quarta-feira, 1 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14428: Os nossos seres, saberes e lazeres (82): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte II) (Luís Graça)





Berlim > 21 de março de 2015 > Centro de Documentação "Topografia do Terror"Localização: Niederkirchnerstraße 8
10963 Berlin, metro:Potsdamer Platz ou Kochstraße


Exposições permanentes (em alemão e inglês) > das 10h às 20h, todos os dias, entrada gratuita

Interior >  Topography of Terror: Gestapo, SS and Reich Security Main Office on Wilhelm- and Prinz-Albrecht-Straße

Exterior > The Historic Site “Topography of Terror.” A Site Tour in 15 Stations


Mais de um milhão de pesoas visitaram em 2014 o Centro de Documentação  “Topograpia do Terror".... Durante o chamado  “Terceiro Reich” (1933-1945),  as instituições do terror nazi estavam aqui localizadas: a sede da GESTAP0, a Polícia Secreta,  das SS e da Segurança do Reich (na II Guerra Mundial)... Hitler e os seus colaboradores mais próximos tinham, por aqui perto, os seus gabinetes e mais tarde, com a guerra, os seus "bunkers"... Foi no seu "bunker", algures por aqui, que Hitler se suicidoou... Estamos a 1,5 km do antigo Reichtag (o parlamento que ois nazi incendiaram em 1933), e das portas de Brandemburgo...

No tempo da RDA (República Democrática Alemã) foi tudo arrasado... Hoje há apenas restos arqueológicos dos edifícios (de resto, destruídos pelos bombardeamentos e combates no final da II Guerra Mundial) e uma exposição permanente sobre a ascensão e queda do nazismo e os crimes, dentro e fora da Alemanha... Para que as gerações mais novas, na Alemanha, na Europa, em todo o Mundo, não esqueçam...

O Centro de Documentação e o espaço museológico à volta ficam a escassos 350 metros da cosmopolita Potsdamer Platz, com entrada junto ao edifício Martin Gropius... O muro de Berlim (1961-1989) também passava por aqui...

Passei algumas horas da tarde chuvosa de 21 de março a visitar esta exposição... A profusão e a riqueza da documentação fotográfica abarcam praticamente todos as dimensões do regime totalitário a que Hanna Arendt (1906-1975) chamou o "mal absoluto"... Saímos deste lugar acabrunhados... Mas ao mesmo tempo orgulhosos do que há de melhor nos seres humanos, os que souberam e conseguiram resistir: alemães e outros representantes de outros povos que tiveram a  coragem e a lucidez de lutar contra esta monstruosidade...

Aqui ficam algumas fotos (e respetivas legendas em inglês) que tirei da exposição, e que reproduzo,  com a devida vénia, com um fim meramente informativo e didático (*)... A "Topografia do Terror" é um dos locais da memória de Berlim, da Alemanha, da Europa e do Mundo, que é obrigatório visitar. O acesso é gratuito, e está aberto das 10h às 20h. (**).

Devo acrescentar que achei, de um modo geral, os berlinenses simpáticos e afáveis, dos meus contactos (superficiais) com eles, como turista... O turista é bem vindo a Berlim, o turismo cria empregos... Cerca de 14% da população de Berlim é estrangeira. sendo metade de origem turca... Em relação ao passado (nazismo, holocausto, guerra, muro de Berlim...) julgo que eles estão a saber fazer a gestão desses traumas.... Há uma expressão em alemão para isso: Vergangenheitsbewältigung, saber lidar com o passado... 

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados




1933> Hitler sobe ao poder... democraticamente, sob a República de Weimar,  para logo a seguir destruir a demcracia... A GESTAPO e as SS serão o principal instrumento do terror nazi.




1933 > O início do Reich dos Mil Anos... Desfile nazi, c. março de 1933




1941 > Mogilev > Conquistadores e conquistados...




Cartaz para o "Dia da Polícia Alemã" (1941)






Outubro de 1941 > Execução, pelo exército alemão, de prisioneiros civis sérvios... Na sequência da morte de 22 soldados alemães, atribuída á resistência sérvia, foram executados, em represália, 2100 (!)  sérvios (na maior parte, judeus, comunistas e ciganos)...



1945 > Campo de concentração de Bergen-Belsen > 19 de abril de 1945 > Guardas femininas das SS,  feitas prisioneiras pelo exército britâncio... Três delas serão depois condenadas à morte e executadas.




1945 >  Berlim > Abril/maio... Captura de um elemento SS... 


1945 >  Uma criança nas ruínas de Berlim



Alemanha > 12 de março de 1945 > Cartaz de propaganda do exército dos EUA: granadas decoradas com as palavras "Feliz Páscoa, Adolfo" e "Ovos da Páscoa para Hitler".

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8 comentários:

Anónimo disse...



Camarada e amigo Luís Graça:

"Vergangenheitsbewältigung" sempre admirei os alemães por esta capacidade de fazer palavras tão grandes como frases.
Admiro igualmente a tua capacidade de retratar em fotos e em palavras, o que registas como mais importante, o que durará para a história por muitos anos, talvez os mil anos que Hitler, o ditador nazi, dizia que iria durar o Império Alemão.
Muito obrigado pela lição de história e de turismo cultural, que nos dás.

Um grande abraço

Francisco Baptista

Antº Rosinha disse...

Também entendes de Alemão Luís Graça?

Parece-me que não há nada que tu não entendas.

Gostava que um dia conseguisses informação suficiente, de uma coisa que ouvi há muitos anos, quando eu não ligava a politiquices.

Foi o seguinte: Se os Alemães têm vencido a II Grande Guerra, pelo menos não sairem esmagados como aconteceu, hoje a língua universal não seria o Inglês, mas sim o Esperanto.

Sabes que os Alemães a seguir à derrota militar muitos foram para o Brasil, EUA, Argentina, mas também foram alguns para as colónias portuguesas, e foi lá em Angola que ouvi essa conversa do Esperanto.

E essa tua viagem trouxe-me isso à lembrança.

Cumprimentos.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Escreveu o Luís,
Vergangenheitsbewältigung, saber lidar com o passado...

Parece-me que é uma boa atitude.
E que bem podia ser utilizada por cá.
"Saber lidar com o passado" seria certamente uma forma de ultrapassar e 'resolver' tantos 'ressabiamentos' que se vão vendo e lendo por essa 'internet'....

Hélder S.

antonio graça de abreu disse...

Bitte, bitte mein Herr!
Berlin, eine wunderschöne Stadt!
Ich bin dort gewesen in 1969, mit dem Mauer, Ost-Berlin und alles.
Pois, estive em Berlin em 1969, com o muro, que atravessei para Berlim-Leste, etc.
Nos meus anos a.C.(antes da China)e
a.G.(antes da Guiné) vivi onze meses em Hamburgo. Fez-me muito bem.Alargou-me horizontes, dos dezanove para os vinte anos. E tive uma esplendorosa e louríssima namorada alemã, a minha Inge Balk.
Saudades! E com a minha Fräulein, e não só, exercitei bem a língua, por isso ainda hoje falo razoavelmente alemão.
Tenho uma licenciatura em Filologia
Germânica, com muito alemão e inglês pelo meio.
E não quero morrer sem voltar a Berlin.
Mas há uma porradaria de anos é só China.

Abraço,

António Graça de Abreu

Vasco Pires disse...

Muito poucos tiveram coragem de enfrentar a fúria avassaladora do III Reich.
O meu profundo respeito à esses Homens e Mulheres.
Forte abraço.
VP

Vasco Pires disse...

Onde se lê :à esses...
Deve ler-se: a esses...
VP

Luís Graça disse...

Vasco Pires disse:

"Muito poucos tiveram coragem de enfrentar a fúria avassaladora do III Reich. O meu profundo respeito à esses Homens e Mulheres"...

Vasco, senti isso em Berlim... E fiquei sem pinga de sangue ao imaginar-me a viver num país totalitário, de pensamento único... De direita ou de esquerda...

Mas no dia 27 de março, voltei para o meu país... E aqui lembrei-me que nasci em 1947 (ano e meio depois do fim da II Guerra Mundial) e que em 1965 já podia ter ficha na PIDE, e que em 1969 era mobilizado para uma guerra com a qual não concordava... Lembrei-me que nasci num país de brandos costumes, mas que era uma ditadura...Não confundo, em todo o caso, os povos com os regimes políticos...

Tony Borie disse...

Olá Luis.
Tanto este como o anterior post, são documentos reais do que era o continente Europa, quando a nossa geração nasceu.
Seguimos ainda uns anos, dirigidos por essa odiosa geração, que então pensava assim, do tal "quero, posso e mando e todo o mundo tem que pensar como eu, pois é o que eu quero, portanto tem que ser assim"!.
Felizmente, aos poucos vai acabando esse pensamento, as novas gerações, estão a ser educadas de diferente maneira.
Há uns anos, um colega de trabalho, que viajava pela Europa, um dia trouxe-me um bocado de cimento, parecia pedra, que foi tirado do tal "muro de Berlim", eu, guardo esse bocado de cimento, na montra das minhas mais estimadas recordações, que creio que vai passar aos meus filhos, que já têm a recomendação de o passar aos meus netos, para que se lembrem da geração em que o avô nasceu, onde o pensamento e a vontade de uma minoria, dominava um continente, tratando e matando pessoas, como se fossem simples objectos sem qualquer valor!.
Bem hajas por ter publicado estes posts.
Um abraço,
Tony Borie.