quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, ex- Alf Mil Op Esp, Guiné, Dez 1971 / Dez 1973, CART 3492 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa):

Caros Luís, Carlos, Virgínio e Pessoal da Pesada

Antes de tudo o mais, desejo a todos um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

Podia escrever mais umas coisas nestes votos de Boas Festas, mas parece-me sempre que não acrescentam nada!

Bem, quem me conhece sabe que eu sou um gajo maníaco da família! Sou o nono e mais novo filho de uma família que neste momento já deve rondar, (descendentes dos meus pais), assim umas 140 pessoas, incluindo os aderentes, claro!

Isto para dizer que o Natal sempre representou muito para mim e que foi preciso vir a tropa para me tirar o Natal em família.

Como já escrevi anteriormente e foi publicado aqui na Tabanca, o primeiro Natal fora de casa, foi passado a bordo do Niassa, já no Golfo da Guiné (1). Foi uma coisa irreal, da qual eu não me apercebi bem!

Mas o Natal de 1972 foi passado no Mato de Cão! (2) Vês, Beja Santos, eu passei lá o Natal! Não sabes o que perdeste! Estou a gozar, claro!

Longe da família, longe dos meus camaradas que tinham ido comigo, para a Guiné, da CART 3492 e a adaptar-me ainda às minhas novas funções de comandante do Pel Caç Nat 52, a coisa não foi fácil.

Não tínhamos luz eléctrica, mas tínhamos uma arca frigorifica a petróleo. Vivíamos debaixo do chão, mas tínhamos um tecto de estrelas. Não tínhamos a família connosco, mas tínhamos a amizade, a camaradagem que nos unia.

E tínhamos outra coisa, que foi a que me fez mais confusão: calor, muito calor.Por muito que eu quisesse pensar em Natal, o raio do calor desmentia que fosse Natal.

Habituados à Europa e ao Natal da neve, (embora em Portugal não a tivéssemos), aquela coisa do calor estragava qualquer Natal!

Foi assim difícil entrar no espírito de Natal, o que apesar de tudo acabou por ser bom, pois amenizou as saudades e a tristeza

Lembro-me que fiz um qualquer cartaz para colocar na, (nem sei como lhe chamar), sala de refeições (?), que devo ainda ter guardado em qualquer lado, e que o mesmo era muito infantil, talvez a chamar as reminiscências dos Natais em criança, o regresso às origens!

Bebeu-se o que havia e não havia, houve algumas lágrimas e o Natal passou!

Recordo-me, ou talvez não, que ao princípio da noite de 24 para 25, houve um qualquer ameaço de sarrafusca, mas que se veio a revelar falso.

Como hoje em dia se diz, e que não quer dizer nada: Foi o Natal possível!

Bom Natal para todos, sobretudo para aqueles em quem as marcas da guerra, sejam elas quais forem, permanecem marcadas.


Abraço camarigo do

Joaquim Mexia Alves
Termas de Monte Real
Monte Real, Leiria
Tel: +351 244 619 020
fax: +351 244 619 029
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Notas dos editores:

(1) Vd. post de:

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

Vd. também o post de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

(2) Sobre o Mato Cão:

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

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