A. Mensagem enviada ao fimd a tarde, pelo correio interno, a toda a Tabanca Grande:
Camaradas:
1. Desculpem importunar o vosso descanso de fim de semana, que deveria ser sagrado para um guerreiro... Mas esta nossa partilha de menórias não tem dia(s) nem hora(s)...E é sempre mutuamente vantajosa...
2. Há dias mandei-vos uma "charada": que raio de inscrição era aquela no cano do mais puro aço Krupp no obus 10.5 de Mansambo, 19678, onde o nosso camarada Torcato Mendonça pousou (descansou) o braço direito e posou para a eternidade, qual Napoleão, mostrando o relógio Rolls Royce Breitling de duas mila patadas, no pulso do braço direito ?... A inscrição dizia Magul 1895 [, vd. foto acima]...
Foi preciso um "brazuca", ex-artilheiro de Gadamael, o Vasco Pires, mandar, do outro lado do Atlântico, a contra-senha: Magul (8/9/1895)... foi a célebre batalha que precedeu, em 3 meses, a de Chaimite (28/12/1895), em Moçambique, quando Gungunhana, rei de Gaza, e aliado dos ingleses, é aprisionado por Mouzinho de Albuquerque... Bolas, a escolinha foi há mais de meio século!... Alguém se lembraria de Magul!...
3. O exercício deste fim de semana não é menos desafiante: a BOR, já ouviram, falar? Alguns de nós andaram nela (ou nete)... Era um pachorrento ferryboat capaz de levar a carga de uma LDG... Spínola "passeou" nele(a) no Rio Corubal, em 17/3/1969... O Torcato, o Ismael e outra malta do leste andou na BOR...Eu não tenho ideia, e como não tenho a certeza não ponho no meu currículo... Andei no Bubaque, mas na BOR não me lembro...
O nosso camarada e hoje embaixaxdor de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa, descreve-a nestes termos
(...) "Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares". (...)
4. Não acreditam, mas nós que já publicámos cerca de 30 mil fotos no nosso blogue, não temos uma foto da BOR!... Temos tropa na BOR, na viagem de regresso de Bambadinca a Bissau, mas não temos uma foto de corpo inteiro desta valente embarcação que fez a guerra e a paz....A foto que anexo é do Fernando Cachoupo, a quem saúdo, bato pala e tiro o quico!...
Camaradas, vasculhem osvossos álbuns e baus, mas por favor mandem-me uma foto da mítica BOR!...
Um alfabravo de camarada para camarada, de amigo para amigo. Luís Graça
B. Resposta pronta do nosso veteraníssimo Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]
Ainda há poucos dias contei, não sei onde, a minha história a bordo do Bor, minha e de minha mulher que estava pançuda e o médico disse que não devíamos ir de avião... Então vai disto ... Bor, "bamo bora" e lá vai um jovem casal, sentados em rolos de cabos grossos, quando começa uma tempestade daquelas que todos conhecem, os que estiveram pisando o solo da Guiné, quase à saida do Canal de Bolama...
À passagem defronte da Ilha das Cobras começa o motor a... puff, puiuff e puift mêmo, já perto do Geba, chuva na chube noss alfer ...
Pois... e eu à rasca por causa da minha mulher que nem lhe via a cor branca da face, mas aguentou estoicamente, fui falar ao "Comandante" mas pouco, e ninguém conseguía pôr a nau Catrineta a funcionar, e eu a ver os canais do Geba e a ver duas coisas ou ficamos aqui nos baixios ou vamos a caminho do Atlântico, sem rádios sem comunicação com terra ... zero!
Não sei o que se passou... De repente ouço os motores trabalhando e os "mecânicos" rindo, cantando e dançando, fui para o pé da minha mulher e, passado uma hora, para mais não para menos, eis-nos chegando ao Pidjiguiti (se não for assim, é parecido) onde estava o Capitão João Nogueira e a esposa esperando e muito apreensivos.
A aventura do Bor...
Boa noite, Rui Santos
C. E a propósito, cumpre-me lembrar e reproduzir aqui uma outra mensagem recente, do nosso camarada e grã-tabanqueiro de longa data, e que queremos partilhar com o resto da Tabanca Grande:
Eu, Rui Gonçalves dos Santos, alferes miliciano
Último poste da série > 29 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês
Camaradas:
1. Desculpem importunar o vosso descanso de fim de semana, que deveria ser sagrado para um guerreiro... Mas esta nossa partilha de menórias não tem dia(s) nem hora(s)...E é sempre mutuamente vantajosa...
2. Há dias mandei-vos uma "charada": que raio de inscrição era aquela no cano do mais puro aço Krupp no obus 10.5 de Mansambo, 19678, onde o nosso camarada Torcato Mendonça pousou (descansou) o braço direito e posou para a eternidade, qual Napoleão, mostrando o relógio Rolls Royce Breitling de duas mila patadas, no pulso do braço direito ?... A inscrição dizia Magul 1895 [, vd. foto acima]...
Foi preciso um "brazuca", ex-artilheiro de Gadamael, o Vasco Pires, mandar, do outro lado do Atlântico, a contra-senha: Magul (8/9/1895)... foi a célebre batalha que precedeu, em 3 meses, a de Chaimite (28/12/1895), em Moçambique, quando Gungunhana, rei de Gaza, e aliado dos ingleses, é aprisionado por Mouzinho de Albuquerque... Bolas, a escolinha foi há mais de meio século!... Alguém se lembraria de Magul!...
3. O exercício deste fim de semana não é menos desafiante: a BOR, já ouviram, falar? Alguns de nós andaram nela (ou nete)... Era um pachorrento ferryboat capaz de levar a carga de uma LDG... Spínola "passeou" nele(a) no Rio Corubal, em 17/3/1969... O Torcato, o Ismael e outra malta do leste andou na BOR...Eu não tenho ideia, e como não tenho a certeza não ponho no meu currículo... Andei no Bubaque, mas na BOR não me lembro...
O nosso camarada e hoje embaixaxdor de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa, descreve-a nestes termos
(...) "Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares". (...)
4. Não acreditam, mas nós que já publicámos cerca de 30 mil fotos no nosso blogue, não temos uma foto da BOR!... Temos tropa na BOR, na viagem de regresso de Bambadinca a Bissau, mas não temos uma foto de corpo inteiro desta valente embarcação que fez a guerra e a paz....A foto que anexo é do Fernando Cachoupo, a quem saúdo, bato pala e tiro o quico!...
Camaradas, vasculhem osvossos álbuns e baus, mas por favor mandem-me uma foto da mítica BOR!...
Um alfabravo de camarada para camarada, de amigo para amigo. Luís Graça
Ainda há poucos dias contei, não sei onde, a minha história a bordo do Bor, minha e de minha mulher que estava pançuda e o médico disse que não devíamos ir de avião... Então vai disto ... Bor, "bamo bora" e lá vai um jovem casal, sentados em rolos de cabos grossos, quando começa uma tempestade daquelas que todos conhecem, os que estiveram pisando o solo da Guiné, quase à saida do Canal de Bolama...
À passagem defronte da Ilha das Cobras começa o motor a... puff, puiuff e puift mêmo, já perto do Geba, chuva na chube noss alfer ...
Pois... e eu à rasca por causa da minha mulher que nem lhe via a cor branca da face, mas aguentou estoicamente, fui falar ao "Comandante" mas pouco, e ninguém conseguía pôr a nau Catrineta a funcionar, e eu a ver os canais do Geba e a ver duas coisas ou ficamos aqui nos baixios ou vamos a caminho do Atlântico, sem rádios sem comunicação com terra ... zero!
Não sei o que se passou... De repente ouço os motores trabalhando e os "mecânicos" rindo, cantando e dançando, fui para o pé da minha mulher e, passado uma hora, para mais não para menos, eis-nos chegando ao Pidjiguiti (se não for assim, é parecido) onde estava o Capitão João Nogueira e a esposa esperando e muito apreensivos.
A aventura do Bor...
C. E a propósito, cumpre-me lembrar e reproduzir aqui uma outra mensagem recente, do nosso camarada e grã-tabanqueiro de longa data, e que queremos partilhar com o resto da Tabanca Grande:
Eu, Rui Gonçalves dos Santos, alferes miliciano
de 1963 a 1965, prestei serviço no CTIGuiné, em rendição individual, no sudoeste desse território, Bedanda (4ª CCaç) e Bolama (CIM), passando também em Fulacunda por uns dias, por actos praticados em cumprimento do meu dever, galadoaram-me com a Medalha de Mérito Militar de 3ª classe.
Fui ... um militar de infantaria ... das operações banais .... Hoje, 13 de Novembro de 2014, pelas 15 horas e 30 , em Chelas, numa cerimónia singela, a meu pedido, um sr major e um sargento ajudante colocaram-me fora do peito o que tenho e sinto com muita honra dentro dele ... Obrigado!
As fotos do acto registado por meus filhos, que foram comigo testemunhar e apoiar-me na respectiva sessão da condecoração.
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Nota do editor:
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Nota do editor:
9 comentários:
Uma Achega, a Bor pifou de vez e passou em 1973, em meados de junho, a deslocar-se atrelada a um rebocar. Numa das viagens que fiz, Xime-Bambadinca, por deferência do comandante do rebocar, foi bem mais confortável e com direito a bebida a bordo do rebocador. Curiosamente nunca fiz a viagem inversa de barco.
João Silva Ccac 12, 1973
João Silva, não deixa de ter muito simbolismo essa imagem, a da BOR, à beira de ir para a sucata, mas ainda resistindo, rebocada, descendo o Geba, transportando gente e material...
Mais um exemplo da nossa proverbial arte do desenrascanço...
Mas foto ká tem!...É isso, João ?
Boa tarde Luis,
Cordiais saudações Lusitana .
Quando aqui (Brasil),um pouco depois do Seu Cabral,uma tia-avó,que aqui estava há mais de cinquenta anos,me chamou de lado e profetizou :
- Daqui para a frente, aqui és (chamado) Português, lá, és (chamado) Brasileiro (agora Brasuca).
...e assim tem sido.
Forte abraço
Leia-se: Quando aqui cheguei...
Vasco, para nós, serás um valente português de quinhentos...
Viva a diáspora lusitana!,,,
E a propósito, o que é ser português hoje ?
Companheiro Luís, como sabes naquela época máquina fotográfica era "ave rara". Mas o que todos sabemos é que foi uma viagem que ficou marcada na nossas memórias.
Camarada João Silva, tens razão... Com o patacão da guerra, comprámos (os milicianos) as primeiras máquinas fotográficas, japonesas, que nos chegavam à Guiné, via Macau, a preços muito mais acessíveis...
Mas, mesmo assim, era um objeto de luxo, mesmo para os milicianos. Da malta da CCAÇ 12, do meu tempo, poucos tinham máquina: os furrieis mil Arlindo Roda, o Humberto Reis, o Tony Levezinho...
Depois havia, sempre um ou outro praça que montava o seu negócio de fotografia, e que inclusive tinha um pequeno estúdio para revelação...
Ganhava-se bom dinheiro com o negócio da fotografia... A Guiné era fotogénica (as bajudas, os macacões-cães, as bolahas, os palmeiras, as tabanacs, os trajes...), e toda a gente gostava de mandat um "postal ilustrado" a metrópole, a família e os amigos... Quanto mais não fosse pra fazer a "prova de vida"...
Tenho muito pena de, na altura, não me intersssar pela fotografia... Não tinha máquina, e muito menos disposição para me dedicar à fotografia...
Um alfabravo. Luis
Amigo Luis, de certeza que era o Bor, foi em Fevereiro de 1965, dias antes do nascimento de nossa filha, o Bor nessa altura ja navegava de "bengalas" e "boias nos braços", enferrujado, velho combatente mas navegando á superficie dos canais e rios lemitrofes de Bolama e Bissau.
Abraço
Rui Santos
Com toda a reserva sobre este assunto queria deixar aqui uma dúvida. Uma cruz de guerra é uma condecoração imposta perante forças em parada.Não é para cerimónioas intimas e aindapor cima imposta por um individuo á paisana. Gostava de ler alguma coisa sobre isto. De resto noutras ocasiões foi assim que se procedeu com aquele cerimimonial militar.É bom nõa deixar cair estas formalidades a bem da dignidade de quem combateu ao serviço da Nação
Cumprimentos
Carlos Martins Pereira
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