Cristina's History / A história de Cristina > Uma exposição do fotógrafo Mikael Levin, primo do Pepito, patente no Museu Colecção Berardo / Centro Cultural de Belém, em Lisboa, de 31 de Agosto a 8 de Novembro de 2009.
Imagens da exposição, que nos foram gentilmente enviadas pelo Pepito e que fazem parte do catálogo da exposição: de cima para baixo: (i) Algures, na cidade de Zgierz, na Polónia central, donde era originário o bisavô materno do Pepito (e trisavô da sua filha Cristina), Isuchaar Szwarc, morto nas vésperas da II Guerra Mundial (foto de 2005, sem título); (ii) A casa da avó materna da Cristina, em Lisboa, cidade onde nasceu em 1915, filha de um engenheiro de minas polaco, judeu, Samuel Szwarc, formado em Paris, na École Nationale des Mines, e que se fixou em Portugal com a I Guerra Mundial; a Clara Schwarz viveu em Bissau desde 1947 até 1966, tendo sido professora no Liceu Honório Barreto (foto de 2004, sem título); (iii) Um recanto da cidade de Bissau, onde nasceu a Cristina, em 1973, filha de Carlos Schwarz e de Isabel Levy Ribeiro, ambos engenheiros agrónomos, co-fundadores da AD-Acção para o Desenvolvimento e membros da nossa Tabanca Grande (foto de 2003, sem título).
Fotos: © Mikael Levin (com a devina vénia...)
1. Mensagem do nosso amigo Pepito, co-fundador e actual director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, e que está em Portugal a passar férias na sua casa de São Martinho do Porto (estivémos juntos no dia 15, para mais uma memorável tarde convívio entre as nossas duas famílias) (*):
Caros(as) Amigos(as):
Tenho o prazer de vos convidar a participar no próximo dia 31 de Agosto (2ª feira) pelas 19h30 no Centro Cultural de Belém (Museu Colecção Berardo) à inauguração da Exposição CRISTINA’S HISTORY, da autoria do meu primo MIKAEL LEVIN.
Trata-se da história da minha filha mais velha, Cristina Silva (Pepas), desde a Polónia, Portugal e Guiné-Bissau.
Isuchaar, o trisavô da Cristina, deixa a Polónia durante a Primeira Guerra Mundial. A avó Clara nasceu em Lisboa e foi em 1947 para a Guiné, tendo a Cristina nascido em 1973 (**). O fotógrafo Mikael Levin (nascido em 1954, em Nova York) fez o quadro fotográfico da peregrinação desta parte da sua família.
Mais informaçáo disponível na página de Mikael Levin
A exposição terminará no dia 8 de Novembro de 2009.
Um abraço
Carlos Schwarz
(Pepito)
São Martinho do Porto > 15 de Agosto de 2009 > Imagens da família Schwarz, em férias: em cima, a Clara, a jovem senhora de 94 anos, a sua neta Catarina (irmã da Cristina), a Isabel Levy Ribeiroe o seú marido, Carlos Silva Schwarz, Pepito para os amigos... Nesse dia, almoçámos uma deliciosa cachupa, confeccionada pela Isabel, que é de nacionalidade portuguesa, bem com os filhos (há ainda o Ivan, de férias no Egipto)
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
2. Comentário de L.G.:
Infelizmente, para meu desgosto, não poderei estar presente na inauguração da exposição, no dia 31 de Agosto, por me encontrar ainda de férias, no Norte. Mas de certo que haverá gente do nosso blogue, nomeadamente a malta da área metropolitana de Lisboa, que quererá (e poderá) estar presente, aceitando o convite pessoal do nosso querido amigo Pepito. e partilhando com ele o privilégio de conhecer esta saga de quatro gerações que vai da segunda metade do Século XIX até aos nossos dias, e que passa pela Polónia, Portugal e Guiné-Bissau. Uma história de reconstrução de memória(s), de procura de raízes, de busca de identidade, um exemplo de capacidade de adaptação, de tenacidade, de coragem,
Segundo li na sua página pessoal, o Mikael Levin, primo da Cristina e do Pepito, nasceu em 1954, em Nova Iorque. Tem a dupla nacionalidade francesa e americana. Cresceu em França e nos Estados Unidos da América, mas também viveu em Israel.
Como ele próprio se apresenta, Mikael Levin é um fotógrafo cujo enfoque principal são "as questões de tempo e lugar de identidade e memória". Está representado em importantes colecções de grandes museus dos EUA e da Europa, tais como: Whitney Museum of American Art, Metropolitan Museum of Art, International Center of Photography, Museum of Modern Art, em Nova Iorque; o Centre Pompidou e a Bibliothèque Nationale, em Paris... E ainda em: o Museu de Israel (Jerusalém), o Moderna Muset (Estocolmo), o Victoria and Albert Museum (Londres) e, por fim, o Museu Judaico de Berlim.
A História de Cristina (em inglês, Cristina's History) é a história de 4 gerações de Schwarz. "Conheci Cristina da Silva Schwarz na Guiné-Bissau em 2003" - conta o autor, na sua página. Ele e Cristina têm,afinal, em comum um antepassado judeu, um homem estudioso e culto, que viveu em Zgierz, na Polónia central. Ao longo da sua vida, Isuchaar Szwarc "viu sua pequena cidade medieval transformada pela industrialização". Julgo que morreu na véspera da II Guerra Mundial, quando o terror nazi já alastrava pela Europa. Ele e grande da sua família não sobreviveram ao holocausto.
Samuel, o filho mais velho de Isuchaar, instalara-se em Lisboa com a I Guerra Mundial. Tinha-se casado com uma jovem russa, de Odessa (hoje, na Ucrânia). Samuel Schwarz (1880-1953) (foto à esquerda, cortesia de Inácio Steinhardt) será um engenheiro de minas, de sucesso, mas também ficará conhecido pela sua erudição, e pelo seu interesse pela história e cultura dos judeus sefarditas (que viviam na Península Ibérica). Foi ele que identificou (e salvou do abandmno e esquecimento) a comunidade cripto-judaica de Belmonte (***).
Foi também ele quem descobriu, comprou e doou ao Estado Português a antiga sinagoga de Tomar... (e a que os tomarenses e os demais portugueses, infelizmente, não parecem dar a devida importância, contrariamente ao que se passa com a sinagoga de Castelo de Vide, cujo notável núcleo museológico acabo de visitar, esta semana).
A filha (única) de Samuel, Clara Schwarz, casada com o advogado e escritor, de origem caboverdiana, Artur Augusto Silva (****), fixou-se em Bissau em 1947. "Lá, ela e o marido tiveram um papel de destaque no movimento anti-colonial", diz-nos o fotógrafo... Formada em letras pela Universidade de Lisboa, Clara Schwarz pertenceu ao núcleo dos fundadores e dos primeiros professores do Liceu Honório Barreto, ao tempo do Governador-Geral da Guiné, Sarmento Rodrigues (1946/49), que tinha duas filhas que também foram colegas (se bem percebi...) da Clara.
Por ela e por outros professores portugueses passou a formação da elite guineense e, portanto, de boa parte dos dirigentes do PAIGC. Clara foi professora de português. Disse-me há dias que "foi o melhor tempo" da sua vida... O Pepito, o mais novo de três filhos, todos rapazes, foi o único que nasceu na Guiné-Bissau.
Foto à esquerda: o antigo liceu Honório Barreto, hoje Liceu Nacional Kwame N'Krumah (cortesia do bogue com o mesmo nome).
Por sua vez, "desde a independência da Guiné-Bissau, Carlos, seu filho mais novo, tem dedicado a sua vida ao desenvolvimento agrícola deste país empobrecido", diz-nos o fotógrafo Mikael Levin... Cristina, filha de Carlos (Pepito, para todo o mundo e não só os amigos), nasceu em Bissau, em 1973. É portuguesa, casada, tem uma filha, é bióloga, com trabalho de investigação na Guiné-Bissau.
Castelo Vide > 21 de Agosto de 2009 > Sinagoga Museu > Vista parcial do painel com os nomes dos castelo-videnses, vítimas da Santa Inquisição. Não se sabe a data da sua construção. No início do Séc. XIV já havia uma judiaria em Castelo de Vide. O edifício foi adaptado para residência no Séc XVII. Foi reconstruído na sua traça primitiva em 1972. Recentemente foi criado o Núcleo Museológico da Sinagoga de Castelo Vide, que deve muito ao trabalho da arquitecta e arqueóloga Susana Bicho. É hoje uma das principais turísticas daquela bela terra do Alto Alentejo. Parabéns ao município e à comunidade de Castelo de Vide pelo belíssimo trabalho feito de preservação e divulgação da memória das suas gentes.
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
Vídeo (4' 04'' ) : © Luís Graça (2009). Direitos reservados
Acrescenta o autor:
"Eu sempre tinha ouvido falar deste ramo bem sucedido da minha família. Ocorreu-me que as suas vidas eram a personificação da crença positivista da modernidade em matéria de mobilidade e de progresso. As famílias judias são muitas vezes caracterizadas por padrões de errância e migração, padrões de vida que mais tarde vieram a caracterizar a população mundial em geral"...
Embora as imagens do fotógrafo sejam específicas, a sua intenção "é ir além das identificações estreitas de uma determinada comunidade. É a tensão entre o local eo global que me interessa. A condição de multiplicidade, de deambulação e de exílio, tal como mostra esta história, sugere alguns princípios para uma fundamentação alternativa de identidade cultural, com base em padrões comuns de experiência"...
Sobre a exposição, diz-nos o autor que "é apresentada como uma instalação composta por três projecções digitais (Zgierz, Lisboa, Guiné-Bissau). Nas salas sobre a Polónia e a Guiné-Bissau, dois projectores estão montados, de costas um para o outro, sobre um pivô central. As imagens de vídeo giram em torno da sala (como as vigas de uma casa de luz), com alongamento e flexão nas paredes à medida que são distorcidas pela forma da sala. Na sala de Lisboa, três projectores de vídeo projectam as imagens em paredes alternadas. Uma voz off narra a história. O ciclo de cada sala dura aproximadamente 15 minutos e consiste em cerca de 60 imagens".
Há um catálogo da exposição, com 160 imagens a preto e branco e texto em Francês, Inglês e Português, composto por três partes (Zgierz, Lisboa, Guiné-Bissau). Autores do texto: Jean-François Chevrier, historiador de arte e curador independente; Jonathan Boyarin, professor de estudos judaicos modernos; e Carlos Schwarz da Silva, primo do Mikael Levin. (O notável texto do Pepito, A sombra do pau, já foi publicado no nosso blogue) (*****).
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Notas de L.G.:
(*) Último poste desta série > 19 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4836: Agenda cultural (23): Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2977: Recortes de imprensa (6): a cidadã portuguesa, Cristina Silva, expulsa da Embaixada de Portugal em Bissau no 10 de Junho
(***) Sobre Samuel Schwarz, há uma nota biográfica na página pessoal do antigo jornalista português, correspondente, em Israel, de vários jornais, da rádios, da RTP e da agência noticiosa ANOP (hoje, Lusa), Inácio Steinhardt (n. 1933, Lisboa, de origem judaica, a viver em Israel desde 1976), que tomo a liberdade de transcrever parcialmente, com a devida vénia e as minhas saudações bloguísticas ao autor (de quem ainda me lembro perfeitamente):
Completam-se este ano [, 2005,] 90 anos desde a chegada a Portugal do engenheiro judeu polaco Samuel Schwarz.
Foi Schwarz quem descobriu e revelou a todo o mundo judaico a existência de uma comunidade secreta cripto-judaica, em Belmonte.
Nascido em Zgierg, na Polónia, em 1880, Samuel Schwarz era filho de um erudito hebraísta, que tomou parte como delegado, no 1º. Congresso Sionista, convocado por Teodor Herzl.
Com a idade de 18 anos, Samuel deixou a casa dos pais para ir estudar engenharia mineira em Paris. Trabalhou depois na Espanha, na Suíça, na Costa do Marfim e na Rússia, onde conheceu sua futura esposa e se casou.
No princípio da 1.ª guerra mundial, o casal foi viver para Orense, em Espanha, e em 1915 estabeleceram-se definitivamente em Portugal.
O seu primeiro trabalho profissional foi nas minas de estanho de Belmonte. Aí, quando comprava aprovisionamentos para o seu escritório, um comerciante local aconselhou-o confidencialmente a que deixasse de comprar na loja de um seu concorrente.
- Basta que lhe diga que ele é judeu.
Vindo da Polónia, onde existia uma vida judaica pujante, para Portugal, onde a comunidade judaica reconhecida não excedia algumas centenas de membros, a confidência do comerciante de Belmonte causou-lhe obviamente enorme surpresa.
O problema imediato foi que, tanto como os vizinhos cristãos apontavam a dedo os habitantes "cristãos-novos" de Belmonte, estes escondiam as suas práticas religiosas e negavam veementemente serem judeus.
Schwarz necessitou de muita paciência, muitos conhecimentos da liturgia judaica, e de muito poder de persuasão, para ser reconhecido pelos cristãos-novos de Belmonte como seu correligionário.
Revelou então a sua descoberta em inúmeros artigos e entrevistas na imprensa judaica de todo o Mundo, que, por sua vez, deram lugar a visitas de individualidades importantes e novos relatos em livros e jornais. Excelente poliglota, Schwarz dominava nove línguas.
A sua principal obra "Cristãos-Novos em Portugal no Século XX" foi publicada em 1925, como separata da revista "Arqueologia e História", da Associação dos Arqueólogos Portugueses, de que era membro.
Este livro é considerado ainda hoje um clássico e fonte primária de todos os investigadores da história dos cripto-judeus em Portugal moderno.(...)
Samuel Schwarz foi também um investigador emérito da cultura judaica em Portugal. Entre os trabalhos que publicou, encontra-se a revelação de um documento hebraico, até então inédito, sobre a conquista de Lisboa aos Mouros, vista pelos habitantes judeus de dentro da cidade.
Devem-se-lhe também estudos importantes sobre a localização das judiarias medievais de Lisboa, e uma história da Moderna Comunidade Israelita de Lisboa.
Foi Samuel Schwarz que identificou em Tomar um edifício, que servia de armazém de batatas, e anteriormente de prisão, como tendo sido originalmente uma sinagoga do século XV.
Schwarz adquiriu e recuperou o edifício a suas custas, reuniu nele a maioria das inscrições hebraicas encontradas em território português. Ofereceu-o depois para o acervo cultural português, sob o nome de Museu Abraão Zacuto.
Actualmente a "Sinagoga de Tomar" é um importante atractivo turístico da cidade.
Samuel Schwarz faleceu em Lisboa em 1953.
Este ano foi inaugurado em Belmonte - cuja comunidade cripto-judaica regressou entretanto ao judaísmo normativo - um Museu Judaico, que esclarece aos turistas e visitantes nacionais a história incrível daquela comunidade.
Lamentavelmente, os responsáveis por aquele espaço museológico parece terem esquecido dedicar um sector do museu à figura e história de Samuel Schwarz, a cuja descoberta e obra de investigação Belmonte ficou a dever a divulgação no mundo da sua comunidade judaica.
É uma lacuna imperdoável, que os responsáveis certamente quererão reparar, na altura em que se comemora o 80.º aniversário da chegada de Samuel Schwarz a Belmonte.
In: Blogue Ao Correr da Pena > 31 de Agosto de 2005 > Samuel Schwarz
(****) Vd. postes de:
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)
16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIX: Projecto Guileje (9): obus 14, precisa-se!
20 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)
(****) Vd. poste de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)
É um texto que eu conselho vivamente a ler e reler, em especial aos amigos da Guiné e do povo guineense, e a todos os homens de boa vontade... Aqui vai apenas a última parte:
(...) 4. RENASCER SEMPRE
Em 1948, um ano antes de eu nascer, o meu pai [, Artur Augusto da Silva,] regressava à Guiné-Bissau, onde vivera em Farim a sua infância e onde, tal como os meus avós que lá haviam aportado no final do século XIX, se prendeu pelos encantos e tranquilidade destas paragens. Pressionado pela perseguição política da Ditadura de Salazar e desiludido com a derrota do Movimento de Unidade Democrática [MUD], procura em África aquela paz de consciência que o mundo europeu não lhe podia dar.
Com a minha mãe Clara [Schwarz] e meus irmãos Henrique e João, volta a nascer, entusiasmado com esta terra e suas gentes, tal como a família dos meus avós maternos renasceram do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis. Saem da Polónia para Portugal para tudo começar de novo.
Já em 1966, a polícia política de Salazar prende-o no aeroporto de Lisboa acusando-o de ser membro do Partido que lutava pela independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC. Liberta-o cinco meses depois, impedindo-o de regressar a Bissau e obrigando-o a recomeçar uma nova vida.
No dia 24 de Setembro de 1973, em casa dos nossos camaradas caboverdianos Manuela e Sabino somos acometidos por uma alegria enorme ao ouvir na rádio BBC a notícia da declaração da Independência da Guiné-Bissau. Meio ano depois, no final da tarde do dia 25 de Abril de 1974, a Isabel e eu estávamos no cerco ao Quartel do Carmo, testemunhando a queda de 48 anos de fascismo e de quase 500 de colonialismo.
Um ano depois estamos, entusiasmados, em Bissau a começar a nossa vida. Primeiro com a Cristina, a nossa primeira filha, e logo a seguir com o Ivan, nascido em 1975, e a Catarina em 1980. Muitos anos depois, mais exactamente 18, o país é abalado por um violento conflito politico-militar. Os senegaleses, invasores, ocupam, pilham e destroem a nossa casa no bairro de Quelele. Somos obrigados a refugiarmo-nos em Lisboa. Quando 11 meses depois regressamos, não existe pedra sobre pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a vida, haviam desaparecido.
Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição. Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer.
(...)
Imagens da exposição, que nos foram gentilmente enviadas pelo Pepito e que fazem parte do catálogo da exposição: de cima para baixo: (i) Algures, na cidade de Zgierz, na Polónia central, donde era originário o bisavô materno do Pepito (e trisavô da sua filha Cristina), Isuchaar Szwarc, morto nas vésperas da II Guerra Mundial (foto de 2005, sem título); (ii) A casa da avó materna da Cristina, em Lisboa, cidade onde nasceu em 1915, filha de um engenheiro de minas polaco, judeu, Samuel Szwarc, formado em Paris, na École Nationale des Mines, e que se fixou em Portugal com a I Guerra Mundial; a Clara Schwarz viveu em Bissau desde 1947 até 1966, tendo sido professora no Liceu Honório Barreto (foto de 2004, sem título); (iii) Um recanto da cidade de Bissau, onde nasceu a Cristina, em 1973, filha de Carlos Schwarz e de Isabel Levy Ribeiro, ambos engenheiros agrónomos, co-fundadores da AD-Acção para o Desenvolvimento e membros da nossa Tabanca Grande (foto de 2003, sem título).
Fotos: © Mikael Levin (com a devina vénia...)
1. Mensagem do nosso amigo Pepito, co-fundador e actual director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, e que está em Portugal a passar férias na sua casa de São Martinho do Porto (estivémos juntos no dia 15, para mais uma memorável tarde convívio entre as nossas duas famílias) (*):
Caros(as) Amigos(as):
Tenho o prazer de vos convidar a participar no próximo dia 31 de Agosto (2ª feira) pelas 19h30 no Centro Cultural de Belém (Museu Colecção Berardo) à inauguração da Exposição CRISTINA’S HISTORY, da autoria do meu primo MIKAEL LEVIN.
Trata-se da história da minha filha mais velha, Cristina Silva (Pepas), desde a Polónia, Portugal e Guiné-Bissau.
Isuchaar, o trisavô da Cristina, deixa a Polónia durante a Primeira Guerra Mundial. A avó Clara nasceu em Lisboa e foi em 1947 para a Guiné, tendo a Cristina nascido em 1973 (**). O fotógrafo Mikael Levin (nascido em 1954, em Nova York) fez o quadro fotográfico da peregrinação desta parte da sua família.
Mais informaçáo disponível na página de Mikael Levin
A exposição terminará no dia 8 de Novembro de 2009.
Um abraço
Carlos Schwarz
(Pepito)
São Martinho do Porto > 15 de Agosto de 2009 > Imagens da família Schwarz, em férias: em cima, a Clara, a jovem senhora de 94 anos, a sua neta Catarina (irmã da Cristina), a Isabel Levy Ribeiroe o seú marido, Carlos Silva Schwarz, Pepito para os amigos... Nesse dia, almoçámos uma deliciosa cachupa, confeccionada pela Isabel, que é de nacionalidade portuguesa, bem com os filhos (há ainda o Ivan, de férias no Egipto)
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
2. Comentário de L.G.:
Infelizmente, para meu desgosto, não poderei estar presente na inauguração da exposição, no dia 31 de Agosto, por me encontrar ainda de férias, no Norte. Mas de certo que haverá gente do nosso blogue, nomeadamente a malta da área metropolitana de Lisboa, que quererá (e poderá) estar presente, aceitando o convite pessoal do nosso querido amigo Pepito. e partilhando com ele o privilégio de conhecer esta saga de quatro gerações que vai da segunda metade do Século XIX até aos nossos dias, e que passa pela Polónia, Portugal e Guiné-Bissau. Uma história de reconstrução de memória(s), de procura de raízes, de busca de identidade, um exemplo de capacidade de adaptação, de tenacidade, de coragem,
Segundo li na sua página pessoal, o Mikael Levin, primo da Cristina e do Pepito, nasceu em 1954, em Nova Iorque. Tem a dupla nacionalidade francesa e americana. Cresceu em França e nos Estados Unidos da América, mas também viveu em Israel.
Como ele próprio se apresenta, Mikael Levin é um fotógrafo cujo enfoque principal são "as questões de tempo e lugar de identidade e memória". Está representado em importantes colecções de grandes museus dos EUA e da Europa, tais como: Whitney Museum of American Art, Metropolitan Museum of Art, International Center of Photography, Museum of Modern Art, em Nova Iorque; o Centre Pompidou e a Bibliothèque Nationale, em Paris... E ainda em: o Museu de Israel (Jerusalém), o Moderna Muset (Estocolmo), o Victoria and Albert Museum (Londres) e, por fim, o Museu Judaico de Berlim.
A História de Cristina (em inglês, Cristina's History) é a história de 4 gerações de Schwarz. "Conheci Cristina da Silva Schwarz na Guiné-Bissau em 2003" - conta o autor, na sua página. Ele e Cristina têm,afinal, em comum um antepassado judeu, um homem estudioso e culto, que viveu em Zgierz, na Polónia central. Ao longo da sua vida, Isuchaar Szwarc "viu sua pequena cidade medieval transformada pela industrialização". Julgo que morreu na véspera da II Guerra Mundial, quando o terror nazi já alastrava pela Europa. Ele e grande da sua família não sobreviveram ao holocausto.
Samuel, o filho mais velho de Isuchaar, instalara-se em Lisboa com a I Guerra Mundial. Tinha-se casado com uma jovem russa, de Odessa (hoje, na Ucrânia). Samuel Schwarz (1880-1953) (foto à esquerda, cortesia de Inácio Steinhardt) será um engenheiro de minas, de sucesso, mas também ficará conhecido pela sua erudição, e pelo seu interesse pela história e cultura dos judeus sefarditas (que viviam na Península Ibérica). Foi ele que identificou (e salvou do abandmno e esquecimento) a comunidade cripto-judaica de Belmonte (***).
Foi também ele quem descobriu, comprou e doou ao Estado Português a antiga sinagoga de Tomar... (e a que os tomarenses e os demais portugueses, infelizmente, não parecem dar a devida importância, contrariamente ao que se passa com a sinagoga de Castelo de Vide, cujo notável núcleo museológico acabo de visitar, esta semana).
A filha (única) de Samuel, Clara Schwarz, casada com o advogado e escritor, de origem caboverdiana, Artur Augusto Silva (****), fixou-se em Bissau em 1947. "Lá, ela e o marido tiveram um papel de destaque no movimento anti-colonial", diz-nos o fotógrafo... Formada em letras pela Universidade de Lisboa, Clara Schwarz pertenceu ao núcleo dos fundadores e dos primeiros professores do Liceu Honório Barreto, ao tempo do Governador-Geral da Guiné, Sarmento Rodrigues (1946/49), que tinha duas filhas que também foram colegas (se bem percebi...) da Clara.
Por ela e por outros professores portugueses passou a formação da elite guineense e, portanto, de boa parte dos dirigentes do PAIGC. Clara foi professora de português. Disse-me há dias que "foi o melhor tempo" da sua vida... O Pepito, o mais novo de três filhos, todos rapazes, foi o único que nasceu na Guiné-Bissau.
Foto à esquerda: o antigo liceu Honório Barreto, hoje Liceu Nacional Kwame N'Krumah (cortesia do bogue com o mesmo nome).
Por sua vez, "desde a independência da Guiné-Bissau, Carlos, seu filho mais novo, tem dedicado a sua vida ao desenvolvimento agrícola deste país empobrecido", diz-nos o fotógrafo Mikael Levin... Cristina, filha de Carlos (Pepito, para todo o mundo e não só os amigos), nasceu em Bissau, em 1973. É portuguesa, casada, tem uma filha, é bióloga, com trabalho de investigação na Guiné-Bissau.
Castelo Vide > 21 de Agosto de 2009 > Sinagoga Museu > Vista parcial do painel com os nomes dos castelo-videnses, vítimas da Santa Inquisição. Não se sabe a data da sua construção. No início do Séc. XIV já havia uma judiaria em Castelo de Vide. O edifício foi adaptado para residência no Séc XVII. Foi reconstruído na sua traça primitiva em 1972. Recentemente foi criado o Núcleo Museológico da Sinagoga de Castelo Vide, que deve muito ao trabalho da arquitecta e arqueóloga Susana Bicho. É hoje uma das principais turísticas daquela bela terra do Alto Alentejo. Parabéns ao município e à comunidade de Castelo de Vide pelo belíssimo trabalho feito de preservação e divulgação da memória das suas gentes.
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
São Martinho do Porto > 15 de Agosto de 2009 > A Joana Graça e a Clara Schwarz, divertidíssimas, a praticar o 'seu' russo... Uma tarde divertidíssima, a que não faltou a música klezmer (género musical cultivada pelos judeus das regiões balcânicas desde o Séc. XV, através do violino do João Graça (do grupo musical Melech Mechaya)
Vídeo (4' 04'' ) : © Luís Graça (2009). Direitos reservados
Acrescenta o autor:
"Eu sempre tinha ouvido falar deste ramo bem sucedido da minha família. Ocorreu-me que as suas vidas eram a personificação da crença positivista da modernidade em matéria de mobilidade e de progresso. As famílias judias são muitas vezes caracterizadas por padrões de errância e migração, padrões de vida que mais tarde vieram a caracterizar a população mundial em geral"...
Embora as imagens do fotógrafo sejam específicas, a sua intenção "é ir além das identificações estreitas de uma determinada comunidade. É a tensão entre o local eo global que me interessa. A condição de multiplicidade, de deambulação e de exílio, tal como mostra esta história, sugere alguns princípios para uma fundamentação alternativa de identidade cultural, com base em padrões comuns de experiência"...
Sobre a exposição, diz-nos o autor que "é apresentada como uma instalação composta por três projecções digitais (Zgierz, Lisboa, Guiné-Bissau). Nas salas sobre a Polónia e a Guiné-Bissau, dois projectores estão montados, de costas um para o outro, sobre um pivô central. As imagens de vídeo giram em torno da sala (como as vigas de uma casa de luz), com alongamento e flexão nas paredes à medida que são distorcidas pela forma da sala. Na sala de Lisboa, três projectores de vídeo projectam as imagens em paredes alternadas. Uma voz off narra a história. O ciclo de cada sala dura aproximadamente 15 minutos e consiste em cerca de 60 imagens".
Há um catálogo da exposição, com 160 imagens a preto e branco e texto em Francês, Inglês e Português, composto por três partes (Zgierz, Lisboa, Guiné-Bissau). Autores do texto: Jean-François Chevrier, historiador de arte e curador independente; Jonathan Boyarin, professor de estudos judaicos modernos; e Carlos Schwarz da Silva, primo do Mikael Levin. (O notável texto do Pepito, A sombra do pau, já foi publicado no nosso blogue) (*****).
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Notas de L.G.:
(*) Último poste desta série > 19 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4836: Agenda cultural (23): Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2977: Recortes de imprensa (6): a cidadã portuguesa, Cristina Silva, expulsa da Embaixada de Portugal em Bissau no 10 de Junho
(***) Sobre Samuel Schwarz, há uma nota biográfica na página pessoal do antigo jornalista português, correspondente, em Israel, de vários jornais, da rádios, da RTP e da agência noticiosa ANOP (hoje, Lusa), Inácio Steinhardt (n. 1933, Lisboa, de origem judaica, a viver em Israel desde 1976), que tomo a liberdade de transcrever parcialmente, com a devida vénia e as minhas saudações bloguísticas ao autor (de quem ainda me lembro perfeitamente):
Completam-se este ano [, 2005,] 90 anos desde a chegada a Portugal do engenheiro judeu polaco Samuel Schwarz.
Foi Schwarz quem descobriu e revelou a todo o mundo judaico a existência de uma comunidade secreta cripto-judaica, em Belmonte.
Nascido em Zgierg, na Polónia, em 1880, Samuel Schwarz era filho de um erudito hebraísta, que tomou parte como delegado, no 1º. Congresso Sionista, convocado por Teodor Herzl.
Com a idade de 18 anos, Samuel deixou a casa dos pais para ir estudar engenharia mineira em Paris. Trabalhou depois na Espanha, na Suíça, na Costa do Marfim e na Rússia, onde conheceu sua futura esposa e se casou.
No princípio da 1.ª guerra mundial, o casal foi viver para Orense, em Espanha, e em 1915 estabeleceram-se definitivamente em Portugal.
O seu primeiro trabalho profissional foi nas minas de estanho de Belmonte. Aí, quando comprava aprovisionamentos para o seu escritório, um comerciante local aconselhou-o confidencialmente a que deixasse de comprar na loja de um seu concorrente.
- Basta que lhe diga que ele é judeu.
Vindo da Polónia, onde existia uma vida judaica pujante, para Portugal, onde a comunidade judaica reconhecida não excedia algumas centenas de membros, a confidência do comerciante de Belmonte causou-lhe obviamente enorme surpresa.
O problema imediato foi que, tanto como os vizinhos cristãos apontavam a dedo os habitantes "cristãos-novos" de Belmonte, estes escondiam as suas práticas religiosas e negavam veementemente serem judeus.
Schwarz necessitou de muita paciência, muitos conhecimentos da liturgia judaica, e de muito poder de persuasão, para ser reconhecido pelos cristãos-novos de Belmonte como seu correligionário.
Revelou então a sua descoberta em inúmeros artigos e entrevistas na imprensa judaica de todo o Mundo, que, por sua vez, deram lugar a visitas de individualidades importantes e novos relatos em livros e jornais. Excelente poliglota, Schwarz dominava nove línguas.
A sua principal obra "Cristãos-Novos em Portugal no Século XX" foi publicada em 1925, como separata da revista "Arqueologia e História", da Associação dos Arqueólogos Portugueses, de que era membro.
Este livro é considerado ainda hoje um clássico e fonte primária de todos os investigadores da história dos cripto-judeus em Portugal moderno.(...)
Samuel Schwarz foi também um investigador emérito da cultura judaica em Portugal. Entre os trabalhos que publicou, encontra-se a revelação de um documento hebraico, até então inédito, sobre a conquista de Lisboa aos Mouros, vista pelos habitantes judeus de dentro da cidade.
Devem-se-lhe também estudos importantes sobre a localização das judiarias medievais de Lisboa, e uma história da Moderna Comunidade Israelita de Lisboa.
Foi Samuel Schwarz que identificou em Tomar um edifício, que servia de armazém de batatas, e anteriormente de prisão, como tendo sido originalmente uma sinagoga do século XV.
Schwarz adquiriu e recuperou o edifício a suas custas, reuniu nele a maioria das inscrições hebraicas encontradas em território português. Ofereceu-o depois para o acervo cultural português, sob o nome de Museu Abraão Zacuto.
Actualmente a "Sinagoga de Tomar" é um importante atractivo turístico da cidade.
Samuel Schwarz faleceu em Lisboa em 1953.
Este ano foi inaugurado em Belmonte - cuja comunidade cripto-judaica regressou entretanto ao judaísmo normativo - um Museu Judaico, que esclarece aos turistas e visitantes nacionais a história incrível daquela comunidade.
Lamentavelmente, os responsáveis por aquele espaço museológico parece terem esquecido dedicar um sector do museu à figura e história de Samuel Schwarz, a cuja descoberta e obra de investigação Belmonte ficou a dever a divulgação no mundo da sua comunidade judaica.
É uma lacuna imperdoável, que os responsáveis certamente quererão reparar, na altura em que se comemora o 80.º aniversário da chegada de Samuel Schwarz a Belmonte.
In: Blogue Ao Correr da Pena > 31 de Agosto de 2005 > Samuel Schwarz
(****) Vd. postes de:
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)
16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIX: Projecto Guileje (9): obus 14, precisa-se!
20 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)
(****) Vd. poste de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)
É um texto que eu conselho vivamente a ler e reler, em especial aos amigos da Guiné e do povo guineense, e a todos os homens de boa vontade... Aqui vai apenas a última parte:
(...) 4. RENASCER SEMPRE
Em 1948, um ano antes de eu nascer, o meu pai [, Artur Augusto da Silva,] regressava à Guiné-Bissau, onde vivera em Farim a sua infância e onde, tal como os meus avós que lá haviam aportado no final do século XIX, se prendeu pelos encantos e tranquilidade destas paragens. Pressionado pela perseguição política da Ditadura de Salazar e desiludido com a derrota do Movimento de Unidade Democrática [MUD], procura em África aquela paz de consciência que o mundo europeu não lhe podia dar.
Com a minha mãe Clara [Schwarz] e meus irmãos Henrique e João, volta a nascer, entusiasmado com esta terra e suas gentes, tal como a família dos meus avós maternos renasceram do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis. Saem da Polónia para Portugal para tudo começar de novo.
Já em 1966, a polícia política de Salazar prende-o no aeroporto de Lisboa acusando-o de ser membro do Partido que lutava pela independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC. Liberta-o cinco meses depois, impedindo-o de regressar a Bissau e obrigando-o a recomeçar uma nova vida.
No dia 24 de Setembro de 1973, em casa dos nossos camaradas caboverdianos Manuela e Sabino somos acometidos por uma alegria enorme ao ouvir na rádio BBC a notícia da declaração da Independência da Guiné-Bissau. Meio ano depois, no final da tarde do dia 25 de Abril de 1974, a Isabel e eu estávamos no cerco ao Quartel do Carmo, testemunhando a queda de 48 anos de fascismo e de quase 500 de colonialismo.
Um ano depois estamos, entusiasmados, em Bissau a começar a nossa vida. Primeiro com a Cristina, a nossa primeira filha, e logo a seguir com o Ivan, nascido em 1975, e a Catarina em 1980. Muitos anos depois, mais exactamente 18, o país é abalado por um violento conflito politico-militar. Os senegaleses, invasores, ocupam, pilham e destroem a nossa casa no bairro de Quelele. Somos obrigados a refugiarmo-nos em Lisboa. Quando 11 meses depois regressamos, não existe pedra sobre pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a vida, haviam desaparecido.
Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição. Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer.
(...)
1 comentário:
Caros amigos
Estas histórias, recheadas de exemplos de vida, fazem-nos sempre pensar porque raio é que são quase sempre estrangeiros que descobrem e valorizam o nosso património, seja ele cultural, histórico, paisagístico, etc.
Um abraço
Hélder S.
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