1. Mensagem do nosso camarada Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69), com data de 1 de Novembro de 2013:
Já é muito raro, não deixar de ler diariamente o “Diário de Coimbra”. O do dia de hoje, na parte dedicada à necrologia, refere a notícia do falecimento do Manuel Silvério.
Mas de quem se trata? Para além de tudo, a de um ex-combatente da Guiné, que vim a conhecer em circunstâncias bastante fortuitas e que só a guerra sabia gerar.
Estava a minha Companhia sediada em Nova Lamego (2.º semestre de 1969), e por onde passava muita gente daquela zona do Gabú. Por lá, entre tantos, havia de passar o Manuel Silvério, provindo não sei donde, com destino a Bissau. Relembro que nos encontrámos na messe de oficiais, vinha fardado o alferes Silvério, e só esperava oportunidade de ter ingresso numa aeronave.
Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma.
Do seu destino próximo, nunca mais tive qualquer conhecimento.
Um dia, nos finais da década de 70, numa das principais ruas da cidade de Coimbra, casualmente encontro o Silvério. Tinha-se radicado nesta cidade, onde exercia as funções de delegado de informação médica.
Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos.
No Blogue, constato que o José M. Cancela, da CCaç 2382 (P6184 de 18 de Abril de 2010) procurava o paradeiro de antigos companheiros, entre os quais mencionava o 2.º Sargento Manuel Leitão Silvério, que fora substituir o Furriel Joaquim Gonçalo, ferido gravemente num ataque ao aquartelamento de Buba.
Curiosamente, este Gonçalo é natural e vive no meu concelho - Cantanhede -, e que muito alegremente viria a reencontrar nessa Buba, onde a minha Companhia permaneceria de 8 de Fevereiro a 14 de Maio de 1969.
O tear da vida tecendo um destino, faz desaparecer prematuramente o Silvério. Nesta sua partida, talvez alguns de nós saibam aportar mais alguns pormenores deste seu fadado itinerário militar.
Notícia triste quanto brutal. Eis que uma folha de Outono tomba para sempre, deixando-nos mais pobres, pois a perda de um amigo é sempre uma fatalidade pesarosa. Curvo-me em silêncio à perenidade da sua memória.
Até sempre.
Idálio Reis
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Nota do editor
Último poste da série de 30 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12223: In Memoriam (165): Sargento-Chefe na Reforma Fernando dos Santos Rodrigues, ex-2.º Sargento "Gato Preto" (José Martins / Arménio Estorninho)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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7 comentários:
Olá Idálio Reis, eu lembro-me deste ou de um caso semelhante. Curiosamente o visado era um ex colega meu do Liceu de Beja. Agora dar-te uma certeza com a cabeça quente, não posso. Foi no nosso tempo, ele já trazia uma porrada (?) apanhada na viagem e esta, da "retirada" dos galões, parece-me ter tido algo a ver com a recusa de fazer uma operação alegando falta de meios, salvo erro transmissões. Seria assim? Seria esse meu antigo colega liceal?
Eu estive com ele em Bissau, se bem me lembro. Estive tão poucas vezes em Bissau - férias Jul/Set 68 e Jan/FeV 69, mais uma breve passagem pelo HMP em...em? 68, nem meia dúzia de dias.Fugi de lá sem o dente...
Lastimo o seu desaparecimento, a sua morte.
Caro Idálio cada vez e com mais frequência isso aparece aqui ou me chega ao conhecimento de outras maneiras se não pertencem ao Blogue. Que vida esta.
Um abração para ti e um até sempre ao Silvério.
Ainda tentarei "falar" com um camarada nosso.
O Spinola foi chato! Tirar os galões? O tanas!
Aqui, neste caso,parece que ele, por problemas disciplinares era Aspirante graduado em Alferes. Seria? Assim talvez tivesse base jurídica.
Abraço,T.
Caro Idálio
Para ti vai um abraço solidário, todos nós necessitamos deles, e mais ainda quando o dia de amanhã é, cada vez mais, uma folha em branco.
À Familia do Silvério, apresento as minhas condolências.
Ao Torcato
Ma realidade era assim. Alferes que era sujeito a destituição de posto, passava a 2º Sargento. "Aspirante" não era posto, pelo que não podia ser "reclassificado" como aspirante.
No batalhão que estava em Nova Lamego em inicios de 1970, o oficial de transmissões, um Alferes, esteve para ser despromovido a 2º Sargento, porque numa experiencia com rádios novos, os CHP e DHP (estarei certo na numenclatura'), o posto director foi em Canjadude, com a presença do Comandante das Transmissões do CTIG, sendo o batalhão o único a não entrar em rede. Segundo parece o caso esteve muito mal parado. Era um problema para o batalhão aquele erro que, como todos sabemos, era frequente na Guiné.
Malhas que o Império teceu.
José Martins, eu sei que aspirante a oficial não era posto. Eu estive muitos meses com essa designação.Creio que fui promovido quando do embarque para a Guiné. Com efeito retroactivo a uns tempos antes (?). Teria que ir ver e dá muito trabalho.
Quanto á despromoção é que se me levantam dúvidas. Poderia ser despromovido um Oficial,Alferes neste caso, para Sargento? Se fosse Aspirante, "um não posto", talvez.Não sei e fui PJM mas isso foi há mais de 40 anos...os Deuses me protejam a "cuca"...Abraço, T.
Caros Camaradas,
O nosso malogrado camarada Manuel Leitão Silvério era o Comandante do 1º.Grupo de Combate da Cart. 2412 e para que fique bem claro eu vou contar o acontecimento que motivou a sua despromoção.
Terá sido em Maio ou Junho de 1969 estavamos nós em Barro e o Alferes Silvério recebeu a ordem de se deslocar com o seu Grupo de Combate até ao marco 133 ou 134 na fronteira do Senegal. Depois de reunido o seu Grupo chegou à conclusão que com ele os furrieis e praças somavam 14 ou 15 efectivos, pelo que foi falar com o Comandante da Companhia dizendo-lhe que achava um efectivo demasiado exíguo para a missão que lhe estava a ser atribuída.
Como o Comandante da Companhia não foi da mesma opinião deu-lhe um prazo de uma hora para ele resolver se ia ou não.
Eu acho que todos os Camaradas falaram com ele para o demoverem daquela ideia. Eu falei com ele duas vezes chegando a dizer-lhe para ele saír fazendo só metade ou um terço do percurso, mas ele não se deixou influenciar persistindo na sua ideia inicial, pelo que o Comandante participou a ocorrência originando um processo que o levou à sua despromoção.
Se se tivesse recusado a tomar parte numa operação possívelmente despromoviam-no a 1º Cabo.
Tenho muita pena que tudo isto tenha acontecido, pricipalmente a sua morte, pois ainda em Setembro passado fiz todos os esforços para ele vir à nossa reunião de graduados da Cart. 2412, mas ele foi precisamente internado nessa semana.
Lamento profundamente a sua morte, e à Família, Camaradas e Amigos apresento os meus sentidos pêsames.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Outra curiosidade, que constará no teu processo arquivado no Arquivo Geral do Exército.
Na data em que embarcaste, foste "graduado" em Alferes e, promovido, ao mesmo posto, exactamente um ano após o teres sido "promoviso ao não posto de aspirante". Isto passou-se com os Furrieis "Cabos Milicianos" e só depois Firrieis.
Alguns foram para África como "Aspirantes" e "cabos Milicianos" - facto já referido no blogue, que tombaram sem ser promovidos, dado terem processos pendentes.
Caso curioso: Os capalães eram sempre. durante toda a comissão Alferes Graduados.
Alfa Bravo
CARO IDÁLIO,
COM O AVANÇAR DA IDADE,CADA VEZ MAIS SOMOS SURPREENDIDOS COM NOTÍCIAS DESTE TEOR.
É A CHAMADA LEI DA VIDA...
AINDA HÁ POUCO TEMPO ME ACONTECEU O MESMO QUANDO TENTEI LIGAR A UM CAMARADA VISANDO O CONVITE PARA O ALMOÇO DA COMPANHIA.
FOI BRUTAL O CHOQUE,PELA INFORMAÇÃO RECEBIDA DA FAMÍLIA E BRUTAL TAMBÉM O REVIVER DA FERIDA QUE A SUA ESPOSA NECESSARIAMENTE SENTIU,NO DESABAFO QUE TELEFÓNICAMENTE COMIGO MANTEVE.
PARA NÓS O TEMPO DESSAS AMIZADES MANTEVE-SE ESTACIONADO NAQUELE PERÍODO BELICISTA... E QUANDO ACONTECEM ESTES CORTES ABRUPTOS, É QUANDO COM O "SAFANÃO" ACORDAMOS PARA A DURA REALIDADE DE SEXAGENÁRIOS...
PAZ À SUA ALMA!
PARA TI UM ABRAÇO AMIGO!
mm
Estas atitudes descicionárias e prepotentes eram próprias dum Caco Baldé. No entanto gostaria que este caso fosse melhor esclarecido pois que os oficiais nõao tinham baixam de posto. Isso só acontecia na classe de praças. Aspirante a oficial é evidente que era um posto. Disso ninguém tenha a mais pequena dúvida. Se o oficial estava graduadao em alferes como passou a acontecer a partir de determinada data que não posso precisar o normal seria desgraduado e passaria a aspirante como de resto aconteceu com os aspirantes que eram punidos e não eram promovidos. E acontece ter havido um único apirante na Fuiné a quem o então brigadeiro do caco perguntou se ele nõao tinha vergonha de ser o único aspirante do CTI e este respondeu que também o Brigadeiro na altura também era único e também não se sentia envergonhado. Se é verdade ou não vendo-a peço mesmo preço-.
Gabriel Tavares
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