Vila Real > Agosto de 1963 > CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/63) > O regresso a casa... Na foto, o 1º pelotão... Repare-se no fardamento, o caqui amarelo... O cmdt era o então cap inf José dos Santos Carreto Curto, hoje ten gen reformado, natural de Castelo Branco.
Foto: João Baptista (1938-2010), autor do blogue Fulacunda. [Edição: LG]
Comentários ao poste P15802 (*):
I. Paulo Salgado
1. Os problemas ou assuntos colocados pelo Com-chefe Louro de Sousa traduzem de forma excelente o que se vivia nessa época - 1963.
No entanto, outras circunstâncias ocorriam, já então, e ocorreriam posteriormente, que porventura não seria expectável que fossem denunciados:
(i) o facto de o IN já se ir preparando para a guerra de forma segura, psicológica e belicamente segura;
(ii) a manifesta incoerência de uma guerra, mal explicada e fora dos contextos internacionais que, já em 1958, a França experimentara na Argélia de que nós, amargamente, não colhemos lição - o que veio depois a confirmar-se no Congo belga, em Angola e, antes, na Índia.
2. No que respeita ao historiador José Matos que aborda muito bem a sublevação das gentes da Guiné, recordo que, historicamente, as sublevações foram constantes ao longo dos séculos - basta compulsar diversas obras (algumas eu tenho na minha posse e delas faço uso em diversas reflexões) para se confirmarem estes factos históricos.
2. No que respeita ao historiador José Matos que aborda muito bem a sublevação das gentes da Guiné, recordo que, historicamente, as sublevações foram constantes ao longo dos séculos - basta compulsar diversas obras (algumas eu tenho na minha posse e delas faço uso em diversas reflexões) para se confirmarem estes factos históricos.
Opção Resposta 8:
(i) falta conhecimento das necessidades das populações e falta de apoio no desenvolvimento económico e social;
(ii) falta de aproveitamento e de promoção social dos quadros mais qualificados (ex: Amílcar Cabral);
(iii) falta de aproveitamento político das estrutras tradicionais do poder (ex: régulos);
(v) militares de carreira com formação em guerra clássica, mas, sem preparação e conhecimentos em guerras de guerrilhas, que têm cariz muito mais político do que militar, sobretudo, ao mais alto nível das forças armada;
(v) poder político sem visão e sem carisma suficiente para enfrentar uma guerra com carácter mais político do que militar. Era fundamental encetarem-se conversações com muito mais acutilância e determinação:
(vi) falta de suficiente capacidade de esclarecimento político e mobilizadora das tropas para enfrentarem e sofrerem grande desgaste psíquico.
Concordo:
1. Deficiente instrução das tropas e quadros
2. Deficiente equipamento das unidades no terreno
5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar dos guineenses
6. Instalações inadequadas
7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole
Concordo, com atenuante somente no meio de transporte, porque fartura existia:
4. Abastecimento (material, munições, víveres e água) -
Discordo:
3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos
Outros problemas:
8. Outros problemas não referidos acima - Aproximação pedagógica mais respeitàvel, junto das populações.
_________________
Nota do editor:
(*)Vd. poste de 27 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15802: Inquérito 'on line' (35): Lista de problemas no CTIG em setembro de 1963, segundo o Com-Chefe Louro de Sousa...Camarada, vota nos que concordares (Resposta múltipla)
3 comentários:
Gostava de comentar a ideia de Paulo Salgado, quando menciona que devíamos aprender a lição da França em Argélia, e com a India, não sei se refere ao caso de Goa ou ao caso da India, joia da coroa inglesa, e ao Congo Belga e Angola.
De facto, como Paulo Salgado diz e bem, sempre houve sublevações, mas sublevações tribais ou regionais.
Verdadeiramente nacionais, em África, só podemos considerar nos anos 50 o caso de Argélia,, mas na região do Magrebe, e no Quénia com uma seita o Mau-Mau, e pouco mais, pois foi política das potências coloniais partir nitidamente em força para o chamado «neocolonialismo» que Amílcar Cabral denunciava e que ia evitar, pois Salazar não tinha possibilidades para tal, escrevia Amílcar, por isso não ia dar a independência.
Paulo Salgado que conhece bem a Guiné, sabe o que aconteceu ao Amílcar, ao irmão Luís, e ao Nino Vieira, e como fala no Congo Belga sabe quem era Lumumba, primeiro ministro vivo durante 6 meses e já não foi pouco.
E no caso do Congo Belga, os belgas não hesitaram mais que uns meses em mandar o rei Balduino, de bandeira na mão para Kasabuvu, presidente por uns tempos, uma ponte aérea por terra, mar e ar, para os Belgas todos, e em 24 horas só ficaram no congo os «brancos» portugas e «brancos» gregos como colon e reporters do mundo inteiro, estes a relatarem as carnificinas do Congo, Ruanda e Burundi, até recentemente.
Eu estava em Noqui, cabo milº cheguei ainda a presenciar majores congoleses descalços com as botas transportadas ao pescoço do ordenança que vinham matar a sede a Noqui, pois em Matadi a cerveja esgotou imediatamente.
Paulo Salgado quando compara os casos do Congo e da Argélia como exemplo a seguir, temos que assinalar que são dois casos totalmente diferentes um do outro.
No Congo, nunca houve sublevações, mas sim manifestações de grupos politizados, e não foi preciso insistirem muito.
Os belgas fizeram bem em dar o fora? Não tinham pena do Lumumba?
Nós fizemos mal em não entregar a bandeira ao primeiro que aparecesse? não merecia Agostinho Neto viver mais uns anos? e Amílcar também não devia viver mais uns tempos?
E foi este vizinho de Angola, com lutas tribais terríveis e separatistas, e logo a seguir, Mobutu que apoiou em Angola o cunhado da UPA Holden Roberto nas matanças do nosso Congo, que levou o próprio povo angolano a não dar ouvidos a cantos de sereia.
Claro que Paulo Salgado quando diz que estes eram exemplos a seguir pelo Salazar, é o que pensa a maioria dos portugueses que foram à guerra do Ultramar, principalmente os alferes milicianos.
Que foram eles os comandantes que mais aguentaram a luta.
Eu que fui retornado e furriel, digo que foi de um cinismo o comportamento europeu e belga os principais responsáveis pelos genocídios no Congo Ruanda e Burundi.
Nós ao fim de 500 anos não podíamos vir a ser acusados de ser os primeiros a dar o fora, depois da escravatura e pacificações.
Portanto não precisamos hoje de aramar a nossa fronteira, estamos de consciência tranquila, pois não somos responsáveis pelo abandono daqueles que gritam em Ceuta, do outro lado do arame.
Cumprimentos
Rosinha:
Concordo com o que dizes e para refleção noto que, a França, a Inglaterra, a Espanha, pelo menos, continuam a dominar territórios ultramarinos.
Um abraço a todos,
JS
José Colaço
29 fev 2016 18h34
Respondendo ao nosso inquérito, assinalo os seguintes pontos:
(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;
(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;
(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;
(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;
(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança...
Sou do início da guerra da Guiné, fui lançado na Operação Tridente só com um mínimo de preparação, eu e os meus camaradas de especialidade, inclusive o furriel (transmissões) e todas os outras especialidades até os atiradores; devido a nossa inexperiência e falta de conhecimentos houve alguns acidentes com a desconhecida G3...Por outro lado, receber uma mensagem era repetição constante dos grupos fonéticos e ter que pedir para o emissor transmitir devagar, pausado, que o operador era (maic) (maçarico)... mas como nós somos um povo do desenrasca tudo se resolveu.
Para transmitir para Catió nós não conseguíamos, comunicávmos com alguma dificuldade (principalmente durante a noite) com o BCAÇ 490 que estava em Cauane, no outro lado da Ilha do Como, e eles retransmitíam a nossa mensagem. Devido a esta dificuldade alguém do comando mandou ao Cachil um segundo sargento electromecânico e ensinou-nos como montar (e montou ele) uma uma antena horizontal.
Com este aparte, é só para dizer que concordo com todos os pontos que o meu primeiro comandante chefe na Guiné, Brigadeiro Louro de Sousa, mencionou pois tive oportunidade de os comprovar no terreno.
Mas discordo do ponto nº 1 em 50%: que os milicianos tivessem essa deficiência, concordo em absoluto, mas os quadros não: são ou eram profissionais de carreira, tinham por obrigação, dever de profissionalismo, estar preparados a 100% para todos os reveses que a profissão reserva.
Um abraço, Colaço.
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