Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 11 de junho de 2021
Guiné 61/74 - P22273: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (56): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
Decididamente, aquele início de ano de 1970 começou muito mal, aquele desastre estúpido que vitimou Uam Sambu. Como Paulo recorda Annette, a memória é capaz de reter ao segundo a atmosfera, o ambiente do lugar, a movimentação das pessoas que precede uma inusitada tragédia, e essa mesma memória atira para o abismo acontecimentos de quase tudo o que se passou entre o Natal e o fim do ano. Houve um almoço de Natal com os soldados, a memória aí reteve muito, a negociação com o tendeiro dos frangos assados e da tachada de arroz, sobremesa e bebidas, a alegria esfuziante por todos partilhada. O Pelotão de Caçadores Nativos Nº 52 fora transformado numa agência de entregas, de biscates, de patrulhamentos e emboscadas, é o que hoje se chama um contrato zero, com o telemóvel sempre ao dispor da entidade patronal. Estranhos são os desvãos da memória, que conseguem reter uma oração da capela de Bambadinca a suplicar paz e destreza para evitar mais perdas e danos, umas boas horas antes daquele estúpido acidente em que até um tiro, entre todos aqueles que mataram Uam Sambu, me furou a camisa e que levou o supersticioso Cherno Suane a vender o mito urbano de que eu era digno de ser chamado o N'Baké, o guerreiro que nenhuma bala consegue matar. Assim se forjam as lendas.
Um abraço do
Mário
Rua do Eclipse (56): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Mon amour, Aqui vão as últimas notícias, dentro de dois dias aí estou na minha visita de médico para fazer a tal comunicação sobre a presença portuguesa na Bélgica, como já te disse ao telefone será no anfiteatro do belo Espaço Senghor, aderiram sete organizações que se dedicam ao relacionamento entre povos europeus, pedi licença para só ir uma hora antes, exatamente para estar contigo todo este curto período, no dia seguinte ao fim da tarde regresso a Lisboa. Passada esta exultação, a pensar na alegria de te ver, correspondo ao teu pedido de reproduzir o que foi o Natal de 1969 e os acontecimentos funestos passados ao amanhecer de 1 de janeiro seguinte. Não te posso esconder que ainda há uma dor reminiscente, é bem estranho como se praticamente apagou tudo na memória entre o dia 25 de dezembro e os acontecimentos do primeiro dia do ano, já te acostumaste certamente àquela estranha rotina em que eu e dois furriéis andamos a percorrer regulados como se fôssemos uma agência de entregas, em casos excecionais há a previsão de colunas ao Xitole, uma ou outra operação, patrulhamentos em Samba Silate e Nhabijões, ao tempo eram atividades que não matavam mas moía.
Como no ano precedente, chegaram vitualhas natalícias, de novo transportadas por quem vinha de férias e imperativamente tinha de regressar até ao dia 15 de dezembro. Como foram vistas por muita gente em Bambadinca, tive que repartir entre aquelas que se iriam comer na Consoada, a ter lugar na messe de oficiais e aquelas que foram devoradas no almoço com os meus soldados, no tal destacamento infecto da ponte do rio Undunduma.
Aí por 23, arranjei uma nesga de tempo para ir conversar com o Zé Maria da tasca e organizar um almoço com a gente do pelotão e alguns adventícios (caso dos motoristas, de um reparador de viaturas que ia regularmente a Missirá, os maqueiros), era simbolicamente um almoço em família, foi negociação áspera, uma certa quantidade de frangos, uma bruta tachada de arroz, um prato de papaia para cada um, vinho para uns e muita laranjada Fanta para os islamizados. Negociação áspera que o Zé Maria começou por me pedir o couro e o cabelo, tive de me comportar como um negociante árabe. Tudo decorreu numa atmosfera cordial, lembro-me de lhes ter agradecido a companhia e esperava em Deus que os até nove meses que tinha pela frente não nos trouxessem mais infortúnios (e não me atrevi a falar em mortos e feridos), não só lhes agradeci a companhia como lhes louvei a capacidade de sacrifício, a abnegação, o heroísmo. À tarde trabalhou-se, a noite de 24 foi calma, fomos dispensados de emboscadas ou patrulhamentos noturnos, jantei na messe com os meus camaradas, foi noite de tréguas. Por esta altura já estou informado que virá mais um furriel, o Vitorino Ocante e alguns meses mais tarde o sargento Manuel Cascalheira, revelou-se um operacional de primeira água. Vou-me deitar sabendo que tenho quatro dias de suplício na ponte do rio Undunduma, tu já tens aí a fotografia que alguém nos tirou pouco antes do almoço de Natal. Todas as minhas propostas para dar sentido à nossa presença naquele ponto e que passavam por patrulhamentos que se estenderiam até ao fim da tarde foram categoricamente inviabilizados pelo major de operações. Desculpa, querida Annette, não tenho mais histórias sobre aqueles quatro dias na ponte, voltámos, num desses dias que precedeu o fim do ano apareceu por lá o general Spínola, arengou com o comandante, prometeu voltar para ver se estavam a ser cumpridas as suas instruções sobre medidas de segurança. Retive na mente que nesta altura estávamos sem capelão e que na noite de 31, antes de partir para irmos emboscar no Bambadincazinho fui rezar à capela.
Dou-te alguns pormenores sobre o local, ficávamos ao lado da antiga Missão do Sono, o destacamento de engenharia tinha dado material para fazermos um farto U com bidons cheios de terra, era no seu interior que ficávamos em vigilância, a escassos quilómetros do aquartelamento de Bambadinca, assim se considerava que se dava a proteção a partir da estrada de Mansambo. Havia um transporte por Unimog por causa das munições, mas muitos de nós preferiam ir a pé para desentorpecer, já que se passava a noite em cima de uns panos, encostados uns aos outros, onde duas sentinelas em permanência, levávamos rações de combate. Íamos no lusco-fusco, era um entretém ver gente a chegar e a partir para Bambadinca e as tabancas limítrofes de Água Verde, Iero Nhapa, Aliu Jai, Saré Nhado e Queroane. E logo mergulhávamos num silêncio total, pontuado pelo piar das aves e o restolhar dos animais, lá longe a luz esfumada os holofotes. Era nesta inatividade e num quadro de alguma dormência, como eu dizia com bom humor, fazia despacho, era ali no sussurro da noite que eu ouvia pedidos de empréstimo de dinheiro, falava-se no paizinho ou mãezinha doente, choros e mezinhos, dar dinheiro ao irmãozinho que ia para Bolama, pedir dinheiro emprestado ou adiantado é uma constante, com o furriel Pires abordávamos a burocracia que nos esperava na secretaria do batalhão, e assim chegava a prostração e o dormitar. Só que o inesperado soou mais forte. Já estávamos a cabecear quando aí pela meia-noite rebentou um medonho foguetório, pusemo-nos de pé e rapidamente Queta Baldé falou-me ao ouvido: “É o Xime, nosso alfero, estão a embrulhar!”. O pior é que dos lados do Enxalé também se levantou uma tempestade de fogo, manifestações estranhíssimas, fogo para os céus, lembrava pirotecnia. Usei o telefone de campanha, Bambadinca tranquilizou-me, era fogo festivo, tudo para celebrar a mudança de calendário.
Mais umas horas de repouso e despontou o amanhecer. Agora sim, minha adorada companheira, sou capaz de recuperar milimetricamente o nosso levantar entorpecido, a ida atrás de uma árvore para satisfazer uma necessidade, o roncar, a princípio longínquo e depois mais perto, do Unimog conduzido pelo Xabregas (de seu verdadeiro nome Mário Dias Perdigão), vamos arrumando as mantas, os faróis do Unimog aproximam-se, dispõem-se as caixas das munições por baixo dos bancos, a viatura é um Unimog 411, vulgo burrinho, só dá para dez militares sentados, os outros regressam a pé. Subo para o banco ao lado do Xabregas, há quem se encavalite no cimo da caixa, é Uam Sambu que diz a Quebá Sissé, o nosso cozinheiro de Missirá, de andar peculiar, desengonçado, costas abauladas e mãos estranhamente descidas, mas sempre sorridente: “Sobe Doutor, dá cá a mão!”. Quebá Sissé sorri, é menos uns quilómetros que vai fazer a pé, e o sossego do amanhecer é violado pelo estrondo de uma rajada de G3, atabalhoado procuro pôr-me de pé, ouvem-se gritos e imprecações, um coro desorientado de protestos, e com todo o seu peso Uam arrasta-me para o fundo do banco, enterro-me no assento com um homem que golfa sangue, camisa encharcada, sinto que todo este líquido se me cola ao peito, Uam é a máscara do sofrimento, os lábios num esgar de dor, o olhar a esmorecer, não há que hesitar, o burrinho corre à desfilada, passamos por grupos de soldados atónitos, vou a correr tirar da cama o Vidal Saraiva, ele olha-me perplexo, pensa que o ferido sou eu, tenho sangue do pescoço à cintura, vamos a correr para a enfermaria. Já deu para perceber como se dera o mais estúpido dos acidentes: o infeliz Doutor ao subir metera o dedo no gatilho, que estava em posição de fogo. Enquanto o Vidal Saraiva tenta desesperadamente salvar Uam, chama à parte o Domingos Silva, temo que haja retaliações ao Doutor, ser mais pacífico não conheci na Guiné, ninguém lhe vira um azedume, pedi ao Domingos para ir imediatamente explicar a toda a gente o que se passara, queria o Doutor fora de perigo, que o levasse imediatamente para casa do Sr. Rendeiro, a meu pedido, que este o mantivesse resguardado e escondido qualquer curioso. Quando regressa à enfermaria, o Vidal Saraiva, com o seu bem vincado acento nortenho deu-me conta da gravidade da situação, Uam só escaparia por milagre, tinha órgãos vitais atingidos, pulmões e rins bem lesionados, já tinha sido pedida uma evacuação Y, chegou felizmente com rapidez uma avioneta DO, o pelotão inteiro acompanha o nosso mansoanque várias vezes sinistrado, na maca Uam estará inconsciente, ter-lhe-ão dado morfina, não deixo de lhe ir falando, que se restabeleça rápido e bem, é amigo que nos faz falta. E recordo, minha adorada Annette, os gritos dementados da mulher de Uam, Binta, a minha lavadeira de Missirá, trouxe coro, ouve-se um alto carpir, procuro tranquilizar Binta, há que ter esperança. Pedi ao segundo comandante para nos pôr rapidamente em movimento, passámos a tarde em Galomaro, levámos depois traquitana para Madina Bonco, e exigi que nessa noite voltássemos à Missão do Sono.
Sim, começava muito mal 1970. E na tarde do dia seguinte chegou-nos a notícia de Bissau: Uam finara-se no bloco operatório. Na lamechice, fui para o meu quarto e garatujei um poema que começava assim: “Canhoto (cachimbo) chupado, preto mansoanque,/ Manto de Navarra (Uam, nas horas vagas, punha um manto garrido, com as cores daquela região de Espanha), um gamo antigo…”. Não te quero aborrecer mais com este lirismo pindérico. É muito tarde, tenho amanhã um dia cheio, passará rapidamente, só pensar em ti. Nem penses em alterar a tua vida para me ires buscar ao aeroporto, vou direito à Rua do Eclipse. É assim a nossa vida, e não me canso de agradecer o amor que me dás e a constância da felicidade que me acompanha a toda a hora. Bisous, bisous mil, Paulo
(continua)
Mon amoureuse, dizes-me com insistência que as imagens que te envio te dão vida, enchem-te a casa, são uma das consolações da minha ausência. Esta pode parecer-te um tanto inexpressiva, mas tem a ver com um passeio que deste em Lisboa, tínhamos visitado o Museu Nacional do Azulejo, tu estavas surpreendida quando te disse que Portugal era a principal potência mundial do azulejo, confirmaste. Depois passeámos pela velha Lisboa Oriental. E em Marvila apontaste para o alto da igreja, com admiração, por tão belos azulejos que mal se podem ver. Tirei fotografia, espero que te lembres do dia tão feliz que vivemos
É a escultura que mais me fascina de toda a arte da Guiné. Tu viste em casa uma muito parecida, chama-se Ninte Kamatchol, é obra-prima da escultura nalu, diz-se que afugenta os maus espíritos, pois eu espero que a nós os dois só traga grandes venturas
Mon adorée, comecei a fazer programas de televisão em 1978, a televisão portuguesa facultou-me um estágio na TV e rádio da BBC, aprendi muito, sobretudo a aperceber-me que o consumo é um indicador de civilização e cultura, o que é importante num país pode ser irrelevante noutro, e naquele tempo alastrava penúria, havia que falar direto ao exercício da cidadania. O meu primeiro programa era dedicado exatamente à realidade britânica e indiciadas situações que podíamos adaptar. Em Saint James Park houve uma curta filmagem, alguém fotografou. Meses depois começava o meu primeiro programa de televisão, 10 milhões de consumidores, entre as 19h30 e as 20h
Uma noite, em 1994, fui ao velho Teatro Municipal de Almada ver a peça de Samuel Beckett "Os Dias Felizes". Dizem que é o maior quebra-cabeças para qualquer encenador, este gigante da literatura, como escreveu o encenador Roger Blin, “constrói frequentemente frases sem verbo, muito curtas, com uma única palavra seguida de um ponto, depois de uma palavra que contradiz a precedente, ou a confirma, ou acrescenta uma nuance”. Adorei o desempenho da atriz Teresa Gafeira, dentro de um montículo de areia, interpretação sublime. Tinha acabado de preparar um livro para a Bertrand, pedi à atriz licença para usar a sua imagem, licença concedida. Pode comparar as duas fotografias, gosto muito delas
Falei-te do John Yong, aquele jovem engenheiro de mármores que encontrei à porta do Museu Vaticano, na antevéspera no Natal de 1985, tudo rocambolesco, o jovem foi roubado duas vezes, lá andámos pela companhia aérea e pela embaixada a arranjar os papéis indispensáveis para ele regressar antes do Natal a Selangor. Quando me escreveu a devolver o dinheiro mandou-me esta fotografia que me tirou na Praça do Vaticano. Como tu gostas muito de recordações minhas e de tempos em que não me conhecias, aqui vai
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Nota do editor
Último poste da série de 4 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22252: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (55): A funda que arremessa para o fundo da memória
quinta-feira, 10 de junho de 2021
Guiné 61/74 - P22272: Blogpoesia (740): "Guiné-Bissau - Canchungo", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)
Bom dia Carlos Vinhal
Aqui vai a Vila de Teixeira Pinto para a Tabanca Grande e todos que nela estão inseridos.
Tal como eu, foram muitos os que por lá passaram e, para não me esquecer, quis escrever assim desta forma, como aliás sempre o tenho feito.
Um abraço para todos os Régulos, para vós Chefes de Tabanca e para todos os Tertulianos.
Albino Silva
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Nota do editor
Último poste da série de 6 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22259: Blogpoesia (739): "Orgulho e Preconceito"; Encruzilhadas da vida" e "Fiz-me ao largo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P22271: Blogues da nossa blogosfera (161): Os Comandos nos Três Teatros da Guerra do Ultramar (1961/75) (Alberto Helder)
Subject: Os Comandos nos Teatros da Guerra do Ultramar
Exmª Senhora ou Exmº Senhor
Com os melhores cumprimentos e com imensa satisfação que dou conta ter concluído, hoje, o projecto acima referido, após 530 dias do primeiro tema publicado, que ocorreu em 15 de dezembro de 2019. Este empreendimento estava previsto concretizar num espaço de cinco anos (1826 dias), mas, uma das consequências da crise epidemiológica que nos afeta gravemente, deu para reduzir substancialmente a planificação.
Entretanto, avanço já com os sinceros e profundos agradecimentos às entidades, seus responsáveis, representantes e colaboradores, dado que, sem a sua valiosa ajuda, importante e imprescindível não seria possível concretizar esta tarefa, inédita e histórica.
Eis os signatários:
- Associação de Comandos, Arquivo da Defesa Nacional,
- Arquivo Geral do Exército,
- Arquivo Histórico-Militar,
- Biblioteca da Defesa Nacional,
- Biblioteca do Exército,
- Biblioteca da Liga dos Combatentes,
- Câmara Municipal de Lamego,
- Câmara Municipal de Tarouca,
- CAVE-Centro de Audiovisuais do Exército,
- CECA-Comissão para o Estudo das Campanhas de África (Estado-Maior do Exército) (já extinta),
- Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, IP,
- CTOE-Centro de Tropas de Operações Especiais,
- Direção de Administração dos Recursos Humanos do Exército (Ordem do Exército),
- Direção de História e Cultura Militar,
- Hemeroteca Municipal de Lisboa,
- Liga dos Combatentes,
- Radio e Televisão de Portugal, SA,
- Regimento de Artilharia Antiaérea 1
- e Regimento de Comandos.
Naturalmente que o reconhecimento é extensivo a todos aqueles a quem contatei para saber mais e melhor, especialmente junto do saudoso, leal e sempre pronto e prestável Amigo José Manuel Pinto Gomes (27.05.1951/07.01.2021), colaborador da Associação de Comandos, que muito pugnou para que este projeto tivesse o desejado êxito, razão, porque todo este trabalho é-lhe dedicado, pelo merecimento e em sua memória.
Contudo, a todos, sejam coletivos ou individuais, o meu bem haja, extensivo, como se compreende, aos 40.430 visitantes que fizeram o favor de ir acompanhando e visualizando o trabalho através do blog!
Foi, sem dúvida, para mim, uma agradável tarefa desenvolver esta iniciativa, a qual foi por mim idealizada, planeada, produzida e publicada, a tempo e horas e sem qualquer falha, no meu espaço na Net (http://albertohelder.blogspot.com/), e que se resume em:
- 25 séries;
- 201 episódios;
- 2.483 imagens;
- 10.588 militares mobilizados para África;
- 14.966 instruendos frequentaram os cursos da especialidade;
- 425 óbitos;
- 530 condecorações para 412 galardoados;
entre outros temas que marcaram a vivência dos Comandos naquele confronto.
Recordo que também fui o autor de dois outros trabalhos idênticos, isto é, relacionados com aquele conflito armado, como a coleção "A Polícia Militar no Ultramar", que abrangeu a sua participação em:
- 131 episódios, referentes às 121 unidades que estiveram em:
- Angola (42),
- Cabo Verde (12),
- Guiné (16),
- Macau (8),
- Moçambique (21),
- São Tomé e Príncipe (15),
- e Timor (7);
- ilustrados com 2197 imagens;
- 11.071 os militares mobilizados para o Ultramar;
- 48 óbitos
- e 33.515 visualizações.
Trabalho publicado no mesmo local de 15 de maio de 2017 a 10 de agosto de 2019.
E da colectânea "Outras Unidades que Serviram no Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe", e "Militares Falecidos em São Tomé e Príncipe", entre 1961 e 1977, onde se destacaram:
- 34 episódios;
- 31 Unidades militares;
- 34 imagens;
- 2.659 militares;
- 15 óbitos;
- e 5.948 visualizações.
Também dado a conhecer no blog, de 29 de novembro de 2018 a 29 de janeiro de 2019.
Há que dizer que estes desenvolvimentos não tiveram qualquer apoio monetário ou outro e, por mim, foram oferecidos, graciosamente, às 2 Associações das referidas forças militares, assim como os direitos de autor, se vierem a ser acionados. Uma delas já editou o trabalho em papel, tipo "Revista", publicando os contingentes que cumpriram a sua missão em São Tomé e Príncipe, Macau, Timor e Angola.
Para quem não sabe direi que, com 22 anos de idade, cumpri o serviço militar obrigatório no Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe, de junho de 1964 a junho de 1966, como Soldado/1.º Cabo de Transmissões de Infantaria, experiência que me ajudou na execução destas tarefas, contribuindo, assim espero, para destacar e registar temas de relevante interesse para memória futura e para o conhecimento geral do que foi a Guerra do Ultramar.
Resta acrescentar a informação que a documentação que serviu de suporte ao tema "Os Comandos nos Três Teatros da Guerra do Ultramar", irá ser entregue na Associação de Comandos, cumprindo o prometido, para que as inúmeras fotocópias, dados e gráficos, assim com as largas centenas de fotografias e imagens, estejam disponíveis a quem desejar continuar a saga, com novas ideias e trabalhos sobre a vivência dos Comandos em terras de África.
Finalmente: o meu próximo passo, a aventura que se segue, a qual está prevista realizar em dois anos:
"Estado da Índia, 463 anos de história".
Saudações de apreço, consideração e respeito.
Alberto Helder
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Nota do editor:
Último poste da série > 9 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22266: Blogues da nossa blogosfera (160): Vida e morte do capitão Sebastião Roby (Braga, 1883 - Angola, 1915) (Excerto de "O sal da história", de Cristiana Vargas)Guiné 61/74 - P22270: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte IX: Quioto, Japão, Abril de 2014
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.
Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros.
É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos dessa união, João e Pedro; é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem 280 referências no blogue.
Kyoto, Japão, 2014
Kinkakuji 金閣寺, o pequeno Templo do Pavilhão Dourado a norte de Kyoto, é talvez a maior maravilha do Japão. Três andares sobrepostos em madeira revestidos a folha de ouro, com estacas como alicerces, seguram a construção mergulhada na limpidez de um pequeno lago, o pavilhão flutuando nas águas, oscilando nos verdes da encosta dos montes. Budismo zen, água, terra e céu, o resplandecer da harmonia.
Rodeio Kinkakuji, a norte, a leste. À distância, imagens do ouro esbatidas no luxo da vegetação, e uma taça de saké na margem do lago do Espelho. Silêncio. Apenas um coração bate, num abraço depurado ao pavilhão.
Tinha hora marcada para o regresso ao autocarro que me iria levar na continuação da jornada pelo "melhor de Kyoto". Diante do ouro do Kinkakuji, de espanto em espanto, esqueci o tempo, perdi o transporte. Que bom! Ainda tenho mais dois dias em Kyoto. Toda a cidade à minha espera.
Ao lado do Kinkakuji, os kamis, entidades mágicas, seres divinizados, forças da natureza no xintoísmo, passeavam-se num pomar de cerejeiras em flor. Uma saudação, Dai Nippon, o grande Japão.
António Graça de Abreu
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 5 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22256: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte VIII: Mosteiro de Yuste, Estremadura, Espanha, 2003
Guiné 61/74 - P22269: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (87): senhoras de Bolama mandam celebrar missa do 7º dia por alma dos aviadores italianos, mortos no acidente aéreo de 6/1/1931
Data - 09/06/2021, 10:49
Meu prezado dr. Ming,
quarta-feira, 9 de junho de 2021
Guiné 61/74 - P22268: Historiografia da presença portuguesa em África (266): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (3) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
As Actas da Sociedade de Geografia de Lisboa põem-nos no centro das preocupações de uma assembleia compósita onde não faltavam os principais políticos, figuras da aristocracia, cientistas, empresários e banqueiros e meros entusiastas na nova formulação do nacionalismo imperial assente em África. Ali se faziam proposta para trocar colónias, para formar uma administração colonial capaz e esclarecida, propunham-se estátuas, projetos hidrográficos, levantamentos, estudos sobre comércio e indústria, discutia-se calorosamente os tratados portugueses com a Grã-Bretanha, e de igual forma se defendia o Meridiano de Greenwich. Aqui se cita alguns elementos de uma circular enviada aos sócios sobre o que era a Sociedade de Geografia, a sua ligação a toda a sociedade por se considerar depositária de um bem público, o museu estava a constituir-se, aceitava-se uma parceria com o Jardim Zoológico, subvencionava-se uma nova exploração de Capelo e Ivens, aqui configurados como heróis nacionais.
Vamos ver que surpresas nos vai oferecer a Sociedade de Geografia, estamo-nos a aproximar da Conferência de Berlim.
Um abraço do
Mário
O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (3)
Mário Beja Santos
Que grau de utilidade podemos encontrar no estudo das grandes preocupações dos sócios da Sociedade de Geografia de Lisboa naqueles anos entusiásticos em que se procurava alicerçar o III Império Colonial, radicado em África? Analisar o funcionamento de um grupo de pressão para onde convergiam figuras de topo do rotativismo político, cientistas, empresários e até um elevado número de nacionalistas que acreditavam ardentemente que a Sociedade de Geografia era a sede habilitada para dar voz aos interesses imperiais. É por isso que estamos não à volta do boletim, publicação onde caprichavam estudos e documentos apresentados pelos sócios, nós aqui estamos a acompanhar as sessões para tentar perceber as motivações concretas de todos os sócios e ver como estas propostas chegavam ao Governo, entravam na arena política ou faziam mesmo parte da discussão pública.
Estamos na sessão de 20 de janeiro de 1883, e o sócio José Ferreira de Almeida apresenta a seguinte proposta: “A Sociedade de Geografia de Lisboa, tendo em vista o melhor aproveitamento, civilização e progresso dos domínios coloniais portugueses; no interesse do país e da humanidade, e no intuito de uniformizar o regime administrativo e tornar mais eficazes os meios de ação de que o país dispõe, seguindo-se a norma que o Governo de Sua Majestade acaba de adotar com relação aos territórios banhados pelo Zaire e o Forte de S. João Baptista de Ajudá: Propõe: 1.º - A troca do domínio de Timor pelo de Fernando Pó cedido à Espanha pela Convenção de Março de 1778; 2.º - A cessão à França do domínio da Guiné compreendido nos paralelos de 10º 12´ e 13º e 10´ ; pelo domínio francês do Gabão, levando a fronteira da nossa província de Angola de 5º 12´ sul à fronteira norte do domínio francês ao norte do Equador. A proposta foi enviada para a Comissão Africana. Também durante esta sessão se falou num concurso com um prémio de 100 mil reis para um estudo sobre as relações comerciais entre Portugal e as suas colónias, tendo em vista o alargamento dessas relações a fim de que a indústria nacional se desenvolva e aproveite para consumo dos seus produtos nos mercados coloniais".
Na sessão do mês seguinte foi aprovada uma proposta de se proceder ao levantamento hidrográfico da costa e possessões portuguesas, e particularmente das costas, portos e rios da província de Angola. Na sessão do mês seguinte quem a preside é o Conselheiro António Augusto de Aguiar pois Barbosa du Bocage fora nomeado Ministro da Marinha e Ultramar. Fala-se das ingerências da Grã-Bretanha na questão do Niassa, “os ingleses davam-se ares de pertencer-lhe, como se tinham dado de o ter descoberto”.
Na sessão de finais de Abril elaborou-se e aprovou-se parecer sobre a questão do meridiano universal, reconhecendo-se que o meridiano de Greenwich é a situação mais prática, a Sociedade de Geografia vota por este meridiano como universal para origem da contagem das longitudes. Mas havia na época muitas consultas, no caso português incluía-se o Real Observatório Astronómico da Ajuda. Na reunião seguinte surgiu a proposta de promover por meio de uma subscrição a ereção de uma estátua colossal do Cabo de S. Vicente ao Infante D. Henrique e que o lançamento da primeira pedra devia já ocorrer no ano de 1884. A questão do Zaire, que deu origem a um tratado entre Portugal e a Grã-Bretanha é matéria de grande debate. Nas sessões seguintes ocupam grande espaço as expedições de Capelo e Ivens.
No ano seguinte, logo na sessão de março é criada a Secção Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa e nas eleições António Augusto de Aguiar passa a presidente da Direção. Neste tempo, a Sociedade reinstalara-se na Travessa da Parreirinha, N.º 5, 1.º andar e envia-se uma circular aos sócios de onde se destacam os seguintes parágrafos:
“Nós somos uma modesta Sociedade de homens que estimam e servem a ciência e o nome português; a nossa casa é uma oficina pobre, um centro despretensioso de estudo e de convívio útil, sustentado principalmente pelas nossas pequenas cotas mensais. Não é um grémio de luxuoso passatempo, nem o nosso fim comum é cuidarmos do nosso conforto e recreio.
Rigorosamente, à cavalheirosa e discreta dedicação de todos os nossos consócios fica entregue a guarda e a polícia da nossa casa, como naturalmente lhes pertence também a guarda e defesa do nosso bom nome social. Por enquanto, pelo menos, a casa da Sociedade não poderá estar aberta ordinariamente senão desde as 10 horas da manhã até às 4 horas da tarde, e desde as 8 até às 12, precisas, da noite, todos os dias. A nossa casa não é um clube. Julgamos por isso escusado observar que não podem ser consentidos nela nenhuns jogos ou diversões alheias à índole e à lei da Sociedade, como também o não podem ser nenhumas discussões e operações de propaganda religiosa e política (quem consultar a lista dos sócios poderá verificar esta versatilidade de ocupações, desde o banqueiro Francisco Oliveira Chamiço, fundador do Banco Nacional Ultramarino, até um conjunto elevado de funcionários públicos).
Na nossa casa havemos de nos encontrar, conversar, estudar, permutar as nossas ideias e as nossas informações, sempre num convívio sereno e grave, a que nunca deixará de estar presente a ideia da nossa honra e do nosso dever comum.
Considerando as vantagens científicas do estabelecimento de um jardim científico em Lisboa, as íntimas relações deste empreendimento com os fins da sociedade, e os próprios sentimentos, neste sentido manifestados pelos nossos consócios, mas considerando também que os novos e consideráveis encargos sociais nos recomendavam a mais severa economia e o mais escrupuloso retraimento no sentido da concessão gratuita das nossas salas e serviços, temos acordado com a sociedade promotora daquele jardim de estudo, composta da sua maioria de consócios nossos, e que na nossa casa se instalou e tem funcionado até hoje, que ela continue na nossa sede, mantida a recíproca independência e sem prejuízo do nosso expediente e serviços.
Está começada a instalação do nosso museu, graças à dedicação de alguns dos nossos consócios; procura ser, em parte, um museu de estudo e aplicação industrial e comercial, principalmente no que importa às relações comerciais. Vem aqui a propósito submeter à consideração de V. Exas. a ideia em que estamos, de franquear ao público, em certos dias, a nossa casa, para exame e estudo das nossas coleções.
A Sociedade de Geografia é filha legítima da iniciativa particular”.
Falou-se acima de que Capelo e Ivens era um tema dileto por causa das suas explorações, veja-se o que se escreveu numa das sessões:
“O Sr. Presidente informou a Assembleia de que ia entregar aos senhores Capelo e Ivens, em véspera de partirem para uma nova exploração na África Ocidental, a bandeira que os acompanhará na sua primeira expedição ao continente africano. E acrescentando algumas palavras de elogio e de estímulo aos ilustres exploradores, dirigiu-se com os secretários para a mesa onde se achava a bandeira, entregando-a aos senhores Capelo e Ivens, erguendo-se toda a assembleia e vitoriando calorosamente aqueles consócios. Deixou-se claro que a expedição africana se devia em grande parte à Sociedade de Geografia. Roberto Ivens agradeceu comovido em seu nome e de Ermenegildo Capelo, disse que aquela bandeira já testemunha e será companheira de uma missão de paz e de ciência. ‘O Sr. Serpa Pinto, tomando a palavra despediu-se comovido dos seus antigos companheiros e lembrou à Mesa a urgência de formar uma comissão de vigilância para se ocupar exclusivamente dos dois exploradores enquanto eles estivessem no desempenho da sua nobre missão”.
(continua)
Nota do editor
Último poste da série de 2 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22249: Historiografia da presença portuguesa em África (265): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22267: (Ex)citações (386): Valeu a pena andarmos todos à porrada, nós, e os ingleses, e os bóeres, e os alemães, e os cuanhamas, e os hereros, naquele Cu de Judas que era o sul de Angola e o Sudoeste Africano? (António Rosinha / Valdemar Queiroz)
A batalha de Naulila foi feita contra os alemães para defender aquela fronteira(sul). Os alemães que também nos massacraram em La Lys naquele tempo, forneceram armas aos Cuanhamas que eram muito difíceis e muito rebeldes e até bastante insociáveis e até 1974 não pagavam imposto.
Hoje, estes dias (jornais de duas semanas passadas), a Alemanha aceitou considerar genocídio aquilo que fizeram a sul de Naulila, ou seja, no sudoeste alemão (Namibia), genocídio contra os irmãos destes mesmos Cuanhamas que do lado de lá se chamam Hereros.
Os alemães precisavam dos rios do sul de Angola.
Os alemães perderam a I Guerra Mundial, com muitos sacrifícios da nossa parte, se a vitória tem sorrido aos alemães, Angola e Moçambique e seus habitantes tinham outro destino, principalmente os Cuanhamas, armados pelos alemães, falava-se em Mausers contra as nossas Lee-Enfields (ou coisa que o valha).
O 25 de Abril apanhou-me a fazer estradas exatamente naquela fronteira do sul.
Será que valeu a pena nós e os alemães andarmos à porrada naquele cu de judas?
É melhor perguntar aos descendentes de Agostinho Neto, de Lúcio Lara, de Eduardo dos Santos e de Savimbi, mais uns generais, eles é que se podiam pronunciar sobre o resultado final.
8 de junho de 2021 às 15:21
(ii) Valdemar Queiroz (*)
Rosinha
É uma chatice e não nos sai da cabeça, o que se passou com a colonização da América do Norte e do Brasil, a colonização espanhola agora não entra.
Aquilo é que foi, e porque em África não aconteceu a mesma coisa? Até já havia por lá mão d'obra de borla.
Parece que em África (subsariana) só a partir do séc. XVII, com a chegada dos camponeses calvinistas holandeses (boéres)(#) ( ao sulO, é que deixou de ser quase unicamente a "mina" do negócio de escravos. Os boers fixaram-se no terreno e dedicaram-se à agricultura como já tinha feito outros calvinistas na América do Norte.
Por isto, a África nunca poderia ser igual à 'era só mais uns aninhos e tínhamos outros Brasis pra nós, ou anos antes outra América para os ingleses, franceses e outros' e, agora, com a civilização cristã e ocidental não haveria todos aqueles problemas em África.
Não sabemos é se aconteceria o mesmo que aconteceu aos índios da América do Norte.
Abraço
Valdemar Queiroz
(#) boers, em neerlandês pronuncia-se bôarrss
8 de junho de 2021 às 18:04
(iii) António Rosinha (**)
Umpungo, onde este heroi Roby morreu era ainda muito longe da fronteira e onde se deu a anteriormente mencionada batalha desatrosa de Naulila, só que os indígenas de Naulila eram Cuanhamas, e no Umpungo eram Mamuilas, da Huila.
Conheci desde 1958 estas regiões profissionalmente e conheci muitas histórias contadas por gente ainda viva de Sá da Bandeira e do Roçadas (Humbe) e Pereira D'Eça (Ondjiva).
Os alemães incitavam e armavam a população contra nós, mas não me tinha apercebido que vinham tanto para norte.
Ainda em 1958 ir de Luanda até estas regiões era muitíssimo complicado, apercebi-me porque trabalhei e percorri profissionalmente, em cartografia e estradas toda esta região.
O General Roçadas levou tareia e só mais tarde o General Pereira D'Eça é que dominou , mas só com a ajuda dos Boeres, porque estes muitos tinham-se refugiado no Sul de Angola, devido a guerras que mantinham com ingleses que nunca entendi bem, ainda viviam algumas familias naquela região no 25 de Abril, e do lado da Namíbia deram muita luta aos alemães.
Os boeres deixaram uma tradição de transporte animal, usada pelas nossas tropas no sul de Angola que constava quase exactamente com os nossos carros de bois que bastante estreitos, usavam os caminhos de pé posto dos indígenas, que com uma ligeira desmatação, ficaram a ser conhecidos por caminhos dos boeres, e desenrascava para levar armas e mantimentos em distâncias enormes.
Esta guerra no sul de Angola terminou com a derrota dos alemães nesta e noutras frentes evidentemente, mas o domínio total sobre a rebeldia dos Cuanhamas foi com uma batalha também célebre em Angola a batalha da Mongua com o General Pereira D'Eça.
Também nessa guerra foi usada alguma cavalaria e os Cuanhamas também usavam cavalos.
9 de junho de 2021 às 12:06 (***)
Guiné 61/74 - P22266: Blogues da nossa blogosfera (160): Vida e morte do capitão Sebastião Roby (Braga, 1883 - Angola, 1915) (Excerto de "O sal da história", de Cristiana Vargas)
1. "O sal da história" é um blogue de Cristiana Vargas, natural de Alcácerdo Sal. Define.se a si própria como "jornalista de formação e coração, arquivista por acasoe – xistem acasos? – e por enquanto. Apaixonada pela história e as suas estórias"...
2. Blogue "O sal da história", de Cristiana Vargas > 1 de Abril, 2021 > O verdadeiro Capitão Roby não era um burlão sedutor
(...) A sua morte também dava um filme, mas acabou quase esquecida, entre as muitas que Portugal sofreu ao defender as suas possessões em África. Os dois irmãos Roby queriam ser heróis.
Sabe quem era o capitão Roby? Provavelmente responderá que foi um pinga-amor célebre nos anos 80 do século XX por, alegadamente, ludibriar as suas apaixonadas, façanha que até valeu uma série televisiva baseada na sua vida. O problema é que o verdadeiro Capitão Roby, que poucos conhecem, nada teve que ver com tais proezas, embora a sua vida - ou antes, a sua morte - também pudesse dar um filme, muito menos picante, mas bem mais trágico. Há exatamente um século, os seus restos mortais chegavam a Portugal, quase ao mesmo tempo que os do Soldado Desconhecido, que bem podia representar.
(...) Em março de 1921, o capitão Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira (**), regressou à metrópole como herói, embora morto, a bordo do navio “Zaire”, para finalmente repousar na sua terra natal, Braga. Tinha sucumbido quase seis anos antes, numa emboscada ocorrida em Angola, que as crónicas da época classificam como um autêntico massacre. Tinha apenas 31 anos de idade e participava nos esforços portugueses para defender o seu “Império” face à ameaça alemã, ainda antes da entrada oficial do nosso País na I Grande Guerra.
(...) Estava em África na coluna do general Pereira d’Eça e liderava uma companhia indígena. Ofereceu-se para levar por diante uma operação de reconhecimento extremamente arriscada e que implicaria a mais que provável chacina do grupo que a empreendesse.
Tratava-se de verificar as condições de um trilho importante para a movimentação das tropas, na província do Huila. Isto obrigava a uma incursão em área conhecida pelo terreno inóspito e os povos revoltosos.
O seu superior não o queria expor a tal perigo, dada a sua patente, ao que Sebastião terá respondido que “quando se serve a pátria não há postos, mas apenas deveres a cumprir”.
Face a tal determinação, seguiu comandando vinte homens, entre os quais um cabo. Não levavam bússola, o que terá contribuído para se afastarem da rota inicial e se irem colocar precisamente “na boca do lobo”, na zona de Quiteve.
(...) Corajoso, confiante na sua missão pacífica e na reduzida dimensão do seu grupo, que achava não inspirar animosidade, Roby não soube reconhecer os sinais de perigo real ao ser sucessivamente abordado por indígenas.
Quando se deu conta, já era tarde.
O Capitão ainda deu ordem de fogo e disparou alguns tiros, mas caiu fulminado no chão, trespassado por uma bala que lhe entrou pelas costas.
Os atacantes pediram então as armas, as munições, os animais e o corpo de Roby. O temerário cabo, que passou a ter a voz de comando, recusou as exigências, fez atar o cadáver do Capitão a um dos camelos, como se estivesse vivo, e ordenou fogo, em nome daquele.
A ordem repetir-se-ia várias vezes, até estarem a salvo, dez horas e 40 quilómetros depois. Chegaram exaustos, mas apenas perderam um homem pelo caminho.
Sebastião Roby, Capitão de Artilharia, feito mártir nesta contenda em que perdeu a vida, a 10 de junho de 1915, receberia a Cruz de Guerra de 1ª classe, a título póstumo.
Seria também homenageado, num monumento em Braga e na toponímia de várias cidades, aliás como o seu irmão João, segundo tenente e também “herói” da nossa guerra em África. (...)
Guiné 61/74 - P22265: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte II: cap inf Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira (Braga, 1883 - Angola, 1915)
Sebastião Roby (1883 - 1915)
Nome: Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira
Posto: Capitão de Infantaria
Naturalidade: Braga
Data de nascimento: 30 de Outubro de 1883
Incorporação: 1902 na Escola do Exército (nº 166 do Corpo de Alunos)
Unidade: 9ª Companhia Indígena de Infantaria
Condecorações: Cruz de Guerra de 1ª classe (a título póstumo)
TO da morte em combate: Angola
Data de Embarque: 3 de Fevereiro de 1915
Data da morte: 10 de Junho de 1915
Sepultur: Braga
Circunstâncias da morte: Na condução de um reconhecimento, na região de Quitexe, atacado pelo gentio foi mortalmente atingido.
Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.
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terça-feira, 8 de junho de 2021
Guiné 61/74 - P22264: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (hoje, Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte I: Apresentação | Artur Homem Ribeiro, cap inf (Canas de Senhorim, Nelas, 1874 - Angola, 1914)
Lisboa > Academia Militar > Palácio da Bemposta > Memorial dos cadetes mortos em combate: I Grande Guerra (1914-1918)
Durante duas dezenas de anos prestei serviço na Academia Militar e sempre cuidei de carrear informação para manter actualizado o memorial aos Oficiais do QP oriundos da EE [Escola do Exército] , EG [Escola de Guerra] e da AM [Academia Militar] . Mortos em Combate no período de 1833 a 1975. [A actual Academia Militar, criada em 1959, é herdeira da Escola do Exército (1837-1910), Escola de Guerra (1911-1919), Escola Militar (1919-1938), e de novo Escola do Exército (1938-1959)]
Nas inúmeras vezes que participei em cerimónias no Palácio da Bemposta e olhei os nomes dos camaradas gravados na pedra, sempre me senti constrangido ao reconhecer que pouco ou nada conhecia de muitos dos que nela figuram.
Este documento é o resultado da tarefa a que me dediquei para tornar público o seu percurso de militares combatentes do Exército e da Força Aérea. Importa agora que seja conhecido por todos os Oficiais do QP, ex-cadetes da Escola do Exército e da Academia Militar, a quem cabe o dever de honrar e não esquecer os “melhores de todos nós” que caíram e deram a vida por Portugal.
O site da AM presta homenagem aos seus ex-cadetes em (https://academiamilitar.pt/filhos-da-escola-do-exercito-e-da-academia-militar.html
Amadora, Setembro de 2019
António Carlos Morais da Silva
Cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da AM
Coronel de Artilharia
Artur Homem Ribeiro
(Canas de Senhorim, Nelas, 1874 - Angola, 1914)
Nome: Artur Homem Ribeiro
Posto: Capitão de Infantaria
Naturalidade: Canas de Senhorim
Data de nascimento: 11 de Novembro de 1874
Incorporação: 1898 na Escola do Exército (nº 214 do Corpo de Alunos)
Unidade: Regimento de Infantaria n.º 14
Condecorações
TO da morte em combate: Angola
Data de Embarque
Data da morte 18 de Dezembro de 1914
Sepultura
Circunstâncias da morte: Comandando a 9ª Companhia foi baleado mortalmente no desastroso combate de Naulila quando, com heroísmo, encorajava os seus homens a aguentar a posição de defesa que cupavam e procurando travar a fuga ao combate de Oficiais, Sargentos e Praças. As forças portuguesas foram incapazes de aguentar as suas posições, tendo os alemãestomado o Forte e capturado três oficiais e 62 praças.
2. Já aqui publicamos, entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020 (*), a biografia (breve) de cada um dos 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do Ultramar.
Na altura, manifestámos o nosso grande apreço ao autor da iniciativa e responsáveis pelos conteúdos, o cor art ref António Carlos Morais Silva, o qual autorizou a sua plublicação no nosso blogue. Ecrevemos então : "Todos temos um dever de memória. enquanto militares ou ex-militares que serviram a sua Pátria. Muito me honra a sua distinção, oferecendo o seu trabalho para publicação no nosso blogue. Fico feliz por saber que, ao fim destes anos todos, ainda cointinua a 'vsitar-nos' ". (...)