© José Teixeira (2005)
1. Perguntei ao Zé Teixeira: Já publiquei a estória nº 3...
Diz-me o que querias dizer com o "raio do puto era branco"... Não encontro (ou perdi) a nota de pé de página.
Um abraço.
Ventura da minha vida
Ver uma criança parida
No momento da chegada.
De mãe preta bem pintada,
Negro pai, para meu espanto,
O raio do puto era branco (1)
De pronto, o Zé satisfez a minha curiosidade::
Reafirmo a minha admiração quando peguei no Bébé e vi uma criança branca. Parece que tinha vindo da praia. Um branco escuro e muito coradinho. Ao perguntar porquê, tive como resposta um sorriso e depois a informação de que as crianças nascem brancas e rapidamente escurecem. Assim aconteceu, de facto.
Conhecia a mãe, mas o pai nunca o tinha visto e até hoje . . Parece que era djila [comerciante ambulante, entre os fulas e futa-fulas].
Conheci outro caso, a Binta de Chamarra, que teve um filho de um colega meu e foi repudiada e recambiada para Aldeia Formosa (Quebo).
Guiné-Bissau > Saltinho > 2005 > O que é que mudou entre 1968 e 2005, pergunta o Zé Teixeira ? Pouco, a não ser talvez o uso (maior) do sutiã que agora é ronco...
© José Teixeira (2005)
Quando lá estive, em 2005 procurei-a, sem conseguir encontrá-la. Apareceu-me um jovem de trinta anos a dizer-se filha da Binta e de um branco, só que o outro era mais velho. Vim a saber que este era filho de uma Binta Bobo, de Mampatá, que também conheci e parece que já faleceu.
Deixa-me dizer-te que o blogue continua a crescer em quantidade de bloguistas e sobretudo de história. Trabalho o teu que muito admiro. Perante o que tenho lido a minha estória é tão pequenina !
Um abraço
Zé Teixeira
© José Teixeira (2005)
Comentário meu (L.G.):
Discordo totalmente da tua última frase: "Perante o que tenho lido a minha estória é tão pequenina!"...
Zé, não tens razão, estás a ver mal a questão: o nosso blogue não é um concurso literário, não é um mostruário de vaidades, não é o hit-parade com os dez mais qualquer coisa do mundo...
Cada estória é uma estória.... Única! Cada membro da nossa tertúlia merece (ou deve merecer) a mesma atenção, o mesmo carinho, o mesmo tempo de antena... Se assim não for, é porque eu não estou a gerir bem o blogue... A minha obrigação é garantir a igualdade de oportunidades em relação a cada um dos camaradas e amigos que me mandam textos para publicar... É claro que nem todos temos o mesmo talento para a escrita, a arte de contar estórias, descrever uma situação, caracterizar um tipo, retratar uma paisagem ou transmitir emoções...
Se eu estiver a proceder mal e a favorecer alguém em detrimento de outrem, por favor corrijam-me, apontem-me o dedo, chamem-me nomes feios... É claro que às vezes sigo o critério da actualidade ou da importância editorial, procurando manter um certo fio condutor em relação aos posts ou textos ou mensagens que vão sendo inseridas... Por exemplo, não publiquei o teu diário todo de seguida, fui rendendo o peixe, publicando a coisa por partes... Tem que haver variedade mas também consistência e um certa continuidade... É bom, por exemplo, tentar esclarecer o que se passou em Cheche, no dia 6 de Fevereiro de 1969, procurando divulgar o maior número de depoimentos, sem a veleidade de esgotarmos o assunto... Daqui a um mês pode aparecer um camarada que retoma a conversa, sempre inacabada, sobre as nossas aventuras e desventuras na Guiné...
O mesmo estou a fazer com o Zé Neto, o Mário Dias ou o Carlos Marques dos Santos, só para citar alguns tertulianos que ultimamente têm sido mais profícuos ou têm mandado mais coisas... Basicamente o critério é o da ordem de chegada, do interesse e da actualidade...
Se tenho sido injusto para com algum tertuliano, é com o Jorge Santos, o nosso fuzo do Niassa, de que tenho ainda muito material em stock... É verdade que ele não é guinéu, mas está atento a tudo o que se escreve e diz sobre a guerra colonial na Guiné...
Acrescento ainda mais o seguinte: nem sempre o que circula na tertúlia, por e-mail, é publicável no nosso blogue. Por sistema, tento evitado transcrever posts de outros blogues (com excepção dos blogues dos nossos amigos e camaradas, e sempre que for apropriado). Interessam-nos textos nossos, originais, e se possível inéditos... Os dos outros podem, de tempos a tempos, ser inseridos na rubrica a que eu chamei antologia...
Também, por sistema e por uma questão de princípio, não tenho publicado opinião política sobre a actualidade (portuguesa, guineense, ou outra), a menos que possa ter a ver, directamente, com o objecto constitutivo da nossa tertúlia...
Por fim, deixa-me dizer-te, Zé, que tu levantaste aí uma questão, no mínimo delicada mas de grande interesse humano: os filhos da guerra, os frutos (proibidos) dos amores dos tugas e das fulas (as mulheres que estavam mais próximas de nós)... O que é feito deles ? Como vivem ? E as suas mães, como estão, como se sentem ?... Talvez por pudor, não temos falado disto, mas tu, com a tua especial relação com a população de Ingoré, Buba, Quebo,Mampatá e Empatá, tu, querido fermero, mauro, sábio, médico, curandeiro..., tu conseguiste pôr o dedo na ferida... Suavemente, profissionalmente...
Já agora explica-nos como e porquê a Binta, de Chamarra, foi repudiada e expulsa da sua tabanca, por ter dado à luz um filho de um tuga... Como é que os fulas (e outras etnias) lidavam habitualmente com estes casos que, se calhar, não foram tão raros quanto isso... Basta lembrar-nos que em mais de uma década de guerra na Guiné passaram por lá largas dezenas de milhares de homens, muitos dos quais tiveram relações sexuais, consentidas, com mulheres da população local...
Não estou a faltar de prostituição nem de violação, estou a falar de relações nalguns casos até maritais, mais ou menos estáveis e até toleradas, quer pelas autoridades militares quer pelas populações locais... Houve ou não houve casos de paixão e de amor de tugas e de jovens guineenses, nomeadamente fora de Bissau ?
Alguém mais quer falar sobre isto ? Contar estórias que conheça ? O Zé Neto já nos trouxe aqui a estória do Dauda, o Viegas (2), o presumível filho de um capitão de Cacine.
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Notas de L.G.
(1) Vd. post de 15 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXVIII: Estórias do Zé Teixeira (3): a festa da vida
(2) Vd. post de 21 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (3): Dauda, o Viegas
Guiné > Guileje > CCART 1613 (1967/68)> "Dauda... Era a cara do pai... e a mascote da companhia... Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine"...
© José Neto (2005)
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