terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10862: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (10): A "Pedra da Odete" ou onde se fala do nosso Blogue (Hélder Sousa)

1. Mensagem de Natal do nosso camarada Hélder Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche eBissau, 1970/72:

Caros amigos Editores
Em anexo envio-vos um texto diferente do costume mas que pretende, ao meu modo, comemorar a 'época festiva' que vivemos e, ao mesmo tempo, referir-me à vida do nosso Blogue.

Desejo, muito sinceramente, que consigamos resistir ao temporal que se avizinha ameaçador e que se ganhem forças para enfrentar os próximos tempos.
Por isso, apenas deixo aqui expresso o meu desejo que se tenham umas "Festas Felizes".

Abraços
Hélder Sousa


Mercado do Livramento em Setúbal


“A PEDRA DA ODETE”

Nesta época é costume enviar-se votos de “Bom Natal”, “Festas Felizes” e desejar um “Bom Ano Novo”. Mas, sinceramente, dadas as circunstâncias e os tempos que se vivem, não me sinto muito identificado com esse ‘espírito’, pelo que então resolvi fazê-lo à minha maneira, ao mesmo tempo que procurarei reportar-me ao nosso Blogue e às coisas que lhe estão inerentes.

“Está bem” - dirão alguns dos atentos vigilantes da estrita observância dos ‘pressupostos’ do Blogue – “mas o que é que isso tem a ver com o título? Certamente que não terá nada a ver”…

Bem, entre o “não ter nada a ver” e o ter “tudo a ver” há um vasto terreno onde as coisas se podem encaixar e com certeza que alguma coisa se arranjará. Comecemos então por explicar o que é isso da “Pedra da Odete”.

Acho que será comum aos vários Mercados existentes nas nossas povoações que os espaços em que se apresentam os artigos para venda estejam organizados, normalmente divididos nos locais de venda de carne e derivados (os talhos, charcutarias e similares), os espaços para venda de frutas e legumes, genericamente referidos como ‘bancas’ e os locais de venda de peixe, que aqui em Setúbal se chamam de ‘pedras’ tendo como referência o facto de ser em pedra mármore ou outra do género que os diferentes vendedores utilizam para a exposição dos seus produtos.

À data da minha vinda para Setúbal e até finais dos anos 90 ensinaram-me que o melhor local para comprar peixe, sempre de qualidade garantida, era numa banca de venda de peixe, uma “pedra”, que era dum casal simpático, o Reinaldo, que tratava de comprar o melhor, e a Odete, que tratava de nos vender. Se se queria bom goraz, peixe-espada, pescada, sargo, sardinha, besugo, ‘massacote’, carapau-manteiga, etc., era certo e sabido que se ia à “Pedra da Odete”.

E tanto assim era que se chegavam a fazer 5 linhas de fila a seguir à frente da ‘pedra’, o que representava uma pequena multidão de, às vezes, 20 a 25 pessoas. Nessas circunstâncias gastava-se algum tempo (compensado pela qualidade) e, ou se conversava com o vizinho de ocasião que se encontrava ao lado (conhecido ou não), ou se ia ouvindo (sem querer, ou por distração) as conversas que outros iam fazendo atrás de nós. Conversas sobre a vida, das empresas, da política, do Governo, do Mundo. Manda o decoro que não se seja bisbilhoteiro e por isso raramente se olhava para trás e deste modo quase sempre se ignorava a identificação de quem falava ou dizia o quê.

Tendo isto em atenção era perfeitamente corrente que quando na empresa onde trabalhava se ‘ouvia dizer’ que ia acontecer ‘isto e aquilo’, que já se sabia o patrão preparava ‘esta ou aquela acção’, se alguém perguntava, ‘como é que soubeste?’ a resposta invariável era “ouvi na Pedra da Odete” e, já se sabe, era impossível descortinar o autor da ‘informação’.

"Pedra" de venda de peixe no Mercado do Livramento em Setúbal

Pois, nestes dias, ocorreu uma coisa interessante: voltei à “Pedra da Odete” (agora explorada pela filha do casal) e voltaram a acontecer conversas significativas…. Então não é que havia atrás de mim quem estivesse a conversar, coisa que ao princípio não liguei mas depois fiquei atento, porque falavam do Blogue?!

Eram talvez três, ou mais, que falavam. Dois deles, um com voz cavernosa e outro com uma voz melíflua, sibilina, diziam, ditavam, sentenciavam, à vez, que o “Blogue do Graça”, o “foranada”, “tinha os dias contados”, que “estava a definhar”, que “estava ferido por dentro”, que “as intrigas tinham surtido efeito”, que “as campanhas de intimidação, de maledicência, de deturpação de conteúdos, de processos de intenção, tinham minado o suficiente para afastar contributos”. Diziam que “havia menos comentários” (como se isso tivesse sido um critério desde sempre), diziam que “havia abandonos, deserções, afastamentos ostensivos”, que “o tema estava esgotado”.

Parecia até que aquilo tudo, mais do que uma sentença, correspondia a um desejo… Um outro, um terceiro personagem, lá foi argumentando que “não senhor, o tema não está esgotado, as memórias da guerra vão perdurar”, que “o espólio já conseguido vai permitir recuperar essa memória mas que ainda há bastante para aparecer”. Que “se alguns dos contributores iniciais não se têm feito notar, apareceram mais uns quantos com novos relatos, novas memórias, casos por exemplo das “histórias do Cifra” e dos relatos dos “melhores 40 meses da vida” de um jovem militar português”. E que o Vasco da Gama e o Mexia Alves tomaram a iniciativa de remeter para o Blogue, para publicação, textos, com reflexões suas, bastante oportunos. Que os comentários de apoio surgiram em grande número e até de leitores que normalmente não são interventores.

Fiquei muito satisfeito! Foi uma boa “prenda de Natal”! Afinal, os detractores tiveram o tiro pelo culatra, o ‘povo do Blogue’ uniu-se mais e certamente irá fortalecer-se.

E mais satisfeito ainda fiquei quando ouvi ‘outro alguém’ dizer que para o ano é capaz de haver uma ou duas conferências geradas a partir do Blogue sobre o alegado “esgotado” tema da guerra de África.

Não sei se será verdade ou não, mas lá que ouvi na “Pedra da Odete”, isso sim e costumava ‘bater certo’!

Portanto, caros amigos, aqui está como a “Pedra da Odete” tem a ver com a época pois foi lá, agora, por estes dias, que ouvi o que ouvi e tem a ver com o Blogue, com todo o assunto acima indicado. Tinha ou não razão quando escrevi que haveria de se encaixar?...

Um abraço para toda a Tabanca!
 E “Festas Felizes”

Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10861: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (9): Mensagens de Natal da Tertúlia (3)

9 comentários:

JD disse...

Ora viva Helder!
Há uns trinta anitos atrás vivi em Palmela por uns meses durante um desempenho profissional. Pouco depois visiatava Setúbal com frequência, onde passava fins-de-semana, festas e feriados. Passei a gostar da região, do vale dos barris, de percorrer a serra e atravessar o canal com o olhar que pousava nos areais que bordejam a peninsula de Tróia, das tascas e tasquinhas onde sempre encontrei bons petiscos e peixes de outras nomenclaturas. E gostava de ir aos viveiros comprar ameijoa prêta, tanto como... atravessar as portas forradas a azulejos temáticos e penetrar no amplo marcado, sempra com fartura de alimentos numa disposição que se impunha à relutância da compra.
Não identifico essa pedra da Odete, mas deliciei-me com os peixinhos que me calharam em sorte.
Concordo que o vasto terreno entre o "não tem nada a ver" e o "tem tudo a ver", pode revelar novos aproveitamentos e iniciativas axploratórias para o Blogue. Às conferências referidas, podem juntar-se entrevistas, estudos, exposições, outras formas de suscitar debate e incrementar a capacidade para pensarmos.
E o que o Blogue já contribuíu não é valor dispiciendo, tanto pela revelação de acontecimentos, como pela divulgação de obras relacionadas, ou, por fim, mas não menos importante, pelos inúmeros testemunhos e questões levantadas pelos camaradas tabanqueiros.
Amanhã pelas nove e picos estarei em Setúbal e vou telefonar-te para a eventualidade de tomarmos um cafézinho.
Um valente abraço
JD

Anónimo disse...

Camarada Helder Sousa: não haverão temporais ameaçadores para o blog, pela simples razão que nós já passámos por vários temporais a sério, lá na nossa Guiné e não nos derrotaram. Depois vamos sendo cada vez mais e cá estamos "alguns periquitos como eu sou" dispostos à luta e cheios de força para tal.
Eles que falem lá no mercado, eles que falem (raio que os parta) qu'a gente seguiremos em frente, não só com os veteranos que tanto já deram
com os seus relatos, a que só agora estou a ler atentamente por ser novo por cá. ABRAÇOS, RETRIBUO AS BOAS FESTAS e obrigado pela refª aos "melhores 40 meses"
De:Veríssimo Ferreira
CCAÇ 1422 K3 65/67

Anónimo disse...

Helder

O que tu relatas, acontece em qualquer lugar e em qualquer altura.
Mas, não será "fruta do chão", que irá derrotar a nossa amizade e camaradagem...Vamos "peneirando"...
Um abraço amigo,
Jorge Rosales

ze manel cancela disse...

Caro Helder,os agueirentos teem que ser mais que muitos,para nos destabilizar,e mesmo assim nao vao conseguir, o blogue vai continuar,porque nos somos mais fortes e mais unidos que todos eles


Um grande abraço,camarada........

armando pires disse...

Que grande pedrada nas aves agoirentas,
armando pires

Luís Graça disse...


Meu caro Hélder:

Eu conhecia (ou melhor, ouvi falar, quando fui ao Egito, de) a "Pedra de Roseta", cujo achado foi fundamental para se decifrar a escrita hieroglífica do egpício antigo...

Se bem te recordes, é uma pedra (estela) com um texto do séc. II a.C., escrito em 3 línguas: o egípcio antigo, o demótico (egípico tardio) e o grego antigo...

Da "Pedra da Odete" é que eu estou a ouvir falar pela primeira vez... E fico agradavelmente surpreendido pelas alegadas virtudes, nomeadamente comunicacionais, dessa pedra que me parece ter algo de talismânico!...

Não costumo ir fazer compras ao mercado do peixe, mas gosto do sítio e do edifício (incluindo os seus azulejos), que considero um dos ícones de Setúbal.

Obrigado pelo teu contributo para a "renovação" do nosso blogue no próximo ano, o do nosso 9º aniversário!

Desejo-te, em termos pessoais e profissionais, as melhores perspetivas possíveis para esse "annus horribilis" que aí vem!

Madalena, V.N. Gaia, 25/12/2012
_____________

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_de_Roseta

Tony Borie disse...

Olá Helder.
Já tinha ouvido falar na "pedra de toque", que era com que determinado artesão, afinava os relógios, e agora sei que também existe a "Pedra da Odete".
É sem qualquer dúvida um feliz e sugestivo "título" para uma série de textos, onde se podia falar de tudo o que anda na boca do povo!.
Uma série com este "título", não teria fim, pois a voz do povo, normalmente dizem que é a voz de Deus!.
Olha, nestes dias das Boas Festas, ando pelo norte, estou cheio de neve por todo o lado, e o Cifra, como andava sempre sem camisa e cheio de calor, lá na Guiné, anda por aqui perdido, à espera que os filhos, os netos, e demais família, o deixem regressar ao sul!.
Um abraço e que o ano que vem traga paz, saúde e alguma alegria, que bem precisamos na nossa idade.
Um abraço, Tony Borie.

Anónimo disse...

Olá Helder

Cá estamos nós a "partir pedra"...
O melhor Ano Novo possível para ti e arredores.
Abracinho
Alberto Branquinho

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Comentando os comentários começo pelo fim, ou seja pelo Banquinho.
Pois claro que é preciso 'partir pedra'. Se se quer construir qualquer coisa temos que trabalhar a pedra bruta, transformá-la, torná-la em obra e depois sim, teremos a construção.

O "Cifra" tem razão: se se quiser pode-se usar o título para todo um conjunto de quase infindáveis assuntos, mas podes crer, essa fórmula, a da "Pedra da Odete" acaba por ser eficaz.

Caro Luís, não tenhas dúvidas, pode-se sempre usar uma qualquer 'pedra' para fazer avançar um ou mais projectos. Neste caso sinto que no próximo ano ainda há uma larga margem de progresso para se continuar com este que lançaste irá fazer 9 anos. É obra!

Caro Armando, podia e devia ter referido também os escritos do "ribatejano, enfermeiro e fadista" como um dos exemplos bem conseguidos nestes tempos mais recentes do Blogue mas na ocasião da escrita 'varreu-se-me'.... mas podes crer, bem como o Cancela e o Rosales que 'eles' acabaram por nos fazer o favor de nos obrigar a unir forças e esforços, de nos empenharmos mais e melhor na defesa e continuação deste projecto colectivo que é o nosso Blogue que de facto é o local mais apropriado para o depositário dos nossos relatos tendo em vista a'memória futura'.

Caro Veríssimo, não é favor nenhum as elogiosas referências à série a que tens dado corpo. O título é feliz de qualquer ponto de vista: é suficientemente 'forte' pois afirmar que foram 'os melhores 40 meses' parece contrariar as opiniões daqueles que acham que foi um tempo perdido e desperdiçado. Pode-se até não se concordar com tudo o que lá está escrito, com as ideias e opiniões expressas mas tem 'sumo', dá para perceber as contradições da vida e isso que faz avançar as consciências e a própria vida. E bem vindo ao grupo dos que continuam a porfiar por levar esta nau a bom porto.

Caro Zé, para não me alongar, fico só por te agradecer pelas pistas que acrescentas quanto ao que se pode fazer. E quanto ao cafezinho, falhou, como sabes, por causa de ter de tratar de coisas relativas ao falecimento da minha mãe.

Abraços
Hélder S.