quinta-feira, 8 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9582: Nós da memória (Torcato Mendonça) (13): Mansambo - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 13
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

9 – Mansambo

Foi local de partida para a nossa primeira Operação.

Estávamos em Fá Mandiga, como Companhia de intervenção ao BART 1904, sediado em Bambadinca. (Sector L1)

De Mansambo saímos então até ao acampamento IN do Galo Corubal, em dia de Carnaval. Destruído o acampamento, com aviação a actuar e o louvor colectivo a aparecer, ao ponto de partida voltamos. Depois, o regresso feito até Fá, por uma estrada (?) tão percorrida até ao final da comissão.

Mansambo, nesse tempo, eram meia dúzia de moranças e três ou quatro abrigos. A guarnição era constituída por uma Secção reforçada de um Pelotão de Milícias, o 103 da Moricanhe.

Hoje, na Carta 1/50.000 – Xime, podemos ver o nome e uma referência cartográfica como, mais a Norte, há um outro ponto fotogramétrico e um nome, Garfanhapa, no cruzamento da estrada com a picada para Candamã. Excelente esta Cartografia feita em finais dos anos cinquenta e já em sessenta. Ali, próximo deste cruzamento, esteve uma Tabanca que foi abandonada.

Pormenor da Carta Xime (1955)

Meses depois a nossa Companhia, no meio daquele nada, deu inicio à construção de aquartelamento. Um grupo, depois outro e um dia, meses depois, estávamos lá todos.

O IN (inimigo de então), atacou, barafustou, conseguiu fazer alguns estragos e nada conseguiu. Claro que a rádio em Conakry noticiou mortos e feridos, destruições tamanhas que, a serem verdade, davam para aniquilar um Batalhão. Propaganda. Era engraçado ouvir e vê-los a espreitar na orla da mata.

Eles sofreram mortos e feridos e, depois da chegada dos obuses 10.5 nunca mais atacaram de muito perto.

Confirmado por eles através de elementos capturados. Um, parece ter sido um cubano a quem foi apanhado meio cinturão e coldre e pistola Ceska (Jun/68). Outro cubano comandou a emboscada à fonte (Set/68). Sofremos dois mortos e alguns feridos. Baixas a mais, foi mau, demasiado mau.

Um dia, seis anos depois, a última Companhia saiu de lá. O ódio do IN veio ao de cima e a destruição foi total. Restam hoje, segundo fotos de camaradas que por lá passaram, pequenas recordações.

Certo é que se acredite ou não, os espíritos vagueiam por lá. Para eles o meu abraço de respeito a quem, de um lado ou de outro da contenda deu o máximo dele – a vida.

Ficam duas fotos de então.

Mansambo > Poço e balneários

Mansambo > Preparação e limpeza

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9541: Nós da memória (Torcato Mendonça) (12): Cabeça Rapada - Fotos falantes IV

4 comentários:

manuelmaia disse...

Caro Torcato,

Em Bissum,por onde andei no início da comissão( primeiros 6 meses) também devem vaguear os espíritos dos milícias e faxinas assassinados pelo PAIGC.
abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Mensagem do nosso leitor (e camarada) Jerónimo, de Alcobaça,
que nos chega através do seguinte email:

António Ferreira
viajante1950@gmail.com
23:37


Estimados ex-camaradas da Guiné.

Sou o ex-primeiro cabo condutor Jerónimo, natural de Alcobaça, pertenci à Cart 3493, que esteve em Mansambo e Cobumba.

Desde que comecei a mexer ainda que timidamente no computador e descobri o vosso blog, todos os dias lhe faço pelo menos uma visita.

Hoje ao ler algo que falava da fonte de Mansambo, senti uma sensação estranha que me fez recuar no tempo cerca de quarenta anos. Pois foi nessa fonte que fiz o meu primeiro serviço, precisamente no dia em que a companhia que fomos render nos deixou.

Durante o tempo em que estive de segurança (o primeiro e unico dia) como é fácil de imaginar, pensei em tudo menos em coisas boas. Ver abalar os "velhinhos" e saber que tinha ainda tanto tempo para estar por ali, e ainda eu não pensava que o tempo viria a ser mais que e eu supunha, e, menos ainda, que parte dele seria passado no sul nas margendo Cumbijã...

Durante o tempo que estive na fonte com a G3 que eu mal sabia manejar, escrevi uma frase num papel que nos momentos menos bons (foram muitos) eu procurava sempre ler. Dizia assim: 'Tem calma, és jovem e o tempo há-de passar'. Hoje passados todos estes anos chego a pensar como coisas aparentemente sem importância nos podem ajudar nos momentos difíceis.

Termino aproveitando para vos agradecer o vosso trabalho com o blog, pois ele é importante para muitos de nós, é como que uma terapia que nos ajuda a esquecer a sede que passamos, a fome que tantas vezes passou por nós, os sustos que apanhamos, as saudades que sentiamos dos nossos, que tantas vezes chegamos a pensar não mais voltar a ver.

Um abraço amigo, Jerónimo

Anónimo disse...

Caro Torcato

Explica a foto (por obséquio) com o obus 10,5.

A árvore foi cortada, e já agora os "chuveiros" foram deslocados...é que não percebo..ou o obus só fazia fogo nos intervalos ou para onde estava virado..ah..ah.
Saudações artilheiras do artilheiro para o que era da arma.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Em contra partida os "balneários" estão estrategicamente colocados em frente ao poço.
Directamente da produção para o consumidor..bravo.

C.Martins