Foto (e legenda): © António Martins de Matos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Devido ao boicote internacional (e às pressões políticas dos nossos aliados da NATO, a par das proibições dos EUA no que dizia respeito ao uso de certas aeronaves como, por exemplo, o F-86, cedidos no âmbito do Programa de Assistência Militar), não foi fácil garantir o armamento e as munições necessárias aos helicópteros e aviões da FAP durante a guerra do ultramar / guerra de África / guerra colonial.
A nossa indústria de guerra teve de encontrar "soluções criativas" (sic), tendo chegado a usar "munições de artilharia do exército, para fabricar bombas para os aviões" (Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 229).
Segundo esta fonte, uma das bombas mais usadas terá sido a bomba de fragmentação FR M/62, de 20 kg., adaptada da granada da peça de artilharia 11,4 cm, britânica.
"Na fábrica de Barcarena, foram retiradas as cargas explosivas dessas granadas de artilharia para serem adaptadas na empresa Precix e serem novamente carregadas em Barcarena" (ibidem, pág. 229).
O mesmo terá acontecido, mas com outras empresas ligadas à indústria da defesa, com as bombas FG M761, de 50 kg, FR M/64, de 200 kg, e ainda as bombas incendiárias IN M/65, de 100 litros. A Precix, uma empresa metalúrgica, especializou-se também no fabrico de espoletas.
2. No que diz respeito ao armamento, usado pela FAP, é de destacar o canhão MG-151, de 20 mm, que equipava os AL III (helicanhão ou "Lobo Mau").
Foram também utilizadas metralhadoras Browning, de calibre 7,7 mm e 12,7 mm, bombas gerais e de fragmentação de 500 libras e de 750 libras, e de 15, 50 ou 200 kg; foguetes FFAR 2,75, SNEB 37 mm, etc.. Tratava-se de adaptações da indústria nacional.
As munições de 20 cm para o helicanhão eram as únicas que se adquiriam, diretamente aos fabricantes estrangeiros, usando os circuitos normais do mercado.
A OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico), com instalações em Alverca, fez milagres nesta época.
Foi a OGMA que fez "as grandes adaptações nacionais para a guerra em África" (Ibidem, pág. 231): podiam-se citar, a título meramente exemplificativo:
- os aviões Harpoon (P2V5 Neptune), aviões de luta antissubmarina, transformados logo em 1961 em bombardeiros adaptados às condições dos trópicos;
- os T-6 G Texan (um avião monomotor, originalmemte de treino e instrução), provenientes de várias origens (EUA, França, RFA, África do Sul);
- os sete aviões B-26 Invader, comprados clandestinamente e usados em Angola e na Guiné;
- os 147 aviões ligeiros Auster fabricados sob autorização da empresa inglesa, e dos quais 60 foram atribuídos à FAP e enviados para o ultramar.
A Alemanha também forneceu 147 avionetas Dornier DO-27, "ao abrigo do acordo da Base Aérea de Beja". Algumas eram novas, outras usadas, todas as revisões foram feitas na OGMA.
Estas avionetas tiveram um papel fundamental durante a guerra de África, devido à sua flexibilidade e capacidade para operar em pistas de mato, improvisadas. Tiveram papel fundamental em missões como o transporte de correio, frescos epassageiros, a evacução de feridos, a observação e ligação, etc.).
Os aviões de transporte mais usados foram o C-47 Dakota e o Nordatlas, também de diferentes origens e fornecedores.
Já os helicópteros (AL II, AL III e SA-330 Puma) eram todos de origem francesa. Entre 1963 e 1975, a FAP adquiriu 142 Alouettes III e, entre 1969 e 1971, 13 Pumas. (Ibidem, pág. 232).
Nem a Fábrica da Pólvora da Barcarena, nem a Fábrica Braço de Prata nem a empresa metalúrgica Precix existem hoje... Resta a OGMA, ciada em 1918, e agora integrada no grupo brasileiro Embraer.
Ainda quanto a armamento, refira-se ainda o de mais três, a par do heli AL III, das aeronaves que conhecemos bem no TO da Guiné:
- T-6 Harvard: 2 + 2 metradlhadoras Btrowning 7,7 mm | foguetes 37 mm e 68 mm | lança-granada m/64 | bombas de 15 kg,, 50 kg e inendiárias de 80 kg / 100 l e 300 kg / 350 l;
- Fiat G-91: metradlhadoras Btrowning 12,7 mm | foguetes 75'' | bombas de 50 kg, FR 200 kg, 250 lbs, 500 lbs e 750 lbs;
- Dornier DO 27: foguetes 37 mm | foguetes fumígenos 70 mm / 27 | Fitting L19 (Ibidem, pp. 232/233)
3. Resumem-se aqui, por anos, algumas das principais aquisições de aeronaves pela FAP, entre 1960 e 1974 (entre parênteses, a quantidade)
- 1960 - Nordatlas (8);
- 1961 - T-6 G Texan (56) (+ 130, mais tarde) | Dakota (8) (+15, mais tarde) | Nordatlas (6)| Auster (ligeiro) (99) | Dornier DO 27 (133) ( + 14, mais tarde) | Douglas D-6 (transporte) (10) (...);
- 1962 - Nordatlas (3);
- 1963 - Helicópteros AL III (142) entre 1963 e 1975) | Cessna T-37 (instrução) (30);
- 1965 - T-6 (74) | B-26 Invader (7) | Nordatlas (14) (entre 1965 e 1970);
- 1966 - Fiat G-91 (caça) (40) | Douglas B-26 (bombardeiro) (7);
- 1969/71 - Helicóptero SA-330 Puma (13);
- 1970 - T-6 (69);
- 1971 - Boeing 707 - 3F5C (transporte, TAM) (2).
Fonte: Ibidem, pág. 233.
Esperemos que os camaradas da FAP possam acrescentar algo mais sobre esta matéria (ou corrigir o que está escrito, se for caso disso).
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23462: A nossa guerra em números (19): Meios e operações da FAP - Parte I: número e tipo de aeronaves: helicópteros, aviões de combate, de transporte e outros