1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 16ª história, com data de 3 de Outubro de 2009:
BLOGANDO E ANDANDO
Leões na Guiné em 1966!
O título pode parecer especulativo... mas tem algum fundo de verdade.
Passamos a explicar.
Em Maio de 1966 uma equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal visitou a “portuguesíssima Província da Guiné para homenagear a sua Filial nº. 89 – Sporting Clube de Bissau”.
Os “leões de Alvalade” efectuaram alguns jogos de futebol em Bissau com equipas locais. E também “futebol de 5” contra equipas militares.
E como soubemos desta distante história de “Leões” na Guiné?
Na nossa rotina diária depois de em casa “blogar” vamos andar para a pista de um campo de futebol, que temos a sorte de ter ao pé da porta.
Um destes dias numa conversa com um parceiro “de pista”, que sabíamos ter jogado futebol no Sporting (Lisboa), vieram à baila algumas “conhecimentos” sobre a Guiné que nos surpreenderam.
Como é que ele sabia coisas de Bissau, de Bolama e Bafatá?
Tendo em conta a nossa diferença de idades como é que o José Carlos de Jesus tinha estado na Guiné com 18 anos de idade sem ser na qualidade de militar!?
A resposta não deixou dúvidas: - Como jogador de futebol do Sporting Clube de Portugal.
Ah, tá bem!
A conversa continuou no dia seguinte e o Zé Carlos trouxe-me uma carta do S.C.P. datada de 7 de Junho de 1966, que reproduzimos em anexo.
A carta refª. 4521/66, Minº. ML, Dactº. AC. atribui um “Voto de Louvor” a todos os jogadores que fizeram parte do grupo de futebol…pela forma valorosa como desportivamente se aplicaram no decorrer dos três jogos realizados. Acompanhou a comitiva leonina o Vice-Presidente para as Relações Externas Dr. António Alexandre Pereira da Silva. Assinava a carta o Secretário-Geral da Comissão Directiva Romeu Adrião da Silva Branco.
Colhemos entretanto a informação adicional que era Presidente do Clube Guilherme Braga Brás Medeiros (1965-1973).
Alem da carta trouxe-nos também uma fotografia de uma equipa do tempo (1964-65) do Sporting Clube de Portugal.
E o que recorda o Zé Carlos da sua passagem de Guiné 40 e tal anos depois?
Recorda várias coisas.
A longa viagem do Super Constelation de Lisboa a Bissau – cerca de 9 horas – e o “choque” com o calor e humidade quando saíram do avião a caminho da cidade.
De fato inteiro, camisa e gravata bufavam que nem… leões.
Quando chegaram ao Palácio do Governador para cumprimentarem o “General” Shultz ficaram de boca ainda mais aberta por o Governador os receber de calções e camisa.
Depois recorda as Avenidas de Bissau, o mercado e militares por todo o lado. Gente, cor, bulício e…ausência de sinais de guerra.
Em relação aos jogos no Estádio de Bissau recorda muita gente, muito entusiasmo e no final algumas cenas de pancadaria entre militares da marinha e do exército.
Na equipa do Sporting não jogaram então alguns dos grandes jogadores da época por estarem já seleccionados para e equipa de Portugal que iria, dentro de poucos meses, disputar o Campeonato do Mundo de 1966, (onde viríamos a obter o melhor resultado de sempre - um 3º.lugar).
Os jogadores em causa ainda hoje são históricos e recordados pelas gentes do futebol: Carvalho, Hilário, Morais, Zé Carlos, Alexandre Baptista e Lourenço.
O Zé Carlos recorda que em Bissau, sob a orientação do treinador Juca jogaram: Damas, Caló, Carlitos, Lino, Pedro Gomes, Dani, Colorado, Figueiredo, João Barnabé, Barão e outros atletas cujo nome já não recorda.
Fora do que se passou nos rectângulos de jogo o José Carlos de Jesus (também conhecido nos “futebóis” por Zé Carlos II) lembra com particular saudade as viagens a Bolama e a Bafatá.
Para Bolama viajaram em viaturas descapotáveis (Renault Caravell) sem escolta militar.
Para Bafatá viajaram de avião (Dakota).
Lembra-se de aterrar num pequeno campo de aviação e de viajar para a cidade num carro de “caixa aberta”.
Seguiu-se um almoço memorável à base de ostras grelhadas, como nunca mais comeu até hoje.
Deixamos para o fim a invulgar e, no que nos diz respeito, nunca ouvida história do crocodilo amestrado de Bolama.
A comitiva do Sporting foi avisada de que ia ver uma “cena” única: um crocodilo amestrado que, à voz de um domador da “casa” (leia-se de Bolama) iria sair do seu charco privativo para vir até terra firme “confraternizar” com a malta. Daria até para se tirar uma fotografia com um pé em cima das costas do crocodilo sorrindo para a objectiva.
Foi com esta expectativa elevada que os “leões” de Lisboa se aproximaram do charco das terras de Bolama.
O “domador”, empunhado um comprido pau com um pedaço de carne na ponta, pediu silêncio e aproximou-se do “poiso da fera”.
O charco, de água esverdeada e viscosa, permanecia calmo…
O “domador” arriscou mais uns passos e, de repente, o crocodilo apareceu e saltou (ou pareceu saltar).
Foi um cagaço monumental.
Domador e seus convidados fugiram a sete pés (ou mesmo mais… ).
A malta da bola não deixou os seus créditos por pés alheios e sprintou rapidamente para bem longe do charco.
O crocodilo ouviu das boas e a sua mãe não escapou de algumas graves ofensas verbais à sua honra!
As viagens de regresso a Bissau e mais tarde a Lisboa decorreram dentro da normalidade.
À distância no tempo o Zé Carlos II recorda com saudade os seus 18 anos e a viagem à Guiné.
Mas o crocodilo “amestrado” de Bolama e o cagaço colectivo da comitiva dos “leões de Alvalade” ocupam, nas suas memórias africanas , os “flashes” mais nítidos das recordações de há quarenta e tal anos atrás.
Devemos ao Zé Carlos II a evocação dos “Leões na Guiné” em 1966.
Alguém na nossa Tabanca Grande se lembra destes futebóis longínquos?
E do crocodilo de Bolama?
Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
20 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4985: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (15): Convívios e o Hino Nacional
2 comentários:
Caro JERO
Esta tua contribuição é muito interessante.
Porque nos dá a conhecer aspectos que eram desconhecidos de muitos, porque reforça a idéia de que aquela terra e aquelas gentes exercem em nós um fascínio difícil de explicar mas que ressalta até de quem por lá teve uma passagem fugaz e em circunstâncias mais favoráveis do que as nossas e também pelo humor contido na passagem do crocodilo amestrado...
Depois a referência a que "Daria até para se tirar uma fotografia com um pé em cima das costas do crocodilo sorrindo para a objectiva" é um mimo pois parece que essa das fotos com o pé em cima de animal dito selvagem morto era corriqueiro.
Confesso que só me lembro vagamente disso (ou então influenciado por ouvir dizer)mas nunca com o pessoal da Guiné.
Recordo-me que quando insistiam comigo para falar da Guiné e eu recusava (quase que reagindo como o veterano do Vietanam no filme "O Caçador" quando abordado pelos jovens entusisatas de então, só os "esclareceu" com um ilucidativo "fuck you") lá vinha a seguir a gracinha de "mostra lá a foto como o leão do sargento", numa alusão a esse tipo de fotos em que alegres e felizes militares se exibiam sorridentes, como dizes, com o pé em cima de uma qualquer carcaça de animal supostamente abatido pelo "superior", o Sargento....
Um abraço
Hélder S.
Deliciosa e bem humorada história, para quem esteja à espera de um safari ou de uma caçada, à moda antiga, ao rei da selva...
Grande Jero, em linguagem futebolística, eu diria que foste mais umas das grandes aquisições, recentes, da nossa equipa, o Futebol Clube da Tabanca Grande...
Ainda não fui desta que passei por Alcobaça, mas não estou lnge, nem estou mal, aqui para os lados do Mondego... E o Kanguru, passe a publicidade, tem funcionado às mil maravilhas por estas paisagens serranas, ao longo do Rio Mondego, por onde tenho andado...
Atenção, não experimentei em Arganil, onde ao fim da tarde de ontem fiz uns quilómetros bons, por estradas manhosas, à procura da famosa Fraga da Pena, celebrizado no filme português "Aquele Querido Mês de Agosto"... Faz parte da "Paisagem Protegida da Serra do Açor" e merece uma visita... Depois deixo no You Tube um pequeno vídeo...
Uma dica para quem quiser chegar: chega a Arganil e segue para Benfeita (via COJA e não por FOLQUES!)... A Fraga da Pena (uma queda de água de 20 metros) fica a 1,5 km da aldeia de Benfeita...
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