sexta-feira, 23 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9647: Blogoterapia (202): Louvo e peço a benção de quem vela por nós (Ana Paula Ferreira, filha do ex-1º cabo Fernando Ferreira, o cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66)

1. Mensagem da nossa amiga Ana Paula Ferreira*, filha do ex-1.º Cabo Fernando Ferreira (mais conhecido por Cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66) [, foto à esquerda], com data de 16 de Março de 2012:

Peço verdadeiras desculpas por não seguir o protocolo, que só existe para facilitar a comunicação entre todos. Tenho lido vários postes. Vivo em Braga e aqui existe uma "subsidiária" da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra. Deixo o meu apelo: não hesitem recorrer a esta associação.

Em primeiro lugar,  a minha mãe recebeu mil e tal euros, pelo tempo que o meu pai passou na Guiné (para ela, uma verdadeira fortuna). Temos também, como sócios, à nossa disposição e por 10 Euros, psicólogo, psiquiatra e assistência jurídica. Eu tenho usufruído da ajuda de um psiquiatra, que, quando lhe falo da Guiné, não tenho que esmiuçar. Posso ficar calada. Ele sabe do que falo e meus amigos, eu nunca estive na Guiné (isto só conseguiria ser explicado com postes  anteriores).

Louvo e peço a benção de quem vela por nós, pelo trabalho exaustivo que fazem por todos nós, veteranos e filhos de veteranos. A mim trouxeram-me o conforto da partilha (de forma detalhada também): tentei, em vão, como já disse anteriormente, e, agradeço do fundo do coração, a quem retransmitiu a mensagem que enviei, comunicar com os colegas do meu pai. Os que atenderam o telefone... são almas tristes e frustradas: os filhos abandonam sem compreender ou então nem sequer admitem terem estado onde estiveram, na altura em que estiveram.

Lamento profundamente a falta de ajuda que estes homens tiveram. Ou continuam a ter. Nem todos têm um computador, ou a alma gentil de alguém que os guie por estas terras menos conhecidas e muito menos perigosas do que algumas vezes enfrentaram, mas a ingratidão e ignorância grassam e asfixiam. Sei que não tenho de dizer mais.

Concluo. A todos aqueles que se julgam ignorados: Não são e nunca o serão,  enquanto pessoas como eu existirem... e são muitas.

A todos os que desistiram e amarguram: Há outros como vocês, que falam do mesmo, queixam-se do mesmo, acreditem, não estão sozinhos. Nunca estarão.

Vivam todos aqueles que,  obrigados,  viram as suas tvidas ransformadas para sempre, sem recurso, nem apelo. Bem hajam os que nunca aceitaram a morte.

Os meus cumprimentos mais respeitosos,

Ana Paula Ferreira, filha de Fernando das Neves Ferreira , intrépido Cabo 14, cujo coração desistiu a 23 de Janeiro de 1991, com apenas 48 anos. Saúdo-te pai e todos os teus colegas de armas e de coração. Alguns de vocês ainda por aí, mas sem quererem "falar no assunto". Eu sei. Dói. A mim também. De forma diferente, já sei, não estive no mato. De corpo e alma, não, só de alma.

Bem hajam.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7731: Blogoterapia (176): Assinar a petição dos ex-combatentes e lembrar tempos difíceis de meu pai (Ana Paula Ferreira)

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9615: Blogoterapia (201): De Nova Iorque com saudade e camarigagem (João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/66)

1 comentário:

José Botelho Colaço disse...

Fui fundador do quartel do Cachil no início de 1964, sei bem o que era aquele isolamento, onde o seu pai deve ter passado dias e noites de sofrimento.

cumprimentos.
Colaço.