Dias de ira, aqueles,
os da guerra...
para os meus camaradas
que combateram
naquela terra verde e rubra
a que chamávamos Guiné,
e que a pátria, a mátria e a fátria
há muito esqueceram,
mas que me dão a honra
de partilhar memórias e afetos,
neste blogue,
desde há onze anos,
e que vão estar hoje reunidos
em Monte Real,
mostrando afinal
que o Mundo é Pequeno
e a nossa Tabanca… é Grande!
e recordando ainda, com saudade,
os camaradas e amigos
que nos últimos dois anos e menos de quatro meses,
desde o início de 2013,
nos deixaram,
ficando nós
os da guerra...
para os meus camaradas
que combateram
naquela terra verde e rubra
a que chamávamos Guiné,
e que a pátria, a mátria e a fátria
há muito esqueceram,
mas que me dão a honra
de partilhar memórias e afetos,
neste blogue,
desde há onze anos,
e que vão estar hoje reunidos
em Monte Real,
mostrando afinal
que o Mundo é Pequeno
e a nossa Tabanca… é Grande!
e recordando ainda, com saudade,
os camaradas e amigos
que nos últimos dois anos e menos de quatro meses,
desde o início de 2013,
nos deixaram,
ficando nós
mais pobres e tristes
( foram 17, numa lista, já longa, que vai em 40, desde 2007,
os que da lei da morte se foram libertando):
( foram 17, numa lista, já longa, que vai em 40, desde 2007,
os que da lei da morte se foram libertando):
Amadu Bailo Jaló (1940-2015)
António Manuel Martins Branquinho (1947-2013)
António Rebelo (1950-2014)
Armandino Alves (1944-2014)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)
Fernando Brito (1932-2014)
Fernando Rodrigues (1933-2013)
João Caramba (1950-2013)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014)
José Marques Alves (1947-2013)
Luís Borrega (1948-2013
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Manuel Martins (1950-2013)
Manuel Moreira (1945-2014)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014)
Cavalgam, caudalosos,
os rios
pela terra adentro,
enquanto fluem, ruidosos,
os dias da guerra.
os rios
pela terra adentro,
enquanto fluem, ruidosos,
os dias da guerra.
Rios que não são rios mas rias,
entranhas ubérrimas,
fustigadas pelo vento do Sará,
rias baixas pela manhã,
pedaços, braços de mar,
restos de tsunamis,
pontas de fuzis,
palavras acérrimas,
imprecações ao grande irã,
picadas minadas,
de ir e não mais voltar.
Dias que não são dias,
circadianos, mas fragmentos,
ora ledos ora amargos enganos,
estilhaços de tempo,
riscos nas paredes sujas dos bunkers,
feitos de troncos de cibe, argamassa
e chapas de bidões,
repentinas, fatais emboscadas,
breves finais de tarde,
instantes, flagelações, balas tracejantes
sob o céu verde e vermelho,
enquanto o capim arde.
Narciso, revês-te ao espelho,
quebrado,
vais seminu, de camuflado,
de azul, celestial,
ao encontro do anjo da morte
em Jugudul.
entranhas ubérrimas,
fustigadas pelo vento do Sará,
rias baixas pela manhã,
pedaços, braços de mar,
restos de tsunamis,
pontas de fuzis,
palavras acérrimas,
imprecações ao grande irã,
picadas minadas,
de ir e não mais voltar.
Dias que não são dias,
circadianos, mas fragmentos,
ora ledos ora amargos enganos,
estilhaços de tempo,
riscos nas paredes sujas dos bunkers,
feitos de troncos de cibe, argamassa
e chapas de bidões,
repentinas, fatais emboscadas,
breves finais de tarde,
instantes, flagelações, balas tracejantes
sob o céu verde e vermelho,
enquanto o capim arde.
Narciso, revês-te ao espelho,
quebrado,
vais seminu, de camuflado,
de azul, celestial,
ao encontro do anjo da morte
em Jugudul.
E não há estrelas, à noite,
nem djubis soletrando em árabe
as tabuínhas dos marabús,
allahu akhbar,
allahu akhbar,
allahu akhbar,
mas a bússola indica o norte, sideral,
nunca o sul,
nunca o nascer nem o morrer
numa curva apertada do Corubal.
Dies irae, dies illa,
dia de ira, aquele,
em que subiste o portaló,
o cadafalso do Niassa,
ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
dias de ira, aqueles,
os da guerra!
nunca o sul,
nunca o nascer nem o morrer
numa curva apertada do Corubal.
Dies irae, dies illa,
dia de ira, aquele,
em que subiste o portaló,
o cadafalso do Niassa,
ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
dias de ira, aqueles,
os da guerra!
Calai-vos,
rápidos do Saltinho,
cascatas de Cussilinta,
vós que mais não sois
do que canoas loucas,
desenfreadas, frenéticas,
levadas pelo macaréu da nossa raiva,
entre o Geba e a foz do Corubal.
Braços que não são braços,
amputados,
mas apenas tatuagens, traços,
letras de fado pungentes,
rápidos do Saltinho,
cascatas de Cussilinta,
vós que mais não sois
do que canoas loucas,
desenfreadas, frenéticas,
levadas pelo macaréu da nossa raiva,
entre o Geba e a foz do Corubal.
Braços que não são braços,
amputados,
mas apenas tatuagens, traços,
letras de fado pungentes,
amor de mãe,
pontes que são miragens,
tentáculos, serpentes,
lianas, cortadas pelas catanas,
pontes que são miragens,
tentáculos, serpentes,
lianas, cortadas pelas catanas,
a eito,
pela floresta-galeria adentro,
inferno tropical, túneis, tarrafo,
bolanhas, lalas, bissilões,
pontos de cambança,
flamingos vermelhos sangrando,
curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
apocalípticos palmeirais,
pontas de punhais cravadas no peito,
irãs acocorados no alto dos poilões.
E depois o silêncio,
o impossível silêncio,
o silêncio das partituras,
dos mapas dos argonautas,
partículas, pausas, pautas,
cartas de tiro com claves de sol,
desidratação, a ogiva do obus,
o medo da avestruz,
o roncar do helicanhão,
gritos do djambé,
e do macaco-cão,
gemidos de kora,
espasmos de balafon,
a hiena que chora,
o dari que ri,
o hipopótamo que urra,
rajadas de kalash, ecos do bombolon,
pela floresta-galeria adentro,
inferno tropical, túneis, tarrafo,
bolanhas, lalas, bissilões,
pontos de cambança,
flamingos vermelhos sangrando,
curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
apocalípticos palmeirais,
pontas de punhais cravadas no peito,
irãs acocorados no alto dos poilões.
E depois o silêncio,
o impossível silêncio,
o silêncio das partituras,
dos mapas dos argonautas,
partículas, pausas, pautas,
cartas de tiro com claves de sol,
desidratação, a ogiva do obus,
o medo da avestruz,
o roncar do helicanhão,
gritos do djambé,
e do macaco-cão,
gemidos de kora,
espasmos de balafon,
a hiena que chora,
o dari que ri,
o hipopótamo que urra,
rajadas de kalash, ecos do bombolon,
o ribombar do trovão,
bombas de fragmentação
que correm no dorso dos cavalos
desde o Futa Djalon.
Não vou poder ouvir o silêncio
que correm no dorso dos cavalos
desde o Futa Djalon.
Não vou poder ouvir o silêncio
do Cantanhez,
nem quero ouvir o grito da morte
outra vez.
v12 3 mar 2022
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14463: Manuscrito(s) (Luís Graça) (53): A liberdade, a altiva garça real e a ociosa cegonha, agora desempregada, que já não traz os bebés de França...
nem quero ouvir o grito da morte
outra vez.
v12 3 mar 2022
5 comentários:
Gostei!... Este ano não estarei presente, mas faço-me representar pelos Ex. Cap. Pereira da Costa, Ex. Alf. Acácio Correia, Ex. Fur. António Bonito e ex. Fur. Jorge Araújo, o que significa que a CART 3494 estará mais uma vez bem representada, também estará presente pela 1ª vez o meu camarada de trabalho [ENVC] e meu visinho o António Almeida e sua esposa Antónia, que sempre o incentivei a participar.
Desejo que corra tudo conforme o desejo de todos.
Abraço para todos os camaradas presentes.
A. Castro
Luis,aqui de longe (mas tão próximo), saúdo-te,à comissão organizadora e a todos os Camaradas, na véspera desse Dia Grande.
Fraterno abraço a todos.
VP
Algo de muito grave se deve estar a passar, para que todos os dias sejam chamados combatentes ao Exército Celeste.
Uns conhecidos, outros nem tanto ou mesmo nada, mas palmilharam connosco bolanhas ou matas, num sacrifico comum.
Que esteja em paz, quem a guerra viveu!
José Teixeira
16/04/2015
Caríssimos
Na impossibilidade de estar presente no X Encontro da Tabanca Grande, porque estarei com um grupo de bloguistas na Guiné a aprofundar caminhos de solidariedade para com os seus povos, quero desejar a todos os participantes um bom dia de convívio.
José Teixeira
Fazem exactamente 41 anos, no próximo dia 22 de Abril, que regressei da Guiné. Como fui exatamente
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