Um bonito poema da nossa amiga tertuliana Felismina Costa*, dedicado a sua mãe
A um modelo de mulher
Mãe,
Ofereço-te o dia que chega!
O sol que difunde os seus raios
Por entre os eucaliptos da “Ventosa”
E os faz chegar a nossa casa
Que cedo arrumaste, para o receber!
Sei, que ele gosta de se demorar no nosso corredor
Em cuja brancura das paredes se encanta
E na singeleza dos pequenos vasos, dependurados nelas
Onde tu semeias a alegria das plantas, que por elas descem,
regredindo à aproximação do solo,
em sorrisos que entendo e retribuo.
Ofereço-te a Paz do lugar amado
Onde me fizeste crescer, segura e feliz!
Onde nos fizeste crescer, seguros e felizes!
Ofereço-te, o espaço certo,
Onde se desenvolveu, a minha gratidão pela vida.
O largo rectângulo da rua, de seixos brancos, revestida aqui e ali,
De almofadas de “grama”
Que antecedia a entrada para a Paz da nossa vida,
Tão limpa e sossegada, tão gostosa…
Onde as preocupações se resumiam
Ao que a Providência determinasse.
Ali, à esquina do mundo,
Nem me apetecia espreitá-lo,
Com medo de perder aquela Paz,
Influenciada por possíveis ofertas do desconhecido.
Mas, tenho mais para te oferecer, mãe!
Tenho em frente, (nas terras da Tia Cristina)
Os bordões floridos, que brotavam da terra
A renascer, em tons doces de rosa e branco
Onde o nosso olhar parava e se deleitava,
No início da Primavera,
Que irrompiam dos bolbos
Que a terra guardava, durante os Invernos daquele tempo,
E o pequeno barranco, que delimitava, a nossa terra e a dela.
Nos seus combros, almofadados pela vegetação
curta e compacta, de tantos anos,
que fixava o curso das águas e protegia as terras
de possíveis enxurradas,
o precioso líquido corria límpido e calmo,
até desembocar na estrada que o cortava ali
e em cujo lugar, formava uma pequena bacia
onde víamos os pequenos girinos,
transformarem-se em pequenas rãs saltitantes.
Depois, o ribeiro continuava o seu curso, delimitando a sul,
o espaço onde cultivávamos os vegetais,
antes de se cruzar com o regato maior, que longitudinalmente
percorria a quinta, pouco antes de se precipitarem no aqueduto,
que existia ao fundo desse espaço real.
Ofereço-te mãe, as flores das romãzeiras, quais labaredas aquecendo corações,
E as flores das abóboras, que se estendiam na longitude dos combros do ribeiro,
Que a minha atenção infinita não deixava descansadas,
Contando e observando os pequenos frutos,
Que se desenvolviam a olhos vistos,
Oferecendo-nos as suas formas distintas, esculturais,
Para além da riqueza das suas propriedades químicas.
Ofereço-te, o som do canavial
Nas noites ventosas de Inverno,
Como que divertido em assustar-nos,
E o cantar inconfundível do cuco,
Que chegava sempre em dia certo,
E a alegria imensa dos bandos de andorinhas
Que chegavam felizes, por voltar à velha casa,
Que tem a característica de ser,
Maternidade e abrigo de sucessivas gerações,
Que em muitas horas, eram os únicos seres
que fruíam as nossas atenções,
por total ausência de outros.
Ofereço-te, os bandos de papa-figos
Pintados de preto, verde e amarelo, a caminho das figueiras,
Ligeiros e gulosos, que me extasiavam,
E as flores de todas as árvores, daquele espaço azul e verde
Dourado pelo astro-rei, que brotavam, numa imensidão
De rosa e branco, ao longo dos seus braços abertos, oferecidos!
Ofereço-te a minha alegria, mãe!
A tal alegria que plantaste, no mais profundo do meu ser,
E, que fazes renascer cada dia, na grata certeza de me teres mostrado
A beleza que existe no lugar onde vivemos,
Na constatação de que, nele germinam e proliferam,
Todas as espécies que nos encantam, e obstam à nossa sobrevivência,
Caminheiros de pouca fé, do único Planeta habitável!
Ali, à beira-estrada, à beira-vida, o Paraíso arriscou uma sucursal,
Que tinha alguns admiradores gratos!
Ofereço-te a luz Outonal, Divina,
E a doce calma que enchia aqueles caminhos!
A estrada aberta em terra batida, colorida naturalmente
De cores, vermelho e rosado, a caminho do Monte-Novo-de-Cima
Do Mal julgado, do Monte-Novo-da-Portela, e dos restantes Montes do lugar.
Ofereço-te, todo o orvalho de uma estupenda manhã Primaveril
Sobre o milho, do outro lado do ribeiro,
Brilhando como cristais,
E a presença de uma cegonha Divina, poisada ali, no meio das pedrarias
Qual quadro do mais dotado impressionista,
Decorando aquele espaço dos nossos dias de ontem!
Ofereço-te, as noites brilhantes de Agosto
E aquele céu total, decorado por milhões de estrelas e Planetas inacessíveis!
Tão grande foste, minha mãe “pequenina”!
Tão forte e doce, tão sabedora e mágica,
Que me atrevo a usar-te como modelo
Neste dia, que nos é dedicado,
Sem medo que ninguém ofusque o teu brilho!
Como vês, guardei tudo o que foi nosso, e revejo-o cada dia!
É tudo teu, e eu… continuo a ser… a tua menina!
Felismina Costa
____________
Notas de CV:
(*) Vd. último poste de 14 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9481: Blogpoesia (177): Dia de S. Valentim - E se de repente o comércio reinventasse o Amor? (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9506: Blogpoesia (179): Os Unidos de Mampatá: Do Zé Manel Lopes (Josema) para o seu camarigo António Carvalho, hoje com 62 anos
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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10 comentários:
Vou encerrar esta máquina, Amiga Felismina.
Arrumo papelada,inverto o que ia fazer. Fico com o som abafado das palavras na leitura do poema. Lia e ia pensando em minha Mãe, que a Felismina conheceu...doze anos de partida.
Agora paro porque termino bem o dia.
Adeus minha Amiga e obrigado.T.
Amiga Felismina Costa, que lindo Poema que proporciona-nos no Dia Internacional da Mulher e sendo extensivo a todas as mães.
Toda a mulher possui uma forte dimensão maternal. Realiza esta capacidade não só gerando filhos, mas especialmente na oblatividade à família e aos outros.
O instinto pela vida faz com que tenha uma forte ligação com o mistério da vida: este é o segredo da mulher-mãe e, de modo especial, da mulher consagrada ao bem do próximo.
Com Amizade
Arménio Estorninho
Muito obrigado, Felismina.
Muito obrigado pelo prazer que tive na leitura desta bela composição, muito obrigado por me fazer lembrar da minha mãe e do campo em que cresci.
Saúdo em si todas as mulheres, com toda a admiração, veneração e carinho que me merecem.
Saúdo em si, neste 8 de março, a luta das mulheres pela sua dignidade e a sua coragem e determinação para enfrentarem as dificuldades da vida na procura de um mundo melhor.
Muito obrigado, amiga.
Um beijo
Cara Amiga Felismina
Quem pode melhor representar a mulher que a mulher-mãe. A dedicação eterna a quem saiu do seu ventre. Que belas palavras para este dia. Um beijinho para si.
Luís Dias
Cara Felismina,
que belo texto...
Um beijinho para a mulher "Felismina" neste dia especial.
Manuel Resende
Amiga Felismina! Estou maravilhado com este Hino de Amor de filha, tão luminoso e rico, que só uma Filha e Mãe maravilhosas podem e são capazes de entoar. Que rica prenda para Sua Mãe e todos nós que a temos por amiga. Um grande abraço.
Felicito-a encarecidamente. Vou recortar o seu poema e pô-lo nos meus Favoritos dos favoritos...
Um abraço amifgo
Joaquim
Felimisma: Acabei de escrever, na nossa página do Facebook, que este é o poema que qualquer mãe gostaria de receber (hoje ou em qualquer dia do ano) das mãos da sua filha... E, mais melhor ainda, de ouvir dizer da boca da sua filha... Parabéns, poeta de corpo e alma!
Amiga Felismina!
Estou deleitado com tão maravilhoso poema. Rico, luminoso e verdadeiro em todas as suas palavras inebriadas de amor pela sua Mãe...Felicito-a encarecidamente.
Um abraço
Joaquim
Meus caros amigos
Emocionada, mas muito feliz, agradeço sinceramente as palavras com que brindam a minha expressão escrita, os amigos e leitores deste espaço, ao tamanho da nossa Tabanca.
Agradeço a todos os homens, que com a sua boa vontade, promovem uma vida, de exemplos a seguir, pelas gerações vindouras, dando ao mundo gente válida, criada nos valores e princípios, que enaltecem todo o ser humano.
O meu abraço fraterno de gratidão e admiração, para todos vós.
Felismina
Minha querida amiga
Só agora li e reli o seu emocionante poema. Abençoada mãe que teve e educou uma filha assim! Esteja onde estiver, a sua querida mãe está orgulhosa da filha que tem, e pode crer que é ela que lhe está a dar forças para revelar o talento e a grandiosidade humana que há em si. Como filha, como mulher, como mãe, a Felismina não teria sido a pessoa que é se não tivesse tido a mãe que teve.
Um grande beijinho.
Maria Teresa Parreira
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