pinto Aire
PS - Camaradas que o meu pai pretende localizar:
Manuel Francisco Fernandes de Mansilha - Cmdt Companhia [], foto à direita, no último convívio, em 2015]
Luís Alberto Alves de Gouveia - Cmdt Pelotão
José Augusto Fraga Martins - 1º Cabo Enfermeiro
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 22 de abril de 2016 > Guiné 63/74 -. P16002: Em busca de... (264): Memórias e fotos, nomeadamente, precisam-se dos camaradas de Torre de Moncorvo mortos no TO da Guiné, para homenagem que está a ser organizada pelo Agrupamento Escolar dr. Ramiro Salgado: António Augusto Gil, António dos Santos Mano, Francisco António Cordeiro, Luciano Augusto Paula, Manuel Joaquim Fernandes, Serafim Fernandes dos Santos e Victor Paulo Vasconcelos Lourenço (Armando Gonçalves, professor)
Atenciosamente
Com os melhores cumprimentos
José Carlos Ferreira Correia Pinto Aire
PS - Camaradas que o meu pai pretende localizar:
Manuel Francisco Fernandes de Mansilha - Cmdt Companhia [], foto à direita, no último convívio, em 2015]
Luís Alberto Alves de Gouveia - Cmdt Pelotão
José Augusto Fraga Martins - 1º Cabo Enfermeiro
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de abril de 2016 > Guiné 63/74 -. P16002: Em busca de... (264): Memórias e fotos, nomeadamente, precisam-se dos camaradas de Torre de Moncorvo mortos no TO da Guiné, para homenagem que está a ser organizada pelo Agrupamento Escolar dr. Ramiro Salgado: António Augusto Gil, António dos Santos Mano, Francisco António Cordeiro, Luciano Augusto Paula, Manuel Joaquim Fernandes, Serafim Fernandes dos Santos e Victor Paulo Vasconcelos Lourenço (Armando Gonçalves, professor)
Guiné 63/74 - P16243: (In)citações (94): A Guiné e a sua circunstância: Da efeméride da crise dos “3 Gs” e do livro “Descolonização da Guiné”, da autoria do Coronel Jorge Sales Golias (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma,
1964/66), com data de 21 de Junho de 2016:
A Guiné e a sua circunstância: Da efeméride da crise dos “3 Gs” e do livro “Descolonização da Guiné”, da autoria do Coronel Jorge Sales Golias, um assumido e notável actor da mesma
Quando o nosso país, por manifesta fraqueza da geração de governantes superveniente ao 25 de Abril, desceu da glória legada pela gente de rija têmpera de outras eras, a protectorado dos seus principais credores internacionais e que estes sobrepuseram a sua “troika” à governação nacional, logo a Guiné e a sua circunstância me acudiram à lembrança. Ante o seu anunciado regresso, ora para apalpar nossa frouxidão, lembrei-me de regressar ao passado da Guiné.
Para a realidade de Portugal como o segundo país mais antigo da Europa, terceiro mais antigo do Mundo, todas as suas instituições creditadas de Direito e acreditadas em todas as instâncias internacionais, sem exclusão do regime político e do governo, o acontecimento do 25 de Abril de 1974 foi um dia inicial inteiro e limpo. De facto, nem o regime nem o governo eram sancionados pelo povo e a corporação militar nacional, acusando a sua usura nas guerras de África, destituíra-os, com economia de sangue, de desordens, sem a vacatura nas nossas instâncias supremas e restabelecera de imediato a cadeia de comando das nossas FA.
De acordo com o seu plano B, seria desencadeada uma rebelião em Bissau, em alternativa ao eventual insucesso na Metrópole.
Com o plano A rápida e exemplarmente triunfante em Lisboa e no país, ocorreu um evento paradoxal: por impulso da arma de Transmissões da Guiné, os primeiros militares a tomar conhecimento do sucesso total, o MFA de Bissau executou esse golpe por conta própria, na manhã do dia 26, decapitando o alto comando militar, secando a sua fonte de informações, pela dissolução da PIDE/DGS, à revelia da orientação do MFA central e das ordens do seu supremo comando.
Golpismo em favorecimento do IN, não por contingência, mas por “criação” ideológica, bem patente na narrativa, sem dúvida sincera e honesta, do Coronel Jorge Sales Golias.
O saber de que a quebra do moral e da disciplina são recompensas ao IN foi desde sempre comum ao soldado, profissional ou do contingente geral. E um golpe daquela natureza, em tão sensível teatro de guerra, seguramente que não buscava o contrário. E terá sido a “mãe de todas as batalhas” que levaram à tal “Descolonização exemplar”, para desgraça dos povos colonizados, com os quais Portugal levava 500 anos de compromissos e o empobrecimento de todos, em favorecimento de terceiros, que nunca derramaram lágrima, gota de sangue ou de suor, nem pelas gentes nem por aquelas terras africanas.
E assiste-nos o direito de o escrutinar como uma desobediência grave aos seus supremos superiores hierárquicos, o Presidente da República e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, já então legitimados pela circunstância, pelo seu afã de obstar que a Descolonização da Guiné, e, por extensão, a do restante Ultramar, fosse realizada tendo por sujeito os povos e a sua realidade concreta e não para satisfação das utopias que povoavam a cabeça de minorias e das ideologias em moda, sustentadas em partidos armados, mas estranhas às suas maiorias. E terá constituído como que uma caixa de Pandora que se abriu para a impunidade campeadora, que colou a imagem de “república das bananas” a Portugal e que transubstanciou a Guiné-Bissau em Estado falhado.
São as nações que fazem os exércitos e não os exércitos que fazem nações. E, na realização dessa “Descolonização exemplar”, o MFA de Bissau apenas só teve ouvidos para os tiros e para os que os disparavam.
Em 1974, o exército do PAIGC tinha tantos anos de vida (10) como de errância, indigente de massa territorial, e ousava-o disputar com o Exército Português, com os seus 900 anos de existência e de gloriosas armas, o seu currículo de conquistas territoriais e de gentes, à dimensão das margens do Atlântico e do Índico, que transformara num “lago português”.
A retirada de Guileje enquadra-se numa manobra militar, não imposta mas decidida, da responsabilidade e comando de um oficial superior. Era uma posição dotada de obuses de 14,5 de longo alcance, morteiros de 81, canhões s/r 10,7, viaturas blindadas e abrigos de betão armado, resistentes a granadas perfurantes, predestinada por Amílcar Cabral a campo de batalha, uma espécie de Termópilas para a sua guarnição, no entanto longe de idêntico e funéreo fim. Como as baixas constituem o indicador da densidade das guerras, nesse período a que foi alvo de flagelações, massivas e continuadas, do armamento pesado registou-se uma só vítima mortal – o malogrado furriel de minas e armadilhas. Com o seu sorriso habitual e cínico, Nino Vieira dizia que a sua guerra contra Guileje só rendia baixas fora do quartel – nas ocasiões das colunas de reabastecimento de ida e volta a Gadamael e da ida e volta à água, a 4 km de distância.
A nomadização fora instalada em 1964, objecto de tanta intervenção da Engenharia de Bissau e, ao longo de 9 anos, até 1973, não foi possível abrir poços ou fazer furos mais próximos?
Essa famigerada retirada denuncia uma singularidade, apenas timidamente focada: a população preferiu acompanhar a retirada da tropa e ficar ao seu lado, à libertação oferecida pelo PAIGC, não obstante patrocinada por todo o mundo - ONU, Organização da Unidade Africana, Blocos Ocidental, Comunista e Não-Alinhados...
Seguiu-se a crise de Gadamael, sequela da retirada de Guileje e o seu preço, pago aqui com elevado número de mortos, imposto pelos factores cruciais: a troca da posição principal de resistência, dotada de abrigos específicos, por uma posição secundária, dotada de valas a céu aberto, a sua súbita e imprevista sobrecarga de população e militares e, sobretudo, o esmorecimento moral com sentido a derrota e a contagiante quebra da disciplina. A defesa de Gadamael passou por um período em que apenas foi sustentada pela valentia de cerca de 30 militares, do seu universo de 400. A chegada de uma companhia de pára-quedistas em seu reforço não só foi suficiente para a aguentar, mas também para forçar o IN a recuar para o território estrangeiro; e, se mais alguns chegassem, tirariam partido da “época das chuvas” como aliada e teriam perseguido os atacantes, enquanto estes chafurdavam no terreno, empenhados em safar o armamento pesado investido nas flagelações.
A crise de Guidaje foi a “mãe de todas as batalhas” dessa “Operação Amílcar Cabral” e a maior devoradora de vidas em ambos os campos. O aquartelamento só não terá imitado a retirada de Guileje, aos primeiros momentos do seu brutal ataque, graças a um factor: o desempenho ético e profissional do seu comandante, em posição de comando avançada, Tenente-coronel Correia de Campos que, com o seu exemplo de competência, coragem e valentia, obstou à quebra do moral e da disciplina aos seus comandados. Virá a ser o ignorado comandante no terreno da manobra das forças da Cavalaria de Santarém e de Estremoz que “convenceram” Marcelo Caetano à rendição, no 25 de Abril.
A História regista que a “Descolonização da Guiné”, com o seu efeito sistémico no restante Ultramar, foi obra da irreverência de um grupo de jovens oficiais, uns mais e outros menos contaminados pela ideologia em moda, por haverem voltado o feitiço (MFA) contra o seu feiticeiro (o General Spínola) - facto assumido por um dos seus actores principais, no aludido livro homónimo – que se apressaram em abandonar, em 5 meses, o que os seus antepassados realizaram em 500 anos.
Os tão seculares compromissos assumidos entre portugueses e guineenses não mereceriam diálogos mais “alargados e abrangentes”, que os monólogos impositivos dos camaradas José Araújo, Pedro Pires e até do Juvêncio Gomes?
Não invocando os indicadores estatísticos referidos às situações militar, económica, sociológica e histórica da Guiné, a iminência da nossa derrota no campo de batalha, propalada pelos nossos militares profissionais, desde 1974, configurará menos respeito pelos que deram a vida em combate e algo de menosprezo pelas centenas de milhares de portugueses que se entregaram ao serviço militar do seu país, sem nada pedir e sem perguntar se o país lhe daria alguma coisa. O PAIGC e os seus 4 mil militares seriam tão virtuosos e capazes que correriam a tiro os 45 mil militares/militarizados sob a bandeira de Portugal?
Partilho a indignação dos Pilav`s, esses tão poucos “cavaleiros do céu”, a quem tanto se deveu, em lidar com a atoarda da “perda da superioridade aérea”. Segundo o dicionário, “superioridade é a qualidade do que é superior” e, quanto aos meios aéreos da Guerra da Guiné, os tugas dispunham de aeronaves de pistão e de propulsão, enquanto os turras só disporiam de papagaios de papel…
Na sua reincarnação como idealistas pela autodeterminação e pela democracia dos povos em vias de colonização, o que é que os nossos corifeus do MFA/Descolonização viram de semelhante a esse ideal, na prática dos chamados Movimentos de libertação, para além de partidos-armadas, e não viram nos movimentos e correntes de opinião, que perseguiam os mesmo fins, mas sem derramamento de sangue - porque a civilização e a moral lhes ensinara que os fins não justificam os meios -, que justificasse o apressado abandono de territórios e gentes? Compadrio ideológico ou medo dos seus tiros? Eles eram formados, formatados, municiados, alimentados e patrocinados pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos.
Se consultado, o Zé Povinho saberia discernir: Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és!...
Outorgante expedito da “democracia” aos africanos, o MFA menorizou a nós, aos nossos pais e avós na sua outorga. Pela minha parte, já perdoei ao seu ideólogo programático, o falecido e então Major Melo Antunes, essa discriminação negativa: um ano de espera para uma Assembleia Constituinte, outro ano de espera para uma Assembleia Legislativa, dois anos de espera para eleger um Presidente da República e 8 anos de tutela armada – extinta pela revisão constitucional de 1982.
E porquê? Pela lógica idêntica à dos partidos armados da Guiné, Angola e Moçambique: não o sendo formalmente, o MFA era também um partido-armado…
No seu impetuoso “progressismo”, o MFA desvalorizara flagrantemente a nossa qualidade de segundo pais mais antigo da Europa e de terceiro mais do Mundo, reconhecido de Direito Internacional, desde 1179, fundador da ONU e da NATO, todas as suas instituições reconhecidas pela Comunidade internacional, então regido por uma constituição, das mais avançadas do mundo – reconhecimento do próprio Amílcar Cabral, que o complementava com o lamento de não ser cumprida.
Foi uma bizantinice, em resposta à qual avoco a autocrítica pública do General Spínola:
- “Sinto-me responsável pelo nascimento e criação do MFA e arrependo-me em não ter obviado o problema ao recusar-me a chefiar o golpe de Estado que instituiria da democracia; antes do 25 de Abril. Toda a Calçada da Ajuda (zona dos quartéis) e toda a Cavalaria estavam do meu lado”.
E sendo um ex-combatente amador da Guerra da Guiné, faço uma achega à “profissional”: Não obstante os seus picos, com a crise dos 3 Gs, Canquelifá, Pirada, etc, a gradação da Guerra da Guiné não ultrapassou a fasquia da “baixa densidade”.
Desde 1128 que o Exército Português vinha sendo glorioso em guerras de “média e alta densidade”…
Regressei passado, mas não fico nele. O comunismo e o seu bloco implodiram, mas Portugal preservou-se comunista, pela a partilha da sua Língua com os povos que beneficiaram/sofreram a sua Colonização.
Manual Luís Lomba
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16236: (In)citações (93): O que será a paz? (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381)
A Guiné e a sua circunstância: Da efeméride da crise dos “3 Gs” e do livro “Descolonização da Guiné”, da autoria do Coronel Jorge Sales Golias, um assumido e notável actor da mesma
Quando o nosso país, por manifesta fraqueza da geração de governantes superveniente ao 25 de Abril, desceu da glória legada pela gente de rija têmpera de outras eras, a protectorado dos seus principais credores internacionais e que estes sobrepuseram a sua “troika” à governação nacional, logo a Guiné e a sua circunstância me acudiram à lembrança. Ante o seu anunciado regresso, ora para apalpar nossa frouxidão, lembrei-me de regressar ao passado da Guiné.
Para a realidade de Portugal como o segundo país mais antigo da Europa, terceiro mais antigo do Mundo, todas as suas instituições creditadas de Direito e acreditadas em todas as instâncias internacionais, sem exclusão do regime político e do governo, o acontecimento do 25 de Abril de 1974 foi um dia inicial inteiro e limpo. De facto, nem o regime nem o governo eram sancionados pelo povo e a corporação militar nacional, acusando a sua usura nas guerras de África, destituíra-os, com economia de sangue, de desordens, sem a vacatura nas nossas instâncias supremas e restabelecera de imediato a cadeia de comando das nossas FA.
De acordo com o seu plano B, seria desencadeada uma rebelião em Bissau, em alternativa ao eventual insucesso na Metrópole.
Com o plano A rápida e exemplarmente triunfante em Lisboa e no país, ocorreu um evento paradoxal: por impulso da arma de Transmissões da Guiné, os primeiros militares a tomar conhecimento do sucesso total, o MFA de Bissau executou esse golpe por conta própria, na manhã do dia 26, decapitando o alto comando militar, secando a sua fonte de informações, pela dissolução da PIDE/DGS, à revelia da orientação do MFA central e das ordens do seu supremo comando.
Golpismo em favorecimento do IN, não por contingência, mas por “criação” ideológica, bem patente na narrativa, sem dúvida sincera e honesta, do Coronel Jorge Sales Golias.
O saber de que a quebra do moral e da disciplina são recompensas ao IN foi desde sempre comum ao soldado, profissional ou do contingente geral. E um golpe daquela natureza, em tão sensível teatro de guerra, seguramente que não buscava o contrário. E terá sido a “mãe de todas as batalhas” que levaram à tal “Descolonização exemplar”, para desgraça dos povos colonizados, com os quais Portugal levava 500 anos de compromissos e o empobrecimento de todos, em favorecimento de terceiros, que nunca derramaram lágrima, gota de sangue ou de suor, nem pelas gentes nem por aquelas terras africanas.
E assiste-nos o direito de o escrutinar como uma desobediência grave aos seus supremos superiores hierárquicos, o Presidente da República e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, já então legitimados pela circunstância, pelo seu afã de obstar que a Descolonização da Guiné, e, por extensão, a do restante Ultramar, fosse realizada tendo por sujeito os povos e a sua realidade concreta e não para satisfação das utopias que povoavam a cabeça de minorias e das ideologias em moda, sustentadas em partidos armados, mas estranhas às suas maiorias. E terá constituído como que uma caixa de Pandora que se abriu para a impunidade campeadora, que colou a imagem de “república das bananas” a Portugal e que transubstanciou a Guiné-Bissau em Estado falhado.
São as nações que fazem os exércitos e não os exércitos que fazem nações. E, na realização dessa “Descolonização exemplar”, o MFA de Bissau apenas só teve ouvidos para os tiros e para os que os disparavam.
Em 1974, o exército do PAIGC tinha tantos anos de vida (10) como de errância, indigente de massa territorial, e ousava-o disputar com o Exército Português, com os seus 900 anos de existência e de gloriosas armas, o seu currículo de conquistas territoriais e de gentes, à dimensão das margens do Atlântico e do Índico, que transformara num “lago português”.
A retirada de Guileje enquadra-se numa manobra militar, não imposta mas decidida, da responsabilidade e comando de um oficial superior. Era uma posição dotada de obuses de 14,5 de longo alcance, morteiros de 81, canhões s/r 10,7, viaturas blindadas e abrigos de betão armado, resistentes a granadas perfurantes, predestinada por Amílcar Cabral a campo de batalha, uma espécie de Termópilas para a sua guarnição, no entanto longe de idêntico e funéreo fim. Como as baixas constituem o indicador da densidade das guerras, nesse período a que foi alvo de flagelações, massivas e continuadas, do armamento pesado registou-se uma só vítima mortal – o malogrado furriel de minas e armadilhas. Com o seu sorriso habitual e cínico, Nino Vieira dizia que a sua guerra contra Guileje só rendia baixas fora do quartel – nas ocasiões das colunas de reabastecimento de ida e volta a Gadamael e da ida e volta à água, a 4 km de distância.
A nomadização fora instalada em 1964, objecto de tanta intervenção da Engenharia de Bissau e, ao longo de 9 anos, até 1973, não foi possível abrir poços ou fazer furos mais próximos?
Essa famigerada retirada denuncia uma singularidade, apenas timidamente focada: a população preferiu acompanhar a retirada da tropa e ficar ao seu lado, à libertação oferecida pelo PAIGC, não obstante patrocinada por todo o mundo - ONU, Organização da Unidade Africana, Blocos Ocidental, Comunista e Não-Alinhados...
Seguiu-se a crise de Gadamael, sequela da retirada de Guileje e o seu preço, pago aqui com elevado número de mortos, imposto pelos factores cruciais: a troca da posição principal de resistência, dotada de abrigos específicos, por uma posição secundária, dotada de valas a céu aberto, a sua súbita e imprevista sobrecarga de população e militares e, sobretudo, o esmorecimento moral com sentido a derrota e a contagiante quebra da disciplina. A defesa de Gadamael passou por um período em que apenas foi sustentada pela valentia de cerca de 30 militares, do seu universo de 400. A chegada de uma companhia de pára-quedistas em seu reforço não só foi suficiente para a aguentar, mas também para forçar o IN a recuar para o território estrangeiro; e, se mais alguns chegassem, tirariam partido da “época das chuvas” como aliada e teriam perseguido os atacantes, enquanto estes chafurdavam no terreno, empenhados em safar o armamento pesado investido nas flagelações.
A crise de Guidaje foi a “mãe de todas as batalhas” dessa “Operação Amílcar Cabral” e a maior devoradora de vidas em ambos os campos. O aquartelamento só não terá imitado a retirada de Guileje, aos primeiros momentos do seu brutal ataque, graças a um factor: o desempenho ético e profissional do seu comandante, em posição de comando avançada, Tenente-coronel Correia de Campos que, com o seu exemplo de competência, coragem e valentia, obstou à quebra do moral e da disciplina aos seus comandados. Virá a ser o ignorado comandante no terreno da manobra das forças da Cavalaria de Santarém e de Estremoz que “convenceram” Marcelo Caetano à rendição, no 25 de Abril.
A História regista que a “Descolonização da Guiné”, com o seu efeito sistémico no restante Ultramar, foi obra da irreverência de um grupo de jovens oficiais, uns mais e outros menos contaminados pela ideologia em moda, por haverem voltado o feitiço (MFA) contra o seu feiticeiro (o General Spínola) - facto assumido por um dos seus actores principais, no aludido livro homónimo – que se apressaram em abandonar, em 5 meses, o que os seus antepassados realizaram em 500 anos.
Os tão seculares compromissos assumidos entre portugueses e guineenses não mereceriam diálogos mais “alargados e abrangentes”, que os monólogos impositivos dos camaradas José Araújo, Pedro Pires e até do Juvêncio Gomes?
Não invocando os indicadores estatísticos referidos às situações militar, económica, sociológica e histórica da Guiné, a iminência da nossa derrota no campo de batalha, propalada pelos nossos militares profissionais, desde 1974, configurará menos respeito pelos que deram a vida em combate e algo de menosprezo pelas centenas de milhares de portugueses que se entregaram ao serviço militar do seu país, sem nada pedir e sem perguntar se o país lhe daria alguma coisa. O PAIGC e os seus 4 mil militares seriam tão virtuosos e capazes que correriam a tiro os 45 mil militares/militarizados sob a bandeira de Portugal?
Partilho a indignação dos Pilav`s, esses tão poucos “cavaleiros do céu”, a quem tanto se deveu, em lidar com a atoarda da “perda da superioridade aérea”. Segundo o dicionário, “superioridade é a qualidade do que é superior” e, quanto aos meios aéreos da Guerra da Guiné, os tugas dispunham de aeronaves de pistão e de propulsão, enquanto os turras só disporiam de papagaios de papel…
Na sua reincarnação como idealistas pela autodeterminação e pela democracia dos povos em vias de colonização, o que é que os nossos corifeus do MFA/Descolonização viram de semelhante a esse ideal, na prática dos chamados Movimentos de libertação, para além de partidos-armadas, e não viram nos movimentos e correntes de opinião, que perseguiam os mesmo fins, mas sem derramamento de sangue - porque a civilização e a moral lhes ensinara que os fins não justificam os meios -, que justificasse o apressado abandono de territórios e gentes? Compadrio ideológico ou medo dos seus tiros? Eles eram formados, formatados, municiados, alimentados e patrocinados pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos.
Se consultado, o Zé Povinho saberia discernir: Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és!...
Outorgante expedito da “democracia” aos africanos, o MFA menorizou a nós, aos nossos pais e avós na sua outorga. Pela minha parte, já perdoei ao seu ideólogo programático, o falecido e então Major Melo Antunes, essa discriminação negativa: um ano de espera para uma Assembleia Constituinte, outro ano de espera para uma Assembleia Legislativa, dois anos de espera para eleger um Presidente da República e 8 anos de tutela armada – extinta pela revisão constitucional de 1982.
E porquê? Pela lógica idêntica à dos partidos armados da Guiné, Angola e Moçambique: não o sendo formalmente, o MFA era também um partido-armado…
No seu impetuoso “progressismo”, o MFA desvalorizara flagrantemente a nossa qualidade de segundo pais mais antigo da Europa e de terceiro mais do Mundo, reconhecido de Direito Internacional, desde 1179, fundador da ONU e da NATO, todas as suas instituições reconhecidas pela Comunidade internacional, então regido por uma constituição, das mais avançadas do mundo – reconhecimento do próprio Amílcar Cabral, que o complementava com o lamento de não ser cumprida.
Foi uma bizantinice, em resposta à qual avoco a autocrítica pública do General Spínola:
- “Sinto-me responsável pelo nascimento e criação do MFA e arrependo-me em não ter obviado o problema ao recusar-me a chefiar o golpe de Estado que instituiria da democracia; antes do 25 de Abril. Toda a Calçada da Ajuda (zona dos quartéis) e toda a Cavalaria estavam do meu lado”.
E sendo um ex-combatente amador da Guerra da Guiné, faço uma achega à “profissional”: Não obstante os seus picos, com a crise dos 3 Gs, Canquelifá, Pirada, etc, a gradação da Guerra da Guiné não ultrapassou a fasquia da “baixa densidade”.
Desde 1128 que o Exército Português vinha sendo glorioso em guerras de “média e alta densidade”…
Regressei passado, mas não fico nele. O comunismo e o seu bloco implodiram, mas Portugal preservou-se comunista, pela a partilha da sua Língua com os povos que beneficiaram/sofreram a sua Colonização.
Manual Luís Lomba
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16236: (In)citações (93): O que será a paz? (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381)
Guiné 63/74 - P16242: (De)Caras (43): A minha lavadeira Aline... "herdou-me" (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto 1971/73)
Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Outubro de 1972 > "A minha lavadeira Aline com a Maria Helena, nas traseiras da nossa".
Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
A minha
lavadeira Aline
por Francisco Gamelas
por Francisco Gamelas
A Aline “herdou-me”.
(Para uma
nativa, um nome estranho.
Deveria ser
investigado.)
Eu estava
designado
no
testamento, num desenho
a propósito:
um periquito. Contou-me
o alferes
que fui substituir
que também
tinha sido “herdado”.
A Aline era
uma instituição.
Geração após
geração
houve sempre
o cuidado
de se lhe
atribuir,
desde o seu
tempo de bajuda,
o alferes
das Daimlers.
Bonita
tradição.
E por que
não
se, entre
todas as mulheres,
ganhou o
posto sem ajuda?
Fui eu quem
ganhou
com a “herança” da Aline.
Presença bem
esmerada,
roupa sempre
limpa e asseada,
é a manjaca
que define
o seu
sentir do que “herdou”.
Francisco Gamelas.
ed. de autor, Aveiro, 2016, p. 53
Texto e foto dr Francisco Gamelas , ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73). Engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. Preço de capa 12,50 €.
Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.
________________
Nota do editor:
Último poste da série > b22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16226: (De)caras (41): O cor inf ref José Severiano Teixeira nunca comandou o Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama, pelo que nunca poderia ter sido ele o oficial que puniu, em 1960, o 1º cabo mil Domingos Gomes Ramos, hoje herói nacional da Guiné-Bissau... E mais me disse que nessa época, em Bissau, constava que o Amílcar Cabral oferecia 80 contos (!), para se alistarem no PAIGC, a cada um dos militares guineenses do 1º Curso de Sargentos Milicianos (1959), a que pertenceu o nosso Mário Dias (Joaquim Sabido, advogado, Évora)
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Guiné 63/74 - P16241: Nota de leitura (852): Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Junho de 2016:
Queridos amigos,
Naqueles anos de 1980, a obra do José Brás teria que surpreender pela riquíssima associação criada entre as vindimas que ele conheceu a ponto das suas descrições serem páginas de antologia e as vindimas no capim, como ele relata no final do seu soberbo romance, vindimas de mil cansaços, dos estrondos, das rajadas, nas febres, na água podre, nas centenas de quilómetros de picada, de trilhos, de selva virgem, nas horas e horas a rastejar sobre capim, na lentidão do tempo para o regresso, no frio das tripas nos cercos da estrada de Guileje, de Buba-Tomboli e de Gadembel.
Um acaso feliz permitiu uma nova e naturalmente refrescada leitura de um livro de um confrade nosso que marcou presença, por direito próprio, no que há de melhor na literatura da guerra da Guiné.
Um abraço do
Mário
Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (2)
Beja Santos
Chama-se Filipe Bento, veio do meio rural (concelho de Alenquer), depois o mancebo percorreu vários quartéis, está agora no Sul da Guiné, foi colocado em Cutima, uma localidade Fula. Descreve o pesadelo das colunas, neste caso a primeira que lhe coube na rifa:
“Eram quinze ou dezasseis carros. Velhas GMC’s, Mercedes, Unimogs, duas autometralhadoras Fox, duas Daimlers da grande guerra. Isto tudo fazia mais de um quilómetro de coluna. O pessoal sobre a carga, camuflados novos, caras pálidas, do Inverno de Santa Margarida e do enjoo do porão do Niassa…
E aquele calor sufocante das três da tarde. Os pulmões à rasquinha para separar o oxigénio da humidade.
A caravana pôs-se em marcha lentamente. Nas caras dos meninos podíamos ver o quê?
Sei lá! Como é que eu posso dizer o que é que ia naquelas caras se eu nem sei o que é que ia na minha! O que lhes ia nas caras era de certeza o que lhes ia nas almas. Havia ali muita cagufa!
Até eu, armado agora em cronista, até eu, repito, até eu não tinha muita certeza se a conversa dos outros gajos era a sério ou… Simples gozo, a acagaçar quem acagaçado estava já…”.
Estamos a falar de um livro soberbo, “Vindimas no Capim”, José Brás, 2.ª Edição, Publicações Europa América, 1987.
E Filipe Bento deambula, deriva para outras histórias, um Benedito que queria matar o capitão e feriu gravemente outros; o padeiro em Camba-Jate, que nunca tirava os pés do quartel, e que um dia lhe deu na bolha e acompanhou uma patrulha, achou um engenho, artesanal, já ferrugento. Fechou-se em copas, trouxe-o para o quartel. Segue-se a brutalidade da descrição:
“Depois do banho e da cerveja fresca, lembrou-se daquilo. Foi buscá-lo para o mostrar ao cabo do bar e para explicar ao outro, um pouco assustado e a olhar de lado para a lata velha, que não havia perigo nenhum, aquilo havia passado Invernos à chuva e já tinha pólvora que prestasse.
Tentou desmanchá-la. Começou a batê-la contra o cimento da cantaria. Uma, duas, três, quatro, pum!
O padeiro ficou todo arranhado no peito nu e na barriga. E a mão lá se foi!
No lugar dela havia uma pasta de sangue cheirando a trotil que tresandava. A mão válida agarrou-se ao pulso mutilado e o padeiro iniciou uma corrida doida, aos berros, em direção ao posto de socorros. O cabo do bar observou que tivera sorte em ser canhoto".
É uma escrita pontuada pelo pícaro, pela intensa coloquialidade, pela ênfase no horrível, na sensualidade, na muita insensatez no uso do mando, na vida insípida e num tempo aparentemente parado arame farpado adentro, de igual modo quando passa a limpo as tragédias das emboscadas.
Mas voltemos a Cutima, um hectare cercado de paliçada de cibos e lata de bidão. Um dito aparentemente vulgar introduz um novo ritmo na atmosfera: comia-se bem em Cutima-Fula, mas havia a ganância do vagomestre, as roubalheiras do despenseiro, ali a vida simulava o ritmo velho, com comerciantes a usar caminhos estranhos para vender a mancarra em Bafatá, as máquinas Singer continuavam o velho costume de juntar o tecido ao destino da linha, e depois chegou o Spínola e a guerra mudou de feição, se no passado em Cutima-Fula a guerra só chegava nos estrondos dos ataques a Nhala, a Colibuia e ao Xitole, agora batia à porta de Cutima-Fula, as colunas tornavam-se duríssimas, o sangrento da guerra espalhava-se pelas picadas. E há discursos que fazem avivar a perda da lógica, o contrassenso de todas as guerras, um exemplo:
“A mina antipessoal estava colocada do outro lado do tronco da árvore caída na picada. Era uma velha prática do PAIGC, toda a gente sabia, mas não havia maneira de evitá-las. De resto, não era esta a única forma de semear minas e armadilhas num trilho qualquer. E vocês estão a ver! Como é que se podia perder tempo a procurar minas num percurso de vinte quilómetros de carril feito de capim podre e milhões de folhas secas? A bem dizer, de que cada vez que se assentava um pé era uma angústia, a cada passo a sensação de que era o último”.
Temos agora nova deriva, vamos até Gatoeira, não será muito longe de S. Jerónimo, terra da criança Filipe Bento, mas onde onde ele nasceu foi mesmo nesta Gatoeira, veio ao mundo numa das casas do avô materno, ao lado da adega, só aos oito anos é que mudaram para S. Jerónimo. De novo uma descrição antológica, voltemos às vindimas:
“Fiz toda a limpeza da poda da vinha do meu avô paterno e quando chegaram as curas lá fui eu de novo para o patrão da vindima, agora a carregar o canequinho cheio de sulfato entre a barrica e o pulverizador.
Dias inteiros sem parar.
No princípio, as vinhas ainda têm as golas, as parras pequenas, levam pouco líquido, as boquilhas dos pulverizadores têm os orifícios estreitos, cada carrego do caneco leva um tempo razoável a esgotar-se no pulverizador. Se a barrica da cauda não ficar muito longe do local onde opera o sulfatador, o servente folga um pouco. Depois, começam as cepas a encorpar, as parras a crescer, os buracos de saída das boquilhas a alargar… É um vê-se-te-avias”.
E temos uma confissão, ainda a propósito destas sulfatadas:
“Nos sulfates, não imaginam vocês, o cobre da solução aquosa cola-se à pele, introduz-se nas unhas, penetra nos poros todos… Se passarmos as mãos apenas por água do poço, ou se as deixarmos até sem uma boa lavagem… Ou até ao fim da semana… Ou havia quem fizesse assim até ao fim da temporada toda das curas, três meses, mais ou menos, no final aquilo não são mãos, mas uma porcaria qualquer, nojenta, um polvo negro a agitar os tentáculos.
Eu cá, ao fim do dia, lavava as mãos com mijo! Acabava o trabalho, se tinha vontade de mijar afastava-me um pouco, virava-me a esconder o pirilau numa cepa mais ramalhuda, e vá de escorrer o freguês para as mãos. Aquilo era remédio santo. O cobre desaparecia e as mãos ficavam macias”.
Fala-se de bruxedos, de bebedeiras e navalhadas, de como se soube que havia uma guerra lá para as Áfricas, há queixas na GNR por maus tratos dos patrões, está aqui um retrato finíssimo de um mundo rural que se apagou, décadas atrás. Mas o autor justifica que há amarras entre os escravos brancos e pretos e que essas amarras rebentaram, a um preço sem igual carregámos aos ombros moribundos, conhecemos todas as cores da fome e da sede, do calor e do frio. Mas que o leitor não se iluda, aqui também fomos escravos, embora muitos “Não se sentiram nunca abusados, esmagados, nas madrugadas da praça de homens, valorados em lanços de coroa ou dez tostões, um quarto de pão escuro na mesa da ceia".
Para que conste, há muitas maneiras de falarmos das vindimas no capim. E José Brás foi magistral nas associações que criou entre o mundo rural de Alenquer e aquele devastador Sul da Guiné, onde ele também vindimou.
____________
Nota do editor
Poste anterior de 24 de Junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16233: Nota de leitura (851): Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Naqueles anos de 1980, a obra do José Brás teria que surpreender pela riquíssima associação criada entre as vindimas que ele conheceu a ponto das suas descrições serem páginas de antologia e as vindimas no capim, como ele relata no final do seu soberbo romance, vindimas de mil cansaços, dos estrondos, das rajadas, nas febres, na água podre, nas centenas de quilómetros de picada, de trilhos, de selva virgem, nas horas e horas a rastejar sobre capim, na lentidão do tempo para o regresso, no frio das tripas nos cercos da estrada de Guileje, de Buba-Tomboli e de Gadembel.
Um acaso feliz permitiu uma nova e naturalmente refrescada leitura de um livro de um confrade nosso que marcou presença, por direito próprio, no que há de melhor na literatura da guerra da Guiné.
Um abraço do
Mário
Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (2)
Beja Santos
Chama-se Filipe Bento, veio do meio rural (concelho de Alenquer), depois o mancebo percorreu vários quartéis, está agora no Sul da Guiné, foi colocado em Cutima, uma localidade Fula. Descreve o pesadelo das colunas, neste caso a primeira que lhe coube na rifa:
“Eram quinze ou dezasseis carros. Velhas GMC’s, Mercedes, Unimogs, duas autometralhadoras Fox, duas Daimlers da grande guerra. Isto tudo fazia mais de um quilómetro de coluna. O pessoal sobre a carga, camuflados novos, caras pálidas, do Inverno de Santa Margarida e do enjoo do porão do Niassa…
E aquele calor sufocante das três da tarde. Os pulmões à rasquinha para separar o oxigénio da humidade.
A caravana pôs-se em marcha lentamente. Nas caras dos meninos podíamos ver o quê?
Sei lá! Como é que eu posso dizer o que é que ia naquelas caras se eu nem sei o que é que ia na minha! O que lhes ia nas caras era de certeza o que lhes ia nas almas. Havia ali muita cagufa!
Até eu, armado agora em cronista, até eu, repito, até eu não tinha muita certeza se a conversa dos outros gajos era a sério ou… Simples gozo, a acagaçar quem acagaçado estava já…”.
Estamos a falar de um livro soberbo, “Vindimas no Capim”, José Brás, 2.ª Edição, Publicações Europa América, 1987.
E Filipe Bento deambula, deriva para outras histórias, um Benedito que queria matar o capitão e feriu gravemente outros; o padeiro em Camba-Jate, que nunca tirava os pés do quartel, e que um dia lhe deu na bolha e acompanhou uma patrulha, achou um engenho, artesanal, já ferrugento. Fechou-se em copas, trouxe-o para o quartel. Segue-se a brutalidade da descrição:
“Depois do banho e da cerveja fresca, lembrou-se daquilo. Foi buscá-lo para o mostrar ao cabo do bar e para explicar ao outro, um pouco assustado e a olhar de lado para a lata velha, que não havia perigo nenhum, aquilo havia passado Invernos à chuva e já tinha pólvora que prestasse.
Tentou desmanchá-la. Começou a batê-la contra o cimento da cantaria. Uma, duas, três, quatro, pum!
O padeiro ficou todo arranhado no peito nu e na barriga. E a mão lá se foi!
No lugar dela havia uma pasta de sangue cheirando a trotil que tresandava. A mão válida agarrou-se ao pulso mutilado e o padeiro iniciou uma corrida doida, aos berros, em direção ao posto de socorros. O cabo do bar observou que tivera sorte em ser canhoto".
É uma escrita pontuada pelo pícaro, pela intensa coloquialidade, pela ênfase no horrível, na sensualidade, na muita insensatez no uso do mando, na vida insípida e num tempo aparentemente parado arame farpado adentro, de igual modo quando passa a limpo as tragédias das emboscadas.
Mas voltemos a Cutima, um hectare cercado de paliçada de cibos e lata de bidão. Um dito aparentemente vulgar introduz um novo ritmo na atmosfera: comia-se bem em Cutima-Fula, mas havia a ganância do vagomestre, as roubalheiras do despenseiro, ali a vida simulava o ritmo velho, com comerciantes a usar caminhos estranhos para vender a mancarra em Bafatá, as máquinas Singer continuavam o velho costume de juntar o tecido ao destino da linha, e depois chegou o Spínola e a guerra mudou de feição, se no passado em Cutima-Fula a guerra só chegava nos estrondos dos ataques a Nhala, a Colibuia e ao Xitole, agora batia à porta de Cutima-Fula, as colunas tornavam-se duríssimas, o sangrento da guerra espalhava-se pelas picadas. E há discursos que fazem avivar a perda da lógica, o contrassenso de todas as guerras, um exemplo:
“A mina antipessoal estava colocada do outro lado do tronco da árvore caída na picada. Era uma velha prática do PAIGC, toda a gente sabia, mas não havia maneira de evitá-las. De resto, não era esta a única forma de semear minas e armadilhas num trilho qualquer. E vocês estão a ver! Como é que se podia perder tempo a procurar minas num percurso de vinte quilómetros de carril feito de capim podre e milhões de folhas secas? A bem dizer, de que cada vez que se assentava um pé era uma angústia, a cada passo a sensação de que era o último”.
Temos agora nova deriva, vamos até Gatoeira, não será muito longe de S. Jerónimo, terra da criança Filipe Bento, mas onde onde ele nasceu foi mesmo nesta Gatoeira, veio ao mundo numa das casas do avô materno, ao lado da adega, só aos oito anos é que mudaram para S. Jerónimo. De novo uma descrição antológica, voltemos às vindimas:
“Fiz toda a limpeza da poda da vinha do meu avô paterno e quando chegaram as curas lá fui eu de novo para o patrão da vindima, agora a carregar o canequinho cheio de sulfato entre a barrica e o pulverizador.
Dias inteiros sem parar.
No princípio, as vinhas ainda têm as golas, as parras pequenas, levam pouco líquido, as boquilhas dos pulverizadores têm os orifícios estreitos, cada carrego do caneco leva um tempo razoável a esgotar-se no pulverizador. Se a barrica da cauda não ficar muito longe do local onde opera o sulfatador, o servente folga um pouco. Depois, começam as cepas a encorpar, as parras a crescer, os buracos de saída das boquilhas a alargar… É um vê-se-te-avias”.
E temos uma confissão, ainda a propósito destas sulfatadas:
“Nos sulfates, não imaginam vocês, o cobre da solução aquosa cola-se à pele, introduz-se nas unhas, penetra nos poros todos… Se passarmos as mãos apenas por água do poço, ou se as deixarmos até sem uma boa lavagem… Ou até ao fim da semana… Ou havia quem fizesse assim até ao fim da temporada toda das curas, três meses, mais ou menos, no final aquilo não são mãos, mas uma porcaria qualquer, nojenta, um polvo negro a agitar os tentáculos.
Eu cá, ao fim do dia, lavava as mãos com mijo! Acabava o trabalho, se tinha vontade de mijar afastava-me um pouco, virava-me a esconder o pirilau numa cepa mais ramalhuda, e vá de escorrer o freguês para as mãos. Aquilo era remédio santo. O cobre desaparecia e as mãos ficavam macias”.
Fala-se de bruxedos, de bebedeiras e navalhadas, de como se soube que havia uma guerra lá para as Áfricas, há queixas na GNR por maus tratos dos patrões, está aqui um retrato finíssimo de um mundo rural que se apagou, décadas atrás. Mas o autor justifica que há amarras entre os escravos brancos e pretos e que essas amarras rebentaram, a um preço sem igual carregámos aos ombros moribundos, conhecemos todas as cores da fome e da sede, do calor e do frio. Mas que o leitor não se iluda, aqui também fomos escravos, embora muitos “Não se sentiram nunca abusados, esmagados, nas madrugadas da praça de homens, valorados em lanços de coroa ou dez tostões, um quarto de pão escuro na mesa da ceia".
Para que conste, há muitas maneiras de falarmos das vindimas no capim. E José Brás foi magistral nas associações que criou entre o mundo rural de Alenquer e aquele devastador Sul da Guiné, onde ele também vindimou.
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Nota do editor
Poste anterior de 24 de Junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16233: Nota de leitura (851): Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P16240: Inquérito 'on line' (56): As nossas lavadeiras, quem não as tinha ?... Já responderam 97 camaradas... O prazo de resposta termina amanhã.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio
Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do
Saltinho..
Foto (e legenda): © Luís Graça (2008) / Blogue Luís Graça
& Camaradas. Todos os direitos reservados
INQUÉRITO 'ON LINE': "SIM; NO TO DA GUINÉ, TIVE LAVADEIRA"...
1, Sim, tive lavadeira mas só me lavava a roupa >
85
(87%)
2. Sim, tive lavadeira, lavava a roupa e fazia outras
tarefas domésticas >
0 (0%)
3. Sim, tive lavadeira e também me fazia "favores
sexuais" >
8 (8%)
4. Nunca tive lavadeira >
4 (4%)
Total de respostas > 97 (100%)
Votos apurados (até hoje de manhã): 97
Dias que restam para votar: 1
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Nota do editor:
Guiné 63/74 - P16239: Parabéns a você (1101): Vítor Caseiro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4641 (Guiné, 1973/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16231: Parabéns a você (1100): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Material da CCAÇ 16 (Guiné, 1972/74) e Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 24 de Junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16231: Parabéns a você (1100): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Material da CCAÇ 16 (Guiné, 1972/74) e Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)
domingo, 26 de junho de 2016
Guiné 63/74 - P16238: Blogpoesia (455): "Das cordas dum violino..." e "Nunca eu vacile...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Mais dois belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís
Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos vários que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós recebemos com prazer:
Das cordas dum violino...
Quando a tristeza me visita,
vou junto do mar pedir ajuda,
aquele santuário vasto e majestoso
que tudo afoga,
até os males...
Eficaz seu exorcismo,
me lava a alma
e volto leve,
sem aquelas pesadas penas
que não me deixavam voar.
Ou então, chamo a divina arte
do piano e violino.
Me invade a alma
com seus eflúvios etéreos
e tão fecundos.
Como a luz do sol,
vencendo a noite,
de dia, ilumina o mundo,
a alegria renasce
e minha vida incolor,
de cores se veste...
ouvindo David Hope "Salut d'amour"
amanhecer cinzento
Berlim, 21 de Junho de 2016
9h19m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Nunca eu vacile…
Nunca eu vacile
A fazer o que devo
Na hora precisa
E exacto.
Custa bem caro
A omissão do dever.
O tempo é escasso
Para reaver o perdido.
Às vezes, para sempre.
Reparar se feri.
Repor se tirei.
Aliviar o sofrer
Onde cheguem meus braços.
Calar minha voz
Se já disse o devido.
Ouvir quem chegou
E precisa contar.
Nunca esquecer
O bom que nos deram.
Louvar o Senhor
Por cada dia que nasce…
Ouvindo Sibellius, sinfonia nº 2
Berlim, 26 de Junho de 2016
8h52m
Dia duvidoso de sol
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________
Nota do editor
Último poste da série de 21 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16221: Blogpoesia (454): "Cabeça de parafuso..." e "Atrevimento...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Das cordas dum violino...
Quando a tristeza me visita,
vou junto do mar pedir ajuda,
aquele santuário vasto e majestoso
que tudo afoga,
até os males...
Eficaz seu exorcismo,
me lava a alma
e volto leve,
sem aquelas pesadas penas
que não me deixavam voar.
Ou então, chamo a divina arte
do piano e violino.
Me invade a alma
com seus eflúvios etéreos
e tão fecundos.
Como a luz do sol,
vencendo a noite,
de dia, ilumina o mundo,
a alegria renasce
e minha vida incolor,
de cores se veste...
ouvindo David Hope "Salut d'amour"
amanhecer cinzento
Berlim, 21 de Junho de 2016
9h19m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
************
Nunca eu vacile…
Nunca eu vacile
A fazer o que devo
Na hora precisa
E exacto.
Custa bem caro
A omissão do dever.
O tempo é escasso
Para reaver o perdido.
Às vezes, para sempre.
Reparar se feri.
Repor se tirei.
Aliviar o sofrer
Onde cheguem meus braços.
Calar minha voz
Se já disse o devido.
Ouvir quem chegou
E precisa contar.
Nunca esquecer
O bom que nos deram.
Louvar o Senhor
Por cada dia que nasce…
Ouvindo Sibellius, sinfonia nº 2
Berlim, 26 de Junho de 2016
8h52m
Dia duvidoso de sol
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16221: Blogpoesia (454): "Cabeça de parafuso..." e "Atrevimento...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
sábado, 25 de junho de 2016
Guiné 63/74 - P16237: Convívios (756): XIV Encontro do pessoal da CART 2520, levado a efeito no passado dia 14 de Maio de 2016, em Fátima (José Nascimento)
FÁTIMA 14 DE MAIO DE 2016 - XIV CONVÍVIO DO PESSOAL DA CART 2520
1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 15 de Junho de 2016:
Caro Camarada Carlos Vinhal,
A Cart 2520 que esteve no Xime e Quinhamel, realizou o seu 14.º Convívio no dia 14 de Maio.
O ponto da concentração foi em Fátima e teve início pelas 10 horas.
Seguiu-se o almoço de confraternização que teve lugar no restaurante "Quinta do Casalinho Farto", nas proximidades de Fátima.
Este convívio que juntou um grupo razoável de ex-combatentes e familiares, foi organizado pelos nossos camaradas António Durão e Sousa Lopes com a colaboração do José Cordeiro.
Pela primeira vez compareceu o nosso camarada Mário Andrade, Condutor, que também prestou serviço na messe e alojamento dos nossos oficiais. Este nosso camarada relembrou que era nas caravanas que serviram de aposentos ao Amílcar Cabral quanto este percorreu a Guiné pelos Serviços Florestais, antes do início da guerra, que os oficiais de Cart 2520 dormiam.
Como habitualmente contaram-se muitas histórias, reviveram-se outras tantas emoções.
Foi um dia muito bem passado e que ficará nas nossas memórias, nomeadamente pela foto de grupo que entretanto foi tirada.
E aqui vai um grande abraço para o camarada Carlos Vinhal e para todo o pessoal da Tabanca Grande.
José Nascimento
____________
Nota do editor
Último poste da série de 19 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16215: Convívios (755): AVECO- Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste , nas festas do concelho da Lourinhã (23 a 26 de junho de 2016)... Mas também a banda de música Melech Mechaya (a 25, sábado, 23h30)
Guiné 63/74 - P16236: (In)citações (93): O que será a paz? (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381)
1. Em mensagem do dia 13 de Junho de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada,
1968/70), enviou-nos esta interrogação. Pensemos.
O que será a paz?
por Zé Teixeira
Olá! Eu sou a Joana e tenho cinco anos.
Os meus pais chamam-me Joaninha voa voa.
Eu não sei voar como as joaninhas
de capa vermelha às pintinhas!
Quando for grande, quero aprender a voar.
A minha mãe disse-me para eu vos falar de paz.
Eu perguntei-lhe o que quer dizer paz.
A minha mãe disse-me que paz é
quando uma pessoa se zanga com outra
e depois ficam outra vez bem…
E eu não percebi nada…
Quando a minha avó nos vem visitar, traz-me um chocolate.
Depois, vai-se embora e a minha mãe diz-lhe: “vai em paz”.
Mas elas não estavam zangadas!
A avó até traz sempre um bolo para o lanche!
Quando os meus pais se zangam,
o meu pai grita para a minha mãe “deixa-me em paz”
e fecha-se no gabinete.
Bate a porta com tanta força que até me assusta e eu choro…
E a minha mãe chora comigo.
Não brincam comigo…
Nem falam um para o outro!
O meu pai, quando está a ler a Bola,
não quer brincar comigo. Grita-me:
“Joana, deixa-me em paz!”
Nem me chama joaninha…
Na escolinha,
a minha professora é amiga de todos os meninos e meninas.
Brinca com todos nós.
Conta historinhas…
Ensina-nos coisas bonitas!...
Eu gosto muito dela.
Às vezes, depois do almoço, vai ler uma revista.
Eu vou ter com ela.
A minha professora senta-me no seu colinho e deixa-me ver as figurinhas.
Ela é mesmo fixe!
Quando dois meninos pegam à bulha,
a minha professora vai separá-los.
Primeiro, fica zangada e ralha, ralha mesmo,
mas ela não é má.
Depois limpa-lhes as lágrimas.
Sacode-lhes a roupa…
E diz-lhes: “agora dêm o abraço da paz”!
Os meninos dão um abraço e vão brincar.
E fica tudo bem…
Não percebo mesmo nada…
O que será a paz?
José Teixeira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16190: (In)citações (92): Uma troca trágica (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
O que será a paz?
por Zé Teixeira
Olá! Eu sou a Joana e tenho cinco anos.
Os meus pais chamam-me Joaninha voa voa.
Eu não sei voar como as joaninhas
de capa vermelha às pintinhas!
Quando for grande, quero aprender a voar.
A minha mãe disse-me para eu vos falar de paz.
Eu perguntei-lhe o que quer dizer paz.
A minha mãe disse-me que paz é
quando uma pessoa se zanga com outra
e depois ficam outra vez bem…
E eu não percebi nada…
Quando a minha avó nos vem visitar, traz-me um chocolate.
Depois, vai-se embora e a minha mãe diz-lhe: “vai em paz”.
Mas elas não estavam zangadas!
A avó até traz sempre um bolo para o lanche!
Quando os meus pais se zangam,
o meu pai grita para a minha mãe “deixa-me em paz”
e fecha-se no gabinete.
Bate a porta com tanta força que até me assusta e eu choro…
E a minha mãe chora comigo.
Não brincam comigo…
Nem falam um para o outro!
O meu pai, quando está a ler a Bola,
não quer brincar comigo. Grita-me:
“Joana, deixa-me em paz!”
Nem me chama joaninha…
Na escolinha,
a minha professora é amiga de todos os meninos e meninas.
Brinca com todos nós.
Conta historinhas…
Ensina-nos coisas bonitas!...
Eu gosto muito dela.
Às vezes, depois do almoço, vai ler uma revista.
Eu vou ter com ela.
A minha professora senta-me no seu colinho e deixa-me ver as figurinhas.
Ela é mesmo fixe!
Quando dois meninos pegam à bulha,
a minha professora vai separá-los.
Primeiro, fica zangada e ralha, ralha mesmo,
mas ela não é má.
Depois limpa-lhes as lágrimas.
Sacode-lhes a roupa…
E diz-lhes: “agora dêm o abraço da paz”!
Os meninos dão um abraço e vão brincar.
E fica tudo bem…
Não percebo mesmo nada…
O que será a paz?
José Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16190: (In)citações (92): Uma troca trágica (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
Guiné 63/74 - P16235: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (1): O Parto - ou o nascimento do Adão Doutor em Bigene
1. A Joana, filha do nosso camarada Francisco Baptista, é amiga de Marcos Cruz, filho do ex-Alf Mil Médico Adão Cruz que passou pela CCAÇ 1547/BCAÇ 1887.
Como o Mundo é (muito) pequeno comparado com o nosso Blogue, criou-se aqui uma cadeia que começa nas memórias do Dr. Adão Cruz, que passam para o seu filho Marcos, que as envia à Joana, que as envia ao pai Francisco, que por sua vez as faz chegar ao Blogue.
Esperemos que esta seja a primeira de muitas e belíssimas histórias que só o pessoal de Saúde pode contar, a exemplo de tantas outras que felizmente recheiam o nosso espólio.
MEMÓRIAS DE UM MÉDICO EM CAMPANHA
1 - O Parto
Quando cheguei à Guiné, uma das primeiras preocupações que tive foi começar a conhecer as pessoas e os costumes. Para além de ser uma tarefa aliciante, era a melhor forma de me libertar do medo da guerra e da perspectiva pouco animadora de um regresso encaixotado.
Conhecer um povo, ainda que pequeno, originário de quarenta grupos étnicos, fragmentado e encurralado física e psicologicamente em zonas estanques por imposição de uma violenta guerra de guerrilha, não era fácil e a desvirtuação constituía um perigo possível.
Tentei iniciar a penetração neste novo mundo através da abertura que a minha missão de médico facultava e facilitava.
Com o tempo as janelas foram-se abrindo e hoje revejo com alguma saudade o imenso painel de mil cores, esse mar de sensações e vivências que nenhuma memória pode esquecer.
As mulheres de Bigene, e não só de Bigene, pariam no mesmo local onde defecavam, uma pequena cerca de esteiras nas traseiras da tabanca, longe da vista das pessoas e sobretudo dos homens, como se o acto de parir fosse indigno e imprudente, obrigando ao mais submisso recato.
Como se não bastasse, uns dias antes da data prevista para o parto atulhavam a vagina com bosta de vaca, a qual sofria pútridas fermentações que exalavam o cheiro mais nauseabundo que imaginar se pode.
Os tétanos, quer da mãe quer do recém-nascido, eram extremamente graves e frequentes, soube eu mais tarde.
Neste primeiro contacto fiquei boquiaberto e decidi actuar. Não seria difícil imaginar a resistência destas pessoas a qualquer tipo de reforma dos costumes, se não fosse tido em conta um facto importante.
Ao contrário do que se diz e do que se pensa, os negros, sejam eles homens ou mulheres, são muito espertos, nada ficando a dever aos brancos e superando-os em muitas coisas dentro da mesma escala de cultura.Estou disposto a comprová-lo através de exemplos sérios nascidos da minha experiência.
Só assim foi possível a rápida aceitação e compreensão dos esclarecimentos que fiz na tabanca acerca de infecções e higiene, acerca do papel da mãe, da dignidade do parto e das vantagens de este ser efectuado na nossa enfermaria, ainda que pequena e modesta.
Não demorou muito tempo a aparecer a primeira parturiente.
Era uma linda mulher grávida de termo que não falava nada que se percebesse. Não sou capaz de precisar nesta altura a etnia, mas lembro-me que nem os outros negros entendiam o seu dialecto.
Mas o seu sorriso, apesar das dores, era tão aberto e confiante que não precisávamos de melhor forma de comunicação e entendimento.
Até os olhos do meu enfermeiro Pimentinha brilharam de entusiasmo, entusiasmo que o levou a ler de ponta a ponta a minha sebenta de obstetrícia e a transformar-se em pouco tempo num habilidoso parteiro e carinhoso puericultor.
Nas minhas mãos um pouco trémulas eu segurava o fruto do primeiro parto que assisti na Guiné.
Era um belo rapazinho que, apesar da pobreza alimentar daquela gente, nasceu bem nutrido e de uma cor rosa-marfim.
Os negros nascem brancos, como se sabe. Uma deliciosa ironia anti-racista da natureza.
Embora as nossas dificuldades logísticas e económicas fossem grandes, lá consegui oferecer-lhe o alimento, sob a forma de leite condensado, indispensável aos primeiros meses de aleitamento, pois a mãe parecia ter esgotado todas as reservas das suas entranhas ao gerá-lo de maneira tão eutrófica e tão perfeita.
Umas semanas após o nascimento vem ter comigo o Chefe de Posto e diz-me sorridente:
- "Doutor, vou dar-lhe uma linda notícia que a mim, pessoalmente, me enterneceu. A mãe daquele catraio... aquele primeiro parto que o doutor fez, lembra-se?... A mãe veio registá-lo há dias, oficialmente, com o nome de Adão Doutor".
Comentário do editor:
Utilizando a mesma cadeia que faz chegar a nós as memórias do Dr. Adão Cruz, convidámo-lo a fazer parte da nossa tertúlia, esta família de ex-combatentes da Guiné, onde o pessoal da Saúde tem um lugar especial.
Nem só de operações militares se fez guerra, as operações cirúrgicas foram bem mais importantes pois não distinguiam amigos ou inimigos.
Caro Dr. Adão, ficamos à sua espera, tem a porta sempre aberta.
CV
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Notas do editor
(*) - Vd. poste de 25 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16134: (In)citações (91): "Um gajo não sabe o que foi a guerra colonial", diz Marcos Cruz, filho do Dr. Adão Cruz, um dos médicos do BCAÇ 1887 (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
Como o Mundo é (muito) pequeno comparado com o nosso Blogue, criou-se aqui uma cadeia que começa nas memórias do Dr. Adão Cruz, que passam para o seu filho Marcos, que as envia à Joana, que as envia ao pai Francisco, que por sua vez as faz chegar ao Blogue.
Esperemos que esta seja a primeira de muitas e belíssimas histórias que só o pessoal de Saúde pode contar, a exemplo de tantas outras que felizmente recheiam o nosso espólio.
MEMÓRIAS DE UM MÉDICO EM CAMPANHA
1 - O Parto
Quando cheguei à Guiné, uma das primeiras preocupações que tive foi começar a conhecer as pessoas e os costumes. Para além de ser uma tarefa aliciante, era a melhor forma de me libertar do medo da guerra e da perspectiva pouco animadora de um regresso encaixotado.
Conhecer um povo, ainda que pequeno, originário de quarenta grupos étnicos, fragmentado e encurralado física e psicologicamente em zonas estanques por imposição de uma violenta guerra de guerrilha, não era fácil e a desvirtuação constituía um perigo possível.
Tentei iniciar a penetração neste novo mundo através da abertura que a minha missão de médico facultava e facilitava.
Com o tempo as janelas foram-se abrindo e hoje revejo com alguma saudade o imenso painel de mil cores, esse mar de sensações e vivências que nenhuma memória pode esquecer.
As mulheres de Bigene, e não só de Bigene, pariam no mesmo local onde defecavam, uma pequena cerca de esteiras nas traseiras da tabanca, longe da vista das pessoas e sobretudo dos homens, como se o acto de parir fosse indigno e imprudente, obrigando ao mais submisso recato.
Como se não bastasse, uns dias antes da data prevista para o parto atulhavam a vagina com bosta de vaca, a qual sofria pútridas fermentações que exalavam o cheiro mais nauseabundo que imaginar se pode.
Os tétanos, quer da mãe quer do recém-nascido, eram extremamente graves e frequentes, soube eu mais tarde.
Neste primeiro contacto fiquei boquiaberto e decidi actuar. Não seria difícil imaginar a resistência destas pessoas a qualquer tipo de reforma dos costumes, se não fosse tido em conta um facto importante.
Ao contrário do que se diz e do que se pensa, os negros, sejam eles homens ou mulheres, são muito espertos, nada ficando a dever aos brancos e superando-os em muitas coisas dentro da mesma escala de cultura.Estou disposto a comprová-lo através de exemplos sérios nascidos da minha experiência.
Só assim foi possível a rápida aceitação e compreensão dos esclarecimentos que fiz na tabanca acerca de infecções e higiene, acerca do papel da mãe, da dignidade do parto e das vantagens de este ser efectuado na nossa enfermaria, ainda que pequena e modesta.
Não demorou muito tempo a aparecer a primeira parturiente.
Era uma linda mulher grávida de termo que não falava nada que se percebesse. Não sou capaz de precisar nesta altura a etnia, mas lembro-me que nem os outros negros entendiam o seu dialecto.
Mas o seu sorriso, apesar das dores, era tão aberto e confiante que não precisávamos de melhor forma de comunicação e entendimento.
Até os olhos do meu enfermeiro Pimentinha brilharam de entusiasmo, entusiasmo que o levou a ler de ponta a ponta a minha sebenta de obstetrícia e a transformar-se em pouco tempo num habilidoso parteiro e carinhoso puericultor.
Nas minhas mãos um pouco trémulas eu segurava o fruto do primeiro parto que assisti na Guiné.
Era um belo rapazinho que, apesar da pobreza alimentar daquela gente, nasceu bem nutrido e de uma cor rosa-marfim.
Os negros nascem brancos, como se sabe. Uma deliciosa ironia anti-racista da natureza.
Embora as nossas dificuldades logísticas e económicas fossem grandes, lá consegui oferecer-lhe o alimento, sob a forma de leite condensado, indispensável aos primeiros meses de aleitamento, pois a mãe parecia ter esgotado todas as reservas das suas entranhas ao gerá-lo de maneira tão eutrófica e tão perfeita.
Umas semanas após o nascimento vem ter comigo o Chefe de Posto e diz-me sorridente:
- "Doutor, vou dar-lhe uma linda notícia que a mim, pessoalmente, me enterneceu. A mãe daquele catraio... aquele primeiro parto que o doutor fez, lembra-se?... A mãe veio registá-lo há dias, oficialmente, com o nome de Adão Doutor".
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Comentário do editor:
Utilizando a mesma cadeia que faz chegar a nós as memórias do Dr. Adão Cruz, convidámo-lo a fazer parte da nossa tertúlia, esta família de ex-combatentes da Guiné, onde o pessoal da Saúde tem um lugar especial.
Nem só de operações militares se fez guerra, as operações cirúrgicas foram bem mais importantes pois não distinguiam amigos ou inimigos.
Caro Dr. Adão, ficamos à sua espera, tem a porta sempre aberta.
CV
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Notas do editor
(*) - Vd. poste de 25 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16134: (In)citações (91): "Um gajo não sabe o que foi a guerra colonial", diz Marcos Cruz, filho do Dr. Adão Cruz, um dos médicos do BCAÇ 1887 (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
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