Data: 1 de Agosto de 2010 20:56
Assunto: A cabra do Berguinhas
Antes de mais devo dizer aos nossos interlocutores que foram uns cagados da maneira como trataram a vossa querida amiga, ou dizendo de outra maneira mais abrasileirada que se confunde cágados com cagados, não sei o que vos chamar, mas a verdade é que eu sinceramente não fazia isso a um amigo, mas fome é fome, e eu até comi a carne mais horrível que pode existir (ai fome onde andas!)... ABUTRE!!!
Esta estória faz-me lembrar o cabrito do PIDE de Nova Lamego. O tipo da PIDE tinha um cabrito de estimação que um dia teve a infeliz, dele, sorte (feliz nossa...), de ir parar ao nosso quartel que era junto à igreja e à administração. Entrar entrou, saír também saíu, só que de outra maneira.
Mata-se o cabrito, passado pouco tempo o tinhoso entra no quartel aos berros pelo cabrito. O nosso bom Capitão Mira Vaz não sabia o que responder ao PIDE. Sorte a nossa que os abutres em poucos minutos desapareceram com os restos mortais... de identificação. Então vou ter com o Nogueira que estava no bar, conto a situação e só havia uma saída.Tiramos toda a cerveja que estava na arca congeladora, espalmámos o casbrito que fica no fundo da arca, e enchemos esta até ao cimo com loirinhas à espera de melhores dias.
Ninguém vai mandar tirar a cerveja da arca, pensei eu. O meu afoito Capitão Mira Vaz não sabia onde se meter. Primeira pessoa a ser chamada, o Hoss... que jura a pés juntos nada saber.
- Juro por estes dois, meu capitão, que a terra há-de comer, em como não sei de nada.
Tão parvo... Passado pouco tempo aparece um nativo muito aflito que a mulher estava para dar à luz e o bébé não nascia. Por uma questão de respeito não vou escrever como eles falavam. Lá fui eu e o Vicente. Nunca na nossa vida tinha-mos visto tal coisa. Eu sou da aldeia, com muito orgulho, já tinha visto muitos animais parirem e lembrei-me que de vez em quando os filhotes vinham atravessados e era preciso meter a mão lá dentro e colocar cabeça do dito cujo para a saída.
Fez-se luz. Meto a mão dentro da senhora e ajeitei a cabeça do bébé para a saída, o tipo salta cá para fora sem problema. O pior foi quando eu cortei a umbímia [, cordão umbilical ?]. Não era para cortar à nossa maneira, mas depois da explicação tudo bem. Fomos presenteados com DOIS, DOIS cabritos!... Fui ter com o comandante de pelotão expliquei a situação, para que não pensassem que era o cabrito do PIDE e o resto para bom entendedor meia palavra basta.
Mas o Sr Mira Vaz não lhe enterrou os dentes. Não tinha tempo para essas coisas banais, preocupava-se com outras de maior interesse para a carreira militar que tinha pela frente. E assim foi. Ai, FOME, onde é que andavas, FARTURA ?
Atenção, nos Pára-quedistas, não passávamos fome, às vezes o vago mestre esquecia-se e nós lembrávamos que o dinheiro não era só para eles. Muito se roubava, não digas isso parvo, ainda vais parar à pildra. Eu que fazia a escrita da companhia, estou proíbido de falar, por estes dois que a terra há-de comer.
Hoss
__________________
Nota de L.G.:
Assunto: A cabra do Berguinhas
Antes de mais devo dizer aos nossos interlocutores que foram uns cagados da maneira como trataram a vossa querida amiga, ou dizendo de outra maneira mais abrasileirada que se confunde cágados com cagados, não sei o que vos chamar, mas a verdade é que eu sinceramente não fazia isso a um amigo, mas fome é fome, e eu até comi a carne mais horrível que pode existir (ai fome onde andas!)... ABUTRE!!!
Esta estória faz-me lembrar o cabrito do PIDE de Nova Lamego. O tipo da PIDE tinha um cabrito de estimação que um dia teve a infeliz, dele, sorte (feliz nossa...), de ir parar ao nosso quartel que era junto à igreja e à administração. Entrar entrou, saír também saíu, só que de outra maneira.
Mata-se o cabrito, passado pouco tempo o tinhoso entra no quartel aos berros pelo cabrito. O nosso bom Capitão Mira Vaz não sabia o que responder ao PIDE. Sorte a nossa que os abutres em poucos minutos desapareceram com os restos mortais... de identificação. Então vou ter com o Nogueira que estava no bar, conto a situação e só havia uma saída.Tiramos toda a cerveja que estava na arca congeladora, espalmámos o casbrito que fica no fundo da arca, e enchemos esta até ao cimo com loirinhas à espera de melhores dias.
Ninguém vai mandar tirar a cerveja da arca, pensei eu. O meu afoito Capitão Mira Vaz não sabia onde se meter. Primeira pessoa a ser chamada, o Hoss... que jura a pés juntos nada saber.
- Juro por estes dois, meu capitão, que a terra há-de comer, em como não sei de nada.
Tão parvo... Passado pouco tempo aparece um nativo muito aflito que a mulher estava para dar à luz e o bébé não nascia. Por uma questão de respeito não vou escrever como eles falavam. Lá fui eu e o Vicente. Nunca na nossa vida tinha-mos visto tal coisa. Eu sou da aldeia, com muito orgulho, já tinha visto muitos animais parirem e lembrei-me que de vez em quando os filhotes vinham atravessados e era preciso meter a mão lá dentro e colocar cabeça do dito cujo para a saída.
Fez-se luz. Meto a mão dentro da senhora e ajeitei a cabeça do bébé para a saída, o tipo salta cá para fora sem problema. O pior foi quando eu cortei a umbímia [, cordão umbilical ?]. Não era para cortar à nossa maneira, mas depois da explicação tudo bem. Fomos presenteados com DOIS, DOIS cabritos!... Fui ter com o comandante de pelotão expliquei a situação, para que não pensassem que era o cabrito do PIDE e o resto para bom entendedor meia palavra basta.
Mas o Sr Mira Vaz não lhe enterrou os dentes. Não tinha tempo para essas coisas banais, preocupava-se com outras de maior interesse para a carreira militar que tinha pela frente. E assim foi. Ai, FOME, onde é que andavas, FARTURA ?
Atenção, nos Pára-quedistas, não passávamos fome, às vezes o vago mestre esquecia-se e nós lembrávamos que o dinheiro não era só para eles. Muito se roubava, não digas isso parvo, ainda vais parar à pildra. Eu que fazia a escrita da companhia, estou proíbido de falar, por estes dois que a terra há-de comer.
Hoss
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6681: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (3): Conclusão
3 comentários:
Sílvio: Confesso que não conheço o etrmo "Umbímia"... Queres dizer, certamente, cordão umbilical... Procurei nos dicionários.... Nada... Pode ser um regionalismo... Por isso deixei ficar, provisoriamente... Pro que a gente se deve entender em bom português...
Quanto ao cabrito do Berguinhas, até eu to ajudava a comer, se lá
estivesse contigo... Quanto ao tei capitão, tens que entender: um oficial (e cavalheiro) n~´ao pdoe fechar os olhos a quebras de disciplina como essa... Mas tens razão, a fome é(era) sempre má conselheira... Em tempo de guerra, em tempo de paz...
Um abraço. Luís
A "malandragem" de Buba, passados estes anos já se atreve a revelar histórias idênticas e, também, muito pouco edificantes. Parece que os gatos da tabanca foram desaparecendo, desaparecendo até que se tornaram espécie extinta...
Claro que as grandes comezainas de "coelho" à caçadora se iam sucedendo... Eis senão quando o Carlos Fabião ali é colocado para comandar o recém-criado COP4. O capitão seu adjunto traz consigo um grande gatarrão de raça que trata com desvelo. Quando vai de licença entrega a um militar de sua confiança a responsabilidade de tratar do felino.
E não é que, terminadas as merecidas férias do oficial, o gato tinha desaparecido, não se sabe como? Teria desertado? Teria ido apresentar-se à guerrilha? É que nunca mais foi visto. Coisa estranha.
Quem cumpriu os Dez Mandamentos, que atire a primeira pedra... ao Hoss;:
1º Adorar a Deus e amá-l´O sobre todas as coisas;
2º Não invocar o santo nome de Deus em vão;
3º Santificar os Domingos e festas de guarda;
4º Honrar pai e mãe;
5º Não matar;
6º Guardar castidade em pensamentos, palavras e actos;
7º Não roubar;
8º Não levantar falsos testemunhos;
9º Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos;
10º Não cobiçar as coisas alheias, incluindo a mulher do próximo...
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