Décimo episódio da nova série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).
Nós Combatentes e, Elas
Combatentes
Era manhã, o sol despertava no horizonte, estávamos numa zona
onde a estrada rápida número 10, que atravessa todo o
sul dos Estados Unidos, seguia em linha recta.
O trânsito fluía normal em ambos os sentidos, umas vezes intenso
outras não. Saímos num cruzamento que dava acesso a
algumas quintas, passando por cima das duas vias, não
resistiindo a admirar a paisagem com movimento e alguma
azáfama, todos querendo seguir a sua rota, talvez fugindo
de onde estavam antes, mudando-se. Camiões levando
mercadoria, automóveis levando pessoas, que neste caso,
felizmente, não fugiam de nenhuma guerra, mas eram
pessoas, como nós, que na nossa juventude vivemos
uma guerra, fomos combatentes e sobreviventes de
alguns combates, onde havia homens e mulheres. Estas que quase ninguém as lembra.
Companheiros, tínhamos saído da cidade de Tucson, no
estado do Arizona, seguindo em direcção ao norte, onde a terra é vermelha, parecida com a que existe em
algumas savanas da Guiné e ao longe já se vislumbravam alguns edifícios da cidade de
Phoenix. Ao passar pela cidade em boa hora resolvemos
parar, pois ao fim de algumas voltas, mais ou menos pelo
centro, em frente ao Capitólio do Arizona, que
se localiza nesta localidade, abre-se uma Praça, que é o lar
de aproximadamente três dezenas de memoriais e
monumentos dedicados a temas tão diversos como
figuras históricas, indivíduos importantes, organizações e
eventos comemorativos, como por exemplo o mastro e
âncora do navio de guerra USS Arizona afundado em
Pearl Harbor, no Hawaii, durante a II Grande Guerra, memoriais para outras guerras, como a I Grande Guerra, a guerra da Coreia ou do
Vietname, entre outras.
Uma das coisas que nos despertou a atenção,
comovendo-nos, foi um monumento dedicado à Mulher,
Mãe, pessoa importante na nossas vidas, que quase nunca é
lembrada e que também andou na guerra, todavia
neste caso era um monumento à “Pioneira”, aquela que
acompanhou o marido ou companheiro, a sua família, no
caminho para oeste, sofrendo todas as dificuldades que
essa odisseia acarretava, mais a de ser mãe e cuidar dos filhos ainda crianças.
Já tínhamos visto outro monumento parecido em
Washington, neste caso dedicado à mulher que lutou no
Vietname.
Infelizmente são tão poucos estes memoriais, talvez só
despertem a atenção de alguns de nós, mas são
confortantes, quando podemos ver que alguém se
lembrou delas, das mulheres da nossa vida.
Tony Borie, Março de 2016
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15826: Atlanticando-me (Tony Borié) (9): Aguarela de Miami
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
"Pioneira" a caminho do oeste, deram grandes filmes que correram pelo mundo essa odisseia da conquista do oeste.
Tony, foi uma colonização à moda saxónica.
Esses filmes corriam em Portugal e colónias sem censura, Gregory Peck, Henry Fonda, Debie Reynolds, John Wayne e tantos que a nossa geração gostava muito.
Cumprimentos
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