1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com com data de 29 de Março de 2010:
Li o poste do Helder** sobre os comentários ao trabalho do Beja Santos e logo vi que se ia meter em boa!
Eu não afianço que tenha lido todas as abordagens críticas que Beja Santos tem feito no blogue. Afianço, sim, que, desde que por aqui ando, li seguramente a maioria, não tendo nunca me sentido condicionado pelo que disse de cada um, antes lendo, pensando por mim, refazendo algumas ideias que tinha antes, conservando outras e, até, em alguns casos, para o melhor ou para o pior, ampliando e fincando o pé no que pensava já.
Na maior parte dos casos eram abordados livros que eu conhecera antes. Uma vez ou outra, contudo, textos editados e que eu nem conhecia, achando por isso, mesmo que só por isso, que tem todo o mérito a colaboração do Beja Santos e que eu lhe estou devendo agradecimento.
Com isto, não quero dizer que não tenha direito a dizer que discordo das suas opiniões, quem delas discorda mesmo, e que o faça com alguma fundamentação e não apenas... porque sim!
Talvez lastimavelmente, não li nenhum dos alegados comentários, o que não me ajuda na ideia que eu próprio gostaria de fazer deles. Li, sim, entrando hoje na Tabanca da Lapónia, um escrito do José Belo sobre o assunto e adivinhei o alvoroço que deveria andar na Grande.
Porque estão perto uma da outra (quem diria!) foi fácil meter pés ao caminho e confirmar o que adivinhava e o que antevia desde que lera o poste do Helder.
E o que me parece é que morreu alguém!
Xiça (ou Chiça?), amigos, diria eu se tivesse recebido educação na Suíça.
Direi Gaita, pelo menos e entretanto.
Então não sabemos já que nesta Tabanca mora variada e diferente gente e que isso não traz ponta de mal ao mundo (ao nosso mundo)?
Vimos nós, uns do Norte, outros do Sul ou do Centro; somos uns católicos praticantes, outros o são sem praticarem, e ainda outros de outras igrejas ou sem igreja nenhuma.
Pátria, para uns, legitimamente, é o mais sagrado das suas vidas e nessa crença juraram um dia "matar pai e mãe" se fosse necessário para sua defesa. Outros valorizam muito também Pátrias alheias mas não menos sagradas.
Deixem que diga que gasto algum tempo lendo "reportagens" simples e ingénuas que muitos camaradas postam, e se as leio é porque gosto de as ler, mesmo que o seu estilo e o próprio conteúdo não ultrapassem a tal simplicidade ingénua e desconotada de pretensas análises sociais e políticas.
Declaro que seria incapaz de mandar para o blogue coisas do tipo "olhem para mim com um macaco ao colo" mas nada tenho contra quem o faz porque acho que o faz no desejo puro de comunicar com outros que também andaram de macacos ao colo, que é como quem diz.
Nem eu nem tu, Hélder, temos qualquer necessidade de deixar de estimar muito a amigos como o camarigo de Mexia Alves, só porque não concordamos com algumas coisas que diz, porque sabemos que o diz honestamente representando-se apenas a si próprio, e não querendo vestir as nossas calças.
Gostei muito, muito mesmo, do Diário da Guiné, gosto muito da poesia que escreve o seu autor e discordo de algumas coisas que diz no blogue, no campo restrito da questão Guiné, sem que isso mordisque a consideração e o apreço que por ele tenho.
Por outro lado, a questão cultural, e mais precisamente a ideia de "intelectual", sempre meteu muitos macaquinhos em muitas cabeças e não é por acaso que bibliotecas inteiras têm ido parar à fogueira em várias latitudes deste vale de lágrimas.
Todos conhecem a frase do general Mola sobre cultura e pistolas.
No entanto não comparo nem confundo os camaradas que aqui se pronunciam contra "o exagero do uso de uma escrita mais apurada e mesmo a roçar a ficção", com Molas ou com pontas (de faca). A mim me parece que é apenas um fastio de quem não sabe que mesmo a ficção/ficção, se séria, não relata senão o verosímil, quer dizer, o que aconteceu na presença do autor, o que o autor ouviu que aconteceu a outros, e mesmo o que não aconteceu mas podia muito bem acontecer.
Por mim, digo que tudo o que já escrevi no blogue aconteceu mesmo, ainda que descreva os acontecimentos numa linguagem que alguns dos camaradas legitimamente não apreciem.
Os livros são uma coisa diferente dos relatos factuais e por isso, José Belo, aqui e ali, as tais lavadeiras de roupa de soldado, na linha justa do que disse José de Alencar sobre o índio Guarani "não era assim, mas muito gostaria eu que assim fosse".
Havia jurado a mim próprio não voltar a meter o bedelho em polémicas destas, sobretudo depois dos meus últimos postes, em especial a reprodução de uma mensagem à amiga Filomena sobre as legítimas verdades de cada qual, e ainda um outro com o título A Questão Colonial, A Colonização Portuguesa -Particularidades.
Cada um de nós tem na cabeça uma verdade que cresceu consigo e com a sua experiência concreta. Não digo que não é possível que tal verdade possa mudar, intelectualmente assumindo erros e enganos.
Mais difícil é mudar a verdade que se instalou nos corações.
Espero, portanto, que Beja Santos continue a trazer-nos a notícia crítica de novos livros sobre o assunto que nos junta.
José Brás
__________
(*) Vd. poste de12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5982: O Xico pagou à Terra; à Terra pagaremos todos (José Brás)
e
de 3 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5754: (Ex) citações (52): Falando de descolonização com Filomena Sampaio (José Brás)
(**) Vd. poste de 26 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6054: Controvérsias (68): Preciso de entender coisas que não alcanço (Hélder Sousa)
Vd. postes da série Notas de leitura
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Gostei deste post do José Brás o qual me transportou à caixa de comentários do Helder...vai por ali
um enorme desassossego...
Confesso que sou um rústico,mas...
gosto de ler...alguns dos livros
recensados pelo Beja Santos,já os
li e formei a minha opinião, nuns
casos coincidente, noutros casos não coincidente. Outros livros
esmiuçados pelo B.S. não os li ou
desconhecia-os,mas fiquei com interesse em ler alguns, caso os encontre.Não acho que o B.S. esteja
a intelectualizar o blogue, eu rústico e aldeão,penso que está a
ter um trabalho meritório.Tudo é
político,diz alguém, e é uma grande
verdade,mas quando se é faccioso
começa a haver merda...Há mais de
25 anos,um conhecido jornalista e
escritor,veio a Águeda fazer um
colóquio sobre Alves Redol,a que fui assistir.Acabei tendo uma
monumental pega com o orador quando
ele disse que o Ferreira de Castro
era um escritor menor comparando com o Redol.A razão era:na obra
do A.Redol via-se a luta de classes,nos livros do Ferreira de
Castro essa luta passava ao lado.
Na altura,aquele jornalista/escritor era um faccioso
Eu,rústico,gosto do Redol e do
F. de Castro,situando-os nos campos
políticos respectivos,como é óbvio.
Tal como o José Brás,também li e
apreciei o excelente livro que é o
"Diário da Guiné", mas não posso
concordar com as defenições de
Neofascismo e Nacionalismo expostas
pelo Graça de Abreu na caixa de
comentários do Valério,nacionalismo
como sendo amar a terra em que
nascemos,é muito poético,muito
bucólico, mas não é isso, pergunte-se ao Rolão Preto,ao cabo austriaco,ao sérvio Mladic,todos
nacionalistas...
Que o Beja Santos continue a desvendar outros livros
Caros camaradas
As análises literárias do Beja Santos já me levaram a procurar alguns titulos por ele apresentados.
Penso que é valioso contributo para quem se interessa pelas questões neles relatadas mesmo que ficcionadas.
Sendo assim estou de acordo plenamente com o Zé Brás e com o Helder.
Quando não gosto de algo que foi escrito, fico mesmo assim mais rico, pois analiso e por vezes tiram-me as dúvidas porque não gostei.
Um abraço
Juvenal Amado
Que gaita, digo eu com o meu sorriso, que me parece que de repente se discute já se o Mário Beja Santos deve ou não fazer as recenssões literárias que tem feito?
Claro que deve sem dúvida nenhuma, a meu ver, afirmo-o eu, que não sou ninguém, (como o romeiro, talvez)!
Mas o que o meu camarigo Helder escreveu, (ou estarei enganado), foi sobre a "legitimidade" de outros criticarem a "critica opinativa", (passe o termo), do camarigo Mário, e a isso eu respondi que sim, que todos temos direito de "criticar a critica".
Porque logicamente cada um critica de acordo com aquilo "que vive, que sente, que acredita" e como tal "puxa a brasa á sua sardinha", pelo que, aqueles que assim não pensam, têm obviamente direito a opinar também, sem que daí venha algum mal ao mundo, desde que tudo seja feito mantendo incólume a dignidade de cada um e que o denominador comum que nos aproxima, (a guerra da/na Guiné), nos continue a aproximar apesar de todas as legitimas diferenças.
A camaradagem, a amizade, ou melhor e à minha maneira a camarigagem mantém-se viva e até se fortalece na franca discussão e troca de opiniões, penso eu de que, para citar um "intelectual" da nossa praça!
Perdoem a ironia, mas é uma mania minha retirar carga a assuntos com os quais afinal se formos ler todas as entrelinhas, todos concordamos.
Mas claro, posso estar enganado!
Um grande e forte abraço camarigo para todos desejando uma Feliz Páscoa
Eu peço desculpa de vos incomodar com o meu comentário.
Mas tenho de dizer que entendo que toda a opinião é livre, desde que não insulte nem ofenda.
E como já comentei há um mês atrás, a história será feita 50 anos após o desaparecimento do último interveniente na acção. Até lá, por aqui, só se deixam testemunhos, que são importantes e irão servir a história.
Caros amigos
Não era minha intenção provocar animosidade ou incomodidade aos camaradas que fazem comentários.
Tenho para mim, e acho até que já aqui e ali deixei isso claro, que prefiro uma troca de opiniões, de preferência divergentes, para que, da riqueza de argumentação, quem estiver de boa fé possa obter ganhos (mudando ou não de opinião), em vez de unanimismos, que tantas vezes podem ser entendidos como seguidistas.
É claro também, pelo menos assim penso, que em nenhum momento questionei quem discorda das opiniões, observações, comentários, elogios, depreciações, etc. que o Mário Beja Santos foi fazendo em relação às suas diversas resenções. Acho que escrevi que eu próprio discordei de alguns 'enquadramentos'. E sei, também, que essas opiniões dele são políticas, no sentido geral que o José Belo referiu e também no sentido mais restrito que o MBS tem segundo a sua óptica.
O que me levou a perguntar se estava a fazer bem em observar com algum comedimento o trabalho do MBSantos e a tirar as minhas próprias conclusões em vez de me 'atirar' a ele foram alguns comentários colocados no P6035 de 21 de Março, embora já antes tivessem aparecido outros que achei despropositados, mas seria a minha opinião.
Não gostei, pronto, o que é que querem, não gostei do 'tom', do conteúdo, das conclusões, de 'argumentos' contra nem percebi bem a quê, se ao episódio que foi apresentado para ilustrar as passagens do livro, se à história em si mesma, se à própria recensão do MBS, daí ter pedido a vossa ajuda e, valha a verdade, não foi negada, já que vários camaradas se prontificaram a fazê-lo, quer com comentários ao meu Post, quer em artigos próprios como este do Zé Brás e um outro passado na TabLap do José Belo, quer ainda em dois ou três mails que me foram directamente dirigidos.
Que fique bem assinalado que não me move qualquer oposição (nem faria sentido) a qualquer camarada que emite opinião, bem pelo contrário, apenas reafirmo o meu desejo que se consiga manter um nível elevado nestas 'trocas de opinião' de modo que os inimigos do Blogue não encontrem por aí terreno fértil por onde possam minar este espaço que tanto os incomoda.
Um abraço
Hélder S.
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