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Caro Camarada
Se ainda for a tempo, quero deixar um comentário para o Carlos Geraldes**.
Primeiro quero recordar que as revoltas e as revoluções não se improvisam nem surgem por geração espontânea ou por loucura súbita dos povos.
Creio que já lembrei que nos 20 anos anteriores à chegada do Teixeira Pinto houve 12 sublevações das populações da Guiné. Em 1924 creio que terá a última em grande antes do Pidjiguiti.
Claro que as actuações condenáveis (escravatura, roubos, devastações, etc.) começaram logo à chegada, como ele diz. Mesmo vistas no contexto do tempo não podem deixar de criar e acumular revolta nas populações locais. A tensão foi-se acumulando e depois... o resto já sabemos.
Foi mais um caso de nascimento de uma nação, como já afirmei no meu último poste.
A reacção das nossas autoridades foi a que sabemos e a nossa também. Recordo que a nossa atitude foi-se alterando ao longo da guerra que durou 13 anos. O ânimo e a "mentalização" (aceitação activa da necessidade de combater) foi diminuindo ao longo dos anos. Como acabaria não sei.
Creio, por isso que o Geraldes não foge à verdade pelo menos até ao 4.º parágrafo.
Depois...
Depois cada caso é um caso. Mas eu não creio que a generalidade de nós tenha o perfil que ele desenha.
Não o terá tido no passado e não o será na actualidade. Não creio mesmo que "os mais selvagens entre 1000" tivessem sido tantos e não tenham sido "repreendidos" pelos outros (nós todos). Relembro que nas unidades operacionais a grande maioria eram cidadãos fardados.
Claro que cada bala pode matar um chefe-de-família, uma mãe, uma criança, mas isso faz parte da guerra.
Contaram-me que, em Cacine, antes de eu chegar, um dia uma das primeiras companhias que por lá passou foi atacada com armas pesadas e o 1.º Sargento, depois do ataque, gritava e chorava com a perna de uma criança na mão:
- Podia ser a minha filha!... Podia ser a minha filha!
Eu próprio ainda por lá encontrei um miúdo - um "português suave" - o Manel que, na sua cor de café com leite e cabelo quase liso e semi-louro, tinha a cabeça descascada com pequenos estilhaços.
Um Alfa Bravo do
António Costa
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6805: Controvérsias (99): O que é que o País pode dar aos ex-combatentes? (António J. Pereira da Costa)
(**) Vd. poste de 15 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6854: Questões politicamente (in)correctas (40): A guerra colonial: todos querem ser heróis! (Carlos Geraldes)
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6861: (Ex)citações (92): A Guerra Colonial, todos querem ser heróis (José Manuel M. Dinis)
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