quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12586: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte II) (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Furriel Mil. Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 14 de Janeiro de 2014:

Caríssimos Camaradas Editores:
Luís Graça, Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães. 
Antes de mais, desejo-vos um óptimo ano de 2014.
Depois de uma primeira narrativa histórica [P12565], que serviu de apresentação a um novo contexto vivido pelo efectivo militar da CART 3494, no qual me incluo, relacionada com o quotidiano de práticas e experiências contabilizadas durante a presença no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, ocorridas durante o 2.º semestre de 1973 [já lá vão mais de quarenta anos!] eis, pelo presente, a segunda peça desse puzzle.

Obrigado pela atenção
Jorge Araújo
14Jan/2014


O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA 

(XIME-BAMBADINCA) 

- As acções especiais durante o 2.º semestre de 1973 [parte II] - 

A segurança à[s] Ponte[s] do Rio Udunduma

1. - Introdução

No texto anterior [P12565*] dei-vos conta do itinerário histórico que me levou, assim como ao competente efectivo militar da CART 3494, até ao Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, sito ao km 4 da Estrada Bambadinca/Xime, identificando as três principais acções “especiais” aí realizadas durante o 2.º semestre de 1973, a saber: delimitação física da área do destacamento com arame farpado; construção em alvenaria de uma moradia e melhoramentos dos caminhos internos, culminando com a edificação de um monumento em memória do colectivo da Companhia 3494, a que designámos por “Rotunda da Ponte” [fotos anteriores].

Com esta tríade de benfeitorias, procurou-se dotar aquele contexto com um pouquinho mais de dignidade humana, tendo em consideração o superior interesse pela salvaguarda da integridade física e mental de cada um de nós, pois tratava-se de um cenário adverso, miserável e degradante, certamente como tantos outros por que passamos no CTIG, em particular os mais operacionais, independentemente da época em que tal se verificou.

Como reforço do acima expresso, apropriamo-nos, nesta abordagem histórica, de um pensamento/reflexão do camarada Luís Graça [CCAÇ 12], nosso antepassado e um dos pioneiros envolvidos nestas e em outras aventuras na região, e também ele contemplado, no seu tempo, com várias visitas ao local, referindo-se sobre este contexto nos seguintes termos: “o mítico destacamento da ponte do Rio Udunduma… e os “desgraçados que lá penaram dias e dias à boa vida…” e […] “O maldito “buraco” da ponte do Rio Udunduma, o inferno de mosquitos, cobras e ratos, onde muitos de nós, nos idos tempos de 1969/70, vivemos como animais…”. Ou, ainda, a experiência aí contabilizada, durante dois meses do ano de 1972, pelo camarada Joaquim Mexia Alves, ex-Alferes Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873 e, depois, CMDT do Pel Caç Nat 52, afirmando que “as instalações eram tétricas, e que havia uma qualquer construção de ripas de madeira tipo refeitório”.

De facto, foram cinco os anos em que por lá passaram algumas centenas de militares, africanos e metropolitanos, pertencentes a diversas subunidades do Sector L1, já divulgadas anteriormente, ocorrência iniciada em 29MAI1969 por via da ponte velha ter ficado danificada após atentado perpetrado pelo PAIGC, e que só teve o seu epílogo com o fim da guerra de guerrilha, pós 25 de Abril de 1974.

Esses efectivos colocados numa linha avançada em relação à sede do Batalhão, sito em Bambadinca, [repito] permaneceram activos e vigilantes mas desprovidos de qualquer rectaguarda de apoio militar, em que cada um de nós estava completamente abandonado à sorte da divina providência e à sua capacidade de resistir e de sobreviver, ou seja, à sua dimensão transcendental.

Assim, no alinhamento do texto anterior, com este segundo episódio pretende-se aprofundar a caracterização do contexto, socorrendo-nos de algumas imagens [as existentes no meu arquivo], esperando que se confirme o tal ditado popular: uma imagem vale mais que mil palavras.


2. - Caracterização do contexto através de imagens

Considerando que a foto 3, apresentada na narrativa anterior, surgiu com a legendagem desalinhada, entendemos ser pertinente a sua repetição.

Foto 14 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – imagem da estrada velha, assinalando-se a ponte semidestruída em 1969 [fotos 1 e 2], e Bambadinca, ao fundo, como local mais próximo, a quatro quilómetros desta. Na linha do horizonte, vê-se a nova estrada na qual é possível contar uma coluna de mais de uma dezena de viaturas civis, em direcção ao Cais do Xime.

Foto 15 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – O “Chefe da Tabanca da Ponte” disfarçado de Jorge Araújo [ou vice-versa]. No canto superior direito vê-se a Ponte Nova e a respectiva estrada. Bambadinca fica para a direita e o Xime para a esquerda.

Foto 16 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – As duas pontes e o Rio Udunduma. Bambadinca fica para a esquerda e o Xime para a direita.

Foto 17 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma - 1973] – A Ponte Nova, o Rio Udunduma, à direita, e a bolanha contígua. Bambadinca fica para a esquerda e o Xime para a direita. 

Foto 18 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – Eis os buracos no chão, cobertos com palmeiras, chapas e terra, herdados na sobreposição [fotos 5 e 6].

Foto 19 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – Um dos três postos de vigia. No canto superior esquerdo podem ver-se as instalações sanitárias [foto 26] e a estrada para Bambadinca.

Foto 20 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – O monumento edificado em memória do colectivo da CART 3494 e, ao fundo, para sul, mais dois postos de vigia, tendo por perto uma estrutura em arame farpado [fotos 7 e 8].

Foto 21 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – Troço da estrada velha junto à ponte danificada [fotos 1 e 2], única via de acesso ao destacamento. Do lado esquerdo estão os abrigos e os postos de vigia. A meio, junto à 1.ª árvore da esquerda está a mesa de refeitório [foto 22]. À direita, +/- a meio da imagem, está a moradia construída [fotos 9 e 10]. Do lado direito fica a estrada Xime-Bambadinca [fotos 14 e 15].

Foto 22 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – A mesa polivalente, onde se comia, escrevia, li, jogava e… conversava. Em suma: o espaço de socialização e de partilha. Da esquerda para a direita, os ex-soldados: Gregório Santos; José Sebastião (?); Ricardo Teixeira e eu próprio, participando no” mata-bicho” das tardes de seca, confeccionado num forno de alta tecnologia, conforme se dá conta na imagem seguinte. Junto à chapa ondulada pode ver-se um exemplar de petromax.

Foto 23 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – Último modelo de cozinha de campanha, com fogão modelo “palmeira rastejante”, cuja patente foi registada na conservatória local. Eu e o soldado Amândio Domingues em fase de conclusão de um suculento «pato da bolanha ao piri-piri», uma iguaria contemplada no cardápio da restauração local.

Foto 24 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – A mesma mesa da foto 22 depois de desactivada na sequência da conclusão da moradia, onde passou a existir uma sala de jantar, mas onde não havia alimentos. Estes eram confeccionados em Bambadinca, na CCS, e chegavam-nos às diferentes horas do dia, segundo a sequência das refeições.

Foto 25 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – Enquadramento paisagístico com um plano de água do Rio Udunduma. Este fazia fronteira com a zona leste do destacamento. 

Finalmente, e tendo por base a mesma falha observada na foto 13 do texto anterior, decidimos repeti-la, devidamente corrigida, para uma melhor leitura do contexto.

Foto 26 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte - 1973] – imagem das instalações sanitárias… último modelo… e, daí, não terem sofrido quaisquer alterações até ao final da comissão. Por detrás do WC correm as águas do Rio Udunduma [foto 25].

Com esta imagem, damos por concluído o segundo capítulo desta nossa missão, histórica, especial e colectiva, vivida na Ponte do Rio Udunduma durante o 2.º semestre de 1973.

Segue-se a [III] crónica referente às principais actividades diárias desenvolvidas pelo grupo aí instalado.

Espero que esta narrativa tenha servido, tal como a anterior, como elemento de comparação com um vasto leque de outros exemplos que constam do currículo de muitos de Vós, e de inspiração a outras escritas, pois ainda estamos a tempo de as narrar na nossa Tabanca Grande.

Um forte abraço para todos e votos de muita saúde.
Jorge Araújo
Jan/2014
____________

Nota do editor

(*) Vd. poste anterior de 10 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12565: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte I) (Jorge Araújo)

4 comentários:

Anónimo disse...

josé Eduardo Alves
já fui 5 vezes á Guiné depois da independência e confirmo que a maior festa na Guiné é o carnaval quem os ensinou foráo alguns melitares portugueses um abraço JOSÉ Alves

Anónimo disse...


carlos marques santos

15 jan 2014 17:03

[mail enviado para a caixa do correio do blogue]


LUIS
Intervenho nesta morada porque não consigo doutra forma.
Computador novo.......

Ácerca da ponte do UDUNDUMA não se esqueçam do DINOSSAURO.
27, 28, 29 de Maio eu estava lá com tendas de 3 panos da 2ª guerra mundial. Fomos nós que fomos defender Bambadinca ...
Os primeiros. É história, não estória.

Quanto a mim uma farsa o ataque. ??????????

Vi passar a tua companhia [, CCAÇ 2590,] em princípios [, dia 2,] de junho, como vi passar outros.


Luxos como os que foram vistos no blogue já não são do meu tempo. Estava na
PELUDA.

Um Abraço.
CMS

[Coimbra]

Anónimo disse...

Fui para lá em fins de Junho de 1969
e foi lá que me despedi do Pelotão em Agosto de 1971.As condições continuavam iguais...

J.Cabral

Hélder Valério disse...

Caro camarada Jorge Araújo

Estas fotos e estas suas ilustrações são importantes para se mostrar 'como era', porque creio que contado é difícil de acreditar.
Pode-se perguntar: e como é que aguentavam a situação?
A resposta é simples: havia como recusar sem se entrar em desobediência punível? Naquela época não se estava em missão por 'voluntarismo'...

Fiz, salvo erro, duas viagens de Bambadinca para o Xime. Como isso foi em 1971 foi certamente pala estrada e ponte novas que passei.

Abraço
Hélder S.