Mensagem do nosso camarada António Santos
Caro amigo, Luis Graça.
Em anexo envio um documento que pretende ser a minha primeira participação no Blogue-fora-nada.
Aguardo notícias para continuar.
Obrigado,
António Santos
Caneças, 15 de Maio de 2006
Caro camarada Luis Graça.
Peço desculpa de, no primeiro contacto, estar tão íntimo mas tomo a liberdade após entender que no blogue-fora-nada é mesmo assim.
Ando há cerca de um mês a espreitar o teu blogue cujo tema é a Guiné, e a vontade de entrar na conversa vai aumentando todos os dias e, como alguma vez tem que ser a primeira, cá vai.
Essa terra que, apesar de independente, com todo o direito, sinto que é hoje mais nossa do que o foi há 34 anos, (para o meu turno), quando fui (fomos) brindados com uma viagem de ida e talvez volta, felizmente que a volta o foi para a grandissíma maioria dos camaradas.
Tenho reparado que o pessoal da zona onde fui parar [Nova Lamego], não aparece para desabafar o muito que tem para contar
Data: 1 de Agosto de 1974, 12 horas; local: aeroporto de Bissalanca, Guiné-Bissau... Saímos aproximadamente 4 horas depois do previsto, porque o avião estava a ser reparado na ilha do Sal em Cabo Verde de uma pequena avaria, mas a pressa era tanta em regressar que ninguém se importou em embarcar.
O Boeing 707 dos TAM começa a sua corrida para levantar voo com destino a Lisboa e, no preciso momento em que as rodas deixaram de tocar na pista, alguém disse alto e bom som:
- Nunca mais volto a esta terra!
... Pois passados 32 anos sobre esse dia, esse alguém está com uma vontade louca de voltar (vontade que não é de agora, já dura há alguns anitos). Voltar à Guiné só tem acontecido em sonhos e muitos, pois já fui mobilizado umas quantas vezes.
Voltar não só para visitar Nova Lamego (Gabu Sara), terra de mim, mas também outros locais de que tanto ouvi falar por variadíssimas razões, e que o blogue-fora-nada veio recordar.
Esse alguém é quem está a escrever, como já percebeste. Chamo-me António Santos, ex-Soldado de Transmissões, em Nova Lamego, Sector L3, de 1972 a 1974, incorporado no Pel Mort 4574/72, para render o Pel Mort 2267/70.
Mas voltando ao início, como tudo começou:
- 19 de Outubro de 1971: Recruta no RI 3, Beja;
- 2 de Janeiro de 1972, especialidade no BCAÇ 5, Campolide, Lisboa;
- 13 de Março de 1972, pronto, Amadora: nesse dia, guia de marcha para uma diligência no HMP na Estrela Lisboa;
- finalmente, 31 de Maio de 19 72, a (não desejada)mobilização pelo RI 15 em Tomar, com destino à Guiné.
Por agora fico por aqui, para não se tornar uma grande seca. Estou a digitalizar uma série de fotos que, se estiveres de acordo, vou enviando, conforme for escrevendo.
Cumprimentos
Depois disto tudo, se me é permitido envio um abração para toda a tropa.
Comentário de L.G.:
Nunca digas... jamais, seca, dá-me licença, meu comandante... Nem peças para entrar: a caserna é grande e é nossa... O blogue é teu, camarada.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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