sábado, 4 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10226: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (7): Os "cubanos"

1. Primeira estória, de mais uma série de três, dos Fidalgos de Jol, enviada pelo nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), em mensagem do dia 2 de Agosto de 2012:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Depois do teu desafio e, após rebuscar no meu baú das memórias e do contacto com um ex-camarada, atrevo-me a contar mais 3 Estórias dos Fidalgos do Jol, nem todas com um final feliz, mas com a suficiente dose de insólito e humor que, passados todos estes anos, ainda mais divertidas se tornam.
Nos ficheiros anexos envio-te a primeira destas três estórias e mais algumas fotos, que obviamente deixo ao teu critério a possível publicação.

Mais uma vez recebe um grande e forte abraço, e muito obrigado por toda a preciosa colaboração.
Augusto Silva Santos


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (7)

Os “Cubanos”

Já perto do final da comissão do BCaç 3833 (Out1972), o então Comandante do CAOP1 sito em Teixeira Pinto, mais propriamente o Coronel Paraquedista Rafael Durão, determinou que se realizasse uma acção conjunta a nível das três Companhias operacionais, ou seja, a 3306 de Jolmete, a 3307 do Pelundo, e a 3308 de Có. Foi estabelecido um plano por forma a que os respectivos Grupos de Combate se encontrassem em determinado ponto, mais propriamente onde confinava a zona de actuação definida para cada uma delas, sendo o vértice uma extensa bolanha.

Já perto do ponto de encontro em questão na região de Catafe e, mais ou menos à hora combinada, foi tentando por nós (Grupo de Jolmete) o contacto via rádio, com vista a apurarmos em que posição se encontraria cada um dos Grupos, para que a aproximação (reconhecimento) se realizasse dentro da máxima segurança.

É nessa altura que somos alertados pelo Grupo de Có, de que estariam a avistar movimentação do que suponham ser um bigrupo do inimigo, comandado por “Cubanos”, pelo que perante tal alerta, parámos de imediato a nossa progressão e tomámos posição de emboscada, aguardando melhor informação sobre a posição do tal grupo de guerrilheiros.

Talvez cerca de um ou dois minutos depois, somos informados da eventualidade de termos sido detectados, visto que o inimigo estava a emboscar, pelo que a nossa progressão se deveria fazer com o máximo cuidado, tendo-se inclusive ponderado se não seria melhor solicitar apoio aéreo para bater a zona, tendo em conta ser um grupo com muitos elementos e, dada a extensão da bolanha, ser difícil aos Grupos de Có e Pelundo chegarem rapidamente até nós para fazer um possível envolvimento, sem serem também detectados.

Porque a posição assinalada pelos camaradas de Có, era coincidente com aquela em que nos encontrávamos, questionámos de imediato se algo de errado não se estaria a passar, e sugerimos que um dos elementos do nosso Grupo se assomasse até à orla da mata com a tela de sinalização usada para o apoio aéreo, para nos identificarmos. Escusado será dizer que rapidamente se chegou à conclusão de que o grupo supostamente do inimigo era afinal o nosso, que seguia na frente com boa parte dos elementos do Pelotão de Milícias, e afinal os “Cubanos” não eram mais do que eu e o outro Furriel que estaríamos a tentar orientar o decorrer da acção.

Importar salientar que a bolanha em questão era de facto muito larga e extensa, e a distância entre os nossos Grupos não permitia no imediato uma melhor identificação do pessoal, além de que parte da confusão foi originada pelo facto de, tanto eu como o outro Furriel, estarmos na altura a usar não os nossos tradicionais quicos, mas sim bonés não convencionais. Eu estava com um boné de xadrez com pompom, que me tinha sido oferecido por um Cabo apontador da bazuca, o qual lhe havia sido trazido por emigrante amigo em França, e o outro Furriel com um chapéu improvisado feito de folhas de palmeira, para se proteger do sol intenso.

Até então o dito boné (com o qual tenho algumas fotos) funcionou para mim como um amuleto, mas até ao final da comissão não voltei a usá-lo, não fosse o diabo tecê-las. Para “Cubano”, bastou um dia.

Curiosamente havia de devolvê-lo 30 anos depois ao seu antigo e primeiro proprietário, aquando de um dos encontros da nossa Companhia, em que este acontecimento acabou por ser recordado com algum gozo.

Este é um dos muitos episódios ocorridos em cenários idênticos que, não só por mera sorte mas também com responsabilidade, acabou por ter um final feliz. Por fim ainda brincámos com a situação, mas nem quero imaginar as consequências graves que poderiam ter ocorrido, se por acaso os outros Grupos ou a aviação (que não chegou a ser solicitada) tivesse aberto fogo sobre nós.

Jolmete, Janeiro de 1972 > Na tabanca

Jolmete, Março de 1972 > Entrada do Quartel

Jolmete, Maio de 1972 > Interior do meu abrigo

Jolmete, Junho de 1972 > Entrada do meu abrigo

Jolmete, Julho de 1972 > Trilhos de Gel

Jolmete, Agosto de 1972 > Regresso da Bolanha de Gel

Jolmete, Agosto de 1972 > Boné do Cubano
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10197: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (6): Cabo Bigodes, o homem-macaco

Sem comentários: