José Teixeira
ex-1.º Cabo Enfermeiro
CCAÇ 2381
Buba, Quebo, Mampatá e Empada ,
(1968/70)
1. O nosso camarada José Teixeira mandou-nos, ainda antes da sua viagem à Guiné-Bissau, mais uma das suas estórias, que são indiscutivelmente uma mais valia para o nosso Blogue.
O Lobo de Matosinhos com a famosa Alzira
Foto: © José Teixeira (2008). Direitos reservados.
2. Trágico enamoramento
O Alzira e... a alzira
Por José Teixeira
O Alzira, alcunha de um camarada de Lisboa, muito comunicativo e com uma excelente voz para cantar o fado, logo uma figura típica na Companhia.
Mobilizado como Condutor, não tinha viatura atribuída, pelo que era mais um Atirador de serviço.
Chegados a Aldeia Formosa (Quebo), surge-lhe pela frente a alzira, velha e ferrugenta GMC, que alguém outrora, baptizara com tal nome.
O Alzira mirava e remirava a alzira. O namoro começou ainda em Buba, quando ele viu pela primeira vez a viatura. Os seus esforços para conduzir a bicha foram nulos, pois a alzira estava afecta à Companhia que nos recebeu – Os Lenços azuis.
Não havia nada que fizesse desanimar o homem. A alzira tinha de ser para ele.
Logo na primeira coluna a Buba, a alzira foi mobilizada para carregar mantimentos e o Alzira para montar segurança, solução ideal para se dar o desejado encontro, para quem há vários meses não pegava num volante. Bastava uma palavrinha ao Condutor da alzira e um desenfianço do Alzira, do Sector em que estava integrado e ei-lo todo ufano a saltar para cima da sua pequena, com a cobertura do furriel da sua equipa.
Tudo corria às mil maravilhas. O Alzira em cima da alzira a dar ao pedal. Ela a gemer por todos os lados com os solavancos provocados pelos buracos da picada e húmida pela passagem nas bolhanhas que a estrada atravessava.
O IN apercebeu-se da festa e veio ajudar, montando uma emboscada.
Iniciado o fogachal, o Alzira pensa possivelmente que o seu lugar não era ali e salta rapidamente de cima da alzira para o chão.
Uma mina anti-pessoal estava à sua espera, nesse preciso momento, mesmo ali a servir-lhe de tapete, na berma da mata, para não ser detectada pelos picadores.
A alzira, impávida e serena, insensível à dor que o Alzira sentia ao perder uma perna, continuou a sua marcha, pelo menos até 1973, quando foi vista e assistida por outro camarada, o Lobo de Matosinhos, Mecânico-Auto.
Possivelmente ainda se encontra por lá, toda ferrugenta se teve a sorte de não marcar encontro com alguma AC
O Alzira, esse regressou a Lisboa, após longas horas de sofrimento e luta contra a morte, pois o héli só o veio buscar horas depois.
O romance acabou de maneira trágica.
Do Alzira nunca mais soube notícias. A alzira, tive o prazer de ver de novo, agora em fotografia, tirada em 1973, cavalgada pelo camarada Lobo.
Zé Teixeira
________________
Nota dos editores:
(1) Vd. último post da série de 2 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2604: Estórias do Zé Teixeira (26): Mama firme (José Teixeira)
2. Trágico enamoramento
O Alzira e... a alzira
Por José Teixeira
O Alzira, alcunha de um camarada de Lisboa, muito comunicativo e com uma excelente voz para cantar o fado, logo uma figura típica na Companhia.
Mobilizado como Condutor, não tinha viatura atribuída, pelo que era mais um Atirador de serviço.
Chegados a Aldeia Formosa (Quebo), surge-lhe pela frente a alzira, velha e ferrugenta GMC, que alguém outrora, baptizara com tal nome.
O Alzira mirava e remirava a alzira. O namoro começou ainda em Buba, quando ele viu pela primeira vez a viatura. Os seus esforços para conduzir a bicha foram nulos, pois a alzira estava afecta à Companhia que nos recebeu – Os Lenços azuis.
Não havia nada que fizesse desanimar o homem. A alzira tinha de ser para ele.
Logo na primeira coluna a Buba, a alzira foi mobilizada para carregar mantimentos e o Alzira para montar segurança, solução ideal para se dar o desejado encontro, para quem há vários meses não pegava num volante. Bastava uma palavrinha ao Condutor da alzira e um desenfianço do Alzira, do Sector em que estava integrado e ei-lo todo ufano a saltar para cima da sua pequena, com a cobertura do furriel da sua equipa.
Tudo corria às mil maravilhas. O Alzira em cima da alzira a dar ao pedal. Ela a gemer por todos os lados com os solavancos provocados pelos buracos da picada e húmida pela passagem nas bolhanhas que a estrada atravessava.
O IN apercebeu-se da festa e veio ajudar, montando uma emboscada.
Iniciado o fogachal, o Alzira pensa possivelmente que o seu lugar não era ali e salta rapidamente de cima da alzira para o chão.
Uma mina anti-pessoal estava à sua espera, nesse preciso momento, mesmo ali a servir-lhe de tapete, na berma da mata, para não ser detectada pelos picadores.
A alzira, impávida e serena, insensível à dor que o Alzira sentia ao perder uma perna, continuou a sua marcha, pelo menos até 1973, quando foi vista e assistida por outro camarada, o Lobo de Matosinhos, Mecânico-Auto.
Possivelmente ainda se encontra por lá, toda ferrugenta se teve a sorte de não marcar encontro com alguma AC
O Alzira, esse regressou a Lisboa, após longas horas de sofrimento e luta contra a morte, pois o héli só o veio buscar horas depois.
O romance acabou de maneira trágica.
Do Alzira nunca mais soube notícias. A alzira, tive o prazer de ver de novo, agora em fotografia, tirada em 1973, cavalgada pelo camarada Lobo.
Zé Teixeira
________________
Nota dos editores:
(1) Vd. último post da série de 2 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2604: Estórias do Zé Teixeira (26): Mama firme (José Teixeira)
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