quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13621: Convívios (629): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte V: Discurso do Jaime Bonifácio Marques da Silva > 1ª Parte: o elogio dos Boinas Verdes, e a homenagem aos nossos bravos, caídos na campo da honra (I Grande Guerra, 1914/18, França, Angola e Moçambique; e guerra colonial, 1961/74)


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 6 de setembro de 2014 > I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Homenagem aos nossos mortos (I Grande Guerra e Guerra Colonial) (*)


1. Mensagem do nosso camarada e amigo Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, (Angola, 1970/72);:

Data: 11 de Setembro de 2014 às 22:04

Assunto: Jaime,  6 setembro


Caro Luís

Já estamos cá pelo norte e só agora consigo enviar-te o texto - vai em anexo

Obrigado, em nome da AVECO e da Organização, pelo teu apoio na divulgação do Evento no Blogue.

Na reunião que realizámos na passada 3.ª feira, dia 9, para fazermos o balanço do Encontro, todos foram unânimes em realçar um conjunto de entidades que colaboraram connosco e das quais destacámos o Blogue.

Bem hajam pelo vosso trabalho e dedicação na luta pela causa dos combatentes.

Obrigado em nome do grupo

Abraço de amizade

Jaime





Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 6 de setembro de 2014 > I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Doscurso do Jaime Silva, professor de educação física reformado, ex-autarca em Fafe, e ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72)

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

2.  I Encontro de Paraquedistas do Oeste > Lourinhã, 6 de setembro de 2014 > Alocução feita pelo Jaime Silva


SAUDAÇÃO

Sr. Presidente da Câmara Municipal da Lourinhã - Sr. Eng.º João Duarte;
Sr. General Avelar de Sousa;
Sr. General Hugo Borges;
Sr. Coronel Gaspar da Xica;
Sr. Presidentes das Juntas: Lourinhã - Atalaia – Sr. Pedro Margarido; Vimeiro – Sr. Rui Miguel Santos;
Exmo Senhor Presidente da AVECO - Sr. Fernando Castro;
Examos Familiares dos militares mortos na Guerra em África e, particularmente, a família do soldado Paraquedistas Carlos Alberto Ferreira Martins;
Paraquedistas e associações presentes;
Camaradas e amigos da Força Aérea, do Exército e da Marinha aqui presentes e com os quais nos cruzámos pelos quartéis e picadas de Angola, Guiné e Moçambique:

Todos, sejam bem-vindos. Em nome da Comissão Organizadora. o nosso muito obrigado pela Vossa presença

 Caros Combatentes, minhas Senhoras e meus Senhores:

Este ENCONTRO, organizado pelos Paraquedistas, sócios da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste - que congrega no seu seio militares dos três Ramos das Forças Armadas participantes na Guerra do Ultramar tem como objetivo (**):

_________________________

i) Primeiro, juntar, num saudável convívio, todos os que na sua juventude optaram por cumprir o Serviço Militar Obrigatório integrados nas Tropas Paraquedistas e, com essa decisão, fruto do seu esforço e sacrifício, conquistaram o direito de usar uma Boina Verde e, consequentemente, puderam descobrir e fruir do prazer de se poder lançar livremente para o espaço, da porta de um avião em pleno voo e pairar no ar, suspenso por um Paraquedas, até à aterragem.

Os Saltos de Paraquedas proporcionaram-nos momentos inolvidáveis e inesquecíveis e, nunca mais se apagarão da nossa memória.

Jamais um Paraquedista esquecerá a exigência física e psicológica do seu Curso de Paraquedismo, alicerçado no reconhecimento das competências dos Instrutores, oficias e sargentos, responsáveis pela sua administração.

No RCP [Regimento de Caçadores Paraquedistas], em Tancos, respeitávamos e confiávamos nesses militares, responsáveis pelas nossas vidas, para além do RDM (Regimento de Disciplina Militar).

É claro que. depois dos Saltos, apareceu o reverso da medalha – veio a Guerra – a fase do “ferro”. Quando cheguei a Tancos em julho de 1969, vindo da EPI [, Escola Prática de Infantaria.] em Mafra, para frequentar o 52º Curso de Paraquedismo, era frequente ouvir os Paraquedistas que tinham acabado de cumprir uma Comissão de Serviço na Guiné, dizerem: Estive no “Ferro” ou, ainda: estou mobilizado para o “ferro”.

OUTROS TEMPOS: Tempos difíceis. Tempos de Guerra.

Mas isso, são “contas de outro rosário” e não queremos hoje, trazer a este Convívio as suas implicações e consequências, apesar das memórias desse “calvário” que foi a nossa participação na Guerra em Angola, Guiné ou Moçambique.

Desse tempo de Guerra, preferimos, antes, trazer hoje à memória os momentos de camaradagem, de convívio e de solidariedade vividos entre nós, Paraquedistas e, ainda, os momentos vividos em conjunto com os outros militares participantes nos diferentes teatros de operações em África e que cumpriam o seu serviço integrados num dos três Ramos da Forças Armadas Portuguesas.

Qual o Paraquedista que esquece, hoje, o apoio e a solidariedade dos nossos camaradas do Exército, da Marinha ou da Força Aérea durante as operações que realizámos e travámos nas bolanhas da Guiné, nos planaltos do norte de Moçambique ou em Angola, nas matas do norte ou nas chanas do leste?

Fomos, também, solidários com esses nossos camaradas e, desse convívio, resultou entre nós muitas e salutares amizades, algumas delas perduraram até hoje.

Nós, Paraquedistas (os mais velhos e os homens e as mulheres das novas gerações), continuamos a ser homens solidários e gratos e, por isso, para aqueles nossos amigos do Exército, da Marinha ou Força Aérea que hoje quiseram juntar-se a nós neste salutar ENCONTRO, peço a todos os PÁRAS aqui presentes e como preito do nosso respeito, uma grande salva de palmas para todos eles.

____________________________________________________

ii) Como segundo objetivo para este ENCONTRO foi intenção da Comissão Organizadora propor aos presentes um momento de Reflexão e Evocação em memória de todos os Combatentes Portugueses que tombaram nos campos de batalha na Europa e em África, em nome de Portugal.

Entendemos que é um ato cívico e um exemplo de cidadania para as novas gerações, um povo lembrar e evocar a memória daqueles que tombaram ao serviço da sua Pátria.

Assim:

A primeira EVOCAÇÃO, será para os mais de 8 mil combatentes que tombaram na Guerra Colonial em África.

Na segunda EVOCAÇÃO, lembraremos as consequências desta Guerra para as famílias dos militares do concelho da Lourinhã e que se traduziu na morte de 20 dos seus filhos: 9 em angola, 5 em moçambique e 6 na Guiné.

Neste número está incluído o nosso camarada, o Soldado Paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins, falecido em combate na Guiné em 15 de abril de 1971 e que será lembrado nesta cerimónia em momento próprio.
_______________________________

POR ÚLTIMO, e porque durante este ano de 2014 todo o Mundo Civilizado evoca os Cem anos do início da I Guerra Mundial, entendeu a Comissão Organizadora propor aos presentes, também um MOMENTO DE EVOCAÇÃO em Memória dos portugueses mortos durante esse conflito nos campos de combate em França e em África (sul de Angola e norte de Moçambique).

Esta guerra deixou um rasto de destruição e morte em vários continentes. De acordo com estatísticas oficiais perderam a vida a mais de 37 milhões de pessoas, militares e civis, entre 3 de agosto de 1914 e 11 de novembro de 1918, data em que foi assinado o Armistício.

Portugal só entra na Guerra, na frente europeia, em 1916, apesar de em África as tropas portuguesas terem começado a combater os alemães logo em agosto de 1914.

Cinquenta e cinco mil homens constituíram o Corpo Expedicionário Português e destes, estima-se que tenham morrido 7.760 soldados portugueses, a grande maioria dos quais em Moçambique, cerca de 4.811.

HOJE, por todo o mundo, evoca-se a memória das vítimas da I Guerra Mundial.

E em Portugal?

No passado dia 1 de agosto a Rádio Renascença (versão on line), divulgava a seguinte notícia:

“Há um mar de papoilas em Londres para lembrar as vítimas da I Guerra”

O relvado da Torre de Londres está pintado de vermelho. Este foi o local escolhido para plantar 888.246 papoilas de cerâmica, uma homenagem às vítimas britânicas da I Guerra Mundial.
A Exposição vai estar aberta até ao dia 11 de novembro. Depois disso, todas as papoilas serão vendidas por 25 libras cada, o que angariará cerca de 15 milhões de libras. Estes fundos serão distribuídos pelas várias associações que ajudam os veteranos de guerra e as suas famílias. Nesta altura 645.000 das papoilas já estão reservadas.”

Este é um exemplo de um povo que foi educado a respeitar, a reconhecer e a evocar a memória dos que se sacrificaram na defesa da sua Pátria!

E em Portugal? O que fez Portugal em relação aos seus filhos que sacrificaram o seu sangue ao seu serviço?

O costume: exigiu-lhes a própria vida e, em troca, olhou-os sempre de esguelha e esqueceu-os.

Foi assim com os militares portugueses que tombaram na I Guerra Mundial. Foi assim com os militares portugueses que tombaram na Guerra do Ultramar!

Lê-se na historiografia atual, disponível: “Em janeiro de 1919 os militares do CEP (Corpo Expedicionário Português) regressaram e encontraram um país mergulhado numa profunda crise. Foi um regresso pouco entusiasta – “quase às escondidas”.

A História repetiu-se em 1974 !

A este propósito, cito do 1.º Suplemento diário sobre a Primeira Guerra Mundial editado pelo Jornal Público em 28.7.2014 na pg. 3:

“ No dia 26 de junho o primeiro-ministro de Portugal foi ao cemitério militar de Richebourg, no norte da França, “prestar a homenagem coletiva (portuguesa) ” aos soldados que morreram na Primeira Guerra Mundial. Se, em vez de ter escolhido o palco europeu da guerra, optasse pelo cemitério de Palma ou o ossário de Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique, dificilmente Pedro Passos Coelho teria condições para manifestar o “respeito e sentimento de enorme orgulho “que o país supostamente “tem por todos aqueles que se sacrificaram ao serviço da nação”. Porque nesses lugares remotos não encontraria cemitérios com cruzes brancas, alinhados e conservados, a cortarem o verde da paisagem. Descobriria, sim, lápides a emergirem entre o lixo que alimenta galinhas e cabras. Tumbas engolidas pelo avanço da selva, túmulos profanados com os restos dos esqueletos dos combatentes expostos ao ar, campas onde só com esforço se consegue ler o nome dos que morreram em Quionga, em Negomano ou no território dos macondes do rio Rovuma”.

Governados por gente como esta, para nós portugueses, hoje, que significado tem, sobretudo para as novas gerações “entoar-se o Hino Nacional”, ou Gritar: “VIVA PORTUGAL”?

Mas nós, ex – combatentes, não nos calaremos! Os Mortos nos campos de batalho, não se calarão!

Termino, lendo parte de um poema de John McCrae escrito em Maio de 1915, depois da segunda batalha de Ipres (Leste da Bélgica), que matou milhares de soldados:

"Nos campos da Flandres crescem papoilas
Entre as cruzes que, fila a fila, marcam o nosso lugar (...)
Se trairdes a fé de nós que morremos,
Jamais dormiremos, ainda que cresçam papoilas
Nos campos da Flandres".

Obrigado.

(Continua)
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Notas do editor


(**) 17  de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13619: Convívios (628): Rescaldo do almoço/convívo do pessoal da CART 6254/72, levado a efeito no passado dia 13 de Setembro em Espinho (Manuel Castro)

1 comentário:

Anónimo disse...

A. Luís Graça deixou um novo comentário na sua mensagem "Guiné 63/74 - P13614: Histórias da CCAÇ 2533 (Canj...":

Ainda há dias o meu amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, que foi alf mil paraquedista em Angola (BCP 21, 1970/72) me confidenciava que, entre os sargentos paraquedistas, era frequente ouvir conversas em que tomava a Guiné como o TO onde se me podia mostrar e avaliar a valentia de um paraquedista. "Ir para o ferro" era oferecer-se para combater na Guiné ou ir parar á Guiné... Era a guerra a sério... Nada que se comparasse com Angola ou até mesmo o com norte de Moçambique...

B. Mail do LG:

Jaime: queres desenvolver esta ideia de "ir para o ferro" /(ou seja, para a Guiné), que ouvi da tua boca ?... Esta semana ainda opublico o teu discurso...Dá, entretanto, uma vista de olhos aos versinhos que lemos ao Pinto de Carvalhal, na festa da tua terra... Um abração. Luis

C. Resposta do Jaime (17 set 2014):


Caro Luís

1. Quanto ao "Ferro" - refere-se à Guiné por ser o local de maior dificuldade.

De qualquer modo vou falar com o Aru e com o Srg. Lourenço Delgadinho (lá para o outubro) porque ele repetiu várias vezes o termo na última convesa que tive com ele no Seixal, aí há 3 meses! (...)