Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 19 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21658: Parabéns a você (1909): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21653: Parabéns a você (1908): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21657: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (31): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
É no compasso de espera de reconstruir Missirá, fazendo algumas obras em Finete, calcorreando até Mato de Cão, mais de três meses de trabalho insano, que aconteceu o episódio de Bucol e se confirmou aquela insólita punição. As idas a Mato de Cão irão perdendo importância a partir de novembro desse ano, curiosamente quem lá vai todos os dias é transferido para Bambadinca, o porto do Xime ficou operacional nesse mesmo mês, o que facilitou o transporte de cargas muito qualquer ponto do Leste. De junho até novembro, como se verá, é o período calamitoso, meterá emboscadas, flagelações curtas e pesadas, um furriel ficará tresloucado, a tropa completamente exausta e a culminar numa mina anticarro, um tanto devastadora.
Annette Cantinaux vive empolgada a juntar todos estes papéis e a rescrevê-los, é um trabalho de Penélope, salvo seja, ela não deita fora o que escreveu na véspera, aprimora, ordena e comenta em voz alta, mas também por mail e ao telefone, tudo são fios condutores que a levam até ao seu amado.
E assim estamos, entre suspiros, dentro em breve Paulo Guilherme chega a Bruxelas, arriba à Rua do Eclipse e desta vez haverá passeio pela Flandres, andarão de bicicleta na região de Lier, a campina que rodeia Antuérpia, são dois cinquentões felizes, sempre a fazer juras de amor.
Um abraço do
Mário
Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (31): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Mon adoré Paulo, que feliz me sinto com as notícias que me deste ontem, ter-te-ei comigo três dias em fevereiro, hoje mandas-me as datas, se acaso coincidirem com dias de trabalho tudo farei para encontrar um colega que me substitua. Diverti-me imenso com a descrição que me fizeste dos teus alunos, futuros jovens engenheiros, descendentes de antigos proletários, os aspetos educativos em carência, o modo como conversaste amenamente com eles, pedindo às meninas para não retirarem cera dos ouvidos em público e aos jovens para não terem as mãos nos bolsos, tu observaste que eles compreenderam muito bem a finalidade das observações. Chegou anteontem um maço de documentos diversos, uma mistura de papéis da época e observações tuas bem recentes. Há uma descrição da tua ida a Bambadinca, foste cedo para tratar de problemas de abastecimento e logo a seguir ao almoço foste ouvido por um major que queria aprofundar as razões pelas quais propunhas quatro condecorações para militares teus, impressionou-me muito, tu estavas feliz quando cambaste o rio e chegaste à povoação, a conversa tiveste com o costureiro Malam Mané a quem entregas a tua roupa para reparar, a divisão de tarefas tu estabeleces com os homens das transmissões, dos mantimentos, do material de engenharia, da manutenção das viaturas, a ida à secretaria por causa de assuntos de justiça militar, o cumprimentar toda a gente, nunca esquecendo o posto de enfermagem onde tu pilhas frascos de vitaminas e preparas próxima visita da população de Finete. E há depois as respostas que deste a um major, como não ficar chocada com aquela descrição do pacto de sangue, a distribuição dos últimos cartuchos, ninguém seria apanhado vivo, o bom acaso de quando escasseavam todas as munições os rebeldes terem retirado deixando Missirá transformada numa tocha.
O outro documento que me mandas é inacreditável, citas um aerograma de um oficial da Marinha, tu dizes que é o Comandante Teixeira da Mota, como é que é possível naquela atmosfera de ferro e fogo esse senhor, ao que tu dizes ter sido um dos maiores historiadores da Guiné, te ter escrito o seguinte:
“Acabei há dias de escrever um longo artigo contendo as aventuras de um príncipe Fula que, vencido em guerra civil aí por volta de 1600, foi parar a Mazagão e daí a Lisboa e Madrid a pedir auxílio militar, acabando por se baptizar. Juntei elementos que me permitirão reconstituir a sequência e duração dos reinados dos imperadores Fulas do Futa-Toro, a partir do lendário conquistador Tenguela e seu filho Coli (ambos continuam na boca dos Fulas de hoje), desde 1465 e 1591. Vou ver se publico este estudo em Dacar. A propósito, para completar uma nota desse artigo, pedia-lhe para averiguar junto da gente de Missirá o que sabem acerca de uma tabanca aí perto, além-Gambiel, no Joladu, chamada Bucol.
O que eu pretendia saber é se a tabanca é antiga ou moderna, qual o grupo étnico de quem a fundou e lhe deu o nome e se este é de língua Fula, Mandinga ou Beafada. A tabanca em si nada tem com o meu artigo, mas num documento antigo diz-se que os Fulas invasores destas bandas partiram de uma cidade chamada Bucol, no Sudão, e interessava-me averiguar se o nome é Fula ou não, pois não encontro esse nome nos clássicos da História sudanesa”.
As peripécias que se seguiram! Conversaste com os homens grandes, havia a ideia de que a tabanca era de Beafadas, que o nome era antigo, falava-se de ser uma terra fértil, encurtando razões, ninguém sabia muito mais. E então tu tiveste aquele ato temerário, felizmente sem consequências, de atravessar o Gambiel, como se fosses patrulhar o Joladu, descobriste que não havia sinais de presença humana embora lá longe era bem claro que a população rebelde lavrava a terra. Levavas contigo nesse patrulhamento insólito um soldado por quem tinhas muita afeição, Cibo Indjai, como tu dizes, um bravo caçador, homem destemido que te disse calmamente que aquela terra era boa para apanhar gazela, havia pouca floresta e por isso não havia santuário da guerrilha. E escreveste ao historiador dando as informações lacónicas disponíveis, a mais não te sentias obrigado: ninguém associava em Missirá o príncipe Coli a Bucol; a povoação teria sido fundada por Mandingas, mas pessoas consultadas diziam que ali se falava predominantemente Beafada, antes da guerra; e ninguém sabia a antiguidade da tabanca, embora houvesse conhecimento de que tinham lá vivido colonos cabo-verdianos.
Adoro as referências que tu fazes às tuas leituras, pergunto-me onde é que tu arranjavas tempo para ler tanto livro. É bem curioso, referes o nome de um poeta português consagrado, Mário Cesariny, aqui há uns tempos fui cair numa conferência em que se falava da literatura surrealista e creio que um holandês referiu o poder inovador da sua lírica, achei curioso, quis conhecê-lo e encomendei dois livros, de um deles, intitulado Pena Capital, mando-te um poema que podia muito bem falar do amor que tenho por ti:
“Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço meu te procura”
Mon adoré Paulo, estou a escrever este poema e a desejar-te ardentemente, apesar da distância tenho o calor da tua voz, o ciciar da tua escrita, o poder de apoderar-me do teu passado e sentir-me que conquisto a alegria do meu presente pensando em ti, pondo todo este amor a trombetear o futuro. É como se eu estivesse agora a acariciar-te, percorro neste momento a teu lado em Missirá, tu recebeste a visita de um coronel que vem inquirir o teu recurso por causa daqueles malfadados dois dias de prisão simples, tu tratas como uma iniquidade, uma injustiça, e pediste reparo a um general. No interior de um abrigo ele lê-te a acusação, de que foste descuidado na limpeza do aquartelamento, que este tem pouca segurança, e depois exige ver com os seus próprios olhos as razões fundadas da pena e as razões que tu dás para não ser punido. Percorrem lentamente Missirá, a população civil mostra-se indiferente, as mulheres preparam o chabéu, as couves e as beringelas que juntam ao arroz, o coronel faz perguntas sobre as mangueiras, a natureza daquela agricultura, tu respondes o que sabes. Mostras-lhes o novo balneário, o arame farpado todo renovado, a Missirá renascida, as valas e os taludes, e guardo um apontamento teu em que pressinto o maior sofrimento que te atola a existência: “Sinto uma moinha na cabeça, que sei vir da alma, uma vergonha inenarrável de ter de me justificar pelo que fiz e pelo que não fiz. É um novelo espesso de raiva que procuro controlar, agarrando-me ao autodomínio que não sei de onde parte nem para onde vai”. Depois a tua resposta foi passada a escrito, o dito coronel não revela agressividade nenhuma, pergunta se os teus superiores conheciam a situação, tu respondes que existe em Bambadinca, é só pedir essa documentação, ofícios alarmantes sobre a degradação em que encontraste Missirá e todos os pedidos insistentes que fizeste. Cúmulo da humilhação, só parcialmente o teu recurso foi contemplado, mantêm-se os dois dias de prisão simples por não teres dedicado o máximo do teu interesse às deficientes condições de defesa e limpeza de Missirá. Depois de tudo quanto aconteceu, foste lentamente arrefecendo a cólera, o Cuor era mais importante. Tenho agora para rescrever o relato de uma emboscada noturna lá para os lados de Madina, tu chamas ao local Sinchã Corubal e depois vais a Bissau, viagem curta, testemunha do milícia que deixou fugir o prisioneiro. E segundo tu me dizes, vai seguir-se um período calamitoso de muito fogo, eu que me prepare.
Amor da minha vida, não sei explicar como me estou a colar e me sinto embevecida com esta oportunidade que me deste, a mim, uma belga, alguém que ao nascer teve que viver na clandestinidade por ter sangue judeu, que estudou e descobriu a aptidão para as línguas, que trabalha em cabines de interpretação saltitando do inglês para o neerlandês, do francês para o italiano, do espanhol para o alemão, do português para o francês, de descer a um inferno da guerra, algures na colónia da Guiné Portuguesa, um mero pretexto para te amar no fundo da minha alma, alguém que me faz suspirar a todo o momento e desejar que possamos finalmente viver todos os dias juntos, o que acontecerá, demore o tempo que for necessário, temos afeto bastante para superar estes quilómetros que nos separavam e agora nos unem. Obrigado por tudo o que me dás, bien à toi, Annette.
Nota do editor
Último poste da série de 11 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21632: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (30): A funda que arremessa para o fundo da memória
Guiné 61/74 - P21656: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (13): Faz hoje 50 ans que regressei do CTIG...Abrecelos natalícios para toda a Tabanca Grande (Valdemar Queiroz, ex-fur mil at art, CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)
Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Sinchã Sajori > CART 11 > 1970 > Vacinação da população local. com o fur.mil.enf Edmond
Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Guiro Iero Bocari > CART 11 > 1970 > O fur mil Valdemar Queiroz aperaltado para o regresso
Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Guiro Iero Bocari > CART 11 > 1970 > Filha de um dos nossos soldados
Foto nº 6 > Guiné > Bissau > 16 de dezembro de 1970 > A última compar do Valdemar Queiroz, na Loja do Taufik Saad, um relógio Longines, no valor de 2950$00 [, a preços de hoje, o equivalente a 868,65 €].
Foto nº 7 > Guiné > Bissau > 16 de dezembro de 1970 > O bilhete de avião, na TAP; no valor de 4340$00 [equivalente, a preços de hoje, a 1.277,95 €]
Data - quinta, 10/12, 16:13
Assunto . Faz agora 50 anos
É verdade. Faz este mês 50 anos que regressei da guerra na Guiné.
Depois de se ter feito a vacinação contra a cólera nas tabancas de Cadeu, Sibitó e Sinchã Sajori começamos a preparar o regresso à metrópole. Para nós estava próximo chegar a casa. Mas a guerra continuou por mais três anos e uns meses até ao 25 de Abril de 1974, e não acabou para os nossos soldados fulas renitentes em "abraçar" os guerrilheiros do PAIGC. Coitados de muitos deles... é assim a merda da guerra.
Em Guiro Iero Bocari e outras pequenas tabancas da região de Paunca, com a chegada da nossa CART 11, completa, deixou de haver problemas com ataques do IN. Pese embora ser uma região de fronteira, havia um rio como que de fronteira natural com o Senegal e com nossa acção, sempre em operações diurnas e nocturnas, era mais difícil ao IN deslocar-se,
Nas últimas palavras escritas da HU da Companhia consta:
'O 1º. Grupo embosca na estrada de BOCARI.
Chegam a Paunca parte dos quadros que vêm render os Quadros Metropolitanos que terminarem a sua comissão.
A partir de hoje, efectuam-se as sobreposições necessárias a fim de integrar os novos elementos no contacto com o pessoal nos diversos cargos e actividades, após o que seguem para Bissau os elementos rendidos individualmente, ficando a aguardar embarque para a Metrópole.'
Eu, o Abílio Duarte, o Manuel Macias e o Pais de Sousa regressamos de avião em 18 de Dezembro de 1970 e ainda passamos o Natal em casa, pagando a diferença para o "custo" da viagem de barco por esta só se verificar 20 dias depois.
As fotografias que junto, são de:
Desejo a todos os camaradas e suas famílias BOAS FESTAS
Abracelos
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Último poste da série > 17 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21654: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (12): A "cunha" da mana de Salazar, texto de Vargas Cardoso, cor inf ref, ex-comandante da CCAÇ 2402, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70... Mais uma pequena homenagem à memória do nosso Raul Albino (1945-2020)
quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21655: Tabanca Grande (507): José Rosa da Silva Neto, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) que se vai sentar à sombra do nosso poilão no lugar n.º 823
José Rosa da Silva Neto, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, NM 02584066, da CART 1742, "Os Panteras", Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69.
- Assentou praça no RI7 de Leiria a 24 de Outubro de 1966
- Iniciou a Especialidade no Regimento de Transmissões do Porto em 3 de Janeiro de 1967
- Foi colocado na Escola Prática de Infantaria Mafra em 21 de Maio de 1967
- E no Regimento de Artilharia 5, de Penafiel, em 13 de Junho de 1967, onde foi mobilizado para a Guiné.
- Embarcou no N/M Timor com destino ao CTIG a 22 de Julho de 1967, tendo regressado em 06 de Junho de 1969, no N/M Niassa, com chegada a Lisboa a 13 de Junho.
2. Comentário do coeditor:
Caro José Rosa Neto, bem-vindo à nossa Tabanca Grande, também tu apadrinhado pelo teu camarada Abel Santos, um operacional deste Blogue. Vais sentar-te no lugar n.º 823 desta tertúlia.
Não sabemos se tens endereço de email e se és um "craque" em informática, pelo menos no âmbito do utilizador. De qualquer modo, ficas desde já convidado a, dentro das tuas possibilidades, directamente ou através do Abel, colaborares com as tuas memórias escritas e/ou em fotografias.
Das fotos que nos mandaste não consegui fazer uma foto tua, fardado, tipo passe. Se tiveres por casa outras com melhor qualidade, manda para ver se conseguimos alguma com boa apresentação.
Em contacto telefónico, o Abel disse-me que da parte dele terás toda a colaboração, pelo que deves aproveitar a sua disponibilidade.
Deixo-te então um abraço em nome da tertúlia e dos editores com os votos de que tu e a tua família tenham Boas Festas em segurança e, a propósito, que o novo ano seja de modo a fazer esquecer este 2020 de má memória.
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21626: Tabanca Grande (506): António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil em rendição individual, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 822
Guiné 61/74 - P21654: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (12): A "cunha" da mana de Salazar, texto de Vargas Cardoso, cor inf ref, ex-comandante da CCAÇ 2402, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70... Mais uma pequena homenagem à memória do nosso Raul Albino (1945-2020)
Guiné > Região do Oio > Có > CCAC 2402 (1968/70) > s/d > De pé: alf mil Francisco Henriques da Silva, alf mil Raul Albino e Cap Vargas Cardoso
Foto (e legenda): © Raul Albino (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O tema das "cunhas" é pouco natalício... Mas presta-se também à bonomia e ao bom humor próprios da época natalícia.. O cor inf ref Vargas Cardoso entregou ao Raul Albino esta história, que tem tanto de burlesco como de inefável (incitando por isso, ao riso amarelo); foi, juntamente com mais uma vintena de textos, o seu contributo para o volume II das Memórias da CCAÇ 2402, cuja coordenação editorial esteve a cargo do Raul Albino.
Tenho um exmplar desse volume, oferta pessoal do nosso saudoso amigo e camarada Raul que, como sabem, foi alf mil da CCAÇ 2402. Com a devida vénia ao Vargas Cardoso, e votos de boas festas, para ele e os demais camaradas da CCAÇ 2402, "Os Lynces de Có", reproduzimos aqui a história da cunha da Dona Marta Salazar e do senhor presidente da junta de freguesia de Sta Comba Dão. intercedendo por um dos militares da CCAÇ 2402, companhia que em junho de 1968 estava já mobilizada para o CTIG e ainda em formação.no RI 1, Amadora.
Sobre o soldado Sereto (um dos militares a seguir referidos na narrtaiva) há outra história que poderemos reproduzir mais tarde, também da autoria do Vargas Cardoso ("E o Sereto chegou a tempo do embarque").
Este militar era um ex-casapaino, "filho de pai alcoólico e orfão de mãe" (sic) , jogador dos júniores do Sporting, que tinha chumbado na recruta do Regimento de Lanceiros 2 (Polícia Militar), e que o cap Vargas Cardoso se empenhou em "proteger", esperançado em fazer dele "um cidadão útil para a sociedade"... LG
Excerto de : Parte II - Comando da Companhia - Textos de Vargas Cardoso, in "Memórias da CCAÇ 2402 (Guiné 1968/1970), Volume II", mimeog", 2008, páginas inumeradas,il. (Coordenação: Rui Albino). (Com a devida vénia...)
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Nota do editor:
Último poste da série > 16 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21652: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (11): Homenageando a memória do Raul Albino (1945-2020): Os Natais de 1968, em Có, e 1969, no Olossato, da CCAÇ 2402 (João Bonifácio, ex-fur mil SAM, hoje a viver no Canadá)Guiné 61/74 - P21653: Parabéns a você (1908): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)
Nota do editor
Último poste da série de 15 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21645 Parabéns a você (1907): Francisco Santos, ex-1.º Cabo Condutor Radiotelegrafista da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21652: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (11): Homenageando a memória do Raul Albino (1945-2020): Os Natais de 1968, em Có, e 1969, no Olossato, da CCAÇ 2402 (João Bonifácio, ex-fur mil SAM, hoje a viver no Canadá)
Fotos (e legendas): © João Bonifácio (2008. Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
21 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3770: O meu Natal no mato (22): A RTP na Guiné, no Natal de 1969 (João Bonifácio)
Guiné 61/74 - P21651: Historiografia da presença portuguesa em África (243): Revista Estudos Ultramarinos, 1959 - n.º 2 - Como se escrevia sobre a luta de libertação em pleno Estado Novo (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Janeiro de 2020:
Queridos amigos, ´
No mínimo dá que pensar se o corpo redatorial da revista Estudos Ultramarinos vivia num estado de inocência ou abstraídos da ascensão, já vigorosa, da luta anticolonial, um pouco por toda a parte. Reproduzem-se documentos que colidiam frontalmente com o ideário do Estado Novo, diz-se mesmo que está presente no II Congresso em Roma um representante angolano. Trata-se de Mário Pinto de Andrade, dirigente do MPLA, que trabalhará, a partir do ano seguinte, em estreita colaboração com Amílcar Cabral, em Conacri.
Mais trotil para o leitor da publicação do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, de onde se recrutavam os quadros para a nossa administração colonial, não podia haver.
Um abraço do
Mário
Como se escrevia sobre a luta de libertação em pleno Estado Novo (2)
Mário Beja Santos
Já se referiu que a revista Estudos Ultramarinos, que tinha como diretor Adriano Moreira, ele também Diretor do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, não deixa de nos surpreender, à distância de cerca de seis décadas, e num tempo em que já pairava no ar o sinal de efervescência da luta anticolonial, a publicação de textos de figuras que se irão distinguir nessa luta ou apresentações ideológicas a que o regime frontalmente se opunha.
Estava a ressurgir, escreve a mensagem de Sékou Touré, o homem africano outrora marcado pela indignidade dos outros, excluído dos empreendimentos universais, homem despojado de tudo, agora podia reivindicar a plenitude dos seus direitos humanos e uma participação a tempo inteiro. Mensagem que não silencia a crítica e a responsabilidade das civilizações de conquista, fala no crime de Fernando Cortez que liquidou o império Asteca e arrasou os poderosos valores culturais de uma das mais expressivas civilizações pré-colombianas. E a sua mensagem termina com os seguintes parágrafos:
“O processo da participação do homem negro nas obras universais, parte em primeiro lugar da personalidade africana, que não poderá ser reconstituída pelas vontades ou forças exteriores a África, tem que estar integrada na independência e unidade em que repousa o destino do mundo negro. Os compromissos culturais que a dominação estabeleceu impõem ao homem de África uma completa reconversão a fim de que reapareça a sua autêntica personalidade. Na independência da sua jovem soberania, é a via na qual o povo da Guiné está unanimemente comprometido para a libertação total e a unidade efetiva dos povos africanos a fim de que se acelere a sua marcha ou progresso técnico, económico e cultural numa sociedade em perfeito equilíbrio social e moral e num mundo de real civilização humana”.
Bonitas palavras para um político que muito rapidamente se transformou num tirano cruel e sanguinário. O tom da resolução do II Congresso Internacional de Escritores e Artistas Negros é muito mais radical, nada tem a ver com a amenidade da resolução de 1956, fala na violência, nas segregações mais insuportáveis que se vivem na Argélia, no Quénia, na Niassalândia, no Congo, em Angola, na Rodésia e particularmente na União Sul-Africana, uma violência que calca os direitos fundamentais dos povos a dispor deles próprios. Recomenda-se a resolução rápida e pacífica dos conflitos violentos em África e principalmente na Argélia, apela-se à libertação de todos os africanos presos ou exilados pelo facto de lutarem pela independência dos seus países e condena a utilização dos africanos nas guerras coloniais.
“A Igreja aprecia, respeita e encoraja um trabalho de investigação e de reflexão que tem por objetivo libertar as riquezas originais de uma cultura própria, de descobrir os pontos de apoio na História, de manifestar as harmonias profundas através das mais diversas manifestações. A universalidade do olhar da Igreja, atenta aos recursos humanos de todos os povos, colocou ao serviço de uma verdadeira paz no mundo. A Igreja convida as elites de todos os povos a ter um espírito harmonioso na colaboração e simpatia profunda com as correntes provenientes das autênticas civilizações”.
A revista dirigida por Adriano Moreira transcreveu o documento em francês, fazendo depois em português um comentário final:
“O discurso do Santo Padre suscitou profunda impressão nos congressistas. Em grande parte estes eram católicos; mas também todos os outros, pertencentes a várias confissões religiosas, fizeram ressaltar que o ensinamento do Chefe venerado da Igreja Católica constitui documento altíssimo, com plena apreciação de quanto a população de estirpe negra sente acerca dos seus destinos e dos seus ideais, postos ao serviço dos mais nobres sentimentos de justiça, de fraternidade e de paz, apregoados por Deus a todos os homens”.
Refira-se que ainda nesta secção de documentos se insere o apelo dos escritores dos países da Ásia e da África aos escritores do mundo inteiro, Conferência de Tachkent, outubro de 1958, onde igualmente se apostrofa o colonialismo.
Nota do editor
Último poste da série de 9 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21625: Historiografia da presença portuguesa em África (242): Revista Estudos Ultramarinos, 1959 - n.º 2 - Como se escrevia sobre a luta de libertação em pleno Estado Novo (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P21650: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte IV: atividade operacional: Tite (Nova Sintra, Flaque Cibe, Jabadá, Jufá), setembro de 1966
[O José Lino [Padrão de] Oliveira foi fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; tem dezena e meia de referências no nosso blogue; vive em Paramos, Espinho]
1. Continuação da História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (*)
(Continua)
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24 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21578: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte II: Cruz de Guerra de 1ª classe; Mobilização, composição e deslocamento para o CTIG
10 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21628: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte III: Composição orgânica