segunda-feira, 7 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22261: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte X: a segunda "visita dos vizinhos" (com novo ataque ao arame)


Foto nº 1 > 
Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) > 1973 > A nossa modesta casinha, com as nossa casernas construídas a pulso, embelezada com as moranças dos operadores, nativos, do pelotão de artilharia e guias. Ele há lá coisa mais bonita!!!

Foto nº 2   > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) > 1973 > A minha “suite” na nova caserna (eu e o camarada Mourato), embelezada com folhas das revistas ("Penthouse" e outras ) do camarada Martins... Uma “suite” assim nem no Hotel Ritz!

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) >  1972/73 > O içar da beleza... Ao fundo, os bivaques que montámos antes de termos a(s) nossa(s) modesta(s) casinha(s) (Foto nº 1).

Foto: © Vasco da Gama (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Joaquim Costa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Foto nº 4  > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > 2019 >  O nosso forno, que deixamos no Cumbijã em 1974, ainda hoje (2021) a “bombar”. Junto deste, a atual padeira do Cumbijã que coze pão para toda a região. Foto do camarada e tabanqueiro João Melo (cripto da companhia), tirada numa das suas várias visitas em ações solidarias à Guiné. Reproduzida aqui com a devida vénia.


Foto nº 5  > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > 2019 > Utensílio do nosso tempo que continua, nos dias de hoje, a cumprir a sua função. Foto do camarada e tabanqueiro João Melo (cripto da companhia), tirada numa das suas várias visitas em ações solidarias à Guiné. Reproduzida aqui com a devida vénia.



Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte X (*)


A  segunda "visita dos vizinhos” (com novo ataque ao arame)


Durante a visita ao destacamento (Cumbijá, a nossa alegre casinha...), no dia 14 de Abril de 73, Spínola, ao verificar as condições, precárias e degradantes em que vivíamos, garantiu ao nosso comandante de companhia que na próxima LDG (Lancha de Desembarque Grande) para Buba iríamos receber: (i) uma cozinha de campanha, (ii) arcas frigoríficas a petróleo, (iii) chapas de zinco para concluirmos a construção das nossas casernas, (iv) uma equipa de artilharia com os respetivos obuses e outros necessidades menores.

O “Homem Grande” cumpriu a sua palavra e passamos a ter arroz com estilhaços e pão quente (no forno que construímos, foto nº 4), e, imaginem! cerveja (quase sempre fora de prazo), fresquinha e uma caserna nova em folha (Fotos nºs 1 e 2). 

Foi festa até às tantas. Um dos pelotões de serviço não foi proibido de beber, mas foi proibido de se embebedar, para garantir a segurança do destacamento.

Com a cerveja fresquinha, o dia de “São Receber” (o pré) passou a ser um dia de risco acrescido, dado o elevado e desmesurado consumo de cerveja. Mas o pessoal de serviço à segurança do destacamento era responsável e não bebia mais que 2 bazucas (garrafas de cerveja de 1 litro), por cabeça.


Foto nº 6  > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) >  O homem da bazuca do meu pelotão (José Carlos), no seu turno de sentinela nos novos postos de vigia  

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Já com casernas novas (com o Martins a forrar todo o seu espaço com folhas arrancadas às suas revistas), com camas a sério, com lençóis a sério, com valas no perímetro de todo o destacadamente e postos de vigia bem protegidos com bidões cheios de terra, com a nossa artilharia já operacional, a nossa moral era outra.

Foi já com a casa arrumada (assim é que deve ser) que recebemos novamente a visita do IN (vizinhos)

Ao cair da noite, como sempre faziam para evitar que lhe fizessemos a perseguição, fomos surpreendidos pela visita dos nosso vizinhos, testando as novas instalações, com um grande potencial de fogo de RPG, morteiro e armas ligeiras. 

A nossa resposta foi rápida e sem o perigo de assalto como aconteceu na primeira vez, e, desta vez felizmente (ou infelizmente!?), a minha G3 não encravou ao primeiro tiro. No primeiro ataque ao arame,  acredito que a intenção era mesmo fazer o assalto, neste caso foi só para mostrar que estavam dispostos a dar luta. Felizmente tivemos apenas alguns feridos ligeiros. Da parte do IN houve consequências dados os vestígios que detetamos no dia seguinte de manhã numa ação de reconhecimento.


Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) > O Capitão Vasco da Gama maravilhado com o seu novo Obus 10.5.

Foto: © Vasco da Gama (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Joaquim Costa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Mesmo com a casa arrumada; com valas em toda a periferia do destacamento, com duas fiadas de arame farpado, com postos de vigia bem protegidos, com artilharia. e, já mais ou menos “cacimbados”; um ataque ao arame era sempre vivido com a adrenalina nos limites, pois que, embora pouco provável, não deixava de passar pelas nossas cabeças a possibilidade de conseguirem entrar no destacamento, situação dramática com a possibilidade de uma quase luta corpo a corpo. Por tudo isto, terminado o ataque (desde que sem consequências de maior), era ver quem chegava primeiro ao “bar” já que a seguir a um ataque sempre se esgotava o stock da cerveja!

Continua...
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4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Arcas frigoríficas a petróleo... Um luxo! Um luxo!... No Cantanhez... 6Que capacidade ? Quantas ? Havia cerveja fresca para a malta toda ? São estas pequenas coisas que ajudam a "ganhar as guerras"...LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joaquim, essa da cerveja fora de prazo também merece uma explicação. Seriam também "sobras", como os cigarros, da nossa patriótica indústria cervejeira ? Mais uma história para a gente "tabaquear
o caso"...

Valdemar Silva disse...

Tabaquear: falar dum caso dentro na nossa tabanca, mais uma palavra para o nosso glossário.

É pena já estar dicionarizado como 'fumar, cheirar ou mascar tabaco', que bem podia ser actualizado para 'acto viciante de fumar, ............. tabaco'

Não sabemos ao certo se as cervejolas seriam sobras ou não se aguentavam com clima, o que é certo e para não haver dúvidas antes de serem bebidas deitava-se um pinga ao chão para certificar a validade.

Os cigarros e agora as cervejas é mesmo vontade de dizer mal, só falta dizer que o vinho sabia azedo.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A ocupação do "santuário" do Cantanhez foi um duro golpe para o PAIGC. Mas quanto custou às NT ?

São contas que nunca se fizeram... Falo dos custos directos, indirectos e ocultos... Aliás, nas guerras, nunca se fazem análises de custo-benefício... O Amílcar Cabral não fez, o Salazar não fez, o Spínola também não...