Mais um trabalho documental do nosso tertuliano (Tabanqueiro 530) Luís Gonçalves Vaz, desta vez uma Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.
ANÁLISE DA SITUAÇÃO DO INIMIGO
PARTE I
Reunião de Comandos, em 15 de Maio de 1973, “alguns excertos da comunicação do Chefe da Repartição de Informações”, Tenente-coronel Artur Batista Mourão (Chefe 1ª Rep.)
“Em 15 de Maio de 1973, pelas 10H30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos respectivamente, Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné, Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné, Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné …”
General Comandante-Chefe, General António de Spínola
“… Dou a palavra ao Chefe da Repartição de Informações. …”
“… A Situação no TO, analisada à luz da evolução do IN e do seu potencial, e processos de acção, sofreu, em especial nestes últimos dois meses, um substancial agravamento de resto já oportunamente previsto face às informações processadas, e que se traduz em Franca subida de grau no desenvolvimento em escalada da sua manobra Político-militar, constituindo o tempo inicial de uma nova fase do conflito: o empenhamento na passagem para acções do tipo convencional, embora ainda isoladas, visando objectivos limitados, e não integrados em qualquer plano de ofensiva geral em moldes clássicos, só próprio, aliás, de uma ulterior e última fase …”
Anexo à Ata da Reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973
Lancha torpedeira do tipo P6 - Deslocamento: 75 toneladas; Dimensões (em metros): 25.7 x 6.1 x 1.8; Armamento: dois tubos lança-torpedos de 533mm e dois reparos duplos de 25mm: Propulsão: quatro motores diesel accionando quatro hélices, totalizando 4800 CV; Velocidade: 43 nós; Autonomia: 450 milhas náuticas a 30 nós; Tripulantes: 25.
“… Para completar o quadro da evolução do potencial material do IN, resta acrescentar, no que se refere a Meios Aéreos, que o PAIGC dispõe já de 4 aviões ligeiros e aguarda o fornecimento de mais 6 de tipo não revelado, contando já com 28 pilotos; e no que se refere a Meios Navais, a posse de três Vedetas Rápidas do tipo P-6, de origem Soviética. …. “
“…A recente chegada de 6 pilotos estrangeiros (Líbios e Argelinos) à Rep. Guiné para substituírem, nos MIG-15 e MIG-17, os pilotos guineanos cuja imperícia se revelou em alguns acidentes.
Mig 15 e Mig 17 (fotografia retirada de: http://www.fairchild24.com/fighters.htm)
Soldados russos embarcando um Mil Mi-8 versão de transporte-armado durante a Guerra do Afeganistão. Esse helicóptero representou para os russos na guerra do Afeganistão, a mesma importância que os Bell UH-1 Huey representaram pros EUA durante o conflito no Vietnam. A diferença é que os Mi-8 são maiores, consequentemente levam maior quantidade de tropa e carga, e são bimotores. (Foto: Vaul)
A chegada à Rep. Guiné de 2 Helicópteros MI-8 Em fins de Abril.
A promessa da Rep. Guiné ceder uma pista ao PAIGC para manobra dos seus aviões.
…………….
POSSIBILIDADE DO INIMIGO E PROVÁVEL EVOLUÇÃO DA SITUAÇÃO
“…Face aos elementos analisados, em especial tendo em atenção as acções que o IN, bem como os países que mais directamente o apoiam, têm capacidade e intenção de realizar, concluiu-se neste estudo pelo agravamento progressivo e rápido de uma situação cuja súbita deterioração recente parece não deixar margem para dúvidas quanto à sua perspectivação no futuro próximo e imediato. Assim julga-se que o IN, no imediato, e tirando partido do impacto nas NF (nossas forças) das limitações sofridas, bem como da alta moralização que daí naturalmente advém para os seus combatentes, procurará:
- intensificar a acção antiaérea, procurando obter a todo o custo novos sucessos e adaptando …..
- incrementar a acção de guerrilha à luz de uma mais directa agressividade, especialmente dirigida contra as guarnições agora mais dependentes do reabastecimento por via terrestre, em especial por emboscadas contra colunas auto e apeadas, conjugadas com ou não com ataques a aquartelamentos;
- massificar as acções contra povoações com guarnição militar em ordem a obter sucessos militares politicamente exploráveis e dissociar a adesão das populações pela prova de força em acção frontal contra a protecção conferida pelas NT, tirando assim partido dos novos meios e processos de acção.
Esta actividade incidirá, mais provavelmente, nas guarnições de fronteira em especial nas mais vulneráveis às acções com carros de combate, pelo que se consideram áreas de preocupação:
- o eixo NOVA LAMEGO-BURUNTUMA e em especial a guarnição de BURUNTUMA, particularmente ameaçada:
- a região de ALDEIA FORMOSA e, e em especial, as guarnições de GADAMAEL e GUILEJE, expostas a uma acção de carros de irradiando da Rep Guiné;
- a fronteira Norte da Zona Oeste, com particular incidência para a faixa tradicional de infiltração (GUIDAGE/BIGENE/FARIM/CUNTIMA).
……”
Chefe da Repartição de Informações, Tenente-coronel Artur Batista Mourão. In: Anexo “A” À Ata da Reunião de Comandos, de 15 de Maio de 1973
Base de Cumbamori no Senegal
Fonte da foto: livro "Guerra Colonial", Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes
Como sabem, neste mesmo mês (Maio de 73), Guidage ao Norte e Guileje ao sul, foram as duas pontas da tenaz da Operação Amílcar Cabral, lançada pelo PAIGC, e de que já escrevi neste nosso Blog. A queda de Guilege a 22/05/1973, na sequência da operação "Amilcar Cabral", é de facto “previsível” na análise da reunião de Comandos de 15/05/73, pois nela se debateram o crescente poderio do PAIGC nas zonas de fronteira. Como tal, fica aqui a questão, “qual a razão do Comando-chefe da altura, o mesmo que cerca de 10 dias antes, soube das verdadeiras intenções/potencial do In e não fez nada (a Sul) para evitar que “a ponta da tenaz da Operação Amilcar Cabral, lançada pelo PAIGC, não tivesse êxito a Sul? Falta de Efectivos de Reserva? Falta de Tropa especial? Ou subestimou-se mesmo o “potencial do PAIGC”? ou outro motivo? …. De facto o Comando-chefe, “investiu a Norte, na Operação Ametista Real”, realizada para "libertar" Guidaje, a norte, com um batalhão de comandos, tendo as NT sofrido nessa operação, 10 mortos, 22 feridos graves e 3 desaparecidos. É bom relembrar, que no primeiro trimestre de 1973 as NT tiveram 135 mortos, enquanto em igual período em 1972, tinham tido apenas 48.
Em Suma, e como o Comandante-Chefe (general António de Spínola) afirmou nesse longínquo dia 15 de Maio de 1973, nessa mesma reunião de Comandos; “…encontramo-nos, indiscutivelmente, na entrada de um novo patamar da guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios …”
Ao contrário do que se possa pensar, os serviços de informação militares, funcionavam e pelos vistos com um grande grau de previsão…. Tínhamos mesmo agentes no terreno …
Estes registos que aqui apresento, foram extraídos de um Documento “MUITO SECRETO”, já “DESCLASSIFICADO”, Ata da Reunião de Comandos, de 15 de Maio de 1973.
Anexo à Ata da Reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973
Comunicação nesta reunião de Comandos, do Chefe da Repartição de Informações…
Luís Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530)
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 21 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9634: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (6): Os Oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM) no TO da Guiné em 1973/74 (Luís Gonçalves Vaz)
Vd. último poste da série de
30 comentários:
...e se este tipo de infos tivessem sido actos 'preparatórios' do 25 d'Abril?
SNogueira
Finalmente aqui está o relatório de previsões e suposições e muitos se.
Li e reli com toda a atenção.
Então se previam ataques a Buruntuma Guilege e Gadamael inclusivé com carros de combate (sic), porque é que essas guarnições não foram reforçadas.
Falam em duros combates com forças não africanas,mas não se especifica nada em concreto,seriam supostamente russos e argelinos porque não foram identificados !!!
Relembro que aqui já foi dito que um relatório enviado de Bedanda dizia que estavam russos em Kandiafara !!!
Quando, durante as conversações com o paigc,fomos visitados por uma comissão do MFA em Gadamael,um Major disse que estava previsto pelo E.M. do Q.G. o abandono puro e simples à nossa sorte.
Na altura entendi isso como mera propaganda..
Depois de ler este relatório, confesso que provavelmente seria verdade..
Seria que Guilege já tinha o destino traçado, assim como Gadamael.
A SER VERDADE QUE HOUVE UMA INTENÇÃO DELIBERADA PARA QUE TAL ACONTECESSE...ISSO TEM UM NOME E É ALTA TRAIÇÃO.
A CONFIRMAR-SE TAL, TERÁ QUE SE REESCREVER A HISTÓRIA.
Confesso que não acredito,mas que estou com muitas dúvidas,estou.
C.Martins
PS
Quando Marcelo Caetano disse que se podia perder a Guiné...MAS COM HONRA
Quando Spínola disse que a Guiné não tinha solução militar ( e era verdade)
Seria que houve intenção premeditada para...???
Seria que houve uma intenção de contra-informação para apresentar um quadro mais grave do que na verdade existia..
Felizmente as previsões não se confirmaram..eu e muitos dos camaradas que lá estávamos provavelmente estaríamos mortos.
C.Martins
Faço minhas as últimas palavras do C. Martins:
"Felizmente as previsões não se confirmaram. Eu e muitos dos camaradas que lá estávamos provavelmente estaríamos mortos."
Eu, e mais 40.000 homens, Forças Armadas Portuguesas, estávamos lá. Voltámos vivos. Este é um relatório de previsões
não confirmadas, assinado por um tenente coronel que nunca vi no mato, o que não quer dizer que não tenha saído duas ou três vezes de Bissau.
Tem o valor que tem um relatório de previsões não confirmadas.
Ou seja, em termos da nossa verdadeira História, quase zero.
Não vale a pena dar mais para o peditório do costume.
Abraço,
António Graça de Abreu
Já aqui o disse
Vou repetir
Nunca nenhuma das informações enviadas pelo Q.G. para Gadamael se confirmou.
Um dia Março 74 recebemos uma informação que iríamos ser atacados por UM BATALHÃO DE CUBANOS..!!!
Montamos um dispositivo para os receber... e felizmente..nada.
Todas as propostas de acções ofensivas enviadas ao Q.G. foram liminarmente recusadas..
Cada um que tire as ilações que quiser.
C.Martins
Depois de ler este relatório fiquei estupefacto pelo suposto conhecimento do que iria acontecer e como o Carlos Martins já sublinhou ªnada foi feito para reforçar e defender as posições em questãoª. Traição é a palavra certa para definir este comportamento das altas patentes militares. Devo confessar que não tenho sido grande fan do abandono de Quileje mas baseado nesta informação acho que foi uma atitude correcta pois a intenção do Spínola parece ter sido premeditada e com a intenção de mostrar a Lisboa que o que ele dizia era verdade. Fomos carne para canhão disso não há dúvida.
Durante o meu tempo em Gadamael sempre achei estranho que com a quantidade de tropas ali instaladas havia pouca ou quase nenhuma actividade ofensiva da nossa parte e limitavamo-nos as simples patrulhas à volta do aquartelamento e a umas raras emboscada em trilhos com poucas possibilidades de encontro o que era do meu agrado na altura mas hoje reconheço que algo estava errado nesta táctica de querra de guerrilhas especialmente quando um documento como este vem à baila.
O que aconteceu em Guileje e Gadamael sem conhecimento prévio do nosso comando é uma coisa mas com o conhecimento e sem acção de defesa e com a desculpa oficial de que fomos surpreendidos pelo inimigo é traição pura e simples.
Jose Gonçalves
Camaradas Gadamaelenses:
Quando recentemente apresentei a "Evolução da Situação Militar na Fronteira Sul", análise apoiada em factos e documentos credíveis, verifiquei que,por amor à contro-vérsia ou vício do contraditório, houve quem discordasse dos documentos citados. Agora, perante esses documentos, ficam-se pela dúvida! Já não é mau!...
Quero sublinhar, a propósito que o C. Martins dedicou parte da noite a debater as "enormidades" que estavam relatadas na Ata da R. de Comandos de 15/MAI/73. Perda desnecessária, porque, na altura, lá estavam os "seus" 3 Obuses para apoio de fogos, os 5 Canhões S/R 5,7 e as 3 Metr. Pesadas para deter o IN. Só faltavam os meios antiaéreos contra os MIG´s do PAIGC. E os Mort/81 ?! Um Abraço
Manuel Vaz
Camarada C. Martins:
Pela minha parte, gostaria de saber, com certeza, quantos eram os MorT/81 em 73/74, o que pesquiso
já há algum tempo e consequentemen-te concluir se o Pel.de Mort/81 de que por vezes falas, tinha razão de
existir. No início de 73 estava referenciado em Gadamael apenas 1 Mort/81 e, sendo assim, não se justificava a presença de um Pel.
Estou a concluir um trablho para o qual preciso de saber o número de Motr/81 e a Lógica presença de um Pelotão. Agradecia que tu ou quem souber me esclareça, indicando, se possível, a data da chegada. Obrigado e um abraço.
Manuel Vaz
Caros Tertulianos. com duvidas ou não:
Isto é uma pequena amostra do vão saber! Mas tenho de ter tempo, pois vou digitalizando, por comunicações, este foi o 1º, pois o General Spinola deu-lhe a palavra em 1º lugar... mas este relatório no total será perto das 80 páginas. Mas adianto já, a título de exemplo; Entre os muitos pedidos, em 17 de Maio de 73, o brigadeiro comdt do CTIG, Banazol, "...Complemento urgentíssimo dos Quadros Orgânicos do Hospital Militar de Bissau e da cobertura sanitária, em médicos ... Envio imediato ao CTIG, de mais 200 Urnas e 130 Caixões ..."
Noutra apresentação sobre o "nosso potencial de fogo", a Comandante-adjunto Brigadeiro Leitão Marques;
"...Como termo de comparação, basta dizer que um bigrupo IN com 38 combatentes possue um conjunto de lança-granadas e de metralhadoras ligeiras análogo ao total das nossas CCaç, com a vantagem de qualitativamente as suas armas serem superiores às nossas ... Tem de se encarar também a necessidade de defesa AA das unidades de combate em operações e dos respectivos estacionamentos, pela utilização dum foguete terra-Ar tipo "Redeye" (idêntico ao Strela utilizado pelo IN)contra ataques de aviões a baixa altitude ... as nossas deficiências têm sido periodicamente apontadas ..."
E por agora fico por aqui, espero em breve fazer mais um post, sobre as "Conclusões desta Reunião de Altos Comandos" em 15 de Maio de 1973.
Abraço
Luís Gonçalves Vaz
Caros camaradas em geral
Manuel Vaz e José Gonçalves
A constituição das forças em Gadamael em Jan/74 era a seguinte:
3 Companhias,sendo uma de recrutamento local (ccaç 20)comandada pelo capitão Saiegh,tinha muitos elementos oriundos dos comandos africanos,lembro-me em particular do 1.º sarg. Fodé.
1 pelotão de morteiros 81,com 3 morteiros.
1 pelotão canhões S/R com 5 canhões.
2 pelotões de milícias.
1 pelart a 3 obuses 14 com a dotação de 52 homens.
Tínhamos vários campos de minas em redor do aquartelamento em pontos sensíveis.
A seguir ao arame farpado em frente dos obuses tínhamos um campo de minas de esferas com comando eléctrico.
Os postos de sentinela alguns eram "bunkers" com metralhadoras pesadas browning.
Caro José Gonçalves,vocês em várias ocasiões passaram por emboscadas do paigc, só que tiveram receio de vos atacar devido ao número e à forma como iam armados,pensavam que eram comandos..confirmação feita por eles durante as conversações.
Que me lembre entre Janeiro e Abril de 74 não houve nenhuma emboscada.
Só me lembro de um dia regressarem mais cedo por que um furriel foi atingido num olho por uma cuspideira..o desgraçado berrava com dores.
Já agora o único sítio por onde podiam atacar com carros de combate seria entrando pela pista..teriam uma recepção calorosa da nossa parte..as bazucas podiam então funcionar em pleno..não falando que nunca seria uma surpresa porque muito antes de lá chegarem iriam denunciar-se pelo barulho..a não ser que tivessem carros de combate silenciosos..já agora.
Sabendo-se que só após os acontecimentos de maio/junho de 73 é que foi reforçado Gadamael..
Pergunta-se porque é que não foi feito antes..sabendo-se pelo relatório agora divulgado que já era previsível pelos altos comandos.
Estou incrédulo, e não consigo aceitar muito menos compreender que tivesse sido intencional.
Porque é que quando o Sr. Coronel Coutinho e Lima se deslocou a Bissau ,teve como única resposta a ordem de aguentar a todo o custo.. e não se reforçou Guilege e Gadamael..porquê ? porquê ?
NÃO ,NÃO ERA PARA GANHAR GUERRA NENHUMA, ERA APENAS PARA SALVA-GUARDA DE VIDAS HUMANAS.
Confesso que estou muito confuso.
Recuso-me a acreditar que foi deliberado.
C.Martins
Camaradas,
Mais uma peça magnifica tornada pública pelo Luís Vaz. Esta parte do relatório, como os anteriores já publicados, não pode ser desprezada. Se aquele primeiramente publicado, com data posterior ao 25 de Abril poderia levantar suspeitas de ter sido composto para justificar o golpe, este, ao contrário, parece reflectir o medo da estrutura do ComChefe em 1973, apesar de, certamente, estar baseado em sortilégios de contra-informação e especulação política e militar.
Em poucas partes:
1 - Não me consta que as lanchas referidas tenham estado ao serviço do PAIGC depois da independência, o que compromete a notícia;
2 - Os aviões referidos, provavelmente, não seriam de combate, apesar da eventualidade de a URSS ou a China os poderem fornecer. No entanto, a sua utilização contra Portugal, obrigaria as nossas autoridades à destruição de pistas na G.Conakry, e provocaria a internacionalização da guerra. Estávamos em plena guerra-fria, é bom recordar;
3 - É verdade que a OUA poderia gerar movimentos de solidariedade, políticos, económicos, sociais e bélicos, mas, tendo em conta o equilibrio entre os blocos de leste e ocidental, não seria nada provável que alguma potência patrocinasse tamanhos dislates. Uma coisa seria um pelotão de cubanos a penetrar no N Território; outra seria a invasão por terra, ar e mar;
4 - Sobre os carros de combate (quantos seriam ao certo e como manobrariam para atacar as nossas posições?), sabe-se já que existiram, e poderiam actuar com alguma facilidade nas regiões fronteiriças. Sobretudo de noite, porque de dia a FA poderia ter uma palavra a dizer, apesar dos strella;
5 - A FA continuou a bombardear, de mais alto, a coberto do alcance dos mísseis, e com resultados muito duvidosos, face às actividades prosseguidas pelo IN. Havia uma restrição séria à sua actividade, e o relatório dá conta disso.
Este relatório, se associado às ocorrências, primeiro em Guilege (com as particularidades amplamente conhecidas, e as informações divulgadas por C.Lima), depois em Guidage e Gadamael, e ainda a especulação sobre Cumbamory, atesta o nível de incompetência das Repartições em Bissau, o atraso e falta de sistematização do ComChefe na tomada de conhecimentos sobre o IN, e na tomada de medidas militares preventivas e objectivas. Foi notória a incapacidade da PIDE na obtenção e tratamento de informações.
Por outro lado, o relatório também traz à luz a inépcia do governo para lidar com a guerra. Seria por isso que Spínola discursou "os traidores estão na rectaguarda"? E com que fundamentos? Infelizmente, não é hábito dos portugueses escreverem sobre as medidas que impendem sobre a nação.
Por último, parece que, por azar nosso, os historiadores não tiram outras ilações, para além de que o relatório tenha sido assinado por um oficial que nunca viram no mato e, por isso, não vale nada. Mas em verdade, também não revelam para a história, as estratégias, as táticas, as políticas sociais, económicas, administrativas e de gestão do pessoal dos comandos onde prestaram serviço de elevado mérito, apesar de também não terem tido a função de sair para o mato, nem terem assistido a "briefings" sobre acções militares, de ataque como de defesa,ou de implementação de medidas que se insiram nas vertentes acima referidas, o que deixa a ideia muito plausível de que, na Guiné, tenham andado ao papel. Mas não se coibem de dizer com ubiquidade que estiveram lá.
Abraços fraternos
JD
Haveremos de agradecer a Luís Gonçalves Vaz, o seu trabalho, a sua partilha documental e a sua paciência.
No entanto, o veterano SNogueira, logo de início nesta caixa de comentários, já levantou suficientemente o véu, mas insiste-se em dar crédito a "relatórios" produzidos em circunstâncias demasiado nebulosas; e como se não bastasse, ilustra-se a evidente manipulação "informativa", existente naquele "relatório", com umas fotos de material-de-guerra que o IN nunca deteve e jamais iria ter à disposição.
Quanto às elocubrações de Artur Baptista Beirão, se aquilo eram "informações fiáveis", vou ali e venho mais logo.
Este "relatório" é de há muito conhecido.
Aliás, aquilo constituiu o acabado exemplo de uma das fabricações da entourage spinolista, produzida esta em plena pressão IN sobre a fronteira norte-centro, no momento em que o CCFAG já estava de candeias às avessas com o caetanismo e também nas vésperas de o CEMGFA se deslocar àquele TO, em visita de inspecção...
Note-se, igualmente que, menos de 72 horas decorridas sobre a "data do relatório", estava pronta a planificação da Op Ametista Real, cujos desastrosos resultados para IN, são nossos basto conhecidos e por de mais comentados... e documentados.
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Estou convencido de que Spínola, e alguns dos seus homens, pós Strela, pintaram a situação militar na Guiné pior do que ela era, na realidade.
Spínola percebeu finalmente que não podia haver uma vitória militar e quis forçar Marcelo Caetano a tomar decisões. Ou negociar com o PAIGC, ou reforçar a Guiné com mais homens e meios para se aguentar a situação durante mais uns anos, até chegar o tempo da inevitável solução política. Marcelo fez-se desentendido,
Spínola demitiu-se.
Estou convencido de que estes relatórios de previsões irrealistas (o continuar da guerra até Abril de 1974 prova isso mesmo!)terão de ser lidos e entendidos no âmbito da estratégia de Spínola na época, que tinha também, por exemplo,
o objectivo de substituir Américo Tomás como Presidente da República nas eleições de 1973.
Apesar do todo o sangue na guelra e nas artérias do Luís Gonçalves Vaz que parece ter descoberto agora o que ninguém sabia, acho que não devemos ser ingénuos.
O coronel Manuel Amaro Bernardo tem para sair um livro exactamente sobre o relacionamento entre Spínola e Marcelo Caetano.
Creio ser de leitura obrigatória.
Abraço,
António Graça de Abreu
Camaradas
Não creio que o Gen. tenha convocado uma reunião deste tipo para emitir um "papel" para assustar Lisboa. Lisboa estava já suficientemente acagaçada e sem acção para fazer o que quer que fosse. Este papel é autêntico, isto é, tudo o que nele se diz corresponde à opinião dos participantes, em face dos elementos de análise de que dispunham. Nesta altura eu estava em Mansabá e, em face do que via e sabia, lembrava-me da maneira ignóbil como tudo tinha acabado na Índia. O Marcelo, no seu depoimento, afirma que a solução seria a mesma ou próxima (pensava ele). Contudo, tinham passado 12 anos e de outro lado não havia um exército "britânico" e disciplinado, mas sim guerrilheiros cujo comportamento ficou à vista na tal de Rn de Cacine de JUN74. As hipóteses levantadas pelo oficial de informações são-no sempre em forma de "ses", pois de outra forma eram certezas e havia que fazer-lhes frente. Os alérgicos aos "ses" têm que aceitar isto. Porém a verosimilhança das informações era grande e não havia muitos meios para lhes fazer frente. Numa primeira fase estas acções não se verificariam em simultâneo, mas qualquer delas poderia suceder, com maior ou menor possibilidade de êxito.
Fica assim provado que "mais dez minutos de jogo e a gente ganhava aquilo".
Quer queiramos, quer não o 25ABR foi essencial para se evitar o descalabro que esta acta prevê.
Um Ab.
Caro amigo Graça de Abreu,
Acabo de ler este s/comment, ao qual com sua licença me atrevo aos seguintes alvitres:
- quantos aos primeiros páragrafos, involuntariamente reforça o que imediatamente antes deixei à apreciação dos leitores desta caixa de comentários;
- quanto a colocar Spínola em Belém, o staff do homem iniciou preparativos em 1971, para 1972 (e não 1973, como escreveu), sendo que o desaguisado caetanista-spinolista começou precisamente aí, quando a ANP (ex-UN) deu o dito por não dito (seja, Thomaz mantinha-se em Belém);
- quanto ao livro de Manuel Bernardo, já vai na 3ª edição - que não contém quaisquer novidades relativamente às precedentes -, sendo que a 1ª (resultante da tese de licenciatura), foi dada à estampa por ocasião da efeméride dos "20 anos do 25A".
Abraço,
Abreu dos Santos
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É só para recordar, palavras de Marcelo Caetano:
“Em meados de 1973, a situação militar podia considerar-se satisfatória. (…) Pus ao General Costa Gomes que recentemente visitara a Guiné, inspeccionara as tropas e acertara os dispositivos a adoptar, a seguinte questão:
-- A Guiné é defensável e deve ser defendida? Se sim, vamos escolher o melhor general (em substituição de António de Spínola) disponível para a governar, vamos fazer o esforço de lá manter os homens necessários e de procurar dotá-los do material necessário. Se não, prepararemos a retirada progressiva das tropas para não prolongar um sacrifício inútil, designando um oficial-general, possivelmente um brigadeiro, para liquidar a nossa presença.
A resposta do General Costa Gomes foi categórica:
-- No estado actual, a Guiné é defensável e deve ser defendida.” Marcello Caetano, em Depoimento, Rio de Janeiro, Ed. Record, 1974, pag.180.
Abraço,
António Graça de Abreu
Carlos obrigado pela explicação que nos deste e a confirmação que a CCaç 20 era comandada pelo capitâo Saiegh.
Eu só tenho um comentário acerca da defesa da pista com a ajuda das bazucas. A minha experiência foi que as roquetes de bazuca distribuidos pelas diferentes áreas estavam estragados e não funcionavam bem. Assim foi a minha experiência quando os testei devido ao seu aspecto e a minha dúvida sobre os mesmos. Quando comuniquei isto ao comando disseram-me que era o que havia. Naquela situação o meu operador de bazuca recusava-se a usar os mesmos pois apanhou um "cagaço" durante o teste e quase atirou a bazuca para o chão não fossem os meus gritos para que o não fizesse
José Gonçalves
Caro camarada José Gonçalves
Antes de mais não sou Carlos, mas isso não interessa nada.
Lembro-me de ti mais os teus bigodes,assim como da tal experiência com a bazuca no cais.
Nem todas estavam estragadas.
As da cavalaria lá em cima funcionavam bem
Salvo erro em Fevereiro houve fornecimento de "instalaza" com experiências de tiro junto ao cais.
Com o obus junto ao abrigo das transmissões,podia enquadrar a pista..fiz essa experiência..num ângulo de 5 graus...mesmo que a granada não explodisse..imagina o que é uma ameixa de 45 kg a viajar a 640 m /s...se acertasse..bem provavelmente o dito cujo carro de combate iria parar à Cavalaria.
Recordo que a granada armava a espoleta devido à força centrifuga do movimento de rotação.
Fiz ainda outras experiências, como o cálculo de ângulo de tiro para a copa das árvores da mata em frente aos obuses e ainda para o outro lado do rio do cais.
Estava tudo previamente calculado...não seriamos apanhados com as calças na mão..nem voltariam a ter observadores avançados..seriam enfiados por tiro directo.Claro que podia rebentar com os hidráulicos..mas olha..nas tintas..acima de tudo estava a nossa sobrevivência..
Um alfa bravo
C.Martins
... às 19:07 de ontem, apesar de no momento não ter acesso ao m/arquivo informático, deixei aqui afirmado – por bem conhecer desde há muito, entre outros factos relacionados com a Guerra do Ultramar (1954-1975), alguns pormenores da verdadeira história do "Relatório" aqui dado à estampa –, que aquele se tratou de uma fabricação, pois que encomendado pelo "vice-rei da Guiné" a um dos membros da sua coorte, com um preciso objectivo (então) inconfessável e nunca confessado.
Pode, e deve, Luís Gonçalves Vaz presentear-nos com os 'fac-simile' que melhor entenda, no sentido de tentar validar uma sua particular percepção paisana do desempenho profissional do Senhor seu Pai, na Guiné-do-fim. Honra lhe seja. Todos os descendentes de veteranos assim procedessem, estaríamos melhor.
No entanto, manda a verdade histórica que se não iluda a realidade factual, com catrefas de documentos então produzidos com base em insinuantes e manipuladoras conjecturas, para mais elaboradas com destino a ser presentes em um 'briefing' do estado-maior do CCFAG, convocado e presidido pelo próprio, sendo certo que qualquer um que tenha de perto conhecido aquele Chefe, se recordará da necessidade de (lhe) "abanar as orelhas", se não...
A quem interessar possa e para que não restem quaisquer dúvidas, sobre a sustentabilidade da minha afirmação de que tal "Relatório" não é – de modo algum – "inédito" (seja, até agora não conhecido), quer quanto ao enquadramento temporal e propósitos da citada reunião, convocada pelo CCFAG general Spínola, reafirmo a m/percepção de fabricação – seja, do tendencioso conteúdo daquela espécie-de "PerIntRep" –, e passo a reproduzir, nas partes que interessam, um extracto da "Outra História" (epígrafe genérica de um trabalho de investigação, de longo fôlego e minha exclusiva minha lavra), ao qual desde há uma década a esta parte pouco acrescentei quanto a matéria de facto oriunda de fontes credíveis. Designadamente, no que respeita ao teatro-de-operações e período em apreço (Guiné 1973), praticamente nada de novo veio a lume e/ou obtive directamente de fontes primárias, que me tenha levado a alterar quanto segue, 'ipsis verbis':
[1/2 - continua ... ]
[2/2 - ... continuação ]
-- «m/quote» --
1973 - Maio.15 (3ªfeira)
Em Cabul, o PM e MNE Shafiq encerra a reunião do comité permanente especial dos Não-Alinhados, cujo porta-voz confirma para a 1a semana de Setembro a realização da IV Cimeira em Argel.
[...]
Entretanto no forte de São José da Amura em Bissau, o general Spínola reúne o seu 'staff' e elabora um extenso relatório, onde salienta a «gravidade da situação» militar, porque as suas tropas «se encontram em presença de ponderosas determinantes que projectam a solução do problema para o campo estritamente militar, onde se impõe tomar decisões de fundo e assumir as correspondentes responsabilidades»:
– «O aparecimento dos mísseis marcara, indiscutivelmente, o limiar de uma nova fase da guerra, o que, além de implicar alteração da técnica operacional, reclama uma reavaliação dos potenciais relativos às forças em presença, com vista à definição urgente dos meios indispensáveis à defesa das populações. Desta nova situação resulta a elaboração de um conjunto de pareceres e propostas, enviado a coberto de um ofício ao CEMGFA [e comandante-geral da Segurança Interna] general Costa Gomes, em que se referem três alternativas: redução da área a defender, com vista à economia de forças; conservação do actual dispositivo sem qualquer reforço, à luz de um espírito de defesa a todo o custo; reforço do teatro-de-operações em meios, em ordem a manter a superioridade sobre o IN no quadro da manobra actual, incluindo nesse reforço a antecipação imperativa à evolução futura do potencial IN e à intervenção directa externa.»²
Encerrada a citada reunião no QG, o general Spínola avalia as 3 alternativas acima discriminadas e conclui que apenas a última permite o cumprimento da missão das Forças Armadas, solicitando por carta enviada ao CEMGFA e comandante-geral da Segurança Interna general Costa Gomes, que se desloque com urgência à Guiné onde, de acordo com alguns oficiais mais "progressistas" do 'staff' spinolista, o CTIG dispõe apenas de 1 batalhão de intervenção para actuação rápida e eficaz em todo o território, ao mesmo tempo que o PAIGC – reequipado com lança-rockets RPG-2 e RPG-7, morteiros 82mm e minas anticarro e antipessoal –, desenvolve ataques concertados no intuito de criar uma linha divisória para isolar Bissau: pelo norte-centro, saindo da sua base recuada senegalesa de Cumbamorie, junto à auto-estrada do Casamance, de onde lançou sobre o aquartelamento de Guidaje a sua Operação Nô Pintcha com sucessivas flagelações e assaltos com bigrupos, a fim de manter aberta uma infiltrante para as matas do Óio-Morés; e pelo sudoeste, nas suas bases recuadas guineanas de Sansalé e Candjafara. Caso as guarnições fronteiriças de Guidaje no norte-centro e de Guileje no sul-centro caiam em seu poder, o PAIGC pensa ser capaz de controlar as áreas norte, sul e leste do território, lançando consecutivamente um ataque geral em tenaz sobre Bissau.
– «A situação na Guiné volta a ser tema [sobre o general Spínola, para o Proc.947/73 recém-aberto pelo chefe da delegação da DGS-Coimbra inspector Armindo Ferreira da Silva], de um relatório de um agente de Lajeosa [concelho de Oliveira do Hospital]. O objecto em causa é a "propaganda verbal" feita junto dos "seus acólitos" de Viseu, pelo advogado João [Alfredo Félix] Vieira de Lima (futuro deputado do PS [em Jun75-Jun76, secretário da Emigração em 28Jul76-09Dez77] e [em 23Jan-28Jul78] secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros [e Emigração]). Regressado da Guiné e apontado como "comunista", este cidadão terá sustentado que o território "está quase na totalidade, na posse do PAIGC", e que "o general Spínola está cheio de comandar tal Província".»³
² (Spínola, in "País sem Rumo" pp.53-57, reportando-se ao citado briefing); ³ (Vegar, in "Os generais e a PIDE", Expresso 25Abr97)
-- «m/unquote» --
Melhores cumprimentos,
J.C. Abreu dos Santos
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Isto é tudo muito importante. Ainda bem que sei pouco e que estou sempre a aprender.
Fui ao "País sem Rumo", do general Spínola ler as pags. referentes a este período. E li, quando da visita do general Costa Gomes, em Junho, creio. de 1973:
Eis as palavras de Spínola, na pag. 60:
"Nos briefings diários, o general Costa Gomes aproveitava todas as oportunidades para aconselhar a retirada imediata das guarnições de fronteira.(...)
Hoje, analisadas as opiniões e conselhos do general Costa Gomes
à luz do seu ulterior comportamento no processo de descolonização, resultam à evidência os seus verdadeiros objectivos (...)que no fundo se integravam numa maquiavélica manobra política mais tarde claramente revelada."
E mais adiante, continua Spínola a dizer, pag. 62:
"Entretanto, perante o insucesso da sua ofensiva e a limitação imposta pela impracticabilidade do terreno na época das chuvas, o PAIGC interrompeu a sua actividade operacional e a Província entrou num período de relativa acalmia."
Aqui Spínola reconhece a verdade, a verdade da nossa História na Guiné, o "insucesso da ofensiva" do PAIGC pós Srela, pós Guileje e Guidage, e diz, e bem que "a Província entrou num período de relativa acalmia."
"Relativa", com certeza, aquilo era mesmo uma guerra.
Abraço,
António Graça de Abreu
Volto à carga
Sem querer ofender ninguém este relatório é uma mistificação.
Nunca houve russos ou argelinos a combater com o Paigc.
Cubanos e também Malianos, sim sim do Mali,alguns foram capturados pelos Páras, e eram mercenários.
Como é que sei..ora foi-me confirmado pelos próprios guerrilheiros e pela minha fonte.
Se alguma vez tal tivesse acontecido, não seria segredo nenhum, imediatamente se saberia..até pela boateira crónica na messe do Q.G...mas nunca "óvi fálárrr".
Os russos apenas estavam interessados em vender armamento ao Paigc e depois da independência em limpar tudo na plataforma continental..o que conseguiram com os seus pesqueiros "arrastões".
Com os russos instalados em Bissau foi fácil compará-los com o "colon tuga"..nós fomos uns meninos de coro.
Muito mais tinha para dizer, mas como a finalidade deste blog não é sobre este tema, fico-me por aqui.
C.Martins
Precioso documento, meu caro Luis Vaz !
"Thank's" por partilha-lo !!!
Nelson Herbert
... cito:
- «o Comando-chefe, "investiu a Norte, na Operação Ametista Real", realizada para "libertar" Guidaje, a norte, com um batalhão de comandos, tendo as NT sofrido nessa operação, 10 mortos, 22 feridos graves e 3 desaparecidos. É bom [?!] relembrar, que no primeiro trimestre de 1973 as NT tiveram 135 mortos, enquanto em igual período em 1972, tinham tido apenas 48.»; (LGV, em jeito de enquadramento ao doc reproduzido neste p9639, com realces da responsabilidade do co-editor).
Sendo basto n/conhecida a inquinada fonte, "reveladora da grave situação das NT no Vietnam Português", aqui vertida pelo empenhado - mas mal informado - paisano Luís Gonçalves Vaz, tal como é sabido que mentira bem propagada é verdade histórica, e que as supra citadas "estatísticas" justificantes das «crescentes dificuldades registadas naquele TO», fazem parte da história escrita por cronistas "da situação", quanto aos iniludíveis factos e no intuito de obviar a que neste blogue - seja em postais seja em comentários -, se regresse a provocatórias insinuações quanto a peremptórias afirmações por mim subscritas constituírem "generalidades não demonstradas", ou eventualmente condicionadas pelo "perfil ideológico do autor", sem grande esforço acabo de extractar (de uma m/base-de-dados) a realidade numérica e com a qual desmonto, ponto-por-ponto, não só mas também as descabeladas mentiras supra e desde há muito insistentemente repetidas em vários 'foruns' - inclusivé académicos e mesmo a nível castrense (!) -, com origem em falácias de aclamados historiadores (?) da nossa praça.
Assim, temos o seguinte:
1. - «na Operação Ametista Real [...] com um batalhão de comandos, tendo as NT sofrido nessa operação, 10 mortos, 22 feridos graves e 3 desaparecidos»:
1a. - manda o rigor documental, reafirmar, aqui, que o BCmdsAfr e forças auxiliares – num total superior a 600 homens – , sofreram 9 mortos (Armando Beta Santa, Anso Baldé, Becute Tungué, Carlos Intchama, José Vieira, Mama Samba Baldé, Mama Samba Embaló, Pedro Melna, Saliu Sané), 11 feridos graves e 23 feridos ligeiros.
2. - «no primeiro trimestre de 1973 as NT tiveram 135 mortos, enquanto em igual período em 1972, tinham tido apenas 48»: manda a verdade, reafirmar, aqui, que no TO-Guiné as nossas FA's sofreram as seguintes baixas mortais:
2a. - naquele 1º trimestre de 1973 [90 dias], estão registadas 75 (setenta e cinco) mortes, tendo sido 26 em situação de combate (sendo 3 na FAP e 2 na Armada), 22 em consequência de doença, 13 devidos a acidentes com arma-de-fogo, 7 por acidentes de viação, 4 em acidentes de natureza diversa (sendo 1 na FAP), 3 em consequência de afogamentos (sendo 1 na Armada);
2b. - naquele 1º trimestre de 1972 [91 dias], estão registadas 60 (sessenta) mortes, tendo sido 30 em situação de combate (sendo 6 da FAP e 1 da Armada), 15 em consequência de doença (sendo 1 na Armada), 6 devidos a acidentes com arma-de-fogo, 4 por acidentes de viação (sendo 1 na Armada), 3 em acidentes de natureza diversa (sendo 2 na Armada), 2 em consequência de afogamentos.
Poderia, mas não devo, referir local por local, subunidade por subunidade e nome por nome, cada um daqueles nossos camaradas-de-armas. Escuso-me a tal, porque o que aqui pretendo possa vir a ser objecto de profunda reflexão, é a óbvia manipulação – em certos meios desde há muito conhecida –, quanto à «situação no TO-Guiné em 1973»...
(nota: tudo quanto antecede, escrito antes - repito -, antes de reabrir, a esta hora, esta caixa de comentários)
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Camaradas,
Eu não quero entrar em polémicas mas acho incrédulo que na presença de documentos concretos que evidenciam o conhecimento prévio do que veio a acontecer em Guidaje, Quileje e Gadamael, haja camaradas que tentam reinterpretar estes factos como fabricação do Spínola. O que está no documento concretizou-se semanas mais tarde sem que ouve-se uma intervenção perventiva dos comandos de Bissau para evitar ou minimizar os ataques do PAIGC contra estes aquartelamentos. Isto não foi invenção, mas sim na minha opinião uma acção deliberada para provar um ponto político. É aqui que nos devemos focar "como carne para canhão" se na realidade os nossos chefes decidiram sacrificar estes aquartelamentos com fins políticos para provar a sua teoria. Na minha opinião imoral e traidora mas que faz sentido uma vez que Marcelo tinha dito que preferia perder a Guiné do que negociar a paz.
Meus caros camaradas espero que olhemos para estes documentos como informação nova e que os discutemos com diferentes perspectivas para que no fim compreender melhor a alhada em que estavamos metidos.
Um facto do meu tempo foi a informação que iriamos ser atacados por carros de combate com a participação de cubanos (que o C. Martins já referiu) e no final não fomos nós mas sim Bedanda que embrulhou com os tais carros de combate e talvez os cubanos estivessem lá. Não há dúvida que o PAIGC tinha material superior ao nosso o que eu acho é que haviam poucos quadros do PAIGC com conhecimento para o usar, mas isto era uma questão de tempo e a razão de haver quadros estrangeiros a suportar o PAIGC.
Os próximos documentos que eu gostaria de ver seriam os da reacção de lisboa sobre os acontecimentos em Guidage, Quileje e Gadamael. Talvez clarificasse as coisas.
Uma desculpa especial ao C.Martins por lhe ter chamado Carlos mas apesar de me lembrar bem de ti também (e até tenho uma foto tua) o teu primeiro nome escapa-me
José Gonçalves
Camarigo Abreu dos Santos:
Em relação ao nº de baixas em 73 versus 72, a fonte do meu texto, poderá efectivamente estar inflacionado, na realidade, pois não "cruzei" esses dados com as minhas fontes mais credíveis, a saber:
Baixas causadas pelo PAIGC nas NT (entre 1972 e 1974)
1972:
Mortos -84
Feridos -848
1973:
Mortos -185
Feridos -1173
1973
Até 30 de Abril
Mortos -33
Feridos -288
1974
Até 30 de Abril.
Mortos -81
Feridos -426
Nota: Estes dados, referem-se apenas a "mortos e feridos" das NT perante ataques do IN. Não incluem vítimas civis. Esta fonte é do relatório do Major Tito Capela do CCFAG.
Quanto diz: "... Pode, e deve, Luís Gonçalves Vaz presentear-nos com os 'fac-simile' que melhor entenda, no sentido de tentar validar uma sua particular percepção paisana do desempenho profissional do Senhor seu Pai, na Guiné-do-fim. Honra lhe seja...", gostaria de lhe dizer o seguinte:
1º) Não tenho só uma percepção "Paisana", pois tenho ainda a minha Boina preta de Cavalaria (onde cumpri como miliciano), bem com dois Louvores dados pelo actual general de Cavalaria António Barrento ......
2º) A percepção do meu falecido pai da Guerra da Guiné, não correspondia com este relatório, pelo menos cerca de ano depois...
3º) O objectivo da minha questão, trata-se de saber, qual a razão de não ter sido feita "nenhuma concentração de forças", a Sul, no "corredor e Guiledje"? até agora ninguém tentou adiantar explicação... refiro-me aos camarigos que lá estavam na altura!
4º) Viram os mapas em anexo, pelos vistos, eu não sabia, mas todas as semanas eu circulava em zona de Guerrilha... em 74 ia ao Cumeré todas as semanas, com o sargento de cavalaria da messe de oficiais buscar camarões (se calhar com o abandono dos Spinolistas, a situação melhorou)
5º) Pela reflexão que já vi até ao momento, valeu a penas apresentar mais este post!
6º)Gostaria de saber, se estão interessados em ter conhecimento do resto das Atas desta Reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973?
Grande Abraço:
Luís Gonçalves Vaz
Camaradas Gadamaelenses:
Participei, mas sobretudo acom-panhei esta discussão a quepoderia dar o título de "Metaconflito na Guiné". Nada do que parece é e para tudo há uma outra explicação. Ainda esperava,no recuar da lógica das coisas, encontrar a justifi-cação para a guerra, mas não chega-mos lá. Esta via da "explicação metafí-sica" da Guerra não me parece que conduza a uma conclusão lógica.Por este caminho e com um pouco de jeito, o PAIGC seria um aliado tácito do Gen. Spínola.
Fui residente de Gadamael durante 20 M e três dias.Fiquei a conhecer as pedras, os taludes, o recorte da floresta, os ruídos da noite e o nevoeiro das manhãs... Desde que descobri o Blogue,procuro perceber o que aconteceu e onde levaria a lógica da guerra, na Fronteira Sul e em Gadamael. Estou, por isso, mais interessado nas questões concretas. Um abraço.
Manuel Vaz
Camarada C. Martins:
Não sei se ainda estás por aí e/ou se leste o meu último Comentário. No seguimento do sentido do meu texto, agradeço a informação que anteriormente me deste sobre os Mort/81, mas que preciso de completar com a sua localização. Um deles, o de sempre, estava, junto ao mastro da bandeira, quase em frente do edifício do Comando. Faltam os outros dois. Precisava também de saber, quando é que o respetivo Pel. chegou.
Finalmente, os "teus" Obuses permaneceram sempre agrupoados, entre o Aquart. e a Tabanca, junto ao rio? Em breve saberás a razão de ser das minhas perguntas. Espero que me respondas. Um abraço.
Manuel Vaz
Caro camarada Manuel Vaz
Só posso citar de memória,por isso datas precisas não tenho.
Julgo que o pelotão de morteiros 81 foi completado em novembro ou dezembro de 73.
Um morteiro 81 estava instalado junto ao mastro da bandeira como muito bem referiste,os outros estavam instalados, um no lado poente onde estava instalada a Ccaç 20 e o outro estava ,lá em cima, na Ccav ao lado da pista.
Os obuses estavam alinhados ao longo do arame farpado do lado nascente entre o rio e o final da pista.
Estive em Gadamael em 2006,consegui ainda encontrar restos dos bidões dos espaldões dos obuses, a base do espaldão de morteiro 81 que estava junto ao mastro da Bandeira.
O antigo abrigo de transmissões estava destruído apenas se viam os bidões da base do abrigo,a pista estava ocupada por "moranças", o abrigo da enfermaria, estava rebentado.O régulo disse-me que foi o governador da região de Catió que o mandou fazer para levar o cibes.
O rio estava completamente assoreado e o cais partido.
Caro José Gonçalves gostava de entrar em contacto contigo, se quiseres podes enviar o teu e-mail para o Luis Graça ou o Carlos Vinhal que eles sabem os meus contactos.
Um grande alfa bravo
C.Martins
PT/AHM/FO/029/15/370/427
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