quinta-feira, 20 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25664: S(C)em Comentários (40): O Cherno Baldé que hoje faz anos, entrou para o nosso blogue em 18/6/2009 e já nos contou aqui como, "djubi", "rafeiro", tirou a "recruta" em Fajonquito e, no meio da tropa, da guerra, e do pós-guerra, se fez depois homem, em Bafatá, em Bissau, em Kiev...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1975 > "A nossa equipa de futebol de salão no quartel de Fajonquito entre 1974-1975, podendo-se ver em pé: Mamudo, Algássimo e o professor António Tavares; sentados: eu (Cherno) e Aruna (filho do antigo padeiro) à minha esquerda" 

Foto (e legenda): © Cherno Baldé  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto de mensagem do Cherno Baldé (que hoje faz anos), com data de 18 de junho de 2009 (o dia em que passou a fazer parte do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não como combatente mas como guineense, que em criança cresceu com a guerra e com a tropa... e depois se fez homem, em Bafatá, em Bissau, em Kiev...).(*)


(...) Eu passei boa parte da minha infância entre a tropa que passou por Fajonquito (...) e tive muitos amigos que, na verdade, logo esquecia para me concentrar nos recém-chegados.

Eu era desses raros pequenos rafeiros do quartel impossíveis de controlar e muito menos de afastar. Quando se fechavam os portões do quartel,  entrava, mesmo assim, por baixo do arame farpado. O dia e a noite faziam pouca diferença. Apanhava porrada de um ou outro quando deambulava pelo quartel, mas também, dava alguns trocos com emboscadas e pedradas a noite.

A língua ? Isso importava menos. Quando o meu amigo, o Dias, me perguntava "Oh Chiiico,  já limpaste as minhas botas?", eu respondia de imediato "Sim,  senhor, já limpaste" e depois ?"...

Nós nos compreendiamos muito bem e isso é que importava. Foi esta vida de cão de quartel no meio de jovens soldados endiabrados, acossados pela ansiedade do regresso a casa e o medo da morte, que me moldou a vida e me preparou para enfrentar o mundo.

O fim da guerra foi para mim uma libertação mas também um choque terrível de que só tomei consciência passados os primeiros seis meses após a saída do último soldado português. Durante algum tempo ainda tudo continuou na mesma, havia a batata, o bacalhau,  já com muito mais arroz.

O maldito arroz era, cada dia, mais abundante nos pratos, mas o início da minha miséria começou mesmo foi quando a carne de macaco substituiu tudo o resto. Então, como bom rafeiro que era, olhei para o céu duas ou três vezes seguidas, como fazia sempre que estava em apuros, e compreendi que tinha chegado a hora da largada para outros destinos. 

Caminhei para casa e, quando cheguei, enfrentei os meus pais olhos nos olhos e garanti-lhes que daquele dia em frente nunca mais faltaria às aulas da mesma forma que, também, não voltaria a pisar o quartel transformado em comedouro de macacos. (...) (**)
(**) Último poste da série > 7 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25615: S(C)em Comentários (39): E as "cunhas" (o factor C) eram como as bruxas: "yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay"

Guiné 61/74 - P25663: Os nossos seres, saberes e lazeres (633): viagem à China, de 1 a 12 de setembro próximo, com um cicerone de luxo, o nosso camarada António Graça de Abreu



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1. Não é publicidade encapotada: já vários camaradas nossos,  grão-tabanqueiros e outros (o António PImentel, o Fernando Gouveia e o Egídio Lopes) fizeram há  uns anos, em 2014,  esta viagem turístico-cultural à China, com um cicerone de luxo como é o nosso António Graça de Abreu.  

É uma oportunidade, talvez única, nesta incarnação, de conhecer Beijing (Pequim), Xi'An, Shangai, Macau e Hong Kong, em visita guiada feita por um antigo camarada da Guiné, grande sinólogo (especialista em história e cultura chinesas)e não menos amante da sua pátria e da sua língua.

Xi'an,  cidade com mais 3 mil anos de história, era o limite oriental da Rota da Seda. Hoje atração turística por ser  também  o lugar do Exército de terracota, construídos durante a dinastia Qin.  O resto dos destinos são mais conhecidos, incluindo Beijing/Pequim.

O preço da viagem em grupo não será para todas as bolsas... Mas haverá sempre algum de nós com uma herança de uma tia rica e solterinha...

Guiné 61/74 - P25662: Parabéns a você (2283): Cherno Baldé, Engenheiro e Gestor de Projectos, Amigo Grã-Tabanqueiro da Guiné-Bissau

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Nota do editor

Último post da série de 19 de Junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25656: Parabéns a você (2282): Adão Cruz, médico cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68) e Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25661: Timor Leste: passado e presente (8): Os últimos soldados do império que estiveram prisioneiros do IN, na Indonésia (de setembro de 1975 a julho de 1976): tiramos o quico, o chapéu, a boina, o barrete, o boné... à Ephemera - Biblioteca e Arquivo do José Pacheco Pereira

 






Foto de um grupo de 14  (e lista nominal dos  23)  militares portugueses, do Agrupamento de Cavalaria de Fronteira, em Bobonaro, Timor Leste), que, apanhados pela guerra civil, fratricida, entre  timorenses,  acabaram por ficar prisioneiros do IN (desde setembro de 75 a julho de 76). 

A lista nominal foi publicada pelo DP - Diário Popular, de 19/2/1976; o Diário de Lisboa, de 29 de julho de 1976, publicou, depois,  uma reportagem aquando do seu regresso: "Fim de um pesadelo: sãos e salvos regressaram a Portugal todos os militares prisioneiros em Timor"...  Estes nossos camaradas terão sido mesmo os últimos soldados do Império a regressar a casa, numa altura em que, em Portugal, ainda era escasso o conhecimento sobre o processo de descolonização de Timor. A Força Aérea foi buscá-los a Bali.

O IN neste caso era a Indonésia... Estes nossos camaradas estiveram detidos, a maior parte do tempo em condições infames, sem respeito pela Convenção de Genebra, um mês em Timor Leste e 10 meses na parte ocidental de Timor, indonésia, em Atapupo e, depois, também, em Atambua, no último mês... 

Timor ocidental, outrora colónia holandesa, é ainda de má memória para os portugueses e timorenses, vítimas da invasão e ocupação dos japoneses em 1942/45: foi de Atambua  que vieram as criminosas "colunas negras", armadas e alimentadas pelos ocupantes, e que espalharam o terror pelo território português) (*)...

O militar mais graduado, deste grupo de  23 prisioneiros, era então o  major inf 'cmd' António Ivo do Nascimento Viçoso, falecido com o posto de coronel na situação de reforma: em 1999, "23 anos depois", deu um entrevista ao "Público" onde falou deste duros tempos de cativeiro, e do tratamento frio, calculista, cínico, desonroso, que lhes foi dado pelos indonésios...


1. Estes documentos (que reproduzimos acima, com a devida vénia)  estão disponíveis na Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheo Pereira, a quem temos de tirar o quico, o chapéu, a boina, o barrete, o boné... por se ter tornado,  não o maior "almeida" do mundo, mas seguramente o melhor: "recolhe o lixo de hoje" que nos falta para alimentar a nossa memória...

E não faz distinção entre o "lixo" de 1ª classe ou de 2ª classe, dos ricos e poderosos, ou dos fracos e pobres, das maiorias ou minorias,  dos de esquerda ou de direita, de Deus ou do Diabo, dos santos e pecadores... 

Estamos a falar do o "lixo" que a maior parte de nós deita fora... Ou que os nossos herdeiros consideram "lixo", quando batemos a bota... No nosso caso, de antigos combatentes na Guiné (1961/74) coisas como brasões, guiões, crachás das nossas antigas subunidades; diários, cartas, aerogramas, cartazes, fotografias, recortes de jornal; objetos pessoais ou de guerra, que trouxemos daquele território; documentos militares ou do PAIGC,  etc., etc. 

Porque não há conhecimento sem informação nem informação sem dados... O "lixo" de hoje, depois de tratado,  é "conhecimento" amanhã. Esse, é resto, também a missão do nosso blogue, que foi criado com o propósito de "não deixarmos que sejam os outros a contar (ou a ignorar, escamotear, esquecer) as nossas histórias", que são afinal os nossos pequenos rios da memória que vão confluir para o grande rio da História...

Como a Ephemera escreve, com piada, no seu sítio, "Se o Diabo publicar panfletos vamos ao Inferno recolhê-los"... Aliás, e como diz o nosso povo (que gosta de blasfemar), "tão bom é Deus como o Diabo".

3. Com a devida vénia a esta fantástica e generosa equipa de voluntários que faz o Arquivo Ephemera, reproduzimos o seguinte nota que  o José Pacheco Pereira escreveu, em 10/6/2018, sobre a documentação que lhe chegou às mãos, e que ainda está por tratar, relativa aos 23 militares portugueses prisioneiros na Indonésia, em 1975 e 1976 (quase um ano):

(...) Agradeço a Luís Manuel Barata de Carvalho (um dos 23 prisioneiros) e a José Mendes Lopes (então militar em Timor) a oferta do acervo recolhido por Palma Carlos que inclui a mais completa documentação sobre o que aconteceu aos soldados portugueses feitos prisioneiros quando da invasão indonésia. 

"O acervo inclui um vasto número de fotografias sobre o quotidiano em Bobonaro onde estavam aquartelados antes da invasão, e depois em Batugadé onde estavam detidos e nos diferentes locais de detenção. Entre a documentação inclui-se correspondência pessoal e oficial, todo o processo da sua libertação, e a posterior recepção, homenagens e regularização dos seus direitos militares e civis. 

"Foi um processo complexo, a que não faltou muita conflitualidade política e bastante acrimónia, mas sem o compreender e estudar não é possível analisar o processo de descolonização de Timor. (...)

Guiné 61/74 - P25660: Blogpoesia (800): "O Amor e a Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)



O AMOR E A VIDA

Se o amor vive longe da vida e a vida longe do amor
não sei onde fica a vida.
Sei que ela vive no caminho simples dos montes e mora na música das flores
talvez na casa da poesia.
A vida só é poema quando se encontra o amor no caminho da vida e se descobre que o homem e o sol são irmãos naturais.
A vida só é poema quando o amor diz à vida que a neve pode ser pintada de cores quentes e o mar cabe dentro de uma gota de orvalho.
O amor é o lugar das palavras e dos versos onde a vida se faz poema.
A vida é a voz do silêncio quando o sonho dorme
e o amor a canção da vida quando o sonho acorda.
Nunca a vida foi aurora resplandecente nem infindo vazio de nada.
A vida é o criar flor a flor
fio a fio
espinho a espinho
a esperança no alvor da madrugada.
Porque a vida é dar e não ter nada.
Há sempre um raio de luz ou apenas um copo de vinho
para acender o sol em qualquer horizonte rente ao chão ou rente ao mar.
Os dias são cada vez mais curtos e as noites mais pequenas para acordar no meio de um sonho bonito.
Por isso o mar e o rio
o Amor e a Vida.
As margens do rio não secam
e as ondas do mar nunca estão de partida.
Mais doces ou mais agrestes
beijam sempre as águas revoltas de tudo o que mexe dentro de nós.
Nós não somos mais do que a vida.
A vida não é mais do que nós.

adão cruz

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Nota do editor

Último post da série de 21 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25294: Blogpoesia (799): No Dia Mundial da Poesia - "Lágrimas" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)

Guiné 61/74 - P25659: Historiografia da presença portuguesa em África (428): João Vicente Sant’Ana Barreto, o primeiro historiador da Guiné portuguesa (7) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Deu-me grande satisfação reler esta obra, a primeira e única História da Guiné, isto a despeito de algumas sínteses que lamentavelmente não têm merecido a devida ênfase, como as de Alberto Banha de Andrade e José da Silva Horta e Eduardo Costa Dias, por exemplo, isto para já não falar no trabalho de Teixeira da Mota, no âmbito de uma monografia de 1954, que continua a ser um trabalho de referência. João Barreto era um médico tropicalista, com o posto de capitão, trabalhava nos serviços de saúde em Bolama, ao fim de 12 anos de Guiné veio para Lisboa, aqui escreve a sua História da Guiné. Revela dedicação e esforço documental. É evidente que aos olhos de hoje são facilmente detetáveis as lacunas e imprecisões, ainda não havia no seu tempo o vasto reportório das literaturas de viagens, nomeadamente dos séculos XVI e XVII, veio depois ao de cima a documentação constante no Arquivo Histórico Ultramarino sobre o período de Cacheu, mas vê-se que trabalhou afincadamente para nos dar uma imagem diacrónica da nossa presença, nunca escondendo que foi ténue até ao século XIX, que a metrópole para ali mandava o rebotalho social para as praças e presídios, que demorou tempo demais a adaptar a economia findo o comércio negreiro. E mais do que a título de curiosidade, vamos agora conhecer a sua obra de médico em Bolama.

Um abraço do
Mário



João Vicente Sant’Ana Barreto, o primeiro historiador da Guiné portuguesa (7)

Mário Beja Santos

Data de 1938 a História da Guiné, 1418-1918, com prefácio do Coronel Leite Magalhães, antigo governador da Guiné. Barreto foi médico do quadro e durante 12 anos fez serviço na Guiné, fizeram dele cidadão honorário bolamense. Médico, com interesses na Antropologia e obras publicadas sobre doenças tropicais, como adiante se falará.

Já estamos sob o regime republicano, é nomeado o Segundo-Tenente Carlos Almeida Pereira, a Guiné mostra entusiasmo pelo novo regime, irá criar-se a Liga Guineense destinada a promover ideais republicanos. Dar-se-ão alterações, decorrentes do que se modificara nos Códigos Civil e Penal, nas relações da Igreja com o Estado, na reforma ortográfica, até no descanso semanal. Ocorre em maio de 1911 uma epidemia de febre amarela, será considerada extinta no mês de julho seguinte. Carlos Pereira revela-se muito ativo, serão derrubadas as muralhas de Bissau, é feito um contrato com uma empresa britânica para a construção da ponte-cais de Bissau em cimento armado, etc.

Mas as sublevações não dão descanso às autoridades de Bolama. Em 1913, Teixeira Pinto inicia campanhas não só na ilha de Bissau, como em Mansoa, Bissorã e Oio. A última fase acontecerá em 1915, uma coluna de operações contra os Papéis de Bissau, acontecimento que dará imensa controvérsia, serão muitas as queixas de gente lesada com os atos de rapina e destruições perpetradas pelas tropas irregulares de Abdul Indjai, a Liga Guineense critica abertamente Teixeira Pinto, será extinta.

O primeiro conflito mundial abala a economia da colónia, inicialmente, pelo adiante será superada a depressão com o aumento de receitas públicas. Uma nota curiosa deixada na obra de Barreto é esta informação: “Convém acentuar que as operações militares dirigidas por Teixeira Pinto não trouxeram grandes encargos ao tesouro, visto que o emprego dos auxiliares indígenas restringiu consideravelmente as despesas, e estas foram pagas em parte pelos espojos tomados às tribos rebeldes, ao contrário do que aconteceu com as outras campanhas anteriores e posteriores.” E, mais adiante, Barreto observa que o fim da Grande Guerra coincidiu com o fim da ocupação completa de todos os territórios da Guiné, estavam criadas as condições para o seu completo desenvolvimento político, social e económico.

Um ponto curioso desta obra é o capítulo exclusivamente dedicado à atividade militar de João Teixeira Pinto na Guiné. Importa reproduzir o que ele escreve:
“A obra de ocupação completa do território realizada por Teixeira Pinto compreende quatro campanhas: a primeira, de abril a agosto de 1913, contra o gentio de Oio; a segunda, de janeiro a abril de 1914, contra os Papéis e Manjacos de Cacheu; a terceira, de maio a julho, contra os Balantas de Mansoa e finalmente a última, contra os Papéis de Bissau, de maio a agosto de 1915.” Tece comentários acerca do estratagema que ele adotou para conhecer a região de Oio e como se socorreu dos auxiliares de Abdul Indjai e da colaboração de Fulas e Mandingas, caso do régulo Mamadu Sissé, dá-nos conta da pacificação de Cacheu e Costa de Baixo, é minucioso no detalhe, incluindo no relato sobre a derrota dos Papéis de Bissau.

Os três últimos capítulos da obra de Barreto são dedicados à administração da Justiça, às missões religiosas e às finanças. Faz o historial da administração da Justiça a partir do século XV, no final de 1876 começa propriamente a autonomia dos serviços judiciais da Guiné, haverá magistrados em Bolama e em Bissau. Em fevereiro de 1930, o território da Guiné foi desdobrado em duas comarcas, diploma não executado; e em 1933, a sede da comarca da Guiné foi transferida de Bolama para Bissau, “baseado no parecer do Conselho Superior Judiciário, dada a circunstância da quase totalidade do movimento judiciário pertencer à cidade de Bissau e à área da sua influência.”

O capítulo sobre as missões religiosas terá dado seguramente trabalho a João Barreto, ele faz a cronologia dos bispos da Ribeira Grande, da atividade da Companhia de Jesus, como se procurou recuperar o espírito missionário depois da Restauração; os primeiros anos da República foram desfavoráveis ao espírito missionário, mas a partir de 1919 o Governo autorizou a fundação de um estabelecimento católico para a formação de pessoal das missões religiosas. A situação só se inverterá a partir da Ditadura Nacional, a ação dita civilizadora das missões será uma realidade.

Depois de escalpelizar as finanças e a fiscalidade da colónia, entende João Barreto pôr uma nota final onde diz que o presente trabalho é o primeiro livro que pretende abranger todo o passado histórico da província da Guiné, “a nossa terceira colónia em extensão territorial e recursos naturais”. Despede-se do leitor resumindo a história política da Guiné onde ele considera haver cinco períodos. No primeiro, abrangendo cerca de dois séculos, vai de 1446 até à Restauração, 1640 – não houve ocupação territorial nem representantes da Autoridade Real, os Rios da Guiné foram considerados como simples anexo e prolongamento da capitania e Governo de Cabo Verde. O período seguinte compreende também perto de dois séculos que decorrem desde a fundação da capitania de Cacheu até 1834, ano em que a administração da colónia foi centralizada em Bissau. O terceiro período vai de 1834 até à constituição do Governo autónoma da Guiné, em 1879. Começa este período com a ação desenvolvida por Honório Pereira Barreto para a ocupação pacífica do território, e caracteriza-se sobretudo pelas grandes tensões com os franceses no Casamansa e com os ingleses em Bolama. O quarto período decorre de 1879 até 1918, é a fase da ocupação militar, sustenta-se uma luta quase permanente em todos os pontos do território, e quase sempre com falta de recursos. E, por último, a época contemporânea já com a pacificação completa do território.

Finda a apreciação da História da Guiné de João Barreto, vamos agora dedicar atenção à sua obra científica, que incide fundamentalmente nas doenças tropicais e no seu contributo para a antropologia.

Rua de São José, na região da Alfândega, em Bissau, na década de 1890, fotografia da época
Imagem da fortaleza de Cacheu, 2005
Monumento aos heróis da pacificação de Canhabaque, imagem retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, fotografia de Francisco Nogueira, Edições Tinta-de-China, 2016, com a devida vénia
Primeiras instalações do Banco Nacional Ultramarino em Bissau
Ações militares-navais de pacificação realizadas pela Marinha na Guiné
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Nota do editor

Último post da série de 12 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25635: Historiografia da presença portuguesa em África (427): João Vicente Sant’Ana Barreto, o primeiro historiador da Guiné portuguesa (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25658: Os 50 Anos do 25 de Abril (30): A exposição, na Gare Marítima de Alcântara, sobre os antecendentes e a origem (com enfoque na guerrra colonial) e os protagonistas do 25 de Abril de 1974... Para ver até 23 de junho - II (e última) Parte: Op Viragem Histórica


Lisboa > Administração do Porto de Lisboa >  Gare Marítima de Alcàntara  (um belo edifício da arquitetura estado-novista, inaugurado em 1943, da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, decorado com painéis a fresco de Almada Negreiros) > Fachada do edifício com os cartazes da Exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril". Horário: de quarta feira a domingo, das 14h00 às 20h00, de 14 de abril a 23 (ou 26? ) de junho de 2024.



1. Recorde-se que a Exposição “O MFA e o 25 de Abril”, que evoca o papel do Movimento das Forças Armadas (MFA) no derrube da ditadura e na construção da Democracia, está patente na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, até ao próximo 23 de junho, domi9ngo. (Há informações contraditórias:  na página da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 Abril, diz-se que acaba a 23, domingo; no Faeebook da Associação 25 de Abril (A25A)  aponta-se a data de 26, quarta feira, como era de resto a data que constava inicialmente do anúncio...)

Trata-se de uma parceria entre entre a Comissão Comemorariva 50 Anos 25 de Abril e a Associação 25 de Abril. O curador é o cmdt ref Pedro Lauret (que é também um 'histórico' da nossa  Tabanca Granmde). 

A exposição pode ser visitada de quarta-feira a domingo, das 14h00 às 20h00. A entrada é livre e a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril organiza visitas guiadas gratuitas. Mais de 5 mil pessoas já viram a exposição.

Há uma visita guiada no dia 21, sexta feira às 14h30. Para os interessados se inscreverem, contactar;



 





Comissão de Redação do Programa do MFA, presidida por Vitor Alves, e constituída por Melo Amtunes, Franco Charais, Costa Braz, Vitor Crespo, Almada Contreiras e Pedro Lauret



O comando do MFA no quartel da Pontinha: Otelo Saraiva de Carvalho, Fisher Lopes Pires, Garcia dos Santos, Sanches Osório e Vitor Crespo

Fotos: LG (2024)


2. No sítio da Associação 25 de Abril (A25A) está disponível o conteúdo dos principais blocos temáticos desta exposição. Aqueles dos nossos leitores que não puderem vir a Lisboa,  por estarem longe ou impossibilitados por outras razões,  têm aqui o essencial da informação. 


 

Último poste da série > 16 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25644: Os 50 anos do 25 de Abril (29): Os 9 episódios da série documental "A Conspiração" (RTP,. 2024) podem ser descarragados, até ao fim do dia 17, segunda feira (Cor art ref Morais Silva, membro do Grupo L34, Op Viragem Histórica, 25 de Abril de 1974)

Guiné 61/74 - P25657: Humor de caserna (68): O anedotário da Spinolândia (XIII): na ilha das Cobras, a ementa hoje é... cabrito com ostras... V. Exas são servidas ?


Palmela > Poceirão > Casa do João Vaz > 2017 > Encontro do pessoal dos Pel Caç Nat 51, 52 e 54 > Petisco:  Ostras do Sado, na grelha, para matar saudades das ostras do tarrafo...

Foto (e legenda): © José Manuel Viegas (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do José António Viegas (ex-fur mil do Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole; e CIM Bolama, Ilha das Cobras e  Ilha das Galinhas, ago 1966 / set 68):



Do Spínola (sou do tempo dos dois, do Schulz e do Spínola) lembro os dois contactos que tive com ele, um ainda com o Pel Caç Nat 54, em Porto Gole, e outro na Ilha das Cobras, para onde fui destacado, no final da comissão, com um pelotão do CIM de Bolama:

1.1. Algures em 68,  apareceu em Porto Gole, com o Capitão Bruno, pois ia fazer-se uma grande operação no Xime; deu uma preleção à malta, e depois o Capitão Bruno mandou arranjar o Unimog com uma secção para ir ao Enxalé.

Eu disse: 

− Meu Capitão,  temos que picar a estrada...

Respondeu o Spínola:  

− Anda depressa, rapaz, temos mais que fazer...

1.2. Em meados de 68,  apareceu na Ilha das Cobras com o seu staff, a guarnição era toda tropa nativa (1 Pelotão do CIM Bolama), deu uma preleção aos nativos,  a enaltecer os homens, e que eles é que deveriam defender o seu chão, blá-blá...

Era hora de almoço. O Capitão Bruno foi atrás do cheiro até á cozinha, e com muita pena dele (e se calhar do  Spnínola) não ficou para o  almoço: tínhamos apanhado um cabrito nessa noite e estava a ser cozinhado com ostras.

Enfim, coisas da nossa guerra.

José António Viegas
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Notas do editor:

Último poste da série > 17 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25652: Humor de caserna (67): O Spínola teria-se-ia desmanchado a rir, se fosse vivo, e tivesse lido esta história do cabo Abel, contada aqui, em versão condensada, pelo nosso Alberto Branquinho

Guiné 61/74 - P25656: Parabéns a você (2282): Adão Cruz, médico cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68) e Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 27 de junho de 2024 >Guiné 61/74 - P25648: Parabéns a você (2281): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS / BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)

terça-feira, 18 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25655: Timor-Leste, o passado e o presente (7): Vida e morte em Timor Durante a Segunda Mundial, de José dos Santos Carvalho (Lisboa, 1972, 208 pp.)

Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  208 pp. (Livro raro, só possível de encontrar em alfarrabistas, ou então no Internet Archive, em formato digital)


1. Mensagem do cor art ref Morais Silva, nosso grão-tabanqueiro nº 784:

Data - 17/06/2024, 20:05 
Assunto - Ai, Timor...

Caro Luís

Estou “assustado" com o quão pouco sei sobre Timor ao tempo da 2ª Grande Guerra.

Leio em:

https://archive.org/stream/VidaEMorteEmTimorDuranteASegundaGuerraMundial/VidaMorteTimor_djvu.txt 

(...) Uma 'coluna negra' formada por timorenses da cidade de Atambua, na parte holandesa, assaltou o aquartelamento da Companhia de Caçadores de Timor, então situado em Aileu.

Ataque traiçoeiro, a coberto do escuro da noite, não permitiu uma defesa eficaz, morrendo, combatendo, os cabos Evaristo Madeira e Júlio António da Costa, os soldados Álvaro Henrique Maher e João Florindo e vários soldados timorenses.

O comandante da companhia, capitão Freire da Costa, que com sua esposa, o médico Dr. Arriarte Pedroso, o secretário de circunscrição Gouveia Leite e o chefe de posto auxiliar António Afonso,  se encontravam reunidos na residência do comandante, suicidaram-se para não caírem nas mãos dos selvagens que atacavam a casa e lançavam fogo às suas dependências, os quais, certamente, os torturariam e sujeitariam aos piores vexames. (...)


2. O Cap António Maria Freire da Costa, será este ex-aluno da Escola de Guerra,  incorporado em 1917 para Infantaria, e natural de Lisboa: 



3. Vou ter que ler este livro “Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial” de José dos Santos Carvalho , médico que se encontrava a prestar serviço em Timor quando se deu a invasão japonesa durante a segunda guerra mundial. 


Além de ser uma descrição emocionada das atrocidades ali­ cometidas, este livro é também uma homenagem a todos aqueles, Portugueses e Timorenses, que resistiram à ocupação, muitas vezes com o sacrifí­cio da própria vida, unidos numa causa comum - a libertação de Timor. 

Como médico, o autor incluiu também as suas notas sobre a situação sanitária no território, durante e após a invasão.

Ab, MS

P.S. Estou a editar o texto que enviarei quando pronto


4. Comentário de LG:

Obrigado, amigo e companheiro destas lides...

Há que aprender e cultivar a nossa memória até ao fim...Eu, que fui para a rua, a favor do direito dos timorenses à autodeterminação, também não sabia nada (ou quase nada) sobre a história deste povo e do seu amor à liberdade e a Portugal...

Tenho um amigo, beirão, da Malcata, Sabugal, o Rui Chamusco (agora também ele membro da Tabanca Grande) que lá vai desde 2016, e que tem um projeto solidário nas montanhas de Liquiçá. Foi ele que me despertou para esta gesta de dor, sofrimento, luta, morte e resistência, nomeadamente na II GG (com a ocupação japonea) e sobretudo depois a partir de 1975 (com a ocupação imndonésia)...

Mas ele também não sabia nada dos bravos portugueses, timorenses e australianos, que resistiram nas montanhas entre 1942 e 1945...

E depois temos, os 23 militares portugueses que estiveram presos dos indonésios, mais recentemente, em 1975/76, incluindo o seu camarada de armas, o cor inf 'cmd' António Ivo do Nascimento Viçoso, já falecido em 2008, e que em 1999, "23 anos depois", lá "abriu o livro", dando uma entrevista ao "Público"...

https://www.publico.pt/1999/10/04/jornal/comandante-militar-em-dili-foi-carcereiro-de-portugueses-124568

Vamos partilhando informação. Se nós sabemos pouco de Timor, o que diremos dos nossos filhos e netos ?

Um abraço, Luis
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P25654: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte VII: Notícias do Armindo Batata e fotos do seu tempo de Cufar (1970)



Foto nº 56



Foto nº 64 


Foto nº 65


Foto nº 66


Foto nº 60


Foto nº 57


Foto nº 63


Foto nº 62

Guiné > Região de Tombali > Cufar > Pel Caç Nat 51,  > 1970 > Álbum fotográfico do Armindo Batata, ex-alf mil, que esteve em Guileje (de jan 69 a jan 70), e depois em Cufar (de jan a dez 70), até acabar a comissão,como comandante do Pel Caç Nat 51.

Fotos  acima, nºs  56, 57, 60, 62,  63, 64, 65, 66

Fotos (e legenda): © Armindo Batata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de Armindo Batata (foto atual à esquerda):

Data - segunda, 17/06/2024, 18:03
Assunto - Pel Caç Nat

Caro Luís

As minhas desculpas por não te ter respondido de imediato como devia ter feito, mas ... sempre alguma coisa (inventada) para fazer, cumulativamente com a crescente vontade de preguiçar.

Quanto ao Pel Caç Nat 51, pouco ou nada tenho para contribuir para esse louvável movimento de recuperação de memórias. Durante umas duas dezenas de anos, ou mais, após o meu regresso da Guiné, essas memórias foram atiradas para um qualquer pego bem fundo nos confins das recordações. Felizmente que por lá ficaram.

Prometo que vou ter o cuidado de ler tudo o que se publicar referente aos tais dois anos em que por lá estive (1969 e 1970) e pode ser que alguma coisa venha à tona.

Um abraço
Armindo Batata


2. Republicam-se, reeditadas, mais algumas fotos do álbum do nosso camarada, que esteve em Cufar, em rendição individual, durante o ano de 1970,  como comandante do Pel Caç Nat 51, depois de ter estado, durante o ano de 1969, em Guileje. 

Aproveita-se para recompletar as legendas com a ajuda de vários camaradas que passaram por Cufar em diferentes períodos:

(i) Mário Fitas (ex-fur mil, op esp,  CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/66);

(ii)  Eduardo Campos (ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74);

(iii) António Graça de Abreu (ex-alf mil, CAOP1, Canchungo / Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Acrescente-se, da nossa lavra, que nas fotos nº 56 e 64 vê-se o pau da bandeira e, na sua base, um pequeno monumento de homenagem à CART 1687 (Cachil e Cufar, 1967/69). 
Na foto nº 57  é visível um posto de vigia no alto de uma árvore, com uma escada de acesso. Devia ter uma bom ângulo de visão.

 
(i) Mário Fitas
  • Foto nº 62 > À esquerda identifica-se a pista de Cufar em terra batida, inaugurada em 1957 pelo então presidente da Republica Craveiro Lopes na sua visita à Guiné. Esta pista tinha na altura mil e novecentos metros de comprimento. No começo da pista ficava a entrada principal do aquartelamento. Ao fundo vê-se a mata de Cufar Novo, de onde foram extraídas as palmeiras para construção dos abrigos do novo aquartelamento. Do lado direito, vislumbra-se a mata de Cufar Nalu onde existia uma importante base do PAIGC e que foi tomada em 15 de naio de 1965 na operação "Razia". É bastante visível no sentido descendente a estrada para o cais do rio Manterunga.
  • Foto nº 56 > É a parada com o pau de bandeira, que não consigo identificar, se é o cibe que nós lá colocamos. Ao lado direito a Capela construída pelos "Lassas" e que posteriormente por outra companhia foi transformada em armazém.
  • Foto nº 64 > Parada, vendo-se ao fundo a antiga fábrica de descasque de arroz do sr. Camacho, e que em seu redor em abrigos cavados no chão era o aquartelamento que existia. De março a maio de 1965 foi um trabalho de loucos, para não sermos apanhados pelas chuvas nos buracos.
  • Foto nº 65 > Esta foto foi tirada do varandim da habitação da antiga quinta e transformada em habitação e funcionamento do comando.
  • Foto nº 66 > Julgo tratar-se da fachada norte do comando onde existia a tabanca dos milícias do João Bacar Jaló.
  • Foto 60 > Varandim do comando, vendo-se ao fundo a casa do gerador. Na altura da CCaç 763, de permeio, existia o canil.  
(ii) Eduardo Campos (esteve em Cufar apenas 4 meses em diligência, ao serviço do Cop4 e adido a CCAC 4740.)

  • Foto nº 57 e 62 > "O que a foto 57 nos mostra, tenho a certeza que já não existia, no meu tempo, pois pela sua originalidade eu jamais poderia esquecer o engenho e obra de arte que a mesma transmite."
  • Foto nº 62 > É Cufar, mas quando lá cheguei em 1972 o 'aglomerado residêncial' era muito maior. Do lado esquerdo da foto, parecer ser a pista em terra (quando lá cheguei já era em alcatrão) e saída para Catió e Matofarroba. Lado direito, o que parece ser uma estrada, seria a picada que ia para o porto no rio Combijã.
  • Fotos nºs 56, 64 e 65 > Recordo, aqui sem dúvidas, que são de Cufar. As restantes fotos não me recordo. Quanto a boas recordações de Cufar, direi que sim foram mesmo muitos boas: manga de ataques com foguetões (...), dois ataques de armas ligeiras ao arame, dormir numa tenda de campanha em que o colchão foi feitas de folhas de árvores e ainda alguma fominha á mistura. 40 anos depois e podendo até ser irónico, tudo isso para mim hoje, são mesmo boas recordações. As restante fotos não consigo identificar (...), mas por breves momentos voltei a Cufar, o que por si foi bom.

(iii) António Graça de Abreu

  • Fotos nº 57, 63 e 65: Não é uma terra portuguesa, é Cufar, com certeza. Mas Portugal andou por lá. Cufar é, na Guiné o único lugar onde eu gostava de regressar. Sofri em Cufar tanta, tanta dor, coisas que não tenho vergonha de contar seja a quem for. Adiante, camarada, ávante. Sou tão português que ainda gosto de sofrer, como se está a ver. 
  • Na foto 63, a tabanca mais à esquerda foi a minha casinha durante uns quatro meses. Os bidons cheios de terra eram uma segurança nas flagelações, mas havia muitas valas. O poleiro alto na foto 57 já não existia em 73/74. 
  • Mas a capela lá estava  (foto  65) e foi usada, infelizmente com demasiada frequência para guardar corpos de militares falecidos em combate, antes de vir o cangalheiro para depois seguirem de DO ou Noratlas para Bissau.



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) > O Jorge Simão, 
 residente em São João da Madeira, foi 1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71. Aqui junto ao edifício da secretaria... Várias companhias por aqui passaram, além da CART 2477: CCAÇ 763, CCAÇ 1621, CART 1687...  Na foto de cima, uma vista aérea de Cufar...


Fotos (e legenda): © Jorge Simão (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

3. Comentários adicionais de Armindo Batata: 

(i) Olha o Jorge Simão !!! Um abraço,  caro Jorge. A secretaria era ao lado do meu quarto. Tinha de facto uma 'chaise long'  à porta. Seria aquela?


(ii)  Caros Mário Fitas e Eduardo Campos: Disseram tudo o que era importante. Deixem-me só acrescentar dois pormenores: Foto nº 60 > Do lado de cá do extintor é a porta da secretaria e do lado de lá, a do meu quarto; Foto nº 57 >  Era um posto de vigia, raramente ocupado, junto ao canhão s/r e do lado de Cufar Nalu.

13 de outubro de 2012 às 21:37



Comentário do nosso leitor Henrique Reis, um "cufarense":

Feliz por estar aqui a conhecer a história duma tabanca/aldeia onde cresci (por meu pai lá ter trabalhado 5 anos pós a guerra colonial), anos e anos depois da vossa vida lá.

Vendo os vestígios da guerra colonial mas sem poder interpretar ou melhor conhecer bem a história, claro, ninguém podia nos contar. Conheço bem a pequena tabanca/aldeia de Cufar, vi os vestígios (sucatas de carros queimados logo depois do quartel e atrás a casa de gerador tínhamos sucatas de carros queimados... de balas de armas pequenas e grandes por todo e quanto é lado em Cufar, os restos do barco queimado ainda até a data está lá a ponta do barco no pequeno porto...o quartel ainda lá está). E vou lá de quando em vez visitar e prometo ainda dentro de dias poder ir visitar de novo e, se possível, vos trazer fotos daquela pequena aldeia/tabanca de Cufar que conheciam.

Meus muito obrigado à todos vocês.
"Cufarense"
Henrique Reis

8 de agosto de 2019 às 03:56