Foto de Joseolgon (2013). Reproduzido e editado, com a devida vénia. Fonte: Wikimedia Commons
1. "O sal da história" é um blogue de Cristiana Vargas, natural de Alcácerdo Sal. Define.se a si própria como "jornalista de formação e coração, arquivista por acasoe – xistem acasos? – e por enquanto. Apaixonada pela história e as suas estórias"...
O seu blogue é descrito nestes termos: " Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos."
Teve início em dezembro de 2017. Tem mais de 2 dezenas de seguidores. E dele reproduimos, com a devida vénia, este excerto relativo à vida e morte do capitão Sebastião Roby (Braga, 1883-Angola, 1915).(*)
2. Blogue "O sal da história", de Cristiana Vargas > 1 de Abril, 2021 > O verdadeiro Capitão Roby não era um burlão sedutor
(...) A sua morte também dava um filme, mas acabou quase esquecida, entre as muitas que Portugal sofreu ao defender as suas possessões em África. Os dois irmãos Roby queriam ser heróis.
Sabe quem era o capitão Roby? Provavelmente responderá que foi um pinga-amor célebre nos anos 80 do século XX por, alegadamente, ludibriar as suas apaixonadas, façanha que até valeu uma série televisiva baseada na sua vida. O problema é que o verdadeiro Capitão Roby, que poucos conhecem, nada teve que ver com tais proezas, embora a sua vida - ou antes, a sua morte - também pudesse dar um filme, muito menos picante, mas bem mais trágico. Há exatamente um século, os seus restos mortais chegavam a Portugal, quase ao mesmo tempo que os do Soldado Desconhecido, que bem podia representar.
(...) Em março de 1921, o capitão Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira (**), regressou à metrópole como herói, embora morto, a bordo do navio “Zaire”, para finalmente repousar na sua terra natal, Braga. Tinha sucumbido quase seis anos antes, numa emboscada ocorrida em Angola, que as crónicas da época classificam como um autêntico massacre. Tinha apenas 31 anos de idade e participava nos esforços portugueses para defender o seu “Império” face à ameaça alemã, ainda antes da entrada oficial do nosso País na I Grande Guerra.
(...) Estava em África na coluna do general Pereira d’Eça e liderava uma companhia indígena. Ofereceu-se para levar por diante uma operação de reconhecimento extremamente arriscada e que implicaria a mais que provável chacina do grupo que a empreendesse.
Tratava-se de verificar as condições de um trilho importante para a movimentação das tropas, na província do Huila. Isto obrigava a uma incursão em área conhecida pelo terreno inóspito e os povos revoltosos.
O seu superior não o queria expor a tal perigo, dada a sua patente, ao que Sebastião terá respondido que “quando se serve a pátria não há postos, mas apenas deveres a cumprir”.
Face a tal determinação, seguiu comandando vinte homens, entre os quais um cabo. Não levavam bússola, o que terá contribuído para se afastarem da rota inicial e se irem colocar precisamente “na boca do lobo”, na zona de Quiteve.
(...) Corajoso, confiante na sua missão pacífica e na reduzida dimensão do seu grupo, que achava não inspirar animosidade, Roby não soube reconhecer os sinais de perigo real ao ser sucessivamente abordado por indígenas.
Quando se deu conta, já era tarde.
O Capitão ainda deu ordem de fogo e disparou alguns tiros, mas caiu fulminado no chão, trespassado por uma bala que lhe entrou pelas costas.
Os atacantes pediram então as armas, as munições, os animais e o corpo de Roby. O temerário cabo, que passou a ter a voz de comando, recusou as exigências, fez atar o cadáver do Capitão a um dos camelos, como se estivesse vivo, e ordenou fogo, em nome daquele.
A ordem repetir-se-ia várias vezes, até estarem a salvo, dez horas e 40 quilómetros depois. Chegaram exaustos, mas apenas perderam um homem pelo caminho.
Sebastião Roby, Capitão de Artilharia, feito mártir nesta contenda em que perdeu a vida, a 10 de junho de 1915, receberia a Cruz de Guerra de 1ª classe, a título póstumo.
Seria também homenageado, num monumento em Braga e na toponímia de várias cidades, aliás como o seu irmão João, segundo tenente e também “herói” da nossa guerra em África. (...)
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22198: Blogues da nossa blogosfera (159): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (4): Descrição das Operações realizadas na zona de Bula no dia 5 de Maio de 1973 (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)
(**) Vd. poste de 9 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22265: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte II: cap inf Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira (Braga, 1883 - Angola, 1915)
1 comentário:
Umpungo, onde este heroi Roby morreu era ainda muito longe da fronteira e onde se deu a anteriormente mencionada batalha desatrosa de Naulila, só que os indígenas de Naulila eram Cuanhamas, e no Umpungo eram Mamuilas, da Huila.
Conheci desde 1958 estas regiões profissionalmente e conheci muitas histórias contadas por gente ainda viva de Sá da Bandeira e do Roçadas (Humbe) e Pereira D'Eça (Ondjiva).
Os alemães incitavam e armavam a população contra nós, mas não me tinha apercebido que vinham tanto para norte.
Ainda em 1958 ir de Luanda até estas regiões era muitíssimo complicado, apercebi-me porque trabalhei e percorri profissionalmente, em cartografia e estradas toda esta região.
O General Roçadas levou tareia e só mais tarde o General Pereira D'Eça é que dominou , mas só com a ajuda dos Boeres, porque estes muitos tinham-se refugiado no Sul de Angola, devido a guerras que mantinham com ingleses que nunca entendi bem, ainda viviam algumas familias naquela região no 25 de Abril, e do lado da Namíbia deram muita luta aos alemães.
Os boeres deixaram uma tradição de transporte animal, usada pelas nossas tropas no sul de Angola que constava quase exactamente com os nossos carros de bois que bastante estreitos, usavam os caminhos de pé posto dos indígenas, que com uma ligeira desmatação, ficaram a ser conhecidos por caminhos dos boeres, e desenrascava para levar armas e mantimentos em distâncias enormes.
Esta guerra no sul de Angola terminou com a derrota dos alemães nesta e noutras frentes evidentemente, mas o domínio total sobre a rebeldia dos Cuanhamas foi com uma batalha também célebre em Angola a batalha da Mongua com o General Pereira D'Eça.
Também nessa guerra foi usada alguma cavalaria que os Cuanhamas também usavam cavalos.
Também nessa guerra foi usada alguma cavalaria e os Cuanhamas também usavam cavalos.
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