domingo, 3 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > A beleza dum rosto sereno numa criança cafinense

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Distribuição de água à população de Cafine, antes da feitura do poço.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O imenso Cumbidjã (da pesca à granada, quando era possível...)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Antes da mais uma partida em Sintex para o reabastecimento de frescos e correio (Cufar ou Cadique).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Uma canoa, barco IN. O 2º a ser utilizado pelo homem desde o período pré-histórico. o 1º fôra concebido de pele de animais...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O Manuel Maia, "pilando em Cafine"

Fotos (e legendas): © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem do Manuel Maia, com data de 2 do corrente. (O Manuel Maia, formado em história, foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74; salvaguardadas as devidas proporções, é já considerado o Camões do Cantanhez , o bardo de Cafal Balanta (*)


Caro Luis, o meu sincero agradecimento pela edição da minha História de Portugal em Sextilhas (**), que aproveitarei para acabar de enviar de forma faseada. [No total, são mais de três centenas e meia]

Com o que ora envio,fica concluída a dinastia Afonsina.

Um grande abraço. Manuel Maia


A História de Portugal em sextilhas (II parte, até ao fim da 1ª Dinastia)

36-Com clero foi rei Sancho algo incapaz,
mas seu irmão Afonso, mui sagaz,
ao acertar co´a Igreja, a quem exorta.
Chegado de Paris,"visitador",
o "defensor" do reino,"curador",
mais tarde faz d´acordo letra morta.


37- Marido de Matilde de Bolonha,
com ceptro português, Afonso sonha,
sondado o tinha o clero lusitano.
Intrépido, domina os partidários
de Sancho, renitentes,solidários
do rei "Capelo", vítima de engano...


38-A aceitação de Afonso teve entraves,
alcaides houve com recusa às chaves
dos seus castelos ao novo senhor.
O cerco a Guimarães e a Faria,
igual pressão que Óbidos sentia,
mostrou daqueles grande pundonor.


39-Para acudir no reino às despesas,
Afonso abriu mão das suas presas,
vendendo as herdades confiscadas.
No campo militar, Faro conquista,
e p´ra manter Algarve tem em vista
medidas por acordos rubricadas.


40-Assim el-rei Afonso, "O Bolonhês",
Algarve luso garantiu de vez,
impondo uma fronteira por tratado.
"O Sábio" em troca o casamento quis,
de Afonso com bastarda Beatriz,
mau grado o lusitano ser casado...


41-Em Badajoz acordo foi selado
p´ra ser, depois nove anos, consumado...
denúncia de Matilde fracassara...
Recusa Afonso ao Papa explicações,
de bigamia enjeita acusações,
devolução do dote,nem pensara...


42-Reinando já decénios "Bolonhês",
a Igreja prestigia um português,
p´ra Papa um lusitano é distinguido.
Seu nome Pedro Hispano ou Julião,
p´ra Igreja, XXI como João,
por nebulosa morte surpreendido...


43 - "Das letras um egrégio varão"...
é magnum in scientia,diz-se então
do Papa que foi mestre em medicina.
Um lente em matemáticas, soberbo,
filósofo, senhor de rico verbo,
que os ramos do saber todos domina...


44-E reza a lenda,el-rei dissera um dia,
que a outro casamento acederia
se um novo dote assim lhe fosse dado...
Acordo em Badajoz selou fronteira
nas cortes de Leiria,vez primeira,
o povo passa a ser representado,,,


45-Dinis,o rei chamado "Lavrador",
da armada lusitana fundador,
poeta de miltrovas bem famosas...
desposa d´Aragão, rainha santa
que faz o tal milagre que encanta,
ao transformar do manto, o pão em rosas...


46-D´aragonesas terras, Deus o quiz,
saindo p´ra casar com D.Diniz,
chegou D.Isabel, bela princesa.
Trazendo na bagagem por missão
fazer da caridade devoção,
encantaria a gente portuguesa...


47-El-rei Diniz seria o criador
da escola de estatuto superior
de formação de lentes, embrião.
Desenvolveu as feiras e mercados,
fortaleceu a indústria dos pescados,
matais e linhos pôs em ascensão.


48-"O Bravo", Afonso Quarto, oitavo rei,
seguindo os pais ns rédeas da grei,
enceta guerra acesa com Castela.
O genro foi razão motivadora,
em causa o tratamento,vida fora,
imposto p´ra Maria, filha bela...


49-Mau grado a desavença e o agravo,
pediu Castela ajuda ao luso "Bravo"
na guerra ao sarraceno no Salado.
Afonso não enjeita a ocasião
para apoiar o genro,pois então,
ataque ao Mouro assume-se sagrado...


50-Como aia de Constança, de Castela,
chegou Inês de Castro, moça bela
por quem Infante Pedro se enamora.
Mau gradoo casamento co´a primeira,
presença da galega à sua beira
fará crescer paixão a toda a hora...


51-Bastardos vão nascer da ligação
mais tarde transformada em união,
após precoce morte de Constança.
Enlace faz sentir a corte em p´rigo...
familiares de Inês são inimigo
que se insinua,trai,nunca descansa...


52-Validos pressionam noite e dia
dizendo estar em risco a sob´rania,
levando el-rei a crime bem nefando.
A ideia é posta,clara,sem rodeios,
Inês tem de morrer por quaisquer meios,
há risco p´ro futuro de Fernando...


53-Misericórdia, roga Inês, prostrada,
os olhos marejados,mui cansada,
ao rei Afonso IV, empedernido.
Os filhos do regaço lhe arrancaram
e a jugular, num golpe, lhe cortaram
matando assim amor tão proibido...


54-O medo do futuro da Nação
roubou a Afonso, a dor, a compaixão,
deixando o filho Pedro, tresloucado.
Chegado ao poder este entroniza,
cadáver já ossada, e oficializa
enlace tão brutalmente ceifado...


55-P´ra uns "O Crú" e outros "Justiceiro",
monarca novo, el-rei Pedro primeiro,
nas Cortes d´Elvas seu povo protege.
Impõe travão ao clero, sustém nobres,
ganhando a adoração das gentes pobres,
o sofredor de amor dez anos rege.


56-Virá depois Fernando,"O Formoso",
versátil e também mui belicoso,
Castela o fez três vezes perdedor...
Reinado seu não foi apenas guerra,
deu "lei das sesmarias" para a terra
e às naus vai imprimir forte vigor.


57-Castela viu Trastâmara matar
herdeiro Pedro e seu trono ocupar,
ouvidos são rumores de insurreição...
Achando ter direito àquela c´roa
el-rei Fernando parte de Lisboa
co´a ajuda de Granada e Aragão.


58-Sedento de conquista,"O Inconstante",
julgando sairia triunfante,
acorda o casamento de seguida...
A noiva,Leonor, linda princesa
da reputada corte aragonesa
"p´ra tia" ficaria, preterida...


59- Derrota humilha o rei da lusa gente
que altera o seu noivado,de repente,
um nome igual tem nova candidata...
Segunda Leonor,é de Castela,
do rei que quis depor,é filha bela,
de novo,o nó de enlace, ele desata...


60- E outra Leonor,pior das três,
provou, que "à terceira foi de vez",
impondo ao rei Fernando ida ao altar...
O povo sai à rua em alarido,
dizendo barregã havia sido
aquela com que o rei se vai casar...


61-Recebe o rei a dita por consorte,
em Leça do Bailio, cá no Norte,
secreto foi enlace, acto brejeiro,
Razão o povo a tinha,foi provado,
que o diga Álvaro Pais,envergonhado,
por vê-la meretriz do Conde Andeiro...


62-Na terra não forjou seus cabedais,
burguês, comerciante, Álvaro Pais,
que foi chanceler-mor de Portugal.
Estatuto social então vigente
que assenta no poder terratenente,
em si ganha inimigo figadal...


63-Serviu os reis D.Pedro e D.Fernando,
deixando cargo vago,logo quando,
indignidades viu em Leonor...
Pretexto foi doença que o minava,
cansaço da função que se arrastava,
p´ro impedir de dar o seu melhor...


64-Detendo em Fernão Lopes atenção,
visível,bem diferente é a versão,
daquilo que, em verdade, Pais sentia.
"Gram nojo que pela desomrra del rei"
comum é sentimento em toda a grei,
"segumdo ha maa fama rainha avia"...


65-Morrendo el-rei, não há filho varão,
a Leonor,regente, se diz não,
e nem se aceita D. Beatriz.
Sucumbe a dinastia Afonsina.
p´ra dar lugar à nova,Joanina,
que vai ter fundador "Mestre de Aviz" ...


66-Chegado p´ras exéquias reais,
sentindo o mestre a ofensa ser demais,
ataca,enraivecido,o Conde Andeiro.
Guiado pelos nervos seu punhal,
produz um ferimento não letal,
de pronto "corrigido" por escudeiro...


67-A honra lusitana foi lavada
a golpes de punhal e de uma espada,
tombado foi o biltre, finalmente.
A amásia Leonor deixou o paço,
fugindo, a sete pés, para o regaço
d´outro qualquer amante, certamente...


68-Sabendo dominar a oratória,
João das Regras mostra a vitória
do mestre entre os quatro pretendentes.
Foi "filha do pecado", Beatriz,
os outros, por traição, Cortes não quis,
a escolha agradou às lusas gentes...

manuel maia

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

(...) Fui Furriel Miliciano da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 que rumou, depois do necessário IAO do Cumeré, para Bissum/Naga.

Aí nos mantivemos uns sete a oito meses para sermos apanhados na famosa operação do Cantanhez que implicou a ida de dois Grupos de Combate, (entre os quais o meu...) para Cafal - Balanta, ficando adstritos à Companhia residente (que ali se encontrava apenas há dias...) vivendo em condições infrahumanas em buracos escavados no solo sem a possibilidade de protecção de "tecto" pois o homem do monóculo não autorizava senão panos de tenda e folhas de palmeira.

Esta parceria com Cafal durou uns três a quatro meses até à chegada do resto da minha Companhia que foi destacada para Cafine (distando cerca de 2 km dali...)

Então, já reunidos, passámos a viver em tendas de campanha até termos concluída a feitura dos reordenamentos, consubstanciada em largas dezenas de habitações para a população. Só então procedemos à construção de mais algumas para serventia da companhia...

Foi um trabalho insano, mas que nos deu plena satisfação e que permitiu, estou certo, - a juntar ao episódio da captura algo fortuita de Rafael Barbosa, líder guinéu do PAIGC (em rota de colisão com os dirigentes caboverdeanos...) - a saída precoce da região, a título de prémio, creio bem...

Foram nove ou dez meses ali passados, naquela zona minguada de tudo menos de mosquitos e balas... (...)


(**) Vd. postes de:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3915: Cancioneiro do Cantanhez (1): De Cafal Balanta a Cafine, Cobumba, Chugué, Dugal, Fatim... (Manuel Maia)

1 comentário:

Antonio Graça de Abreu disse...

Meu caro
És mesmo bom a fazer estas coisas.
Eu também me mexo por dentro da poesia, mas tu tens mesmo "engenho e arte."
Um abraço,
António Graça de Abreu