terça-feira, 17 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6860: (Ex)citações (91): A Guerra Colonial, todos querem ser heróis (Manuel Maia)

1. Comentário de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), deixado no poste 6854 de autoria de Carlos Geraldes, com data de  16 de Agosto de 2010:

Caro Geraldes,
Li o teu texto, e pergunto-me que mal te fez o mundo para teres este tipo de relação conflituosa contigo próprio...
Depois de me ter habituado a ler-te, fiquei deveras surpreendido com este fel destilado, que em minha opinião se não coaduna contigo.

Todos temos momentos de revolta com a vida mas deveremos procurar os mecanismos de contenção que impeçam que ofendamos gratuitamente quem quer que seja, especialmente aqueles que tal como nós, militares à força, atravessaram os mesmos problemas, sofreram na carne as mesmas vicissitudes, conheceram as mesmas dúvidas, os mesmos medos, as mesmas revoltas.

Aquilo que lês aqui e ali sobre as bajudas, os galos, as tainadas, não são, estou certo, quaisquer loas a um bacoco heroísmo, mas tão só o reavivar de momentos que por esta ou aquela razão ficaram gravados no subconsciente de quem os narra e que no fundo são comuns praticamente a todos...

Os tiros, foram a resultante da nossa presença na guerra e muitas vezes o exteriorizar dos medos, que dizes ninguém contar...

Todos tivemos medos, todos pensamos muitas vezes na impossibilidade de regresso, mas todos tínhamos vinte e poucos anos e a pujança da vida dessa idade.

Nunca assisti a situações como as que descreveste (fiz a guerra entre 72 e 74) e no meu tempo posso testemunhar que a acção psicológica funcionou não havendo crimes ou abusos como os que narraste...
Cabia também aos condutores de homens (e tu eras comandante de um grupo de combate...) a obrigação de dirigir, responsavelmente, os seus militares, por forma a evitar manifestações de primitivismo criminoso como referiste...
Se os testemunhaste e não agiste, então sentes esse peso na consciência.

A súmula que apresentas relativamente à história deste país a que pertences, este reduzir de nove séculos de construção e sustentabilidade de um povo com capacidades e heroicismo incomuns, um povo que se atreveu mar adentro à cata de novos mundos, a uma miserabilista insinuação de que se tratou de bandos de salteadores, violadores, ladrões, burlões, é de facto demasiado redutora, curta de vistas, e decididamente evidenciadora de que estarás doente, provavelmente a sofrer.

O Carlos Geraldes que também foi cordeiro em África, o Carlos Geraldes, homem culto, não pode apresentar um discurso deste jaez...

As almoçaradas dos homens de cabelos ralos e caiados pelo branco da velhice, contrariamente ao que dizes, são extremamente salutares, e mau grado este teu posicionamento que redundou no poste alvo destes comentários, estou convicto que no próximo convívio da Tabanca Grande, estarás presente com um arejamento de ideias.

Sei que provavelmente estarás a remoer-te por dentro a tentar perceber o porquê de assinares um texto tão caustico, tão violento, diria mesmo tão ofensivo.

Peço-te para reflectires, acalmares, contares até dez antes da explosão.

Um abraço
Manuel Maia
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6837: Blogopoesia (79): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (6) (Manuel Maia)

(**) Vd. poste de 15 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6854: Questões politicamente (in)correctas (40): A guerra colonial: todos querem ser heróis! (Carlos Geraldes)

Vd. último poste da série de 9 de Agosto de 2010 Guiné 63/74 - P6840: (Ex)citações (90): O nível das modalidades desportivas amadoras de Bissau tinha baixo nível e recorria aos militares ali estacionados (Rogério Cardoso)

8 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Anular comentário não assinado.

Obrigado

Mário Fitas

Carlos Vinhal disse...

O comentário eliminado deve ser reposto pelo seu autor, devidamente assinado.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Olá Camarada Manuel Maia,um bom dia e se possível umas boas férias.
Subscrevo literalmente o teu postado texto/comentário, porque é certinho e direitinho ao meu raciocínio.
Provavelmente o Camarada Carlos Geraldes pretendera somente agitar a malta, ao enviar umas granadas de fumo e foi só fumaça.
Não podemos duvidar, que só de regressarmos ao seio dos nossos familiares todos foram tratados como heróis e infelizmente só ficaram de fora os nossos mortos.

No meu Algarve diz-se "que aquilo foi do calmeiro de Sueste," que faz sentirmo-nos agitados e depois voltará ao normal.

Um abraço para toda a Tertúlia
Arménio Estorninho

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Carlos Vinhal disse...

O comentário removido era do camarada Arménio Estorninho que estava em duplicado
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Reposição de comentário não assinado e removido a meu pedido, seu autor por se encontrar incompleto.

Caro Manuel Maia,
só a tua sensibilidade, vem repor uma das grandes verdades da Guerra na Guiné.

É nosso dever continuarmos a conviver, relatando os tempos que lá passámos e confirmar:

"É na dor que os homens se tornam irmãos sem consaguinidade"

Um abraço Mário Fitas

Pereira da Costa disse...

Engraçado caros editores de duas uma ou fui burro e o meu comentário não passou ou foi elimando pelos exmos editores.
O meu foi assina com nome, patente, especialidade, unidade, local e período de estadia na Guiné.
Não faz mal pois vou fazer doutra maneira
Pereira da Costa, Fur Mil Oper Info (CIOE68), CCS/BART 2857, PICHE, GUINÉ 1968 a 1970