quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23951: Agenda cultural (823): Convite para o lançamento do livro "ANTIGOS COMBATENTES, Humilhados e Abandonados", por José Maria Monteiro, dia 14 de Janeiro de 2023, pelas 12,00 horas, no Restaurante Manuela Borges, Santo António da Charneca - Barreiro

C O N V I T E

Clicar na imagem para ampliar

1. Mensagem do nosso camarada José Maria Monteiro, com data de 4 de Janeiro de 2023:

Meu ilustre camarada Luís Graça:
Terei muito gosto e muita honra fazer parte da TABANCA GRANDE.
Já pedi ao Carlos e ao Mário Beja Santos, para publicar alguns temas, nomeadamente o meu penúltimo trabalho que foi "OS MAIS JOVENS COMBATENTES", e ultimamente o CONGRESSO NACIONAL DE ANTIGOS COMBATENTES, a que presidi.

Aproveito para informar que no dia 14/01/2023, pelas 12h00 no MANUELA BORGES EVENTOS, irei fazer o lançamento do meu último trabalho que é "ANTIGOS COMBATENTES, Humilhados e Abandonados," onde se demonstra o descontentamento pela Pátria ter demorado 46 anos a reconhecer a dignidade de combatente aos seus Antigos Combatentes.

Aproveito para enviar um CONVITE e gostaria que estivesses presente no evento cultural, ou não podendo, por motivos de agenda, alguém em representação da TABANCA GRANDE.

Bom ano 2023

JOSE MARIA MONTEIRO - um dos mais jovens combatentes do Mundo. (c/16 anos).
Cascais 04/01/2023

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23873: Agenda cultural (822): A entrevista do nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado dada ao programa Mar de Letras, da RTP/África, vai para o ar amanhã, dia 14 de Dezembro, às 21,30 horas

Guiné 61/74 - P23950: O nosso blogue em números (83): Quem nos visitou, em 2022, usou o Chrome (66%) como navegador, e o Windows (47%) como sistema operativo



Fonte: Blogger (2023). Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. O principal navegador usado pelos nossos leitores, os que visitaram o nosso blogue, ao longo do ano de 2002, continua, a ser o Chrome (66%), seguido muito à distância pelo Firefox (11 %), o Safari (9%) e o MSIE (Microsoft Internet Explorer) (3%) (Gráfico nº 5).


O Windows, por sua vez, continua, destacado (47%), à frente dos demais sistemas operativos: Macintosh (18%), o Android (13%), o Linux (7 %)  e o iPhone (5%) (Gráfico nº 6)... (**)

(Continua)
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Guiné 61/74 - P23949: "Una rivoluzione...fotogenica" (2): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74: aspetos da vida quotidiana


Guiné-Bissau > Março de 1973 > Cambando o rio, de canoa, em Canjambari (rio Canjambari?) / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - 1 08 - Life in Canjambari, Guinea-Bissau - Canoeing across the river - 1973


Guiné-Bissau > Campada > Outono de 1973 > Vida em Campada > Um miúdo com uma jovem mulher /  Fonte: ASC Leiden - Coutinho Collection - 15 04 - Life in Campada, Guinea-Bissau - 1973  Observação: Campada,  na fronteira com o Senegal, a  35 km a Este de São Domingos, na fronteira com o Senegal,  35 km a leste de Sao Domingos, entre Sedengal e Ingoré na estrada  Bissau - Ziguinchor.




Guiné-Bissau > s/l  > Março / abril de 1974 > Rapariga pilando o arroz / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - B 30 - Life in the Liberated Areas, Guinea-Bissau - Pounding rice - 1974.


Guiné.-Bissau > Região de Oio > Arredores da base de Sara, a sul do Morés > 1974 > Um homem remendando a câmara de ar de uma bicicleta doada pela Noruega / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - 20 09 - Life in the villages around Sara, Guinea-Bissau - Patching the Norwegian-donated bicycle tyres - 1974 (Observação: Sara a nirdeste de Mansoa,  a sul do Morés).
 

Guiné. Bissau > Região de Oio > Arredores da base de Sara, a sul do Morés > Março / abril de 1974 > Um imã toma conta de um doente leproso / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - C 21 - Life in Sara, Guinea-Bissau - Imam takes care of a leprous patient - 1974


Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023) 



1. O neerlandês Roel Coutinho, de origem portuguesa, sefardita, pelo lado do pai (os seus ascendentes devem ter-se exilado nos Países Baixos, em meados do séc. XVII, por razões religiosas, numa época em que se intensificou a perseguição aos "cristãos-novos" em Portugal), é autor de uma notável documentação fotográfica sobre a antiga Guiné portuguesa, onde esteve em 1973/74, como médico cooperante ao lado do PAIGC. 

Tinha então 26/27 anos (nasceu em 4 de abril de 1946). Tornar-se-ia mais tarde um  conhecido virologista, microbiologista, epidemiologista e professsor universitário. Notabilizou-se contra o HIV / SIDA, 

Apresentamos hoje uma seleção das suas fotos sobre a "vida quodiana", em especial nas zonas de fronteira, controladas pelo PAIGC. Roel Coutinho não é um fotógrafo profissional, mas estas imagens têm inegável valor documental. O autor tem já aqui, no nosso blogue, uma meia dúzia de referências. Estamos-lhe gratos pela sua generosidade e a autorização do uso das suas fotos no nosso blogue de antigos combatentes da Guiné.


2. Sobre a origem da coleção, leia-se aqui;

(...) "A partir de maio de 2016, a Coleção Coutinho passou a estar disponível "online" no Wikimedia Commons. 

Este acervo é composto por cerca de 1250 fotografias (negativos e diapositivos). Estas imagens obtidas tiradas pelo professor e microbiologista Roel Coutinho, de Amesterdão e Utrecht, no Senegal e na Guiné-Bissau, em 1973 e 1974. 

Coutinho (n. 1946) trabalhou como jovem médico nas chamadas “zonas libertadas”, controladas pelo PAIGC, o movimento político e militar que lutava contra o domínio português na Guiné-Bissau. 

Uma seleção de 750 fotografias foi digitalizada e disponibilizada em acesso aberto na Wikimedia com uma licença Creative Commons, para que qualquer pessoa possa usar essas fotografias livremente. A seleção pode ser encontrada aqui:

As fotografias dão uma boa visão do quotidiano durante a luta de libertação contra Portugal. Nas fotos vemos lojas, tratamentos médicos e atividades militares. Exemplos: crianças e soldados em salas de aula no mato, operações médicas em pleno mato, campanhas de vacinação, restos de um avião abatido, lojas do povo, danças. O futuro primeiro presidente da Guiné-Bissau (Luís Cabral) pode ser visto em foto durante a festa de casamento do futuro primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Francisco Mendes (nome de guerra: Chico Té).

A Coleção Coutinho foi doada ao Centro de Estudos Africanos de Leiden  (Stichting Afrika-Studiecentrumm Leiden)  por Roel Coutinho. A ideia de digitalizar as fotografias e “doá-las” à Wikimedia sob uma licença Creative Commons foi sugerida por Jos Damen. "Slides" e negativos foram digitalizados por GMS Digitaliseert, em Alblasserdam. 

Os metadados (descrições) foram estruturados por Michele Portatadino e traduzidos por ele para inglês e português. Harro Westra cuidou das implementações técnicas e o "wikipediano" Hans Muller carregou as 750 imagens no Wikimedia Commons usando a tecnologia GLAMwiki Toolset

O projeto, conduzido por Jos Damen,  foi financiado pela ASC Leiden. Estão em estudo planos para publicação de uma brochura e a organização de uma pequena exposição (espera-se que também se realize na Guiné-Bissau). 


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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23947: "Una rivoluzione... fotogenica" (1): Uma reportagem e um livro decisivos, e que consagram a estética da "guerra de libertação", "Guinea-Bissau: una rivoluzione africana" (Milano, Vangelista, 1970, 200 pp.), dos italianos Bruno Crimi (1940-2006) e Uliano Lucas (n. 1942)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23948: Historiografia da presença portuguesa em África (350): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (4), veja-se hoje como Sarmento Rodrigues pretendeu instituir mudanças no sistema de saúde, incluindo as farmácias e os medicamentos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Abril de 2022:

Queridos amigos,
Comecei em 1917 e estou no final de 1946, li com a maior das surpresas o projeto que o Governador Sarmento Rodrigues pôs à discussão no Conselho de Governo, em torno dos direitos à Saúde da população civilizada, mestiça e indígena procedia-se a um minucioso enquadramento de todos estes direitos no quadro da população guineense, a distribuição gratuita de medicamentos para o sezonismo, o enquadramento da atividade farmacêutica com um rigor e detalhe que nos leva a fazer crer que Sarmento Rodrigues possuía uma lógica desenvolvimentista que ia desde a cultura, o ensino, a eficiência dos serviços da Administração, o extenso rol de iniciativas no campo das infraestruturas, e subitamente este Regulamento a todos os tipos uma inovação no sistema de saúde guineense. Mais uma razão para dizer que Sarmento Rodrigues detinha um pensamento abrangente como nenhum dos seus antecessores, a despeito dos bens recebidos manifestou-se um reformista notável, e daí o percurso que o levou ao Governo e a ficar na História da Guiné como o dirigente político que pôs a antiga Senegâmbia portuguesa no mapa da civilização, com o timbre da língua portuguesa.

Um abraço do
Mário



Atas de Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné:
Uma fonte documental que não se deve ignorar (4), veja-se hoje como Sarmento Rodrigues pretendeu instituir mudanças no sistema de saúde, incluindo as farmácias e os medicamentos


Mário Beja Santos

Pode julgar-se à partida que estas reuniões em que se discutiam requerimentos, taxas e emolumentos, em que funcionários da administração se pronunciavam sobre salários e infraestruturas, num órgão consultivo em que compareciam chefes de serviços, comerciantes, profissionais liberais, em reuniões presididas pelo Governador, ou pelo Governador Interino, ou pelo Encarregado do Governo, eram suficientemente enfadonhas para não acicatar quem anda à procura de outros ângulos do prisma que nos ajudam a formar uma visão mais abrangente da História da Guiné. Muitas vezes sem interesse para o historiador/investigador, atrevo-me a dizer, mas há ali casos de tomadas de posição ou declarações que nos ajudam a melhor entender a mentalidade, as iniciativas seguramente generosas que ali se formularam e que não tiveram seguimento, ou mesmo o aproveitamento daquele palco para que um Governador tecesse, em forma de sumário, o que se procurava fazer durante o seu mandato.

O Governador agora chama-se Manuel Maria Sarmento Rodrigues, é Capitão-Tenente e está a imprimir, de forma gradual, uma nova vitalidade orgânica à colónia, um perfil organizacional, uma dinâmica de desenvolvimento, uma reformulação da política de Saúde. Estamos agora em 10 de dezembro de 1946, o Governador anuncia ao Conselho de Governo que se vai procurar virar a página na política de Saúde, em causa um projeto de Governo sobre assistência médica, com inúmeras referências à organização farmacêutica e à política do medicamento, algo de surpreendente, em termos de investigação nunca vi convenientemente apresentada esta iniciativa que tem a ver com o Estado social e uma lógica manifestamente de vanguarda para o sistema de saúde, numa colónia onde havia leprosaria e um apoio ainda rudimentar ao tratamento da doença do sono e outros males tropicais.

O Governador põe à discussão o projeto, vejamos algumas questões essenciais: direito a assistência médica, cirúrgica, obstétrica e estomatológica gratuitas além daqueles a quem o Regulamento da Saúde da Colónia já as concede, funcionários públicos, militares, contratados e assalariados, aposentados e reformados, nos casos em que os vencimentos e abonos fossem inferiores a 20 mil escudos anuais; quando os vencimentos e abonos fossem superiores a tal montante abria um desconto de 50% sobre os preços mínimos das respetivas tabelas; passavam a ter direito a assistência farmacêutica gratuita pelas farmácias e ambulâncias do Estado para tratamento os indígenas, indigentes, pessoal missionário, assalariados do Estado, praças de pré do Exército e da Armada, internados em estabelecimentos de beneficência e presos detidos nos presídios e cadeias; as farmácias ficavam autorizadas a fornecer gratuitamente medicamentos prescritos pelos médicos veterinários destinados a animais pertencentes ao Estado; especifica-se os requisitos para quem pretendia ser fornecido nas farmácias e ambulâncias, guias ou atestados; os sais de quinina, a atebrina, a plasmoquina e todos os medicamentos específicos do sezonismo são gratuitos quando prescritos para fins profiláticos ao pessoal missionário, às praças de pré do Exército e da Armada, ao pessoal dos ramos da enfermagem, laboratórios e farmácias e respetivas famílias, e os restantes funcionários e pessoas de família terão um desconto de 50% sobre o preço de fatura; a todos os funcionários e pessoas das suas famílias serão concedidos gratuitamente em cada mês para tratamento das crises agudas do sezonismo, quando prescritos pelos médicos e encarregados das ambulâncias do Estado um dos medicamentos que vêm mencionados no Regulamento e a respetivamente dosagem; definem-se os preços dos medicamentos.

Seguiu-se debate, houve quem observasse que havia que fazer a destrinça entre indígena de indigente, quem devia emitir as guias, um dos vogais, o Eng.º Ferreira Chaves, teceu o seguinte comentário: “Pode dar-se o caso de aparecer um ou outro indígena à consulta sem estar doente, mas é sempre uma minoria que não deve prejudicar o direito dos demais. Todos sabem que o indígena da Guiné precisa de assistência médica, a assistência é sempre insuficiente. Não há medicamentos. Fazer os indígenas passar pela Administração é o mesmo que obstar o tratamento imediato. Em Farim, e em toda a parte, nota-se um grande aglomerado de indígenas que procuram médico. Quanto a indigentes, acho bem a exigência da guia, mas ao indígena com aquela desconfiança e inconsciência próprias da sua ignorância, acho que não devia ser exigida tal formalidade da guia”.

Sarmento Rodrigues também emitiu os seus comentários, veja-se o que consta da ata:
“Usando da palavra, diz-se que, tratando-se de comparações com o território estrangeiro vizinho, é deveras lisonjeiro o apreço dado ao sistema adotado na nossa colónia no combate à doença do sono. No combate de todas as doenças, a afluência do indígena tem sido cada vez maior, o que prova a confiança que ele tem no tratamento que lhes é dispensado. Os hospitais estão sempre cheios. É certo que as despesas são muito maiores, mas em comparação os resultados são maiores e a mortalidade diminuirá consideravelmente. Estão em curso muitas obras destinadas à instalação dos diversos ramos dos serviços de saúde”. Mencionou-os, ele próprio ficou surpreendido quando há dias soube da existência de um posto sanitário em Cafine, da Circunscrição de Catió, anseia que a assistência seja maior e melhor. “Nota-se nas crianças indígenas um enfraquecimento ou raquitismo que não sabe explicar a razão, se é devido à falta de tratamento, se deficiência da alimentação”.

A discussão depois incidiu sobre o exercício farmacêutico, a preparação dos medicamentos, o aviamento de receitas e a venda ao público de medicamentos, enquadrou-se a atividade farmacêutica, tanto a pública como a privada, definiu-se o proprietário das farmácias, o diretor técnico, a organização do espaço da farmácia, a obrigatoriedade da existência em todas as farmácias da Farmacopeia Portuguesa, a rotulagem dos medicamentos tanto para uso humano como veterinário. O diploma foi aprovado por unanimidade. Era uma nova era na política de Saúde guineense.

(continua)

Sarmento Rodrigues, foto oficial do Ministro do Ultramar
Farmacêutica Sofia Pombo Guerra (1906-1976), oposicionista do Estado Novo, teve farmácia em Bissau na década de 1950
Pormenor do Hospital Simão Mendes, Bissau
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23925: Historiografia da presença portuguesa em África (349): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23947: "Una rivoluzione... fotogenica" (1): Uma reportagem e um livro decisivos, e que consagram a estética da "guerra de libertação", "Guinea-Bissau: una rivoluzione africana" (Milano, Vangelista, 1970, 200 pp.), dos italianos Bruno Crimi (1940-2006) e Uliano Lucas (n. 1942)


Capa do livro de Bruno Crimi (texto) e Uliano Lucas (fotografia), "Guinea-Bissau: una rivoluzione africana" (Milano, Vangelista, 1970, 200 pp., italiano e francês) (Imagem da capa: Cortesia de Protest In Photobook.com Disponíveis também muitas outras das fotos do Uliano Lucas).

1. O Nelson Herbert, Nelson Herbert Lopes, é  jornalista reformado, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill". Viveu nos EUA, onde trabalhou na VOA - Voice of America,  Tem naciinalidade americana. Vive presentemente no Mindelo, ilha de São Vicente. 

Tem  cerca de 65   referências no nosso blogue. Integra a Tabanca Grande desde 16/3/2008 [Nelson Herbert, foto à direita].  Os pais ainda estiveram juntos no Mindelo em meados de 1943.

Na semana passada,  quinta feira, 29/12/2022, 12:04, o Nelson mandou-nos uma lacónica mensagem. "Assunto - A propósito de uma reportagem...". Não tínhamos notícias dele desde a pandemia de Covid-19. Mandou-nos um link para um artigo publicado na DW - Deutsche Welle, a Voz da Alemanha.

Achamos interessante reproduzi-lo aqui, na sua quase totalidade (exceto as imagens), como parte de uma série que gostaríamos que fosse alimentada por mais gente, dos nossos amigos e camaradas... Vou chamar-lhe "Una rivoluzione... fotogenica". Na realidade, o PAIGC e sobretudo o seu líder histórico, Amílcar Cabral (Bafatá. 1924- Conacri, 1973) sempre beneficiou de uma "boa imprensa", a nível internacional, e nomeadamente nalguns países europeus, como a Suécia, a Itália ou até a França

Alguns excelentes fotojornalistas mas também cineastas, médicos   e escritores foram às florestas e bolanhas da Guiné para se documentar "in loco" sobre o progresso da "luta de libertação" dos guineenses contra o colonialismo português. 

Amílcar Cabral era um sedutor e sobre atrair sobre si e a sua "revolução africana" as atenções de uma certa imprensa, nomeadamente de esquerda.  Foi o caso do jornalista e escritor Bruno Crimi e do fotojornalista Uliano Lucas, a que se referem este artigo da DW. Pode-se dizer que Uliano Lucas criou (ou ajudou a criar, com outros fotojornalistas e cineastas), uma "estética da guerra de libertação"... 

E teve seguidores e antecessores (como foi o caso  da Bruna Amico,  talvez a melhor fotógrafa de Cabral, que conheceu em 1969,  e que faria depois a reportagem da I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, em 23 e 24 de setembro de 1973, onde foi proclamada unilateralmete a independência,  alegadamente na região livre do Boé; ou do norueguês Knut Andreasson). 

Obrigado, Nelson. Mantenhas.


História  > Guiné-Bissau > Reportagem 1970: "Guiné-Bissau, uma revolução africana" | Rafael Belincanta (Roma)


 (com a devida vénia...)

A grande reportagem "Guiné-Bissau, uma revolução africana", publicada em 1970, foi o resultado de três meses de trabalho do jornalista Bruno Crimi, falecido em 2006, junto com o fotógrafo Uliano Lucas.

Corriam os finais dos anos 1960. Na Europa, os ares eram de revolução cultural e 'boom' económico Em Itália, iniciavam-se os anos de chumbo do terrorismo político. Ao ultrapassar questões internas, a decisão de um jornalista e um fotógrafo italianos de documentar a luta pela liberação foi decisiva para o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau.

Aos 80 anos, Uliano recorda com entusiasmo os meses transcorridos na mata guineense na companhia dos guerrilheiros.

"Praticamente encontrei um mundo – aquele da resistência, aquele das mulheres, aquele das escolas nas brigadas, um mundo que me abriu os olhos e, finalmente, eu podia ver uma guerra de liberação não cruel, assustadora, trágica, que fique claro, como aquela do Vietname", afirmou à DW.

Censura dos órgãos europeus

(...) Uliano partiu de Itália com uma ideia clara de romper o silêncio nos meios de comunicação europeus sobre o que acontecia nas então colónias portuguesas em África

"Antes de mais nada, não havia notícias, não se falava sobre isso. Sabia-se somente que Guiné-Bissau, Angola e Moçambique eram territórios ultramarinos de Portugal, colónias", começou por dizer o fotógrafo italiano, que utilizou as suas objetivas para mostrar o que não se via sobre a Guiné-Bissau.

"Não saíam informações sobre a guerra da liberação, havia um silêncio generalizado. O problema era conseguir derrubar esse muro de silêncio a respeito da luta pela libertação, de escrever ou fotografar aquilo que era a história em curso, mas também sobre o nascimento de uma nova democracia".

A frente democrática da luta de libertação nacional contra o jugo-colonial era liderada por Amílcar Cabral. Uliano Lucas teve um encontro com o 'Pai fundador' das nacionalidades guineense e cabo-verdiana já em território libertado, próximo à fronteira com o Senegal, ao final de três meses de campanha.

Entrevista a Amílcar Cabral

(...) "A ordem que Amílcar Cabral havia dado era que nós éramos 'preciosos', preciosíssimos, porque aquilo que estávamos fazendo significava uma abertura no sistema de comunicação e, por isso, nada poderia nos acontecer", recordou ainda Uliano.

"Já em Dakar, capital senegalesa, ficamos numa casa onde Bruno Crimi fez a entrevista e eu tirei as fotografias."

A entrevista foi publicada em cerca de 10 jornais, italianos e também noutros meios de comunicação social europeus, e abriu as portas da Europa para a causa da independência das colónias portuguesas em África, segundo Uliano Lucas.

"Conseguimos, seja na Itália que no exterior, realizar uma formidável operação de comunicação visual e, a esta altura, sentimos a necessidade de publicar um livro que se materializou a partir de algo complexo".


Reportagem mudou o rumo dos acontecimentos?

(...) Mas foram duas as principais conquistas obtidas a partir da publicação do livro em 1970.

A primeira foi em Roma durante a conferência das colónias portuguesas, com os três líderes, organizada em 1970. Uliano Lucas conta que o então líder angolano, Agostinho Neto, Cabral e dos Santos foram recebidos pelo Papa, chefe da Igreja Católica.

Segundo o fotografo italiano, foi um acontecimento não indiferente porque, na prática, Portugal era discretamente 'deixado de lado' pelo Vaticano. E o livro foi entregue ao Papa.

"Mas o fato mais importante foi que o livro chegou à Comissão da ONU que estabeleceu, por meio daquele livro, e claro, também outros documentos, que Guiné-Bissau tinha territórios livres e era realmente um Estado. Por essas duas coisas a viagem valeu a pena, tudo valeu a pena", afirmou em entrevista à DW, em Itália.

Uma exibição com uma retrospetiva dos trabalhos de Uliano Lucas na Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Portugal está marcada para 2023 em Lisboa, já como parte das comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos. (...)
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Guiné 61/74 - P23946: O nosso blogue em números (82): Pela primeira vez a pequena Guiné-Bissau (1,5%) vem em 7.º lugar, a seguir a Portugal (39,2%), EUA (17,7), Alemanha (9,6%), Suécia (3,5%), etc., à frente do Brasil (1,3%) na lista dos dez países com mais visualizações do nosso blogue, em 2022

 


Figura n º 1 - Mapa-múndi com a distribuição do nº de  visualizações de páginas no ano de 2022, do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (n=622 mil) 

Fonte: Blogger (2023)




Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Pela primeira, em 2022, a pequena Guiné-Bissau ultrapassa o Brasil na lista dos "top ten", ou seja, dos dez países com mais visualizações de páginas do nosso blogue, quer em termos absolutos (Gráfico nº 3), quer em termos relativos (Gráfico nº 4).

A Guiné-Bissau (1,5%) vem em 7º lugar, a seguir a Portugal (39,2%), EUA (17,7), Alemanha (9,6%), Suécia (3,5%), França (2,7%) e Canadá (2,7%), à frente do Brasil (1,3%) (que ficou em 10º lugar)  (Gráfico nº 4). 

Na lists dos "vinte mais" ("top 20"), não há mais nenhum país lusófono... Estranhamente está a Arábia Saudita mas não os Emiratos Árabes Unidos (onde, recorde-se, temos uma Tabanca...).

Continuamos a apresentar alguns dados estatísticos sobre a nossa atividade bloguística em 2022 (*), Destaque também para o facto de a Suécia ter ficado em 4º lugar com 21,8 mil visualizações de páginas (com a ajuda, seguramente,  do José Belo e das suas "renas"...).

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. dois últimos postes da série > 

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23945: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (4): Mensagens recebidas nos últimos dois meses de 2022


Formulário de Contacto do Blogger: disponível na coluna estática, do lado esquerdo do blogue.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)


1. Seleção de mensagens recebidas através do Formulário de Contacto do Blogger, em novembro e dezembro de 2022 (*). 

Não é preciso lembrar que este é um veículo importante de comunicação imediata e fácil entre os leitores e os editores do blogue.

Nalguns casos, já houve uma resposta direta dos nossos editores ou um reencaminhamento para outros destinatários. Também num caso ou noutro a mensagem pode já ter dado origem a um poste.

Algumas destas mensagens são extremamente lacónicas, limitando-se a cumprimentar-nos, o que de qualquer modo nos sensibiliza, mas não vamos publicá-las aqui. Noutros casos, os autores procuram antigos camaradas... Outras há que são incompletas ou imprecisas, ou têm a ver com outros territórios que não a Guiné (Angola, Moçambique, Brasil, etc.).

Evitamos, em princípio, divulgar o endereço de email de cada um destes contactos, a menos que haja interesse para o próprio (nos casos, por exemplo, em que divulga um livro ou a realização de um encontro; ou procura informação que extravasa o âmbito do blogue, o qual, como é público e notório, é centrado nos antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, que estiveram na Guiné, no período que vai entre 1961 e 1974).

Em 2023, prometemos ser mais céleres na divulhação e resposta a estas mensagens, 
Omitimos, por princípio,  as expressões protocolares (saudações, cumprimentos, etc.). A lista está organizada cronologicamente por nome, nalguns casos a subunidade, a data  e a hora.


Novembro / Dezembro de 2022


Jorge Paes da Cunha Freire, CART 1612 | domingo, 25/12/2022, 13:05

Começo por desejar um Feliz Natal a todos!

Desde há um tempo deixei de receber o emails diários, que apreciava muito,
embora quase não interagisse, Agradeço que voltem a mandar-me as niotificações por email!
Um abraço a todos!


Jorge, obrigado. Já publicámos a tua mensagem. Temos 845 leitores a seguir o blogue por email. Alguns queixam-se do mesmo problema. O que eu sugiro, é que voltes a carregar na tecla "seguir" e voltar a adicionar o teu endereço de email. (Ver coluna estática do blogue, ao alto, do lado direito). 

Por outro lado, gostávamos que integresses a nossa Tabanca Grande, dando a cara e partilhando as tuas e outras memórias. Estamos a fazer a campanha dos "900" (membros da Tabanca Grande) até ao final deste ano. Infelizmente, não tenmos nenhum representante da tua companhia, a CART 1612 (Bissorá, Buba, Aldeia Formosa, 1966/68)


Paulo Gastão Oliveira Sanca | 
André Cardoso, 'comando' |
22/12/2022, 16:02


Boa tarde, Luís, sou Paulo, filho de André Cardoso,  que é comando português, falecido em 2011, gostaria que publicassem  um artigo falando um pouco da história do meu querido pai.

Obrigado,  se precisar de mais informações e documentos me fala,  vou fornecer porque tudo está na minha mão.

Paulo, em que época e em que subunidade esteve o teu querido pai e nosso camarada ? Presumimos que tenha sido na Guiné. Não temos, infelizmente, nenhuma referência ao seu nome. Manda-nos, pois, o que puderes: um pequeno texyo, com algumas fotos para começar... Pelo teu endereço de email, julgo que vives no Brasil, não ? Um bom ano novo de 2023.

José Domingos de Sampaio Rocha | BART 3844
 e Emissor de Nhacra | 20/12/2022, 16:18

Sou do Bart 3844 - Farim,  durante um ano. Depois passei a comissão civil, como responsável pelo emissor de Nhacra, da Emissora Nacional.


Camarada Rocha, gostávamos de saber mais sobre a tua experiênciaa na Guiné, e nomeadamente em Nhacra, na Emissora Nacional.


Carlos Sangreman | 
19/12/2022, 19:02

Recebi durante muito tempo os vossos mails, Mas com a pandemia desapareceram. Posso voltar a receber?

 Obrigado, vê a resposta que demos acima, ao Jorge Freire.

  

António Carlos Morais Silva | 
17/12/2022, 22:47

O 'homem grande' Amílcar Cabral", disse ainda o chefe de Estado, ao anunciar a entrega à família do Grande Colar da Ordem da Liberdade "em nome de Portugal". "Como esperar um dia mais para prestar uma homenagem por tanto tempo adiada?"

Assim se desonra a memória dos 1127 expedicionários Mortos em Combate nas
terras da Guiné. Amparado no grande Miguel Torga repito: “Somos, socialmente, uma
colectividade pacífica de revoltados”.

Meu caro Morais da Silva, o seu justíssimo e oportuno protesto já aqui foi publicado, no blogue, na devida altura (Poste P23892).


Albano Dias da Costa | CCAÇ 413 | 
14/12/2022, 18:59

    
Em 63/65, estive na zona do Oio, como alferes mil. na CCaç 413 sediada em Mansoa.. O vosso blog faz-me reviver esses tempos. Agradeço o seu envio. Um forte abraço.

Obrigado, camarada, sei que és coautor do livro "Nos celeiros da Guiné" (Albano Dias Costa e José Sá-Chaves, Lisboa: Chiado Editora, 2015). Não te queres juntar aos demais amigos e camaradas da Guiné ?... Algumas partes do vosso livro poderiam aqui ser reproduzidas. Quanto a seguires o blogue por email, vê o que eu disse acima ao camarada Jorge Freire, que é um dos nossos 845 seguidores.
 


Victor Mestre | CCAÇ 797 |  13/12/2022, 06:10


Caros camaradas sou o Victor Mestrem ex furriel miliciano, da CCAÇ 797 e se o Mário Leitâo quiser falar sobre o malogrado Julio Lemos estou às ordens. Saudações para todos.

Obrigado, Victor, já encaminhei a tua mensagem para o nosso camarada Mário Leitão, de Ponte de Lima. Temos várias referências à tua CCAÇ 797. Mantem contacto conosco e, se assim o entenderes, junta-te a nós. Far-te-á bem.


Victor Mestre | CCAÇ 797 | 
11/12/2022, 06:47

Sou o nº 8  da foto e fui camarada do Júlio Lemos no infortúnio do rio Louvado. Vivo desde 1976 no Canadá. Eu e o Júlio éramos os responsáveis desse grupo de combate nesse fatídico dia. A partir dai nunca mais vivi..
..


Nuno Silva | José Manuel do Carmo Silva | 
CCAÇ 1486 | 8/12/2022, 22:43

O meu pai esteve na Guiné, companhia de cacadores 1486, Fulacunda. Era furriel
miliciano, Josá Manuel do Carmo Silva, já faleceu.

Tenho algumas fotos se quiser posso enviar.

Obrigado, Nuno, infelizmente não temos nenhum representante, no blogue, da subunidade do falecido teu pai, a CCAÇ 1486. Manda-nos fotos com legendas, para um destes endereços dos editores: luis.graca.prof@gmail.com | carlos.vinhal@gmail.com


 Joaquim Rocha Gregório | 
CART 2715 | 
 27/11/2022, 21:18

Obrigado pelo teu poema.Verdadeiro, passado perto da Ponta do Inglês. Eu
fazia parte do 4º pelotão da CART 2715, o mesmo do malogrado furriel Cunha. Ia nessa operação... Que.descanse em paz.

Camarada Gregório, gostava que te juntasses ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...O Xime foi o nosso inferno. Tens aqui o meu  endereço de email: luis.graca.prof@gmail.com.


Joaquim Garrett | CTIG, 1968/70 |
 04/12/2022, 10:26

Camaradas, bom dia, Agradecia que me informem sff se estou inscrito no blogue. Em caso negativo o que é necessário para o fazer.
Obrigado, Um abraço
Guiné 1968/1970.

Caro Joaquim Garrett: Presumimos que te queiras juntar à nossa tertúlia. Se sim, manda-nos uma foto tua actual e outra do nosso tempo de Guiné, fardado, que permitam fazer fotos tipo passe para os nossos arquivos.

Queremos saber o teu posto, especialidade, Companhia e Batalhão (se for o caso), datas de ida e volta da Guiné, localidades por onde andaste, etc. Podes, caso queiras, mandar-nos uma pequena história que te tenha marcado particularmente, com fotos legendadas, ou texto onde fales de ti para te conhecermos melhor. 

Caso queiras ver anunciado o teu aniversário, manda a tua data de nascimento para publicarmos o postalinho natalício.

Ficamos na expectativa das tuas novas notícias. Em nome da tertúlia e dos editores em particular, deixo-te um abraço e votos de boa saúde. O camarada e amigo, Carlos Vinhal


Manuel Moura Alves | 
CTIG, Jan/set 1974 | 
04/12/2022, 10:32

2ª CCaç da BCaç 4518, 
 Cancolim /Galomaro, de Janeiro a Setembro de 74, Guiné. Cumprimentos.



Fernando D.F, Ferreira Santos |
 30/11/2022, 21:06

Sendo um antigo combatente da Guiné,  sigo com muita atencão o blogue.

Um santo natal e muita saúde para o Luis Graca.


Afonso Machado |
24/11/2022, 13:30


Boa tarde. Tenho um familiar que fez parte da 7ª comissão móvel da PSP na província ultramarina da Guiné entre 1965 e 1970. Foi Guarda de 2 classe. Gostava de saber um pouco mais de informações sobre esse meu familiar. Não sei se me conseguem ajudar.
Trata-se do Manuel Bimba Flores, Guarda de 2ª classe da PSP.
Obrigado desde já.

 Temos algumas referências (cerca de meia dúzia) à PSP e à 7* Companhia Móvel.  O Afonso pode ver aqui... De qualquer modo, fica o seu pedido e o seu contacto: afonso-s-machado@sapo.pt



José Manuel de Carvalho Pereira | 
22/11/2022, 22:30

Há anos que faço pesquisas no vosso blogue. Haverá algum elemento ou elementos que tenham passado pelas fileiras da PSP no Ultramar, e que possa ter fotos dos uniformes e emblemas usados lá? É para uma investigação que ando a fazer sobre as nossas forças de segurança do ex Ultramar.

Muito Obrigado e um forte abraço.

Caro leitor: Temos algumas referências (cerca de meia dúzia) à PSP no CTIG ,.. De qualquer modo, fica aqui o seu pedido e o seu contacto: josempereira1@gmail.com


José Farias Homem | 
16/11/2022, 18:08

Boa tarde, vocês fazem um óptimo trabalho.  Cumprimentos.


Fátima Soledade Santos Cardoso Pereira | 
Resende | 17/11/2022, 00:03

Procuro informação sobre dois combatentes que morreram na Guiné e são meus conterrâneos, naturais de Resende:. José Loureiro, morreu afogado no dia 6 de fevereiro de 1969 e José Miranda também falecido no dia 11.12.1969, este dado como desaparecido. Obrigada


Cara amiga Fátima Pereira;

(...) Com respeito ao seu tio José Loureiro, ele foi um dos 47 mártires do desastre da travessia do rio Corubal no dia 6 de Fevereiro de 1969. Pertencia à Companhia de Caçadores n.º 2405/Batalhão de Caçadores n.º 2852.

No nosso Blogue temos um marcador com 31 referências (este: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/desastre%20do%20Cheche

que a levará a todos os postes publicados sobre este trágico acontecimento. As publicações vão aparecendo, da mais moderna para a mais antiga, tendo a amiga Fátima, de ao fundo cada página,  clicar em "Mensagens antigas" até lhe aparecer a indicação de que não há mais nenhuma. Ficará com uma visão muito alargada do sucedido. Foi o dia mais triste da guerra na Guiné.

Com respeito ao seu tio José Miranda, é que não conseguimos ajudar. Não encontrei nenhum registo da sua morte porque em caso de não aparecimento de cadáver, nenhum militar era dado como morto mas sim como desaparecido. Veja se consegue saber algum destes elementos: Posto militar, especialidade, unidade a que pertencia na Guiné (Companhia ou Batalhão), locais onde esteve e data de ida e regresso.

Sem alguns destes elementos é quase impossível saber algo deste nosso malogrado camarada. Ficamos ao seu inteiro dispor para qualquer esclarecimento.

Os nossos cumprimentos, Carlos Vinhal, Co-editor (...)


José Manuel Ferreira Cardoso |
15/11/2022, 09:48

Sr. Luís Graça, eu sou afilhado de baptismo do João Gomes Bonifácio, Ex-Fur Mil do SAM CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851, Có, Mansabá, Olossato, 
1968/70. Agradecia se possível o contacto dele, pois perdi todo o contacto há mais de 25 anos. Desde já os meus agradecimentos e um bem haja a todos. 

Aqui tens o endereço de email, já antigo, do João Gomes Bonifácio:  lusocan@sympatico.ca 

Ele tem uma dúzia de referências no nosso blogue. 

Publicamos também o teu  endereço de email para o caso de ele nos ler:  josemfcardoso@hotmail.com


José Maria Pinela |
 2/11/2022, 11:28

Por ser dia de finados, aqui estou a fazer a minha prova de vida, já que muitos dos nossos camaradas, conforme a lista de nomes, aqui publicada, não têm já essa oportunidade uma vêz que já partiram deste mundo. Mas a vida é assim mesmo, que fazer?! Um grande abraço, e que para o ano que vem, a lista não tenha aumentado muito! É bom viver, mas com Saúde, Saudações.


Elísio Carvalho dos Santos | 
01/11/2022, 20:54

O que tenho de fazer para ser amigo ? Cumprimentos,

Caro camarada Elísio: Muito obrigado pelo teu contacto. Julgo que te estás a referir a pertencer à tertúlia do nosso Blogue. Para o efeito, manda-nos: Uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné, fardado.

Diz-nos o teu nome, posto militar, especialidade, Companhia e Batalhão em que foste para a Guiné, datas de ida e volta, locais onde estiveste, etc. Podes, se quiseres, contar uma história acompanhada de fotos com legendas à parte, onde conste o local, a data e quem são os retratados. Futuramente podes colaborar connosco enviando textos com histórias passadas lá na Guiné e fotos para publicarmos. Abraço, Carlos

Guiné 61/74 - P23944: Blogoterapia (310): Não estou bem, e como anteriormente já dissera, voltei a ir para o "Corredor da Morte" (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art, Minas e Armadilhas da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 2 de Janeiro de 2023:

Caros Camaradas Luís, Carlos e Todo o Blogue,
É do Vosso conhecimento que fui hospitalizado no Hospital das Forças Armadas (HFAR) em janeiro de 2022 e de 35 depois transferido para a Clínica de São José de Camarate.
Após Alta volto a ser hospitalizado em 25 dias em julho. Para cúmulo regressei ao HFAR no dia 30 de dezembro, encontrando-me hoje em casa, tendo de ser internado amanhã de Urgência no Hospital de Santa Maria.

Não estou bem, e como anteriormente já dissera voltei a ir para o "Corredor da Morte". A Medicina no meu caso falhou desde o início. Um exemplo: - Pesava em janeiro 100 quilogramas e após um mês tinha 58,5. Julgo estar neste momento com 70 quilos.
Em lugar de se virarem para o coração (sou cardíaco), foram à procura de outros problemas.

Camaradas, não entendo este nosso grande SNS.
Alimento-me, pessimamente, de iogurtes, queijo fresco, sopa e pouca fruta devido a diabetes.

Abraços para toda a Tabanca, em breve, se possível darei novas.
Mário Vitorino Gaspar

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23844: Blogoterapia (308): As desejadas férias e a angústia do regresso à Guiné (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Guiné 61/74 - P23943: Boas festas 2022/23 (15): Mensagens dos nossos camaradas e amigos: Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF; Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico e E. Esteves de Oliveira

BOAS FESTAS DOS NOSSOS CAMARADAS


1. Mensagem de Ano Novo do nosso camarada Hélder Sousa, (ex-Fur Mil TRMS, TSF - Piche e Bissau, 1970/72), com data de 31 de Dezembro de 2022:

Caros amigos, amigas, conhecidos simplesmente, membros das diversas entidades que comigo interagem e "outros".

Antes do mais, aproveito para agradecer assim, coletivamente, a todos quantos saudaram e formularam votos e desejos e aos quais, por razões diversas, não correspondi oportunamente.

Agora, que está a acabar a época das "boas festas" e das "festas felizes", quando o "Bom Natal" já passou e o "Feliz Ano Novo" está quase a findar, aproveito então para também vos comunicar que os meus desejos para o novo calendário é que:
- haja muita saúde (quem não quer?) embora se saiba que isso, em larga medida, não depende só dos nossos desejos;
- haja dinheiro suficiente para levar a vida sem sobressaltos (quem não quer?), embora também se saiba que há tantos imponderáveis que afetam e interferem nesse desejo;
- haja uma maior fraternidade entre os homens (quem não quer?), embora também se saiba que os valores do dinheiro, do endinheiramento, da ganância, se sobrepõem;
- haja um primado da amizade, da solidariedade, em detrimento do egoísmo, embora se saiba que isso é, com os valores praticados atualmente, algo muito distante de poder ser realizável.

Portanto, como desejos, acho que não estão mal formulados.
As suas concretizações é que são outra conversa!

Saúdo-vos então com uma frase que dois amigos, já falecidos, costumavam utilizar para sintetizar um programa de comportamento e que é pratiquem "vidas simples e pensamentos elevados".

Então, entrado na onda, bom novo Ano Novo.

Hélder Sousa


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2. Mensagem do nosso camarada Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com data de 31 de Dezembro de 2022:

Hoje, na rua, uma prostituta que me conhece:

Bom dia senhor doutor Adão.
Hoje não "trabalhei" nadinha!
Fogo, que miséria!
Pode ajudar-me com alguma coisinha, senhor doutor?

Um Ano melhor para todos
Adão Cruz


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3. Mensagem de um nosso leitor, e camarada, chegada ao Blogue através do Formulário de Contacto do Blogger:

É só para partir mantanhas e enviar os meus votos de um bom ano com saúde para todos os camaradas da Tabanca Grande, e não só.

Um alfa-bravo sincero.

Cumprimentos,
E. Esteves de Oliveira

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23940: Boas festas 2022/23 (14): reflexões de um transmontano da Terra de Miranda: "no fim de tudo, as flores murcham e morrem e as saudades também" / "ne l fin de todo, as flores murchan i morren, las suidades tamien" (Francisco Baptista, Brunhoso, Mogadouro)"

Guiné 61/74 - P23942: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVI: Op Faena e Açor, abril de 1965, no sector de Buba


Guiné > Região de Quínara > Subsector de Buba > Grupo Comandos Fantasmas > Abril de 1965 > De regresso a Bissau. Amadu Djaló, de sumbiá 
[12] na cabeça, ao lado do Tomás Camará, de quico. (Foto publicada na pág. 122. Não é indicada a fonte.)


Guiné > Região de Quinara > Sector de Buba  > Grupo Comandos Fantasmas > Abril de 1965 > O grupo em Antuane. Amadu Djaló é o segundo da direita para a esquerda, na fila dos ajoelhados. (Foto publicada na pág. 119. Não é indicada a fonte.)

Comentário adicional do VB: "Nestas duas primeiras fotos aparece já o João Parreira. Na 1ª foto está na fila de cima , é o 3º a contar da direita; aparece também na 2º foto e é também o 3º da direita, fila de pé."
 

Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, (i)  o cor inf 'comando' ref Raul Folques e  (ii) o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (1935.2022) (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e ainda (iii) o nosso saudoso   Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015)

Comentário adicional do VB: "A foto com o cor Folques e o ten ben. Bruno foi tirada por mim em Monsanto no restaurante do Clube de Caça, quando lhe fomos entregar o projecto do livro para que procedessem à revisão dos temas em que apareciam e corrigissem os erros que detectassem".

O Amadu tornou-se membro da Tabanca Grande em 16 de maio de 2009.  Um mês antes, em 15 de abril de 2010  realizou-se a sessão de apresentação do seu livro de memórias  livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.). Na altura, o Amadu foi apresentado como; (i) um grande contador de histórias, dotado de uma prodigiosa memória; (ii) como um homem bom, recto e profundamente religioso; (iii) bem como um grande operacional que serviu, com coragem e dedicação o exército colonial português, a partir de 1962, até ao fim (já como alferes comando graduado, na CCAÇ 21,  Bambadinca, 1973/74).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuamos a reproduzir excertos das memórias do Amadu, neste caso  relativas ao tempo em que integpu o Gr Comandos "Fantasmas" (comandado pelo alf mil cmd Saraiva, entretanto promovido a tenente e depois capitão).  

Estamos em abril de 1965 e o Amadu está prestes a abandonar o grupo. Depois da participação na Op Ebro (março de 1965), seguem-se as Op Faena e Açor (em abril de 1965), (*)

A fonte continua a ser o ser livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. 

A edição, que teve o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está há muito esgotada. E muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro.

O  nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965, e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / set 1966) fez generosa e demoradamente as funções de "copydesk". É já aqui em tempos  relembrou  o "making of" deste livro.  

(...) "Boa noite, Caros Camaradas Carlos e Luís: Obrigado pelo excelente trabalho de edição que tem sido feito sobre o livro do Amadú. E naturalmente trazem-me à memória o ano que levou a preparar o livro. Quase todos os dias o Amadú tocava à campainha para mais um dia de trabalho. Almoçava comigo (não era grande garfo, por falta de dentes) e muitas vezes prosseguíamos pela tarde fora até o levar ao comboio em Entre-Campos. Foram uns tempos muito interessantes que me fizeram recuar mais de 40 anos.

Lamentavelmente o negócio não foi devidamente esclarecido entre as partes e julgo que a pressa em levar por diante o projecto (as folhas já tinham passado por mais que uma mão) interferiu com o desentendimento que se seguiu. Mas levámos a peito o projecto e fomos até ao fim, o lançamento do livro. (...)



Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


 Crachá do Gr Comandos Fantasmas



Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVI: Op Faena e Açor, abril de 1965, na região de Quitafine, sector de Buba (pp. 118-123)

por Amadu Bailo Djaló


(i) O alerta dos javalis


Em abril [1] de 1965, deslocámo-nos para Buba, num barco carregado com géneros.

O tenente Saraiva  
[será capitão mil 'comando' em junho] deu as instruções. Nós abandonávamos o barco, entre Buba e Antuane. Nesse local, onde deveríamos sair do barco, como não havia porto, o barco encostava à margem e nós devíamos entrar na água e internarmo-nos na mata.

Eu ia à frente, era o primeiro homem. Quando acabámos de abandonar o barco, cada um ia-se amarrando aos ramos das árvores para sairmos da água. Depois de todo o pessoal estar em terra firme, começámos a marcha, com cuidado, até darmos com a estrada que ligava Buba a Empada.

Ia connosco um guia, o Amiro [2] que,  segundo o que o tenente nos disse, tinha abandonado a guerrilha.

Alcançada a estrada, seguimos nela até ao cruzamento de Bantael Silá. Aqui, entrámos na picada com o sol a desaparecer. Estava tudo a correr conforme o que fora planeado. Fomos andando até darmos com a entrada para a tabanca de Bantael Silá, que estava abandonada. Rodeámos a zona e entrámos na bolanha de Fran Roncante, local escolhido para montar uma emboscada.

Havia uma grande operação[3] na zona[4], com forças de Fulacunda, Buba e Empada[5]. Paraquedistas tinham sido lançados a oeste da bolanha e nós posicionámo-nos a leste da mesma.

O objectivo era apanhar os elementos que estivessem em fuga da batida que as outras forças estavam a fazer, cada uma a entrar pelo seu lado. Estávamos bem escondidos, próximos da bolanha, junto a um carreiro que vinha de Antuane para Fran Roncante. Ficámos ali, toda a noite, sem termos visto ninguém a passar. Passaram perto da zona onde estavam os páras e ouvimos tiroteio nessa direcção.

Deslocámo-nos para a tabanca de Antuane, onde, conforme as instruções devíamos permanecer até a operação terminar. Quando avistámos as casas, abrimos em linha e avançámos, cautelosamente. Malas arrombadas e muitos objectos espalhados, foi o que vimos. Tinha sido a tropa que por aqui tinha passado, tinham devassado tudo, à procura de armamento. Ocupámos este local e mantivemo-nos lá durante dois dias [6], até que ao terceiro dia, fomos recolhidos e regressámos a Buba.

O tenente Saraiva quis aproveitar a nossa estadia em Buba, para fazermos outra operação. Descansámos uns dias e,  depois do tenente regressar de Bissau, onde tinha ido tratar dessa operação [7], preparámo-nos para a saída.

Era dia da festa dos carneiros e os milícias rejeitaram a ideia de saírem connosco nesse dia, por causa de ser um dia santo. Então, adiámos a saída dois dias, o que foi bom para nós porque aproveitámos para presenciar e gozar também a festa.

No dia combinado [8], logo pela manhã, pusemo-nos em marcha, de viaturas até Nhala, e aqui ficámos a aguardar a tropa que vinha de Quebo. Nós e esse pessoal deveríamos caminhar juntos até um certo local e aqui separávamo-nos e cada um seguia para o seu objectivo.

O pessoal de Quebo chegou por volta das 17h00 e duas horas depois, começámos a marcha. O nosso objectivo era a tabanca de Portugal e o da companhia [9] do capitão Lacerda era a tabanca de Canconte, que era maior. Segundo os planos, o pessoal de outra companhia ficaria encarregado de picar a estrada que ia para Incassol. Quando chegámos ao cruzamento para a tabanca de Portugal, o nosso grupo meteu para a esquerda, em direcção ao nosso objectivo. Eram mais ou menos 03h00 da madrugada, quando nos separámos da companhia que ia connosco.

Não havia a indicação sobre o lugar exacto onde ficaria o nosso objectivo. Evitando fazer barulho, caminhámos com muita precaução até ao meio da tabanca. Javalis que ali estavam, alarmados com a nossa chegada, levantaram-se todos de uma vez, com enorme barulho, até nós apanhámos um susto. 

Instintivamente, deixámos o caminho, entrámos pelo lado esquerdo, andámos sempre paralelos, até darmos com o objectivo. Devem ter ouvido também o barulho dos javalis, porque,  de repente, uma rajada de tiros passou por cima de nós. O yenente Saraiva, que ia à frente, atirou logo no sentinela, o Kássimo passou para a frente e eu era o terceiro do grupo. Depois passámos ao ataque, demos com um corpo caído, começámos a passar revista às casas e não descobrimos nada de interesse, para além da arma do sentinela.


(ii) Cozinhando um caldeirão cheio de arroz, 
óleo de palma e um pouco de piripiri

Nesta altura, deviam ser 06h00. Prosseguimos a marcha até uma tabanca grande, chamada Gã Maligue. Nesse momento, pela rádio deram-nos a indicação para nos mantermos naquele local até nova ordem, porque na nossa direcção vinha o pessoal da companhia do capitão Lacerda. Tínhamos ouvido tiroteio, que vinha da zona de Canconte, por onde eles andavam. Revistámos as casas de ponta a ponta. Encontrámos arroz, óleo de palma e sal e preparámos uma refeição.

O Tomás Camará e o Braima foram buscar água, eu arranjei um pote que estava ali e aproveitei para cozinhar um caldeirão cheio de arroz, óleo de palma e um pouco de piripiri. Tivemos comida para o dia todo. Para os europeus arranjei uma tigela, para os africanos um prato e para o Tenente Saraiva um prato só para ele. Os europeus não gostaram muito, comeram pouco, mas o tenente comeu o prato todo.

Chegou depois o capitão Lacerda e perguntou pelo Saraiva, que estava ali perto. Convidámo-lo também a provar o nosso arroz. Como o prato do tenente já estava vazio, enchemo-lo de arroz e o Sabali Camará, que era um soldado dele, deu-lhe o prato cheio. Ele comeu mas não gostou muito.

Continuámos no local, à espera de instruções, até às 17h00[10], quando recebemos ordem para retirar. Fomos para Incassol, que não era longe. Já ouvíamos o ruído das viaturas, mas andámos ainda cerca de uma hora. Então, o tenente Saraiva perguntou ao capitão se não seria melhor o nosso grupo ficar ali, a patrulhar a zona. Procurámos um local para passarmos a noite. E aqui vou contar uma pequena história que se passou comigo e com o Braima Bá, meu amigo e companheiro dos Comandos.

Quando eu, o cabo Tomás Camará e o Kássimo estávamos a arranjar um local para passar a noite, vimos o Braima procurar um lugar para ele, um pouco afastado de nós. Eu perguntei-lhe por que é que ele ia ficar tão longe de nós e foi então que ele veio para a nossa beira.

Estávamos a começar a dormir, começámos a ser atacados com morteiros. A primeira granada caiu perto de nós, mesmo no local onde o Braima esteva a procurar lugar para dormir. A granada causou-nos três feridos. O Aquino foi um deles, terminou aqui a carreira militar.

O pessoal de Buba começou a responder ao ataque, mas houve um azar. Um dos milícias, que estava connosco, disparou a bazuca contra um ramo de uma árvore grande, que estava mesmo à frente dele e os estilhaços da granada causaram-lhe morte imediata[11] e atingiram ainda vários outros companheiros.

Passámos a noite no local, até que de manhã chegaram helicópteros para procederem às evacuações. Regressámos em direcção às viaturas e chegámos a Buba ainda de manhã. Passámos lá o resto do dia, despedimo-nos dos companheiros e na manhã seguinte[13] regressámos de barco a Bissau.

(Continua)
__________
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Notas do autor ou do editor (VB):

[1] Nota do editor: 11/12 abril de 1965.

[2] Um fula, que tinha abandonado a guerrilha e que, acompanhado de 10 pessoas, se apresentou às nossas tropas com dez armas.

[3] Nota do editor: Operação “Faena”.

[4] Nota do editor: zona do Batalhão Caçadores 513.

[5] Nota do editor: das CCav 703, CCaç 594, CMil 11 e Pel Fox 888.

[6] 11 e 12 abril 1965.

[7] Nota do editor: operação “Açor”.

[8] Nota do editor: 20 Abril 1965

[9] Nota do editor: CCav 703

[10] Nota do editor: 21 abril 1965.

[11] Nota do editor: o nome deste milícia não consta no obituário geral da guerra no Ultramar.

[12] Barrete fula. Eu preferia usá-lo porque a água da chuva, mesmo que fosse muita, não entrava e aproveitava para meter dentro dele o maço de cigarros e os fósforos.

[13] Nota do editor: 23 abril 1965.


[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas / Subtítulos: LG]
____________

Nota do editor:

(*) Vd, poste anterior da série > 29 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23928: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XV: Op Ebro, março de 1965, ajudando o BCAV 490 a reocupar Canjambari