1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 2 de Agosto de 2012:
Olá Carlos,
Depois da minha apoteótica estreia na condição de poeta, em virtude dos improváveis comentários de três consagrados versejadores, decidi enviar mais dois belos exemplares da minha obra, que são a demonstração clara de que passei ao lado de uma grande carreira artística.
Naturalmente, de tão soberbos, os meus poemas não obedecem a regras, não mostram respeito pela métrica, nem têm que rimar. São o que são: devaneios pelo género.
Para evitares riscos de desconsideração pública, alerto para a eventual conveniência de não os publicares.
Um grande abraço
JD
2. MAIS POESIA DE BAJOCUNDA
Como já antes referi, a minha Companhia não teve autonomia financeira e administrativa durante os primeiros seis meses, pelo que, sendo este poema (Ah, ladrão!) um libelo em relação ao Capitão Trapinhos e a dois sargentos, é necessário excluir deste conjunto o competente Sarg. José Vieira de Sousa, que foi requisitado para Bissau durante aquele período, e constituiu uma perda significativa, bem como o Sarg. Rui Luz, um indivíduo muito simpático e camarada, que manteve um relacionamento de alto nível e educação. Nas minhas notas o poema também se lembra do Silva, um comerciante local.
AH, LADRÃO!
Oh África, Oh África!...
Porque é que és tão quente?
Se soubesses como
A malta se escalda,
Se ao menos tivesses gêlo,
Ai África!
E os abastecimentos?
Coca-cola, Fanta, Sumol,
Cerveja "pequinina"...
A cerveja grande deve
Pagar portagem: subiu para 7,50.
Whisky, gin, água tónica...
Mas nem o mar,
Nem o rio,
Nem a bolanha,
Não têm fresco.
A coluna vai na picada,
Os lenços não chegam,
P'ra cobrirem da poeira.
À noite o IN ataca,
A malta precipita-se
Na vala.
A temperatura sobe
Aos muitos graus,
Estilhaça!
Se ao menos tivesses gelo!
Sandes de presunto = 10 paus.
Sandes de fiambre = 8 paus.
Sandes de mortadela = 6 paus.
Ah, ladrão!
Bajocunda, 1971
NO AMBIENTE DE UMA TASCA
No ambiente de uma tasca,
Falavam dois velhos varões,
Da falta de culto e do rasca,
Que são dos rufiões.
Mas eis que se levanta um bêbado,
- Alto lá meus senhores!
Dito isto não se conteve:
- Parto-vos as fuças sem muitas dores.
Os barões acabrunhados,
Da manifesta desigualdade,
Foram-se dali muito revoltados,
Que a vingança não tem idades,
Eles serão espezinhados,
Para evitar outras veleidades.
Bajocunda, 1971
OBS: Não sei a que propósito escrevi isto, provavelmente influenciado por alguma notícia que me provocou indignação.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10204: Blogpoesia (194): Lá longe a Pátria e Quando o Estado morrer (José Manuel M. Dinis)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Caríssimo J.D.
Ao segundo poema não faço comentários, visto que nem o autor sabe como e porquê viu a luz do dia... ou a sombra da noite.
Quanto ao primeiro tenho uma sugestão:
Talvez o José Belo possa, da Lapónia,dar uma ajudinha àquela queixa repetida sobre Africa: "Se ao menos tivesses gelo."
Abracinho
Alberto Branquinho
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