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Queridos amigos,
Não conheço mais obras sobre literatura de nacionalistas que combateram na Guiné ou à Guiné aludam.
Peço a amabilidade a quem possua livros de exaltação nacionalista, proveniente de antigos combatentes na Guiné, que me facultem para se proceder a inventário.
Recordo que já aqui se fez referência a uma Antologia do Conto Ultramarino organizada por Amândio César.
Um abraço do
Mário
O corpo da Pátria:
Dar voz aos nacionalistas que combateram na Guiné
Beja Santos
Como se passa a exemplificar. De Jorge Silveira Machado, natural de São Jorge, Açores, oficial condecorado, o poema “Quem é o inimigo”:
Só conhecemos o inimigo
quando começa o tiroteio
a força a violência o ódio os berros
e a morte pelo meio
quem é o inimigo
quando há silêncio na floresta
no rio no tarrafo no capim
esperar é o que nos resta
só conhecemos o inimigo
quando o fogo cresce à nossa volta
e tudo acaba como principia
quando se volta
..............................................
só conhecemos o inimigo
quando começa o tiroteio
a dúvida o perigo
e a morte pelo meio
De Almeida Mattos o poema “Guiné/67”
Solenes, voltaremos.
E sobre o mar as cicatrizes ficam
livres da dor, do ódio desta guerra
Inútil e eterna essa lembrança
breve e inútil como nossas vidas.
Amanhecerá no teu corpo um pleno verão,
feito de frutos desta longa ausência
dos corpos que ficaram nas bolanhas
que em nossos próprios corpos viverão.
De Armor Pires Mota e do seu poema “Cântico”
Vou partir para a metralha, Senhor!
Carrego de morte os bolsos e os olhos
doidos de manhãs de claras, rasgadas no infinito.
Afivelo a alma bem dentro da alma
e, de medo, trauteio a marcha do rio Kwai.
Não sujo as mãos de qualquer remorso,
não seja cobarde: tenho o meu povo, a minha bandeira! –
e, se tombar no sangue, na lama,
seja para Ti, Senhor,
a força do meu cântico.
A minha maior surpresa foi encontrar nesta colectânea “Poema de uma Guerra Longe”, de Ruy Cinatti, datado de 1970. Conhecia-o, recebi-o na Guiné, era a resposta a uma descrição que eu fizera de um encontro com guerrilheiros. Carta e poema foram oferecidos à Sociedade de Geografia de Lisboa:
Sete horas húmidas, algures.
Progressão, fardas ensopadas.
Silêncio na terra de combate.
Silêncio nos corpos.
Estacas calcinadas.
O piar da aves, o olhar súplice.
Dois tiros quase num só eco.
O desabar das folhas, ramos rápidos.
Um grito que se apaga.
Missão cumprida, a meta adivinhada.
Febre sem alma ou acordo.
O peso súbito de um morto
Caindo nos ombros estreitos,
Doloridos,
da minha miséria.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6087: Notas de leitura (86): A Lebre, de Álvaro Guerra - a intervenção da tolerâcia numa escrita que escapou à censura (Beja Santos)
1 comentário:
Estimados tertulianos
JOSUÉ Pinharanda Gomes, referido nesta recensão ao livro por Beja Santos – O Corpo da Pátria - é natural de Quadrazais, terra (nos anos…e 40, 50, 60) de contrabandistas e boa gente, que dista da aldeia onde eu nasci cerca de 5km.
Pinharanda Gomes, ilustre pensador e investigador da Cultura Portuguesa Contemporânea, como homem e pensador foi muito influenciado, já eu lho ouvi numa palestra, por Nuno de Montemor, também este natural de Quadrazais.
O primeiro livro que eu tenho consciência de ter lido foi – O Maria Mim de Nuno Montemor - é um romance que relata a vida difícil do contrabandista no seu dia-a-dia, a ganhar o pão que o diabo amassou, e, descreve com pormenor a revolta do contrabandista, devido à perseguição da Guarda-Fiscal que os apelidava de malandros e ladrões. Relata muito pitorescamente os amores da Maria Mim. Que saudades eu tenho dessa meninice!
Um abraço para todos e boa Páscoa
José Corceiro
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