sábado, 28 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10203: (In)citações (42): Bombeiro ou Militar, há que optar (José Martins)

 
1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 24 de Julho de 2012:

Boa noite
Hoje resolvi antecipar um texto, cujo tema estava agendado para o inicio de Setembro mas, dada a sua "actualidade" iniciei-o logo a seguir ao jantar, e aqui vai para a vossa apreciação.
Não encarem o texto como critica ou provocação. Provocação é não haver hoje, como havia há 50 anos, aceiros e corta-fogos nas nossa matas.
José Martins


BOMBEIRO ou MILITAR? 
Há que optar!

Pelos ecrãs das televisões, altifalantes de rádios e pelos títulos dos jornais nos escaparates, apercebemo-nos da fase de incêndios que, desde há muitos anos por esta altura do ano, grassam por todo o país, portanto se

VEMOS, OUVIMOS e LEMOS, não podemos ignorar!

No meu ADN, não sei se já falei da mistura que nele existe, há uma parte de “militar”, esse já revelado, mas também existe uma parte de “bombeiro”.

Os meus primeiros anos de vida, passei-os entre carros de bombeiros e toques de sirenes.

O meu pai alistou-se após ter sido isento do serviço militar, na Corporação de Bombeiros Voluntários de Leiria, atingindo o posto de Chefe (de notar que as categorias de bombeiros à época, não correspondem às actuais). Depois a corporação passou a designar-se Bombeiros Municipais de Leiria, e o meu pai atingiu a categoria de Ajudante de Comando, categoria em que deixou de pertencer aos “Soldados da Paz”; o meu irmão João, o mais velho, também se alistou nos bombeiros de Leiria, após ter cumprido o seu serviço militar obrigatório; assim como um dos meus sobrinhos, o Fernando Miguel, alistou-se nos bombeiros de Avintes - Vila Nova de Gaia, ficando no serviço activo, até que um acidente de trabalho lhe ceifou a vida, aos 23 anos..

De notar que na época em que o meu pai e o meu irmão pertenceram aos bombeiros, muitos dos Comandantes das Corporações eram militares de carreira, normalmente Capitães ou Tenentes, que tentavam trazer a disciplina, organização e técnica para esta “profissão ou actividade”. Obviamente que nos Regimentos de Sapadores Bombeiros, que na altura só existiam em Lisboa e Porto, era obrigatório que o Comandante fosse um Oficial Superior do Exército – Coronel ou Tenente-Coronel – e da Arma de Engenharia.

Nos últimos dias, devido aos incêndios havidos na zona do Algarve e Madeira, ouvi dizer que se devia recorrer aos militares para reforçarem os elementos que se encontravam a combater os incêndios, não só nos locais já indicados, mas também noutros locais. Outras “vozes” sugerem que, sejam os militares a proceder à vigilância das matas, combinando patrulhamentos “tipo militar” com “actividade cívica”.

Em minha opinião e, conforme coloquei em título, há que optar se os soldados devem ser formados e treinados para missões de “guerra” ou de “paz”, mas paz no sentido de não guerra, e não as que são patrocinadas pela ONU e pagas pelos nossos impostos.

É que há erros que se pagam caros.

Em 1966, mais precisamente entre os dias 6 e 12 de Setembro, no decurso de um incêndio na Serra de Sintra, “alguém” se lembrou de mobilizar ao Regimento de Artilharia Antiaérea, aquartelado em Queluz, determinado número de militares para “colaborarem” no combate às chamas.

Em meu entender, nada de mais errado: Mobilizaram militares que, já mobilizados e treinados para operações de guerra, no então Ultramar, foram enviados para “uma frente de combate” para a qual não tinham qualquer preparação mas, como o rei manda marchar, o exército avança.

Até é provável que tenham sido deslocados para um local que conhecessem, por ter sido utilizado nos exercícios que, a todos os que estivemos em teatro de operações fomos adversos, mas que ao tomar contacto com a “realidade da guerra”, lamentámos não terem sido “alunos mais aplicados” perante as dificuldades encontradas.

Militares em acção na serra 

Resultado deste recurso: um grupo composto por 25 “miúdos” como nós, que dão início à missão que lhe foi cometida e, não se apercebem que num golpe de azar são envolvidos pelas chamas, vêm a encontrar a morte, carbonizados, na noite de 7 desse mês, no Monte do Monge.

São combatentes que morreram em combate, na Metrópole;
São combatentes que morrem, sem ter armas nas mãos;
São combatentes que partem, sem terem embarcado;
São combatentes que caem, em combate com a natureza.

Lápide em memória das 25 vítimas, no Alto do Monge 

No momento em que escrevo este texto, não sei a que unidade pertenceriam os militares tombados, nem qual o destino que seguiriam, caso tivessem acompanhado os seus camaradas de unidade na missão que lhes estava destinada, e para o qual tinham deixado a família, os amigos e a terra, para responderem ao chamamento da Pátria.

Este texto não era para ser escrito nestas circunstâncias, nem nesta data, pelo que será divulgado sem as informações que pretendia, mas as “sugestões e/ou comentários” que tenho ouvido levam-me a ser pressuroso, para alertar os comandos da Protecção Civil, quer nacional quer local, que colocar homens ou mulheres a cumprir missões que, por formação, não lhes estavam destinadas, podem não ser uma “boa solução”.

Porque o monumento referido se encontra em local de difícil acesso e, porque a sua memória não pode ser esquecida, aqui ficam o nome dos militares que tombaram em combate a um incêndio:

Aspirante a Oficial - Roalino Tavares;
Cabos - António Silva, Armando Lopes, Augusto Guimarães;
Soldados – João B. Ferreira, Manuel Silva, Rogério Ribeiro, António Rocha, Joaquim Rufino, Joaquim Horta, António Aleutério, Álvaro Silva, Amílcar Prata, Rogério Pinto, João Marques, Manuel Januário, António Cruz, Manuel Santos, Manuel Faria, Antero Teixeira, Ramiro Dias, José Negrão, João O. Ferreira, Damião Ramos, Pedro Rodrigues

José Marcelino Martins
24 de Julho de 2012

Outros sites a visitar:
Fogo e História
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____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10173: Patronos e Padroeiros (José Martins) (35): São Lourenço de Brindisi, Frade, combatente e Santo

Vd. último poste da série de 22 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10178: (In)citações (41): Serpentes, feitiços e casamentos inter-étnicos... (Cherno Baldé)

11 comentários:

Cesar Dias disse...

Caro José Martins

Na altura houve quem duvidasse do numero de mortes na serra de Sintra, havia quem disesse que eram mais, mas foi abafado. Tens toda a razão em focar este tema muito actual, se repetirem o processo de mobilização de há 45 anos, certamente terão um desfecho identico.
Um abraço
César Dias

José Marcelino Martins disse...

Tambem tenho a informação de que foram mais as vítimas militares.
Mas, se fossem mais do o número indicado, era obrigatório decretar "Luto Nacional", o que traria mais impacto negativo, e na altura não era "benéfico".
Aliás, era facil, na altura "encontrar a verdade dos factos".Nós sabemnos isso, ou não tivessemos sido "protagonista da história"

MANUEL MAIA disse...

SOU DOS QUE ENTENDE QUE OS MILITARES DEVERÃO - QUANTO MAIS NÃO SEJA PARA JUSTIFICAR OS VENCIMENTOS - DEVERÃO, DIZIA, APOIAR OS BOMBEIROS NO COMBATE ÀS CHAMAS...
MAS NÃO SERIAM QUAISQUER MILITARES, ESSA FORÇA ESPECIAL,OBRIGATORIAMENTE SERIA CONSTITUÍDA POR GENTE QUE NUNCA FEZ NADA,OU SEJA,O PESSOAL DO Q.P., SUPERIORMENTE COMANDADO PELO CHEFE DO ESTADO MAIOR OU MESMO ATÉ PELO MINISTRO DA TUTELA... IMAGINO MESMO UM CORPO CONSTITUÍDO POR GENERAIS E POLÍTICOS, AGARRADOS À MANGUEIRA E AOS MACHADOS A DESBRAVAREM MATA E DESPEJANDO ÁGUA NO INFERNO EM QUE SE TRANSFORMAM SISTEMATICAMENTE OS INCÊNDIOS "PRODUZIDOS" PELO PESSOAL DA INDÚSTRIA DOS FOGOS, QUE DÁ MEIA DÚZIA DE EUROS E UMAS CERVEJAS A UM QUALQUER "NERO" QUE TRANSFORMA EM CENÁRIO DANTESCO NÃO A ROMA DO TEMPO DE CRISTO,MAS AS MATAS DESTE PORTUGAL SEM LEI... ÀS VEZES OS LOCAIS SÃO TÃO INACESSÍVEIS QUE OS "NEROS" SÃO "ARTISTAS" DE OUTRA ESPECIALIDADE E CHEGAM A SER ATIRADOS SISTEMAS SOFISTICADOS PROVIDOS DE PÁRA-QUEDAS QUE DEFLAGRAM NO IMPACTO COM O SOLO... ESTA AFIRMAÇÃO NÃO É GRATUITA POIS ESTIVE DEZ ANOS LIGADO A UMA CORPORAÇÃO DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS E OS NOSSOS "SOLDADOS DA PAZ" TROUXERAM UMA VEZ UM DESSES "BOTA-FOGOS" AÉREOS... DESTA FORMA, SE HOUVESSE POLÍTICOS E MILITARES ENVOLVIDOS NO ATAQUE AOS INCÊNDIOS, TENHO A CERTEZA QUE DIMINUIRIAM DE FORMA BEM NOTÓRIA ESTE TIPO DE CRIMES,( AO "SAIR-LHES DO CORPO" O TRABALHO DE APAGAR, SERIAM TOMADAS MEDIDAS CONDUCENTES À SUS ERRADICAÇÃO...) SIM PORQUE É DE CRIMES QUE SE TRATA E NÃO DE INCÊNDIOS FORTUITOS E NATURAIS,QUE ESTES NEM 5% REPRESENTARÃO DO TOTAL DE OCORRÊNCIAS...

Anónimo disse...

Quem "comandava" estes valorosos rapazes era um grande amigo meu,digo era porque já faleceu,na altura era alferes miliciano.
Não tinham preparação nenhuma, pura e simplesmente foram largados na serra sem nenhum meio para combater o incêndio.
O meu amigo só não ficou lá porque teve que se deslocar para outro sitio porque não tinha sinal de rádio.
Raramente falava no assunto e sempre se recriminou apesar de não ter culpa nenhuma.
Segundo ele foram 32 e não 25 como está memorial.
Mais tarde,em 1970, foi mobilizado como capitão miliciano para Moçambique.

QUE DESCANSEM EM PAZ

C.Martins

Anónimo disse...

PS

O meu amigo deixou-os num caminho florestal com o fogo ainda longe.
Procurou uma cota mais alta para ver se tinha sinal rádio para contactar o comando,deslocando-se num jeep.
Quando voltou já não conseguiu chegar ao local que estava coberto pelo fogo.
Foram encontrados numa pequena clareira todos amontoados.
O inquérito foi arquivado porque não havia culpados..bem talvez até houvesse...quem os mandou para lá sem qualquer enquadramento com os bombeiros e sem meios.

C.Martins

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas
No meu entender e na forma como estão estroturadas as Forças Armadas em Portugal eu acho que numa situação destes fogos "normais" eu até diria que sºao fogos sazonais e programados,Pois que todos os anos a nossa Imprensa se encarrega de lembrar os "clientes habituais"que está aberta a época dos fogos.Bom até já estava a entrar noutos campos,mas voltando á "vaca fria"que é como quem dis:Os nossos militares não devem sêr Bombeiros assim como os Bombeiros não devem sêr militares.Claro que numa situação de catástrofe muito elevada todos os homens são necessários para ajudar e se tiverem formação militar ainda melhor mas,quanto a mim só nessas situações.
O que eu acho estranho é que a grande maioria dos nossos bombeiros em território Nacional seja Voluntários e estejam dependentes das suas entidades patronais para poderem exercer a sua acção de Bombeiro.Alem disso eu penso que essa treta da protecção civil é mais uma a dar "taxito ?" a alguns senhores,mas enfim é só um palpite.
Já agora meu amigo Maia não sejas tão mauzinho;é que os teus selecionados iriam deixar queimar tudo e depois secava a teta da Vaca.
Bom isto foi mais umas das minhas opniôes que vale o vale.
Um abraço Tertuliano Henrique Cerqueira

Jazzebel disse...

Camaradas,
A questão da sazonalidade dos incêndios ultrapassa o nível da Protecção Civil, é uma questão de Estado, na medida em que a destruição das florestas, para além dos prejuízos e benefícios económicos - prejuízos para o Estado e para o universo, e benefícios para particulares - constitui sempre graves desequilíbrios no ambiente.
Vivi durante alguns aninhos em África, e, para além das queimadas organizadas, nunca vi acontecerem incêndios, apesar do calor e da secura da terra. Quem se lembra de incêndios na Guiné?
Em primeiro lugar, os bombeiros movimentam importantes verbas para prossecução das suas actividades, e, para o efeito, recebem subsídios, doações, e têm receitas próprias de diversas proveniências. Logo, gravitam muitos interesses na órbita dos bombeiros.
Um amigo foi co-fundador de uma associação de voluntários, fartou-se de trabalhar e mendigar, e quando a coisa estava em andamento, demitiu-se por causa das pressões sobre diferentes orientações de gestão.
Quanto ao combate a incêndios, sou de opinião que quaisquer envolvidos, devem estar suficientemente preparados, face às traições da orientação dos fogos. Em incêndios de grande dimensão, a Força Aérea devia colocar o comandante da operação no ar, com vista à melhor orientação no terreno, e também deviam ser nacionalizados os meios aéreos de combate aos fogos, e as aeronaves seriam pilotadas por militares, acabando-se com um injustificável negócio de aluguer de meios, que levanta muitas suspeitas.
Por fim, sobre a intervenção da justiça: os suspeitos de incendiários são presentes a juízo e saem praticamente sem penas. Entendo eu, que dispondo a justiça do serviço de tantos psicólogos para avalisar condutas e reclamar direitos para os detidos, também devia haver psicólogos para avaliarem do equilibrio ou desequilibrio mental desses detidos, e formular pareceres sobre os quais se pronunciariam os juízes. Cita um amigo, que uma senhora de idade foi um ano presente a juízo na condição de incendiária, foi para casa, e no ano seguinte reincidiu.
Depois, há uma panóplia de negócios, desde a prestação de serviços, à venda de equipamentos, que propiciam egoísmos e desprezo pelos valores éticos.
Abraços fraternos
JD

Luis Faria disse...

Caro José Martins

Desculpa lá se vou opinar um tudo nada do que penso.

Se os civis frequentemente dão o seu contributo,tantas vezes precioso nessas calamidades,porque não os militares,com destaque especial para a engenharia e sapadores?E a aviação(que julgo ter kits que não conseguem montar?)ao menos com alguma vigilancia?O proprio militar normal,devidamente hierarquizado pode,a meu ver,prestar excelente apoio no terreno junto das populaçoes em risco,nas evacuações e muito mais.
Claro que não devia passar pela cabeça de ninguem envia-los como bombeiros.Não o são.
Em outras forças armadas,ao que me parece saber,há grupos especiais a essas tarefas destinados e preperadas para actuar na primeira linha.

Talvez,se um dia(???!!!) as politicas e interesses vierem a permitir se avance alguma coisa.
Não devemos porem esquecer que há
tambem muita culpa dos proprietarios que deixaram de limpar os matos,como antigamente era feito.A começar pelo próprio Estado!! É a crise...pois,há quase quarenta anos!!!O roçar dos matos acabou-se...com a agricultura,pois...é a crise há trinta e oito anos!!!

Anónimo disse...

Caro José Martins

Não foi só na Serra de Sintra que houveram militares a apagar fogos.

Eu quando fui para a tropa, tendo começado pelo quartel de LAGOS, passados alguns dias, fomos mandados para um fogo na Serra do Espinhaço de cão,tocou-nos por dois ou três dias, o que nos valia eram os bidões que levava-mos cheios de água, quase nos enfiávamos lá dentro para nos enxarcarmos.

Quanto ao fogo da Serra de Sintra, sempre se falou em número superior ao que disseram.

Se leres o o meu P6125 - PRISIONEIRO, NO FUNDO, BOA PESSOA, verás que quando estive no RI 1 Amadora, tive de levar a tribunal o rapaz que estava preso, por ser acusado de ter posto esse fogo.

Um abraço
António Paiva

Anónimo disse...

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António Tavares disse...

Camarigos,

Eu também tive a experiência de ser bombeiro durante a vida militar.
Em 30 de Agosto de 1969 meteram o meu pelotão, de instruendos do 1º. GCAM, Póvoa de Varzim, em Matadores e levaram-nos até Moledo, Alto Minho.
Aí fomos deixados com a missão de combater um incêndio que lavrava há dias.
Fomos render soldados da unidade de Viana do Castelo.
Estivemos 41H30, ininterruptas, à sorte de Deus, a combater o fogo.
Outros soldados renderam-nos.
O Fogo foi extinto somente em Espanha.