domingo, 3 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1336: Catió: Autor de pintura mural, procura-se (Victor Condeço)

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Guiné > Região de Tombali > Catió > 1967 > Pintura mural, de autor desconhecido, provavelmente da CCS do BCAÇ 1858 (1965/67). Em latim pode ler-se "Cationis civitatis modernissma charta" (carta recentíssima da cidade de Catió).

Fotos: © Vítor Condeço (2006). Direitos reservados.

Texto do novo elemento da nossa tertúlia, Vitor Condeço, 63 anos, reformado, residente no Entroncamento, ex-furriel miliciano mecânico de armamento, CCS do BART 19163 (Catió, 1967/69) (1).


A Arte em Catió no tempo da guerra
por Victor Condeço

Luís:

Pedi-te que me desses uns dias para escrever alguma coisa, pois aqui estou, não propriamente para escrever uma estória, mas para te mostrar um trabalho de um artista desconhecido, que fotografei em Catió em Julho de 1967.

Resolvi enviar-te este trabalho por considerar que ele é muito mais que um daqueles simples desenhos murais feitos um pouco por todos os quartéis da Guiné e que caricaturavam alguma situação digna de registo, – como a chegada dos periquitos -, ou pretendiam apenas mostrar como encontrámos o quartel e como o deixámos... Enfim, pinturas murais que embelezavam as nossas messes, refeitórios e camaratas.

Se for tua opinião que tem algum interesse e que se pode enquadrar no blogue, adapta as minhas descrições, corta o que entenderes e faz os comentários que te aprouverem, inclusive podes arranjar outro título, fica ao teu superior critério. Outra questão são os direitos de autor da obra, analisa isso por favor!

Um dos meus hobbies na Guiné foi a fotografia. Bater a chapa e fazer o trabalho de laboratório ajudavam a esquecer as saudades de quem estava longe. Tinha ainda a vantagem de me afastar dos vícios do bar e era também mais económico e rápido fazer os próprios bonecos, que enviava à família.

A foto que envio foi mal tirada e mal feita, foi das primeiras que fiz no nosso laboratório (i) em Catió, dela só encontrei o que devem ser duas provas e talvez por achar que não estavam boas, devo ter pensado em repetir a fotografia mas, não sei porquê, o certo é que isso não deve ter acontecido. Recentemente, procurando entre o espólio dos meus negativos para fazer as digitalizações, nem sequer encontrei o que deu origem a estas provas.

Mesmo assim com má qualidade, dará para apreciar o excelente trabalho do artista, feito a carvão ou óleo (não posso precisar) no fundo de cal branca de uma parede interior de uma casa de habitação tipicamente colonial, situada no extremo norte do quartel e que era a antiga messe de oficiais - antiga porque, nos primeiros meses de 1968 foi inaugurada a nova, feita pela Engenharia Militar no extremo sul do quartel.

Aquela casa continuou no entanto a servir de alojamento às tropas que passavam por Catió em operações na zona, pelo menos até ao final da minha comissão em Fevereiro de 1969.

Luís, da memória visual que me resta do painel, este deveria ter cerca de 1,2 x 0,8 metros, retratava Catió e suas imediações num raio de cerca de 4 a 5 Km, abrangia áreas das cartas militares de Catió e de Bedanda.

Com o quartel bem no centro, a poente deste a vila, o cemitério, a pista de aviação com avião e tudo, as tabancas de Areia, Quintafine e Sua, o rio Cobade, para sul o rio Cangopere com o cais exterior, o rio Cadime com o cais interior, e onde não falta sequer a lancha da Marinha Portuguesa LP2 que fazia o reabastecimento diário de pão e água potável ao Cachil.

A norte o rio Ganjola, o destacamento do mesmo nome, e as tabancas de Cachanga e Dissimbile.
A nascente a bolanha, a tabanca de Priame, a mata, a estrada para Cufar, o desvio para sul para as tabancas de Quibil e Ilhéu de Infanda, a norte da estrada as ruínas de Cubaque e mais à direita as tabuletas que devem indicar no cruzamento de Camaiúpa, a direcção de Cufar e provavelmente Cobumba e Bedanda no outro sentido.

Quem fez este trabalho não sei, nunca soube, eu cheguei a Catió em Maio e o mesmo já existia, com alguma dificuldade consegue-se perceber a data inscrita, em numeração romana MCMLXVII (1967) – A. D. (não sei o significado) (2), a assinatura está ilegível, contudo no final desta parece poder ler-se Porto.

Terá sido feito provavelmente com recurso às cartas militares, mas decerto por alguém profundamente conhecedor da região e um artista, talvez um oficial da CCS do BCAÇ 1858 que o BART 1913 rendeu, mas poderia ser de outra unidade, pois em Catió na época havia outras, uma CCAV, um Pel Rec DAIMLER, um Pelotão de Canhão sem recuo um Pelotãod e Morteiros (não recordo os números, mas gostava de saber).
Os pormenores são tantos e tão bons, que não faltam os trabalhadores na bolanha e não escaparam ao autor as diversas espécies da fauna da região que se podem ver por todo o painel.

Brazão actual de Catió, vila da Guiné-Bissau
Fonte: International Civic Heraldry (por sugestão do nosso tertuliano Jorge Santos) (3)


Os tertulianos que passaram por Catió durante e após 1967, terão conhecido este painel? O Hugo Moura Ferreira (Cufar, 1966/67), mas que deve por ali ter passado, o João Tunes em 1970/71 (3)... Mas também o Leopoldo Amado, ainda muito criança, talvez por ali tivesse passado alguma vez na companhia de seu pai, na altura chefe dos Correios de Catió.

Luís: se entenderes publicar esat imagem (**), até poderás lançar um desafio aos frequentadores deste blogue, que são já da ordem das várias centenas, diariamente -, a saber, quem é que consegue, através de um amigo que conhece outro que esteve por aquelas paragens, dar uma dica sobre o possível autor do trabalho.

Seria giro passados 40 anos descobrir o autor e facultar-lhe uma cópia do seu trabalho, que se calhar nunca teve.

Luís aproveito para te desejar e a toda a tertúlia e seus familiares, também a todos os que lêem este blogue, um Feliz Natal e um Novo Ano com muita saúde e felicidades.
Até breve um abraço.

Victor Condeço

(*) O BART1913 comprou e levou para seu serviço um pequeno laboratório fotográfico, tendo facultado a sua utilização a duas ou três pessoas interessadas na fotografia, cada utilizador pagava os próprios materiais que encomendava em Bissau.

(**) Tenho outro tipo de digitalização desta foto, tem muito mais ampliação, foi feita com a divisão da foto em quatro partes, servirá para reproduzir em papel e fazer a respectiva colagem. Se te interessar está ao teu dispor.
_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

(2) A.D.= Anno Domini , em latim. Quer dizer que o mural foi pintado em 1967... da era cristã

(3) Vd. posts de:

4 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1245: Quarenta anos sobre Catió (João Tunes)

12 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXVI: No 'reino do Nino': Catió, Cacine, Gadamael, Guileje (1970) (João Tunes)

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