Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008 > 4 de Março de 2008 > Painel 1 (Guiledje e a Guerra Colonial / Guerra de Libertação). Moderador: João José Monteiro (Reitor da Universidade Colinas do Boé) > 16h30-17h00: Comunicação de Coutinho e Lima (Coronel do Exército Português na reserva e ex-comandante do COP 5 ): Factores considerados para tomar a decisão da retirada das forças armadas e da população, do aquartelamento de Guiledje: relato histórico do ex-comandante do COP 5. Vídeo com o final da comunicação (4' 54'').
Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes
1. Por merecer um outro destaque, volta a publicar-se o comentário do Joaquim Mexia Alves ao poste de 23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje
Vd. anteriores postes desta série Fórum Guileje (1):
Não tenho elementos para rebater a justeza desta tomada de decisão, outros os têm, mas até pelo que aqui está escrito, não concordo com ela e com o panegírico que dela se faz.
Tenho lido, esta é a minha opinião, alguns dos últimos textos colocados aqui na Tabanca Grande, com algum desconforto, algum desagrado.
Assisto, volto a repetir que é a minha opinião, a um endeusamento do PAIGC e a um apoucamento das Forças Armadas Portuguesas, mitigado pela concessão de algumas benesses, como que a apaziguar vozes discordantes.
A reconciliação, que eu quero, desejo e abraço, faz-se pelo respeito mútuo e não pela tentativa de engrandecer um e diminuir o outro.
Se reconheço com toda a facilidade a superior organização do PAIGC (sobretudo em comparação com Angola e Moçambique), bem como a sua bem delineada e executada diplomacia e propaganda no estrangeiro, cheia de sucesso, e sobretudo a tenacidade, heroicidade, sacrifício dos seus combatentes, personificados nessa figura que é Nino Vieira, o agora tão atacado Presidente da Guiné (o que faz a politica?!), não deixo de reconhecer a tenacidade, heroicidade, espírito de sacrifício, do português anónimo lançado numa guerra longe da sua casa, da sua terra, em condições tão adversas como um clima insuportável e uma estratégia que envolvia o enquadramento de populações e ocupação de espaço, contra uma guerra de guerrilha que se baseia no atacar e fugir.
Já o disse uma vez e volto a repetir: A frase A guerra da Guiné estava perdida, é apenas, no meu entender uma frase que nem por ser muitas vezes repetida se torna verdade. Foi usada por todos com diferentes finalidades: (i) O PAIGC muito bem na sua propaganda no estrangeiro;
(ii) Os altos comandos tentando obter mais homens e meios e também numa visão mais longínqua querendo levar a uma mudança de política em Portugal.
O PAIGC, muito bem, fez um esforço de guerra em dois ou três pontos bem escolhidos do território e conseguiu algum ascendente que soube muito bem explorar, mas a verdade é que no resto do território, sobretudo no chamado Leste, a guerra era muito esporádica e a estrada vital Xime/Nova Lamego fazia-se sem qualquer problema, por exemplo.
A política fez a guerra, a política acabou a guerra, e esta é a verdade!
Volto a repetir que a política é uma coisa e a guerra outra, embora estejam umbilicalmente ligadas.
Sou contra a guerra, contra esta guerra, contra todas as guerras, que não haja dúvidas, mas os homens com quem combati, portugueses e guineenses, de um e do outro lado merecem o respeito devido à sua memória.
Não podemos querer que um abandono de uma posição, Guilejee, se transforme na vitória de uma guerra, como nunca transformaríamos a destruição de tantas bases do PAIGC ao longo da guerra, numa outra vitória.
Se alguma coisa me faz dizer que não perdi dois anos da minha vida numa guerra, foi o facto de ter conhecido um povo e um país que amo, a Guiné, e de ter tido o privilégio de ter combatido com homens portugueses e guineenses que deram o melhor de si, se excederam em generosidade e entrega e merecem portanto todo o meu respeito, por isso, com frontalidade, mas muita amizade, escrevo o que agora escrevi.
Enquanto não formos capazes de deixar de lado a política, o politicamente correcto, e nos abraçarmos olhos nos olhos, com o respeito mútuo de quem reconhece que ganhámos todos e ninguém perdeu, a não ser aqueles que por lá ficaram e a quem presto a minha homenagem, poderemos descansar os nossos corações e as nossas vidas, pacificando o passado e abraçando o futuro.
Com um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alf Mil Op Esp,
Dez 1971 / Dez 1973
CART 3492 / BART 3873 (Xitole / Ponte dos Fulas),
Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão),
CCAÇ 15 (Mansoa )
2. Comentário de L.G.:
A publicação, no nosso blogue, da comunicação do Cor Art na Reserva Coutinho e Lima, apresentada no Simpósio Internacional de Guileje, Guiné-Bissau, Bissau, em 4 de Março de 2008, não implica da parte dos editores qualquer manifestação de concordância ou discordância em relação à decisão que ele tomou, na sua qualidade de então comandante do COP 5, de abandonar Guileje, em 22 de Maio de 1973...
Coutinho e Lima teve na altura (e continua a ter ainda hoje) os seus apoiantes e os seus detractores. Não nos compete, enquanto editores do blogue, fazer um juízo de valor sobre o comportamento deste oficial superior, diabolizado por uns, endeusado por outros. Como novo membro da nossa Tabanca Grande, ele tem o direito de apresentar o seu ponto de vista, privilegiado, já ele que foi actor dos acontecimentos de que fala...
Propositadamente não fizemos nenhum preâmbulo à sua comunicação. Não o quisemos sequer comparar com ninguém nem evocar situações eventualmente análogas, como a do General Vassalo e Silva (1899-1985), o último Governador-Geral do Estado Português da Índia. Compete à História julgar os homens que fazem a guerra e a paz.
Qualquer um de nós é livre de ter uma opinião, serena, desassombrada, objectiva, sobre os acontecimentos da guerra da Guiné, incluindo a dramática decisão de retirar uma posição estratégica como Guileje, à revelia das ordens do Comandante-Chefe. É importante também deixar ouvir e saber escutar o ponto de vista (unilateral) dos protagonistas dos acontecimentos, sejam eles de um lado ou de outro da barricada. Guileje, como muitos outros episódios ou batalhas da guerra colonial / luta de libertação da Guiné-Bissau, não se pode resumir a um ponto de vista unilateral. Coutinho e Lima apresentou-se no Simpósio não na qualidade de historiador, de cientista social que não é, mas sim do antigo comandante do COP 5 que, para o bem ou para o mal, ponderados os prós e os contras, actuou como um cabo de guerra numa situação-limite, com plena consciência das consequências que, a nível pessoal e profissional, acarretaria uma decisão tão grave como a de abandonar Guileje, cercada por três corpos do exército do PAIGC.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. postes anteriores desta série:
12 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)
12 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2628: Fórum Guileje (2): Nunca uma guerra foi feita de uma só batalha (Mário Fitas)
13 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)
14 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2638: Fórum Guileje (4): Minas aquáticas em Bedanda (Ayala Botto)
15 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2642: Fórum Guileje (5): Que sentido dar a esta vaga de fundo ? Da guinefobia à guinefilia (Hélder de Sousa / Luís Graça)
15 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)
16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2649: Fórum Guileje (7): A importância do Caminho do Povo (Paulo Santiago)
18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2662: Fórum Guileje (8): O nosso património histórico comum (Leopoldo Amado)
19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2666: Fórum Guileje (9): O Simpósio foi uma festa, uma grande festa! (Carlos Silva)
3 comentários:
As ruas e praças das cidades do Portugalinho que nos restou enchem-se com nomes de gente que combateu Portugal, matou Portugueses e destruiu a nossa Pátria de séculos e, tudo isto, em nome da reconciliação porque, segundo a corrente de agora, rumávamos contra os "ventos da História" e combatíamos uma guerra injusta. Deliberadamente se esquecem os heróis da Portugalidade. Temos exemplos de extrema heroicidade e espírito de sacrifício. Tivémos heróis nesta guerra e foram muitos. A homenagem que há a fazer é aos nossos heróis do Minho a Timor e não aos heróis do inimigo daquela época.
Este comentário do Mexia Alves merece o meu total apoio. Só se pode efectivamente fazer história com um mínimo de objectividade e imparcialidade quando não é subordinada ou influenciada por ideias políticas.
Abraço à tertúlia
Henrique Matos
Meus Caros Luís, Carlos e Virgínio
Regressado hoje de umas curtíssimas férias, gostaria de responder ao vosso comentário,… ao meu comentário…
Em lugar nenhum do que escrevi aponto ao editor e co-editores do blogue a manifestação de concordância ou discordância do que lá foi escrito nos textos em causa.
Em nenhum lugar do que escrevi eu tento retirar o direito à opinião seja de quem for de emitir a sua opinião, nem tal me passaria pela cabeça.
Aliás eu repito no meu texto, pelo menos duas vezes, que o que escrevo é a minha opinião.
Acho excessiva e desenquadrada, é a minha opinião, a evocação dos acontecimentos da Índia, porque são a meu ver, situações totalmente diferentes em tudo.
Mais uma vez afirmo que se o blogue não fosse aberto à opinião de todos, com a educação e dignidade entre pessoas que se deve manter sempre, eu também não escreveria textos para aí poderem ser publicados.
Reafirmo por isso, é a minha opinião, que os últimos textos, (portanto não é só o de Coutinho e Lima), a que me referi podiam levar os leitores à interpretação que dei nesse texto, por isso mesmo quis dar a minha opinião que eu sei é compartilhada por alguns.
Já li neste mesmo blogue serem criticadas, (para ser brando nas palavras), opções de outros comandantes durante a guerra, eu próprio o fiz, não vejo portanto razão para toda esta explicação.
Quase que me leva a pensar que a minha intervenção é que foi errada!
Sei que não é isso que pensam, mas devia dizê-lo, para não ficarem “rabos de palha”.
Abraço amigo e…vamos tratar do almoço!!!
Joaquim Mexia Alves
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