segunda-feira, 15 de julho de 2013

Guiné 63/74 – P11844: Filhos do vento (15): Na sequência da reportagem de Catarina Gomes no jornal Público (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.


Na sequência da reportagem de Catarina Gomes no jornal  Público


Nós, antigos tugas

Num ofuscante regresso a uma comissão militar que desembocou na Guiné, tive, tal como já antes anunciei, a felicidade de viver efusivamente o 25 de abril, Revolução dos Cravos, que proporcionou o nosso regresso à pátria mãe antecipado, deixando para trás a Guiné, uma nação que então se afirmava como país independente.

Nos muitos comentários que tenho colocado no blogue, dois mexeram, de facto, com a minha perspicaz sensibilidade, dado que o conteúdo narrado focavam temáticas sensíveis que mexem, no fundo, com a nossa presença em território guineense.

Uma guerra que deixou marcas no tempo, sendo o subtítulo “Filhos do Vento” e Sexo em tempo de guerra – Tabu? – terão sido duas opiniões, na primeira pessoa, que fizeram correr muita tinta e originado as mais diversas conversas entre camaradas que partilharam situações parecidas ou idênticas.

A perplexidade do ambiente de guerra ditava aventuras, talvez inimagináveis, mas propícias a situações, algumas ardentes, onde o calor da idade se sobrepunha a eventuais momentos de delírio sexual, recusando, perentoriamente, o fazedor das potenciais adversidades as consequências seguintes.

Recusei, e recuso, debruçar-me sobre as inquestionáveis realidades de militares entregues à solidão que, a espaços, praticavam relações sexuais não meditando de pronto em pressupostas conclusões futuras. Tudo, aparentemente, se afigurava como normal. Ninguém, em meu entender, fazia projetos futuros com a jovem bajuda que entretanto havia saciado os nossos desejos meramente carnais.

E foi partindo desse tremendo desafio que lancei o tema para o nosso blogue, admitindo, porém, que a temática exposta obedece, obviamente, a uma conversação séria e sobretudo extensiva aos camaradas que tenha uma opinião formada sobre a questão de “os filhos que os militares portugueses deixaram para trás”, como refere agora, 14 de julho, o jornal Público.

Catarina Gomes, jornalista, pegou no tema “filhos do vento”, um desígnio da minha responsabilidade, e tentou percorrer o trilho desses outrora jovens, hoje gentes na casa dos 40 anos, trazendo até nós opiniões reais de crianças que cresceram desmesuradamente num tempo sem tempo, procurando sempre desmistificar a sua verdadeira identidade.

A mãe, senhora de bem, guardava no seu íntimo um segredo que se protelou em épocas sucessivas, “engasgando-se” quando confrontada com a perspicaz pergunta da criança que, ansiosamente, suplicava uma resposta incisiva sobre a originalidade do seu verdadeiro pai.

No clã familiar existiram, e existem, desavenças sobre crianças tuteladas como “brancas ou brancos”, existindo logo uma separação de poderes naquilo que se entende como divisão de mandatos no seio familiar. Sobreviveram, é certo, mas na sua alma permanecerá a incerteza de encontrar um pai que ao longo das suas vidas lhes foi escondido.

A reportagem, na minha ótica, merece rasgados elogios e os meus sinceros parabéns à jornalista Catarina Gomes pela frontalidade como aceitou mexer num tema inseguro e que toca a nós, antigos tucas.

Nota de rodapé da respetiva reportagem: “Na sequência desta reportagem, o PÚBLICO criou uma página especial na Internet – publico.pt/filhos-do-vento – que reúne dados individuais de guineenses que andam à procura do pai português. O debate sobre este tema continua online. Informações relevantes podem ser enviadas para filhosdovento@publico.pt."

Um abraço, camaradas
José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

15 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11840: Filhos do vento (14): Nha fidju i fidju de soldado. I lebal pa Lisboa. I na cuida del. I na manda dinheru um bokadu…(Paulo Salgado) 

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