7000 MILHAS ATRAVÉS DOS USA - 8
Ainda se lembram? No último dia dormimos no estado de Ilinois, na cidade de Rockford, a umas tantas milhas da cidade de Chicago.
Abandonámos o hotel depois do pequeno almoço, tomámos a normal medicina de prevenção, vendo o tempo que parecia agradável, deixámos o hotel, enchemos o tanque com gasolina, o GPS em direcção algures para leste e eis-nos de novo na estrada número 90, em direcção a Chicago, pois era essa a nosso rota. "Chi...cáaa...go, Illinois”, como dizem na rádio.
Havia tráfico, a estrada estava em reparação, em algumas zonas pagava-se portagem, mais construção e por fim avista-se a cidade ao longe. Começa o tráfico a abrandar, cada vez mais devagar, lá fomos andando com algum progresso, até chegarmos a uma zona onde dizia: “Downtown”.
Aí saímos da estrada número 90, por entre um trânsito onde havia táxis, carros grandes e pequenos, alguns camiões fazendo descargas, pessoas atarefadas, querendo passar com a luz do semáforo ainda encarnada, mas lá fomos progredindo até chegar mesmo ao “Downtown” da cidade de Chicago.
Estávamos no “Downtown” de Chicago, aquele Chicago cuja cultura popular é encontrada em romances, peças teatrais, filmes, músicas, vários tipos de revistas e meios de comunicação, que lhe chamam a todo o momento de “Chi-town”, “Windy City” e “Second City” e alguns até lhe chamam “a mais americana das grandes cidades”.
Esta cidade foi fundada em 1833, num lugar onde naquela altura se guardavam e reparavam as embarcações que navegavam entre os Grandes Lagos e a bacia do rio Mississipi. Dizem que hoje tem perto de 2,7 milhões de habitantes e é a terceira mais populosa dos Estados Unidos, claro, depois de Nova Iorque e Los Angeles.
Andámos por umas ruas ou avenidas, sempre alguém a buzinar ao nosso lado, ou atrás do jeep, não sabíamos se buzinavam por fazermos alguma manobra menos correcta ou se pelo estado em que se encontrava o jeep, sujo, mesmo muito sujo, com algumas sacas de lona e dois tanques extras de gasolina amarrados na parte de trás, entre outras coisas próprias de quem viaja por lugares quase desertos e anda muitos dias fora de casa, o que lhe dava um aspecto um pouco parecido com aquelas caravanas dos “ciganos amigos”, que me lembra quando jovem, passavam na estrada nacional, próximo da minha aldeia do vale do Ninho d’Águia, em Portugal.
Na nossa opinião, só faltava mesmo aquele “cão rafeiro”, que seguia sempre amarrado com uma corda debaixo do carro, puxado quase sempre por um “burro manhoso e faminto”. Enfim, esta barafunda toda, fazia-nos ter saudades das estradas desertas do estado de Wyoming, onde o pessoal das motos levantava a mão, saudando-nos, quando por nós passava, talvez querendo dizer, “tem calma e desfruta a paisagem”. Estes aqui, empurravam- nos, buzinando, por certo queriam dizer: “anda, que não há tempo a perder”.
Decidimos estacionar, procurámos e por fim vimos o letreiro, “parking”, entrámos, tirámos o bilhete, rodámos por um labirinto de carros, subimos alguns andares e finalmente encontrámos um espaço livre. Parámos e estacionámos.
Fechamos o jeep, levando connosco o telefone, documentos e alguns valores, pois estávamos em Chicago. Saímos à rua, que sorte, estávamos mesmo no “Downtown”.
O comboio passava nuns carris instalados numa grande estrutura, mesmo por cima da rua, portanto por cima de nós, fazendo aquele barulho característico dos comboios de cidade em fraco estado de conservação, como se vê nos filmes, as pessoas andavam depressa na rua, parece que alguém os chamava, nós olhámos e decidimos andar para norte, pois era para onde as pessoas iam, e em boa hora o fizemos, pois para esse lado era a zona mais bonita, o canal, as pontes, um passeio na beira do canal, edifícios altos e com bonita arquitectura, muitos monumentos, nas ruas e na beira do canal, barcos passando com pessoas tirando fotos, enfim era um Chicago lindo, mais lindo que Nova Iorque, dizia um casal ao nosso lado, que parecia oriundo do Japão.
Havia autocarros com dois andares, sem cobertura para fazer o “tour” na cidade, perguntámos o preço, o bilhete podia ser usado por um período de três dias, estava um pouco fora do nosso alcance, decidimos pedir o roteiro, fomos buscar o jeep ao parque de estacionamento, que nos levou uma “fortuna”, por duas horas e meia de estacionamento, e seguimos um dos autocarros sem cobertura, percorrendo a cidade e os seus mais importantes lugares, tirando fotos, (por curiosidade, muitas pessoas também nos tiravam fotos a nós, quando parávamos nos sinais de trânsito), vendo monumentos, canais, edifícios, alguns com uma arquitectura deslumbrante, as docas, parques, alguns limpos e bem cuidados, onde algumas pessoas praticavam exercícios ou simplesmente caminhavam.
Foi bonito e recomendo.
Voltámos à estrada número 90, passámos a fronteira para o estado de Indiana, que é um estado com um terreno pouco acidentado, portanto com grandes planícies, um solo bastante fértil, que fazem deste estado um grande produtor de trigo, o que podemos comprovar pelas enormes áreas cultivadas, próximo da estrada onde seguíamos, na rota em direcção ao Atlantico, passando por South Bend, Elkhart, entrando no estado de Ohio.
O estado do Ohio, que na língua “iroquesa” significa “Algo Grande”, “Grandes Águas”, “Belo Rio”, “Grande Rio” ou “Bom Rio”, pois eram estes os nomes utilizados pelos nativos americanos, para descrever o rio Ohio, antes da chegada dos primeiros exploradores europeus, os franceses.
Também chamam a este estado “Mother of Modern Presidents”, ou seja a Mãe dos Presidentes Modernos, pelo facto de sete dos Presidentes dos Estados Unidos nasceram e cresceram no Ohio, estando em segundo lugar, pois o estado de Virgínia, tem um total de oito presidentes.
Continuando na rota do Atlântico, passámos próximo de Toledo, Elyria e Cleveland, que fazia parte do nosso roteiro, embora já tivéssemos por outra altura estado na cidade, havia alguns lugares a visitar, mas já era ao pôr-do-sol e não havia muito tempo com luz do dia para admirar esses lugares, portanto seguimos e fomos dormir e comer na povoação de Austinburg, no estado de Ohio, onde não havia vagas nos hotéis, mas por especial favor, dormimos num, onde pelo menos nós não vimos computadores. A recepcionista pediu-nos para preenchermos uma folha com o nosso nome e direcção, e uma cópia dessa mesma folha foi a nossa factura. Este hotel tinha o sugestivo nome de “American B.... V.... Inn”, com uma “maravilhosa” vista para a estação de serviço na área e com um som característico dos camiões rolando fora de horas a toda a velocidade, na auto-estrada número 90.
Este foi o resumo do dia 8, e ainda estamos muito longe da nossa casa, na Florida.
Tony Borie
Agosto de 2013
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Nota do editor
Último poste da série de 4 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12541: Os nossos seres, saberes e lazeres (63): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (7) (Tony Borié)
1 comentário:
Caro Tony
Nesta parte de tua viagem há umas 'coisas' que merecem uma anotação.
Antes do mais, o facto de as pessoas andarem num frenesim, próprio do afã das grandes metrópoles, e isso contrastar fortemente com o vagar com que vocês se deslocavam.
Depois, calculo como deveria ter sido pitoresco para os citadinos terem as visões 'rurais' com que se apresentavam.
Recordo que em muitos locais, eram vocês e a viatura que eram os alvos dos fotógrafos...
Depois, há também umas outras coisas que, salvaguardadas algumas diferenças, por motivo de 'escala', são muito semelhantes ao que se passa por cá:
- as saudações dos 'motard';
- o exagero do preço do parqueamento.
Refiro também como tipicamente português a 'solução' encontrada para resolver o problema da 'visita guiada'... entrar na nossa própria viatura e seguir um dos autocarros dos 'tour'... et voilá!
Abraço
Hélder S.
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