Título: O Fazedor de Utopias: Uma Biografia de Amílcar Cabral
Autor: António Tomás
Editora: Tinta da China
Local: Lisboa
Ano: 2007
Nº de págins: 344
Preço: c. 16/17 €
1. Texto da responsabilidade dos editores do blogue, com base em: (i) enviado ontem pelo A.Marques Lopes, (ii) notícia do Diário Digital/Lusa; (iii) edições Tinta da China; outras fontes da Net.
Fotos: Edições Tinta da China (2007). (Com a devida vénia...)
António Tomás nasceu em Luanda, a 11 de Abril de 1973, dois meses e meio depois de Amílcar Cabral ter sido assassinado em Conacri, a 28 de Janeiro de 1973.
Vive, desde 2004, nos EUA onde é doutorando em antropologia pela Universidade de Columbia. Tema da sua tese: «Os efeitos da dolarização no nível de vida das populações em Angola».
Começou a trabalhar como jornalista na Rádio Nacional de Angola, em 1991, e na Agência Angola Press, em 1992. Mais tarde, a residir em Lisboa (onde se licenciou em Comunicação Social, pela Universidade Católica), escreveu para vários periódicos, entre os quais o jornal «Público», onde assinou recensões críticas sobre literatura africana. Foi membro fundador do Grupo de Teatro Museu do Pau Preto, além de autor e co-autor de peças representadas em Portugal e no estrangeiro. Actualmente divide as suas actividades entre Luanda, Lisboa e Nova Iorque. Escreve para o «Jornal de Angola» e o «Angolense».
Esta é a primeira biografia de grande fôlego sobre um líder nacionalista africano. Embora não sendo um historiador, António Tomás não se limita a reconstituir a vida de Amílcar Cabral. Dá igualmente conta da época conturbada em que se desenvolveu o movimento nacionalista africano. Numa linguagem simples e acessível, este livro sobre um grande "fazedor de mitos" é também "uma reflexão lúcida e perspicaz sobre os movimentos de libertação, quando já se tornaram obsoletos os ideais que lhes deram fundamento".
Como escreve José Eduardo Agualusa, no prefácio, trata-se de um livro que "tenta devolver ao grande público essa figura maior de África", através de uma linguagem jornalística, mas "apoiada numa investigação rigorosa".
Amílcar Cabral é apersentado como um homen que enfrentou muitas contradições, tanto no plano pessoal como no seio do PAIGC, acabando por ser vítima (mortal) dessas contradições.
Em entrevuata à Agência Lusa, o autor apontou, «entre muitas», quatro contradições na vida e obra de Amílcar Cabral, um dos grandes idealistas africanos do Séc. XX:
«Não se pode falar em erros, mas em contradições. Há muitas mas a mais importante talvez seja a relacionada com a sua própria identidade, pois formou-se profissional e culturalmente em Portugal e pensava como português» (...).
No entender de António Tomás, a ideia de Cabral de «reafricanização dos espíritos» esbarrou na «verdadeira cultura africana». Passar da teoria à prática, não foi fácil, foi muito duro, "pois sempre pensou que a mística africana fora apagada pela colonização, o que não se verificou», sustentou o antropólogo, dando como exemplos os casos, ainda hoje actuais, da Mutilação Genital Feminina (MGF) e da dominação do Homem sobre a Muher.
A lógica da «guerra anti-colonial», segundo os valores defendidos por Cabral, seria outra das contradições importantes entre a teoria e a prática num homem que "tentou um meio termo" entre o ideal comunista de Mao Tze Dong (o poder da classe camponesa) e de Che Guevara (o poder da revolução dos quadros).
Outro erro de Amílcar Cabral foi o de tentar estender o teatro de guerra a Cabo Verde, o que obviamente era suicidário, mas que vinha na sequência directa do seu "sonho irrealista" de defender a unidade entre a Guiné (onde nasceu) e Cabo Verde (terra dos seus pais).
Uma outra contradição de Amílcar Cabarl, esta de «cariz mais pessoal», tem a ver com o "humanista que acabou por defender a guerra (1963/74) como meio para alcançar a independência», acabando por ser obrigado a tomar medidas drásticas, em conflito com os seus valores e ideais.
Diz o António Tomás à Lusa:
«Amílcar Cabral tinha um lado ingénuo muito grande. Entregou-se generosamente à causa da independência, na qual depositava uma grande esperança. Acreditou até ao fim, mesmo quando começaram algumas traições dentro do próprio PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e
Cabo Verde)».
Mas o biógrafo revela uma grande admiração, não apenas pelo intelectual e o líder nacionalista como também pelo homen prático, o organizador, o operacional:
«Era um homem muito prático, embora agarrado à teoria. Tentou resolver as contradições mas não conseguiu. A guerra não se faz com um homem só. Tentou tudo, mas era o único que pensava e esqueceu-se do resto: que há outros que também pensam» ...(...) " Foi o primeiro a colocar grande parte do esforço de guerra ao serviço da organização das zonas libertadas e, paralelamente, a travar o conflito com Portugal nas frentes interna e
diplomática»...
Escreve a Agência Lusa: "No primeiro caso, promoveu a educação, saúde e os armazéns do povo nas zonas libertadas e, no segundo, privilegiou os contactos internacionais, sustentou António Tomás, deixando no ar a questão sobre se havia mesmo a necessidade de se partir para o conflito com o regime colonial de Lisboa".
Quanto à morte de Amílcar Cabral, o autor tem dúvidas sobre os mandantes e executantes (que «são muitas»), ao mesmo tempo defende que o seu assassinio foi «consequência» de não ter conseguido resolver as contradições do movimento de libertação que liderou durante mais de década e meia.
O livro é apresentado hoje na Casa Fernando Pessoa.
Autor: António Tomás
Editora: Tinta da China
Local: Lisboa
Ano: 2007
Nº de págins: 344
Preço: c. 16/17 €
1. Texto da responsabilidade dos editores do blogue, com base em: (i) enviado ontem pelo A.Marques Lopes, (ii) notícia do Diário Digital/Lusa; (iii) edições Tinta da China; outras fontes da Net.
Fotos: Edições Tinta da China (2007). (Com a devida vénia...)
António Tomás nasceu em Luanda, a 11 de Abril de 1973, dois meses e meio depois de Amílcar Cabral ter sido assassinado em Conacri, a 28 de Janeiro de 1973.
Vive, desde 2004, nos EUA onde é doutorando em antropologia pela Universidade de Columbia. Tema da sua tese: «Os efeitos da dolarização no nível de vida das populações em Angola».
Começou a trabalhar como jornalista na Rádio Nacional de Angola, em 1991, e na Agência Angola Press, em 1992. Mais tarde, a residir em Lisboa (onde se licenciou em Comunicação Social, pela Universidade Católica), escreveu para vários periódicos, entre os quais o jornal «Público», onde assinou recensões críticas sobre literatura africana. Foi membro fundador do Grupo de Teatro Museu do Pau Preto, além de autor e co-autor de peças representadas em Portugal e no estrangeiro. Actualmente divide as suas actividades entre Luanda, Lisboa e Nova Iorque. Escreve para o «Jornal de Angola» e o «Angolense».
Esta é a primeira biografia de grande fôlego sobre um líder nacionalista africano. Embora não sendo um historiador, António Tomás não se limita a reconstituir a vida de Amílcar Cabral. Dá igualmente conta da época conturbada em que se desenvolveu o movimento nacionalista africano. Numa linguagem simples e acessível, este livro sobre um grande "fazedor de mitos" é também "uma reflexão lúcida e perspicaz sobre os movimentos de libertação, quando já se tornaram obsoletos os ideais que lhes deram fundamento".
Como escreve José Eduardo Agualusa, no prefácio, trata-se de um livro que "tenta devolver ao grande público essa figura maior de África", através de uma linguagem jornalística, mas "apoiada numa investigação rigorosa".
Amílcar Cabral é apersentado como um homen que enfrentou muitas contradições, tanto no plano pessoal como no seio do PAIGC, acabando por ser vítima (mortal) dessas contradições.
Em entrevuata à Agência Lusa, o autor apontou, «entre muitas», quatro contradições na vida e obra de Amílcar Cabral, um dos grandes idealistas africanos do Séc. XX:
«Não se pode falar em erros, mas em contradições. Há muitas mas a mais importante talvez seja a relacionada com a sua própria identidade, pois formou-se profissional e culturalmente em Portugal e pensava como português» (...).
No entender de António Tomás, a ideia de Cabral de «reafricanização dos espíritos» esbarrou na «verdadeira cultura africana». Passar da teoria à prática, não foi fácil, foi muito duro, "pois sempre pensou que a mística africana fora apagada pela colonização, o que não se verificou», sustentou o antropólogo, dando como exemplos os casos, ainda hoje actuais, da Mutilação Genital Feminina (MGF) e da dominação do Homem sobre a Muher.
A lógica da «guerra anti-colonial», segundo os valores defendidos por Cabral, seria outra das contradições importantes entre a teoria e a prática num homem que "tentou um meio termo" entre o ideal comunista de Mao Tze Dong (o poder da classe camponesa) e de Che Guevara (o poder da revolução dos quadros).
Outro erro de Amílcar Cabral foi o de tentar estender o teatro de guerra a Cabo Verde, o que obviamente era suicidário, mas que vinha na sequência directa do seu "sonho irrealista" de defender a unidade entre a Guiné (onde nasceu) e Cabo Verde (terra dos seus pais).
Uma outra contradição de Amílcar Cabarl, esta de «cariz mais pessoal», tem a ver com o "humanista que acabou por defender a guerra (1963/74) como meio para alcançar a independência», acabando por ser obrigado a tomar medidas drásticas, em conflito com os seus valores e ideais.
Diz o António Tomás à Lusa:
«Amílcar Cabral tinha um lado ingénuo muito grande. Entregou-se generosamente à causa da independência, na qual depositava uma grande esperança. Acreditou até ao fim, mesmo quando começaram algumas traições dentro do próprio PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e
Cabo Verde)».
Mas o biógrafo revela uma grande admiração, não apenas pelo intelectual e o líder nacionalista como também pelo homen prático, o organizador, o operacional:
«Era um homem muito prático, embora agarrado à teoria. Tentou resolver as contradições mas não conseguiu. A guerra não se faz com um homem só. Tentou tudo, mas era o único que pensava e esqueceu-se do resto: que há outros que também pensam» ...(...) " Foi o primeiro a colocar grande parte do esforço de guerra ao serviço da organização das zonas libertadas e, paralelamente, a travar o conflito com Portugal nas frentes interna e
diplomática»...
Escreve a Agência Lusa: "No primeiro caso, promoveu a educação, saúde e os armazéns do povo nas zonas libertadas e, no segundo, privilegiou os contactos internacionais, sustentou António Tomás, deixando no ar a questão sobre se havia mesmo a necessidade de se partir para o conflito com o regime colonial de Lisboa".
Quanto à morte de Amílcar Cabral, o autor tem dúvidas sobre os mandantes e executantes (que «são muitas»), ao mesmo tempo defende que o seu assassinio foi «consequência» de não ter conseguido resolver as contradições do movimento de libertação que liderou durante mais de década e meia.
O livro é apresentado hoje na Casa Fernando Pessoa.
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