Queridos amigos,
Vê-se e fica-se sem fôlego, como é que é possível um país depositário de um acervo patrimonial único em azulejaria ter esperado tanto tempo para ver azulejos de todo o mundo, de altíssimo valor, uma exposição com uma história de milénios de um objeto frágil que as civilizações opulentas não dispensam? É um bom ensejo para tonificar o nosso orgulho à volta de uma riqueza de que somos a camisola amarela, encontrar uma exposição que contribui para o amor à cultura portuguesa e o desvelo aos valores perenes da cultura universal.
Vão por mim, a exposição é imperdível!
Um abraço do
Mário
Uma exposição de brado obrigatório, acontecimento ímpar:
O brilho das cidades, a rota do azulejo
Fundação Gulbenkian, 25 de Outubro de 2013/26 de Janeiro de 2014
Beja Santos
Somos uma superpotência do azulejo e não fazemos gala disso, o que é lamentável e incompreensível. O azulejo é usado há milénios, primeiro como material meramente comemorativo, mais tarde como elemento ornamental, depois didático, a Revolução Industrial fez dele um uso maciço, integrou-o profusamente na arquitetura e na paisagem urbana, é um desafio aos artistas que se mantêm fascinados por esta placa de cerâmica que tem uma superfície vidrada e que nos faz parar pelo envolvimento que cria, pela harmonia e bem-estar que suscita. Pelo menos desde o século XV que o azulejo faz parte do nosso património material e imaterial. E com resultados magníficos.
A exposição da Gulbenkian é um acontecimento único, põe em diálogo espécimenes representativos da azulejaria de todos os tempos, é uma verdadeira rota do azulejo que se pode visitar, desde do Egito e da Mesopotâmia, viagem deslumbrante que chega ao século XX, e aponta para o futuro, mais do que certo e glorioso.
Viagem deslumbrante? Sim, permite conhecer o modo como esta técnica foi conhecendo atualização e adaptação a novos gostos e também o modo como diferentes civilizações tiraram partido deste objeto para enriquecer os seus espaços. Viagem que se faz através de secções temáticas onde se abordam questões como o mito da cerâmica dourada, as conquistas da geometria, a importância da heráldica, o peso da cultura figurativa clássica, o valor da mitologia cristã, entre outras.
Logo na secção referente às origens do azulejo, o visitante é confrontado com exemplares provenientes do Egito, da Mesopotâmia, da Assíria e da Pérsia, depois Bizâncio, até à Idade Média. Percebe-se como o Mediterrâneo era o centro do mundo, o azulejo contribuía para o diálogo de diferentes civilizações onde o cristianismo e o Islão pontificavam.
A segunda secção intitula-se “Paredes que falam”, é um deslumbramento de novidade: azulejos persas e azulejos turcos, textos inscritos nas paredes das arquiteturas religiosas; espaços públicos convertidos em lugares carregados de mensagens icónicas.
Na terceira secção, intitulada “Ornato e mensagem”, enfatiza-se o papel do ornamento como informação entre os povos e as suas culturas. Como se escreve na brochura a que o visitante tem acesso, “Há intenções deliberadas na própria escolha das fontes de inspiração deste universo, nas transformações plásticas a que são submetidas as formas da Natureza, na beleza da sua própria geometria subjacente, na repetição infinita dos motivos, nos ornamentos fantasiosos que evocam gloriosos tempos passados”.
E chegamos a uma outra dimensão, “Poéticas e narrativas”, aqui encontramos chaves de entendimentos das poéticas narrativas, desde o mundo antigo até ao presente, é um espetacular transcurso por mitos gregos e romanos, histórias bíblicas, vidas e mortes de profetas e mártires, os grandes heróis da literatura universal, tudo se reflete nestas grandes e pequenas páginas ilustradas que dão pelo nome de painéis de azulejos.
E assim se chega ao azulejo encarado como signo do progresso, desde a revolução industrial aos nossos dias. O visitante é confrontado com obras soberbas, um painel onde participou o genial William Morris, um magnífico pavão de Max Laeuger e mesmo um painel de azulejos recente que evoca o período assombroso da cerâmica Iznik.
Azulejos portugueses “conversam” com azulejos chineses, magrebinos, italianos, espanhóis e belgas. As potências do azulejo participaram com peças de grande qualidade, caso do Irão, Síria, Tunísia, Holanda, Inglaterra, Alemanha, instituições internacionais do maior prestígio cederam obras. E há azulejos portugueses provenientes do Museu Gulbenkian, Museu Nacional de Machado de Castro, Museu Nacional do Azulejo, Museu de Artes Decorativas Portuguesas, Museu Bordalo Pinheiro, Museu de Alberto Sampaio, Coleção Berardo, entre outros.
Momento ímpar, talvez irrepetível para nos integrarmos num diálogo fabuloso e tomar consciência de que a História também se faz com a rota do azulejo.
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12216: Agenda cultural (291): Livro de poesia "Baladas de Berlim", do nosso camarada J. L. Mendes Gomes: Lisboa, 2/11/2013, às 19h00, na livraria/bar Les Enfants Terribles, do Cinema King. Apresentação da obra e do autor a cargo de Luís Graça e Paulo Teia
3 comentários:
Mário
Há muito que oiço que somos uma "superpotência" do azulejo. Mas não só - também do "verdelejo" e do "amarelejo"... Só porque o mais comum é em tons de azul, mesmo quando é para o verde, amarelado... é tudo azulejo. Aqui em Lisboa, para além das casas senhoriais e conventos... basta ao visitante fazer (no centro) uma viagem de circum-navegação ao Intendente e vê coisas lindas. Não é só "Viúva Lamego". Do Porto, se o Portojo estiver a ler, deve ter fotografado muita coisa, tal é o amor pela sua terra.
Em miúdo, viajando pela linha do Douro, ficava a apreciar, ao pormenor, os ajulejos(são mesmo em azul) das várias estações da então CP, todos dedicados às vindimas e ao processo da feitura do vinho. Creio que ainda estarão em todas, excepto no troço que foi fechado - Pocinho/Barca d'Alva.
Alberto Branquinho
Os azulejos de certas (velhas) estações ferroviárias da CP, são das coisas mais características que os turistas mais apreciavam naquele tempo do Portugal velhinho"a preto e branco".
Casos da Estação de Vila Franca de Xira, Vilar Formoso, por exemplo.
Não sei se a estação de Santa Comba Dão também tinha retrete com Homens-Senhoras em azulejo.
É que às vezes "em casa de ferreiro, espeto de pau".
È só para reforçar a chamada de atenção Beja Santos. Ainda não fui ver a exposição, que abriu há dias e vai até janeiro... mas já está na minha "agenda cultural"... Lisboa tem tantas coisas para ver, rever, decobrir, redescobrir, mostrar... Mas esta exposição é "irrepetível"...
Aproveitem, amigos e camaradas, faz bem à vista, à alma, ao corpo, à mente e até à autoestima (coletiva) que anda pela merda...
Aproveitem os domingos de manhã que não pagam nada...
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