"Vasco: Se calhar tens que ser... mais explícito... Onde é que o "cerne" da tua irresponsabilidade... Nem toda a malta conhece a "cultura" da artilharia... Abração, Luis" (*)
Caro Luis,
Cordiais saudações.
O teu oportuno comentário, sobre um post meu; me alertou que, realmente, a maioria dos Camaradas não está familiarizada com a "cultura" da Artilharia.
Logo que saímos de Vendas Novas, onde já éramos poucos, fomos para os quartéis, com muitos de nós dando instrução básica de Infantaria, para futuras CART (nominalmente).
Já éramos poucos, e assim continuava quando normalmente três de nós (caso da Guiné) éramos agregados a uma Companhia ou Batalhão de Infantaria, fazendo humor fácil com a letra de uma canção antiga éramos "...tristes Artilheiros solitários..." sem a "âncora" de Companhias ou Batalhões, e assim continuava quando voltávamos para casa, sem os salutares e terapêuticos convívios.
Operacionalmente, tínhamos uma formação "express" na "fábrica" de Artilheiros em Vendas Novas, diga-se de passagem com excelentes instrutores, mas com manuais dos tempos da guerra clássica; eu por exemplo, fui treinado para, supostamente, ser observador e para fazer a ligação do Batalhão ou Brigada com a Artilharia Divisionária. Então, éramos "jogados" em África, numa guerra de guerrilhas, que poucos Oficiais acima de Major, faziam ideia do que fosse.
Na Guiné, a tropa era Africana, nos Pelotões onde estive, éramos somente três da tropa Continental.
Quanto ao material era de bom a excelente, principalmente os Obuses 10,5, porém, mais uma vez, "hardware" e "software", transplantados da gelada Europa, para as tórridas e húmidas bolanhas dos deltas dos rios da África Ocidental.
Não irei discorrer sobre a complexidade do tiro de Artilharia, pois, o Nobre Artilheiro C. Martins já o fez neste Blog, com notável maestria.
Dentro do Aquartelamento, havia ordem expressa para não sair - imaginemos o efeito que teria a propaganda IN apresentar um "canhão" aprendido às NT - basicamente os trabalhos eram de ataque a bases IN, e resposta a ataques ao quartel, o que se tornou relativamente fácil para mim, pois tive a sorte de ter uma equipe competetente ágil e leal.
Quando de um ataque ao quartel e o Comandante ordenava: todos para as valas e abrigos, o Artiilheiro era o único de pé a descoberto, não porque fosse mais "valente", mas porque era lá, no espaldão, que se sentia seguro.
Dando apoio às tropas de Infantaria, por vezes debaixo de fogo num ambiente com poucas referências, com cartas com a precisão que todos nós conhecemos, era sem dúvida o momento de maior tensão do Artilheiro, com necessidade de decisões e cálculos rápidos, por vezes acumulando as funções de Observador, Chefe do Posto de Comando de Tiro e Comandante de Bataria.
Espero, caro Luis, ter começado a responder à tua "ordem" de Comandante desta " Grande Brigada"!!!
forte abraço a todos
E siga a Artilharia...(**)
Vasco Pires
Ex-Soldado de Artilharia (IOL)
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Notas do editor:
(*) Vd. 26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)
2 comentários:
Caro camarada V.Pires
Apesar de ficar sensibilizado com o "nobre artilheiro" não sou merecedor de tal adjectivação.
No meu tempo na E.P.A. tínhamos instrução de pct,iol e campanha e de todos os obuses desde o 7,5 (0bus de montanha)fabrico italiano,8,8 (obus anticarro)inglês,10,5 (fabrico alemão)por isso era muito bom,peça 11,4 e obus 14 os dois ingleses, não existia ainda o 15,5.
Sobre a solidão artilheira, na guiné os pelarts eram destacados pelos aquartelamentos em todo o TO, e dependíamos hierarquicamente do GA7 em Bissau,apenas estávamos "adidos" a uma companhia para efeitos de alimentação, e obviamente colaborávamos operacionalmente,nomeadamente na defesa afastada dos aquartelamentos e de apoio operacional.
Apenas os graduados eram metropolitanos.. e quase nunca permaneciam no mesmo local durante toda a comissão, e como éramos de rendição individual até os graduados rodavam..daí a nossa orfandade e até solidão..quais batalhões quais companhias..INFANTES TENHAM PENA DE NÓS..fomos uns coitadinhos..e agora não temos com quem confraternizar..o que vale é o encontro em Monte Real..é bom, mas não é a mesma coisa.
Logo nós que somos os "intelectuais" da tropa.
Um alfa bravo
C.Martins
Caros camaradas V.Pires e C.Martins,
No meu tempo na E.P.A. 2º turno 67, onde fui tratado com respeito em comparação com R.I.5, mas a preparação militar duríssima estava entregue aos oficiais comandos Capitães J.Oliveira, R.Rei e S.Oliveira. Da fornada de artilheiros do 2º turno de 67 dois ou três ficaram na metrópole e a maioria foi para a Guiné.
Nós de rendição individual éramos como órfãos de pai e mãe no mato.
Nessa altura(ABR/1968) a B.A.C.Nº1 era comandada por um Major depois passou a ser comandada por capitães sendo o último o Cap. Moura Soares. A minha 1ª posição foi Cameconde e entre outras foram Bachile/Pelundo tendo como oficial de operações o saudoso Major Passos Ramos. Nessa altura havia falta de graduados artilheiros.No nosso caso ficamos mais de 2 meses a espera de substitutos. Há uma oração dos INFANTES, bastante antiga também ouvida na Guiné que era: "DEUS NOS LIVRA DOS TIROS DO INIMIGO E DA NOSSA ARTILHARIA" Por último uma homenagem aos artilheiros mortos em combate em especial os Alf.Milº Gonçalves e FurMilº Batista falecidos em Guilege(1969) que deram o nome as paradas do G.A.C. Nº7.
Que a Stª Bárbara nos proteja.
Saudações,
J.Diniz Sousa e Faro
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