Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Guiné 63/74 - P9590: Fotos à procura de... uma legenda (19): Imagem enviada pelo José Saúde (ex-Fur Mil Op Esp, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74)
1. O José Saúde (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523, Nova Lamego, 1973/74) mandou-nos há dias um conjunto de imagens relativas ao TO da Guiné, umas relativas a situações operacionais, outras mostrando aspetos da vida das populações... Não tem data, e a maior parte não tem lugar...
Saltou-me à atenção esta, acima reproduzida, por já a ter visto algures, na capa de uma publicação qualquer, e sobretudo porque não é uma foto qualquer, tem uma certa qualidade estética ou interesse documental, embora a imagem seja tecnicamente má, por fraca resolução... A foto original foi tirada no mato, algures no TO da Guiné (aliás, as únicas indicações que traz, são essas: Guiné - Operações / AM 1)...
Tudo indica que esta imagem fizesse parte de um brochura do Exército ou de alguma revista publicada na época (por ex., a Flama). Desconhece-se o autor da fotografia, possivelmente um repórter fotográfico, civil ou militar... Muito menos se fica a saber onde e quando foi tirada... Talvez em meados dos anos 60. Tudo indica que, em primeiro plano, estão dois operadores de transmissões (ou um operador de transmissões e um graduado, de óculos de lentes escuras, típicos da época, a usar o aparelho: vê-se a antena)... No rosto, sujo, do operador de transmissões pode ler-se alguma tensão, cansaço ou expetativa...
2. O José Saúde não dá muitas pistas, mas também parece sugerir que se pode tratar de cópias de um álbum fotográfico, tendo ele escolhido algumas para publicar no blogue:
(...) "No espólio da minha bagagem trouxe da Guiné um conjunto de fotos retiradas de um armário tido como 'secreto', asseguravam na altura os superiores hierárquicos, sendo que a aproximação ao dito cujo se afigurava quase inacessível tendo em conta todo o conteúdo que o escaparate continha. (...) Não vou trazer à estampa imagens onde o quadro explicitado do horror da guerrilha ditou epílogos impensáveis porque, creio, que a sua visualização feriria por certo susceptibilidades humanas. A meu ver, julgo que os capítulos dos anais da história da guerra ultramarina disso fariam eco, caso a verdade apurada no terreno não fosse sujeita a um esquisito branqueamento." (...).
Fica aqui o desafio ao próprio José Saúde e aos demais leitores do nosso blogue, e sobretudo à malta das transmissões, para completarem a legenda desta imagem...
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9515: Fotos à procura de uma legenda (18): A ecomesa de snooker... em África!
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12 comentários:
Caros Camaradas
O fardamento que se vê no elemento que transporta o rádio, parece ser o dos pára-quedistas. A espingarda G3, parece ser do modelo de coronha retráctil, própria também dos páras.Algum camarada que possa identificar melhor o equipamento, nomeadamente as cartucheiras que são aqui de inserção vertical, sabendo-se que também as havia de inserção longitudinal.
Um abraço.
Luís Dias
Confesso que desconheço por completo o autor da fotografia bem como o local exacto da sua originalidade. Sei, e afirmo com segurança, que a foto, tal como o afirmei, fazia parte de um rol de fotografias retiradas de um armário da chamada acção psicológica que um belo dia, após a revolução de Abril de 74 e já em tempo de paz, me levou a efectuar um "golpe de mão" e trazer comigo a preciosa relíquia. Achei-a deveras interessante. Não vou, como é óbvio, cingir-me ao local ou citar as forças militares observadas. Sei que a Operação teve como pano de fundo o território da Guiné. Desconheço o local. Interressante seria, e coloquei isso mesmo em nota de roda pé e não foi por acaso que o fiz, que alguém trouxesse à estampa o seu verdadeiro conteúdo. Na verdade considero que a emblemática imagem é, sem dúvida, motivo de diversas opiniões. Um abraço. José Saúde
Tropas páraquedistas.
Nada na situação mostrada indicia uma situação de excepção.
O procedimento de uso do rádio sem desequipar o militar que o transporta era comum.
SNogueira
Bingo!... Saúdo o "olho clínico" do Nogueira... Mas o Luís Dias também deu uma ajuda... Esta só pode ser uma tropa altamente treinada e disciplinada, como eram os nossos camaradas paraquedistas... Estamos a falar do BCP 12... Ano ? E companhia ? 121, 122, 123 ?
Era "giro" poder identificar este camarada operador de transmissões que não só não se "desequipa" (estamos em pleno mato, no decurso de uma operação helitransportada...) como mantém um olhar tenso mas vigilante em relação ao que se passa à sua frente!...
Qual o equipamento que ele transporta às costas ? Um AN/GRC9, um AN/PRC10...?
Meninos das transmissões, precisamos de uma ajudinha, reconstituam a cena, digam o que se passa entre estes dois camaradas, que já sabemos que são páras...
Um pormenor: o camarada que está sentado, em segundo plano, segurando a G3, usa um quico aparentemente não regulamentar, tipo "legionário"... Alguém tem uma dica, uma explicação ?... Oscar Bravo. LG
Parafraseando o Luís: Bingo! Estando, em princípio, conhecida que a foto de trata de camaradas paraquedistas em operações, fica, ainda, uma outra dica do nosso amigo LG relativamente ao homem, ou homens, que fazem parte da imagem. Passados tantos anos seria de todo interessante reviver esse passado enquanto jovens em pleno palco do conflito. Confesso que valeu a pena o meu atrevimento em retirar pequenissimas migalhas de um espólio que tendia a perder-se no tempo. O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné proporciona estes reencontros com a nossa actividade no território guineense em... guerra e trazer à ribalta a nossa verde juventude!
A foto do operador de transmissões vem publicada na página 172 do livro GUERRA COLONIAL de Carlos Gomes e Aniceto Afonso, publicada em fasciculos pelo DN. Não vem mencionada nem a autoria nem a fonte.
Zé Martins: Bingo!, bingo!, bingo!... Correto afirmativo... Página 172 da obra citada: Pára-quedistas... A foto (onde se mostram apenas os dois militares em primeiro plano) tem a seguinte legenda: "Comunicações terra-ar"...
Um Oscar Bravo! Luis
Face ao que o José Marcelino Martins disse no seu comentário fui consultar a publicação que possuo na totalidade e de facto refere-se aos Pára-quedistas e a sua origem (pág 617) indica:HTPQP(Livro "História das Tropas Pára-Quedistas Portuguesas", Corpo de Tropas Pára-Quedistas, 5 vols., 1991-1993.
Abraço
JPicado
O equipamento é um E/R AN-PRC 10, com antena laminada e base flexivel.
Caros Camaradas
O SNogueira poderá dizer-nos se a foto é da Guiné, porque o tipo de Quico usado pelo elemento que tem a G3, era usual em Moçambique e das vezes em que me cruzei em operações com elementos das forças páraquedistas, quer em Galomaro, quer em Dulombi, quer ainda em Nova Lamego, nunca vi ninguém a usar esse tipo de quico.
Um abraço.
Luís Dias
... citando:
«Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados. [...] No espólio da minha bagagem trouxe da Guiné um conjunto de fotos retiradas de um armário tido como “secreto”. [...] Sendo que a aproximação ao dito cujo se afigurava quase inacessível tendo em conta todo o conteúdo que o escaparate continha [...] à socapa, descobri o “tesouro”. [...] Depois de 25 de Abril de 1974 [...] lembrei-me, um dia revisitar aquele armário “secreto” e [...] tal legado poderia, eventualmente, apresentar-se importante. [...] As fotos apresentadas foram retiradas (não digo furtadas) do arquivo de um Quartel – Gabu - que se preparava para ser entregue às forças do PAIGC. [...] Imagens (poucas) do tempo da guerra na Guiné, condenadas a ficarem pálidas algures num qualquer esconderijo sem retorno.»
Para além de cada um daqueles interessantes documentos fotográficos - há poucos dias divulgados na internet por intermédio do precedente p9584 -, conter em rodapé original a correspondente legenda impressa, denotando sem margem para quaisquer dúvidas ter sido cada qual digitalizado de livro publicado - mas não pelo veterano remetente das mesmas que, além de haver afirmado o supra reproduzido, se arrogou "direitos reservados" -, ficou devida e amplamente demonstrado, nos comentários a este 9590, que aquele conjunto de registos fotográficos não teria origem em acervo particular daquele veterano da Guiné-do-fim.
O seu a seu dono.
Por isso, aqui fica a interrogação: qual/quais o(s) livro(s) onde estão publicadas, originalmente, cada uma das fotos; e a quem são devidos, 'de facto' e de jure', os respectivos créditos (vg "direitos reservados")?!
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