segunda-feira, 16 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9755: Documentos (23): Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte II - Esclarecimento (Luís Vaz Gonçalves)


1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos mais uma mensagem, desta feita um esclarecimento a diversas dúvidas surgidas na veracidade do trabalho documental iniciado no poste P9639 e continuado no poste P9748, que relatam a Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Camarigos:

Como alguns tertulianos, afirmaram que não acreditam que o Comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, o Sr. Coronel piloto aviador Gualdino Moura Pinto, tenha em Maio de 1973, proferido tal Relatório (a parte que lhe compete)... acho oportuno adiantar o "Anexo D" da sua autoria e com a sua assinatura, para que não "fiquem dúvidas" e que não acreditem na "patranha histórica", de que tal Relatório "teria sido uma obra do Sr. General Spínola e de um seu secretário"... quanto muito, é uma "Obra" de todos aqueles que nela participaram, pois todos os Comandos ficaram no seus arquivos de Documentos classificados, com uma cópia, é da praxe! 

Como tal relembro-vos as últimas palavras (página 7 do poste P9748 - Parte II) do Comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, coronel piloto aviador Gualdino Moura Pinto, a saber:

Gualdino Moura Pinto
Cor.Pilav.
 Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné
Comandante da Base Aérea nº 12
 (Fotografia de Arnaldo Sousa, quando se despediu da Guiné como Comandante da Zona Aérea e Piloto, junto de pessoal que compunha a linha da frente dos Fiat's)

Nota: No Blogue de onde retirei a fotografia do Sr. Coronel Gualdino Moura Pinto, "Especialistas BA 12", registei que este oficial, era muito respeitado e admirado pelos seus subordinados.

No fim e como anexo "D", á Ata da Reunião de Comandos no CTIG de 15 de Maio de 1973, o Comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde (responsável máximo neste Comando Aéreo), coronel piloto aviador Gualdino Moura Pinto, como "informação/requisição"   dos "Meios Aéreos e de Defesa necessários, para enfrentar a Nova Situação no T. O. da Guiné acabada de relatar no Relatório em debate, exarou o seguinte documento:




Fotografia do pessoal dos Fiat G91/R4 e alguns pilotos.O Comandante da Zona Aérea e da BA12,Coronel Gualdino Maria Moura Pinto (Já Falecido). Da esq./Dirª em pé: Sargº Robalo, Sargº Antunes, Sargº Pinheiro, Sargº Guaudêncio, Cap. Pilav. Letras, Cor. Pilav. Moura Pinto, Major Pilav. Pedrosa, Cabo Veríssimo, Cabo Pinto, Cabo Sousa, Sargº Duarte. Em baixo: Cabo Lopes, Furriel Pinheiro, Sargº Ramiro, Cabo Brás, Cabo Veríssimo (II). Na escada do avião o Ten. Pilav. Matos (fotografia de Arnaldo Sousa MMA 1ª/72, retirada do Blog: http://especialistasdaba12.blogspot.pt/2009_01_01_archive.html)

Agora que viram este documento, elaborado e datado de dois dias depois da Reunião de Comandos, 17 de Maio de 1973, o caro leitor poderá "tirar as suas próprias conclusões"...

"Apenas desejo contribuir para um debate construtivo e uma reconstituição dos verdadeiros factos históricos... aqueles que se passaram e podemos provar, e no futuro quando já não houverem ex-combatentes, só mesmo estas "fontes documentais" valerão para a História! como tal, concordem ou não, emitam agora, para "memória Futura" as vossas opiniões, especialmente se acharem que tais dignitários estivessem equivocados... e estariam mesmo?"

Luís Beleza Vaz
(Tabanqueiro 530)
___________
Nota de MR:

Vd. também sobre esta matéria os postes do mesmo autor em: 

22 DE MARÇO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9639: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 (Luís Vaz Gonçalves)


15 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 - P9748: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte II (Luís Vaz Gonçalves)


11 comentários:

António Martins Matos disse...

Há aqui um equivoco que urge esclarecer, não ponho em questão a presença do meu Comandante, o Cor Moura Pinto, na reunião mencionada, nem o Anexo D, onde são apontados os 5 equipamento que necessitavam ser “adquiridos”.
Ponho em dúvida o conteúdo do documento principal, pela simples razão que não foi o que a FAP pôs em prática a partir de 10Abril73.
Um Estado Maior não tem funções de Comando, serve apenas para analisar a situação e aconselhar o Comandante.
Sempre tive grande admiração pelo General Spínola, de certo que não precisava de tão bem elaborada acta, bastava-lhe ouvir os intervenientes e logo... decidia!
Um último comentário, pelos textos trocados poderá transparecer a ideia que eu teria alguma queixa ou má vontade para com o Estado Maior de Bissau e os seus super secretos relatórios.
Ora se os Strelas foram definitivamente identificados a 08Abril73 e o magnífico Estado Maior reuniu em 15Maio73, ou seja quase mês e meio depois da “ocorrência” o que é que os meus ilustres camarigos pensam da sua operacionalidade?
Pois é, enquanto estavam a “pensar” eu fiz 25 missões e cruzei-me com 4 desses Strelas amigos.
Por isso, tudo o que pudesse resultar de tão produtiva reunião... já era!

Já agora e para terminar, o Cor Moura Pinto morreu de doença, não teve nada a ver com o acidente da TAP no Funchal.

Abraços
AMM

antonio graça de abreu disse...

Já era..., com certeza.

A situação militar no último ano de
guerra não evoluiu como as suposições e pressupostos dos relatórios querem dar a entender. O próprio General Spínola
reconheceu que, pós Strela, "perante o insucesso da ofensiva do PAIGC (...)a província entrou num período de relativa acalmia". Está em António de Spínola, País sem Rumo, Lisboa, Scire Editora, 1978, pag.62.
Isto não é a minha verdade contra a tua verdade, é a nossa História.
Porque havemos de passar a vida a retorcer, a tergiversar tudo?

Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro ilustre veterano António Martins de Matos :


Registei a morte do sr. coronel Gualdino Moura Pinto, relacionando-a com o trágico acidente da TAP no Funchal em 1977, pois li a seguinte notícia no Blog Especialistas BA 12 (http://especialistasdaba12.blogspot.pt/2009_01_01_archive.html):

Acidente mortal com avião da TAP, ocorrido a 19/11/1977 no Aeroporto do Funchal com o TP 425 vindo de Bruxelas.

Tripulantes falecidos nesse acidente:
Cmt. João Mimo da Costa Lontrão
Copiloto Miguel Ângelo Guimarães Leal
Técnico de voo Gualdino Maria Moura Pinto
Chefe de Cabine José António de Quental Paveia
Comissário de Bordo Carlos João Arroja Simões
Assistente de Bordo Gilda Soares de Varela Cid Cunha Maldonado

Mas agradeço a sua correcção relativamente ao falecimento do Sr. Coronel Gualdino Moura Pinto, bem como as suas perspectivas de veterano, relativamente ao Relatório "Muito Secreto", que dei visibilidade, pois o seu depoimento será sempre de grande validade para analisar este período conturbado neste TO da Guiné, será sempre mais uma opinião, de alguém que lidou com estes Comandos e lutou neste Teatro de Operações!

Os meus Cumprimentos:

Luís Vaz

Anónimo disse...

Caros Combatentes:
Pode discutir-se a veracidade dos relatórios oficiais e (ou) as suas fontes assim como a veracidade dos relatos que aqui vão sendo deixados e que, mesmo involuntariamente podem estar prejudicados por meras falhas de memória.Normalmente nos relatórios oficiais havia a preocupação de apoucar e não de expandir a dimensão dos perigos, conforme, na altura, se comentava.
Que a sensação prevalecente nos terrestres, a partir de Março de 73, era a de uma acentuada degradação
das condições de vida, nomeadamente,dificuldades crescentes nos reabastecimentos, falta de frescos, falta de tabaco, falata de correio e muitas dificuldades nas evacuações. Volto a falar naquela coisa da cruz construída em cada um dos quarteis com garrafas de cerveja cheias de petróleo e uma torcida para se acender de noite em caso de...Eu insisto: não sei o que leva alguns combatentes ( apesar de lhes reconhecer cultura e conhecimentos bélicos acima dos meus padrões) a pintar um quadro com umas cores tão diferentes das que eu via.
Com todo o respeito, não percebo, mesmo não tendo andado andado em 73/74 por Guidage, Guiledge, Gadamael e Canquelifá.
Um Abração
Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

DIGNIDADE E HONRA

É disso que se trata.Alguns camaradas não percebem,mas não percebem o quê?

A guerra é fazer política por meios violentos, isto é obrigar o IN a subjugar-se à nossa vontade política.
Uma guerra de guerrilhas não se ganha enquanto existir um único guerrilheiro.
Politicamente,para nós, a guerra já estava perdida antes de ter começado.
Mas não são estas questões que aqui estão em causa e são debatidas.
O que aqui está em causa é se estaria iminente um colapso militar e como isso era totalmente falso,fere a minha dignidade e honra e provavelmente a de muitos combatentes..É APENAS E TÃO SÓ ISSO.
É assim tão difícil perceber.."arre
porra".

C.Martins

Manuel Joaquim disse...

Eça de Queiroz deu um subtítulo à sua obra "A Relíquia":
"Sobre a nudez forte da verdade - o manto diáfano da fantasia". Na literatura é fácil usar tal manto. Na vida real é difícil. E à verdade não chegamos pela fé. A fé "move montanhas" mas outras que não as reais. A fé pode é nos ajudar na procura da verdade.

E aqui estamos, mais uma vez, a discutir um documento oficial como se, neste caso, as suas previsões fossem profecias, obrigatoriamente para cumprir.
Diz o ditado que nem tudo o que parece, é. Perante esta Acta podemos dizer "que nem tudo o que pareceu, foi". Qual é o problema?

Vou tentar emitir a minha opinião:
1) "opinião disparatada": O Com. Chefe e os seus diversos Comandos eram um grupo de incompetentes.
2) "opinião viável": A situação não seria bem a relatada mas os referidos quadros militares queriam sensibilizar o Governo central para a gravidade da situação militar, exagerando na análise para melhor pressionar, tipo "para se ter um chouriço vamos pedir um porco".
3) "a minha opinião": Naquela altura, os comandos militares analisaram a situação da forma que consideraram conforme a realidade que observavam. Quer isto dizer que estavam enganados? Não. Quer dizer que do lado inimigo também havia comandos que tinham mão para alterar estratégias. Numa guerra de guerrilha, qualquer tempo é igualmente importante, ande-se de arma na mão ou não, e tudo pode mudar de um momento para o outro. Não se esqueça que , quatro meses depois, o Paigc declarou unilateralmente a independência da Guiné. E a partir daqui, quando voltasse à luta mais acesa, tinha de ser numa posição superior de força, numa de vai ou racha.

Eu li esta acta e só pensei: felizmente que, para eles e para muitos dos seus comandados, não se passou o que temiam.

Anónimo disse...

Subscrevo o comentário do C. Martins.

Há que tempos que digo a mesma coisa!

Subscrevo a análise do Manuel Joaquim.

Li algures que o General Spinola "exagerava" por vezes as dificuldades em relatórios e conversas com o Governo Central para tentar obter um minimo do que era necessário para a guerra na Guiné.

Talvez porque Guiné começe por um G, temos a tendência para analisar toda a guerra da Guiné, olhando para Guidaje, Guileje e Gadamael.

E o resto da Guiné?

Ou seja os 90 e tal por cento do território?

Quais as acções do inimigo tão importantes e reveladoras de um dominio que leve a dizer que a guerra estava perdida militarmente?

Passada a pressão sobre o Guidaje quais as estradas principais do Norte da Guiné que não se circulavam?

E no Leste entre Xime e Nova Lamego?

Quantos foram os ataques do IN à estrada em construção Jugudul/Bambadinca?

Quantas vezes foram atacadas as colunas entre Bambadinca e o Xitole?

A pressão sobre os três G foi sem dúvida importante, tanto que não deixou quase meios ao IN para fazer a guerra no resto do território, o que não quer dizer que a mesma não existisse, mas não de modo a dizer que a mesma estava perdida, nem lá perto.

É muito "fácil", bater e fugir para a casa do vizinho onde não pode haver resposta, quando mesmo, não é da casa do vizinho que se "atiram as pedras"!!

É isto que leva alguém a forçadamente interpretar uma fotografia de militares Portugueses a atravessar um rio como uma homenagem a Amilcar Cabral!

Nem ele tem necessidade disso nem muito menos nós combatentes da Guiné.

Um abraço
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Depois da apresentação do relatório, e do depoimento do AMM, esclarecedor sobre a atitude da FA no período pós-strella, e sobre a exaustão de meios físicos e humanos, a apresentação deste anexo, parece ser reveladora de ter como destino as autoridades militares e civis da nação.
Aliás, tudo o indica, o general já manifestava vontade de sair da Guiné, pelo menos por desacordo com orientações do governo; mas, também podemos ter em consideração que queria sair prestigiado e, livre daquelas funções, apresentar-se como fortíssimo candidato à PR, o que ele, parecia, já preparava desde 1971.
Sobre a eficácia da FA no mesmo período poderemos questionar-mo-nos como o fazem o Juvenal e o Carvalho.
O relatório, obviamente, não refere o colapso das NT, mas alerta para essa possibilidade na ausência das medidas propostas. E quando se diligenciava para as alcançar, colapsaram os capitães.
Finalmente, quero dar os parabéns ao Manuel Joaquim pelo sereno, bonito e objectivo comentário.
JD

Especialistas da BA 12 disse...

Boa Tarde, Luís Vaz.
Alheando a todos os comentários feitos a relatórios e secretismos de situações,apenas venho convidá-lo a ler o "voo" nº767 do humilde blog "especialistasdaba12",certamente verá a origem da notícia e as de marches feitas por nós no sentido de repor a verdade dos factos.
Espero que tal justificou a sua informação oriunda daquele Blog,reponha a razão da mesma que vai ler no referido voo,o que aliás tambem lhe podiam ter dito.
Um abraço e estamos ao seu dispor.
Victor Barata

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro Victor Barata:

Agradeço o seu convite, mas já lá tinha andado a ler a notícia (até tenho no meu post, um link para esse Blog), daí ter retirado a notícia! mas o veterano António Martins de Matos (piloto aviador e seu subordinado na Guiné) veio num comentário (ler nos comentários anteriores) dizer, que o sr. Coronel Gualdino Moura Pinto teria falecido de doença, como tal fiquei em dúvida! Será o mesmo, não poderá ser um filho com o mesmo nome? Já agora gostava que me confirmasse por favor.

Os meus cumprimentos:

Luís G. Vaz

Especialistas da BA 12 disse...

Amigo Luís Vaz.
Esclarecendo a sua dúvida,o meu saudoso Comandante Moura Pinto faleceu de doença e não no acidente do avião da TAP no Funchal.
Verifico que já teve o cuidado de constatar donde deriva o erro de informação.
Pois,atendendo ao que nos diz,teremos todo o gosto em recebe-lo na nossa Base.(especialistasdaba12@gmail.com)
Um abraço.
Victor Barata