segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16480: In Memoriam (264): Furriel Hugo Abreu e Soldado Dylan Araújo da Silva, que perderam a vida, aos 20 anos de idade, no contexto do 127.º Curso de Comandos, com votos de condolências às suas Famílias e pelo rápido restabelecimento dos que ainda estão internados (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66),

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 11 de Setembro de 2016:


IN MEMORIAM do Furriel Hugo Abreu e do Soldado Dylan Araújo da Silva, soldados e patriotas, que acabaram por perder a vida, aos 20 anos de idade, no contexto do 127.º Curso de Comandos, com votos de condolências às suas Famílias e pelo rápido restabelecimento dos que ainda estão internados.


Estou a parafrasear o escrito pelo General Garcia Leandro, como notável soldado e patriota (e meu contemporâneo) na Guerra da Guiné, e o comentário do General Chito Rodrigues, como notável soldado e patriota na Guerra de Angola.

Na qualidade de oficiais profissionais do Exército, eles saberão mais e melhor que muitos outros, de como a maior ineficiência do Exército nessas guerras, ao qual competia a vitória no terreno, e a sua concorrência para o seu colapso nas três frentes, não era consequência nem da sua conceptualização, nem da inferiorização do seu armamento, muito menos da sua logística, comparados com a eficiência da Marinha, da Força Aérea e dos seus Comandos, mas porque as suas chefias políticas e militares da Metrópole se fossilizaram a expedir para elas dezenas de unidades pelo método do arrebanho, impreparadas e sem motivação para combater.

Eu e a malta da minha incorporação de oficiais e furriéis milicianos, tiramos a recruta e a especialidade em 4 meses – tempo concedido em que sai como “cabo miliciano”, posto superior ao atingido por Hitler, nos seus 5 anos no exército alemão…

Quando a sua gente das informações e o próprio rei D. João I, seu comandante-chefe, lhe enfatizavam os efectivos do IN que defrontariam, o general D. Nuno Álvares respondia peremptoriamente:
- Com poucos, bons e bem comandados, somos capazes de os bater.

Foi com essa conceptualização que conferiu ao seu exército de 6 mil homens a capacidade de derrotar o exército castelhano de 35 mil homens - e em cerca de meia hora!

Muitos mortos e feridos das nossas guerras de África poderão ter sido vitimados pela associação da quantidade com a sua falta de preparação – quantos mais fossem os empenhados, mais o inimigo poderia matar.

Excluindo a conquista de Ceuta, nos 50 anos do século XV e XVII, em que Portugal se impôs sobre a terra e sobre o mar, a batalhar e a ocupar, para dar novos mundos ao Mundo, a média do efectivo investido pelas nossas FA´s, (Marinha e Exército), não terá excedido os 2 mil homens!

Em contraposição, o PAIGC, por exemplo, escolhia os seus quadros exclusivamente entre os que os se apresentavam a voluntariar-se ao combate, mas só os lançava no teatro da guerra após o tirocínio mínimo de um ano, em eficientes unidades de países apoiantes, nomeadamente na China e na União Soviética. Foram esses quadros que formaram o tecido conjuntivo da sua orgânica e acções militares, até ao termo da sua luta.

Ao contrário do que tem sido alardeado, Portugal nunca enformou um Exército colonial especializado, salvo as tropas nativas, no entanto enquadradas pelas tropas europeias. E nem sempre bem; estou a lembrar-me dos que propiciaram a primeira fornada de combatentes ao PAIGC - Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi, etc.

Quando a malta atingira a preparação e melhores conhecimentos, compatíveis ao seu “trabalho”, no seu palco de guerra, estava atingida a sua exaustão, derreada pelo excessivo esforço, associado à sua impreparação e à insalubridade do clima. Chegado o dia da sua partida, para a sua terra e para a diáspora, rendida por outros, que chegavam tanto ou ainda mais impreparados do que nós – e tinham que começar tudo de novo. O PAIGC procedia ao contrário; mas nem as evidências dos méritos desse seu método levaram Portugal a constituir um “exército colonial”, formados pelo voluntariado dos seus veteranos europeus. Terá sido pelo complexo de que não era “colonialista”?

Falando dos Comandos, vem a propósito lembrar que no seu currículo de altos serviços prestados à Pátria, avulta o sucesso e a sua exploração, pela reposição do ideal do 25 de Abril pelo 25 de Novembro, talvez só possível pelo voluntariado das suas duas companhias, que a sua Associação mobilizou, que custará as vidas a dois desses voluntários – o Tenente Coimbra e o Furriel Pires - na audácia e valentia do seu veterano Vítor Ribeiro e no incontornável talento e grandeza de soldado desse grande patriota, que já não está entre nós - o General Jaime Neves.

No plano político “governativo”, apenas a deputada Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, apregoou a extinção dos Comandos – sem qualquer base de sustentação, para além do afecto da memória: foram os Comandos que contiveram o golpismo da sua utópica ideologia, que se votava a empurrar os portugueses para uma guerra civil que, se lhes favorável, reduziram o país ao nível da Somália, Líbia, Coreia do Norte ou até da Venezuela. Ela e o grupo de moças encantadoras da cúpula do seu partido predicam a extinção dos Comandos, incitadas pelo ideário de “fazer amor e não a guerra” (não me refiro à sua condição feminina, mas ao ideário dos hippies, inspirador do seu partido).

Jerónimo de Sousa, veterano da Guerra Guiné (foi da Polícia militar e o único caso em que a Polícia Militar de Bissau sai foi destacada a nomadizar como operacional, para uma posição fronteiriça com o Senegal), e não por “distinção”, por saber do que falava, pronunciou-se com inusitada sensatez política:
- “Não poderão ser as conjunturas (as circunstâncias avulsas, seria mais apropriado), a determinar a extinção dos Comandos, uma valiosa unidade de elite das nossas FA`s".

Independentemente das causas a apurar, responsáveis pelo trágico desfecho das vidas dos nossos camaradas Hugo e Dylan, deixaram de estar entre nós como soldados, heróis e exemplo de patriotas porque, não obstante cientes da dureza e provações exigidas pela sua preparação, compatíveis às que poderiam ter de enfrentar nos palcos da terrível e traiçoeira guerra destes nossos tempos, não se inibiram de se voluntariar ao mais exigente serviço que um cidadão pode prestar à sua Pária, a dádiva da própria vida incluída – o de pertencer e honrar as suas Forças Armadas.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16475: In Memoriam (263): Duarte dos Santos Pereira, ex-Alf Mil da CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), falecido no passado dia 25 de Agosto de 2016, em Marco de Canaveses (Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Lomba, são palavras sensatas, as tuas, a propósito desta triste e trágica ocorrência, a morte de dois militares portugueses em contexto de instrução...Somos particularmente sensíveis a situações como estas, para mais num tempo em que não estamos em guerra embora sejamos chamados, através das nossas FA, a participar nos últimos anos em situações (missões de manutenção da paz, missões humanitárias...) que não são isentas de risco, exigindo grande competência e empenhamento...

É importante aprender com os erros do passado, incluindo os da guerra colonial (ou do ultramar, como lhe quiseres chamar).

Um abraço fraterno. LG

Carlos Martins Pereira disse...

Carlos Martins Pereira
Duas mortes de dois instruendos dum recém iniciado curso de comandos(instrução) em tempo de paz.Por mais sentidas que sejam as palavras ditas em sua memória os factos são factos. Porque morreram? Cingindo-me ao que vem na imprensa a resposta presumo que esteja na falta de assistência médica em tempo oportuno. Quando leio que o médico era um capitão com curso de comandos (exemplar único no exército)fico esclarecido. Com um médico civil ou miliciano (parece que já não existem) o desfecho tinha sido outro e estes dois jovens ainda cá estariam.Para um médico militar por pior que o paciente se apresente, está sempre a fazer "ronha" Não ponho em causa os comandos , a sua utilidade e a própria instrução. Tudo está ao alcance de qualquer jovem de 20 anos, saudável e que se queira voluntariar. O problema está nos exageros praticados por pseudo instrutores que ontem eram instruendos.Alguns aproveitam á laia de praxe para descarregar frustrações nos instruendos.Acontece nos comandos como acontecia nas EPráticas antigamente.Leio aqui inúmeras vezes relatos de instruções violentas dadas nas salinas de Tavira, tapada de Mafra, Lamego ,etc.Era essa instrução que fazia bons combatentes?Instrutor que se preza sabe dosear o esforço dos seus instruendos.Dramas como o que agora aconteceu infelizmente sempre aconteceram nos comandos o que leva alguns na sua arrogância dizerem que curso em que não haja mortes não era curso.Há cursos violentos como o da guerra na selva do exército Brasileiro, Legião Estrangeira para não falar de outros e não consta que sucedam mortes pelo menos conhecidas e por estes motivos.Apurem-se responsabilidades por entidades fora do meio castrense para não termos de voltar a lamentar mais infortúnios. Descansem em Paz.

Anónimo disse...

Caro Carlos Martins Pereira

Por dever de consciência não posso deixar passar em claro o teu comentário

É grave a tua insinuação nomeadamente no que diz respeito à atitude do médico.
Qualquer médico independentemente de ser civil ou militar está obrigado a ter obrigações e comportamentos, isto é princípios éticos,sempre na defesa do bem estar do doente.
A medicina não é uma ciência exacta e é muito comum ,entre leigos, confundirem
erro de diagnóstico com negligência.
Aquilo que se passou está em fase de inquérito, por isso qualquer comentário sobre o assunto é prematuro, e despropositado.

C.Martins

C.M. Pereira disse...

Caro C.Martins
comecei por dizer que me cingia ao reportado na imprensa.
C.M.Pereirta

Antº Rosinha disse...

Raramente vou à Wikipédia à procura das coisas que digo de vez em quando, agora fui lá:

"“Si vis pacem, para bellum (se queres a paz, prepara a guerra), embora o texto original diz exatamente: Igitur qui desiderat pacem, praeparet bellum (assim quem deseje a paz, que prepare a guerra)”
― Vegécio

Frases - http://kdfrases.com

Como acredito naquilo que dizem os antigos, chego à conclusão que haverá sempre exércitos, voluntários ou não.

E quanto mais preparados, melhor.

Mas isso de voluntários, eliminando o obrigatório, acho muito pouco "civilizado", cai muito mal numa Europa civilizada.

Sou a favor do serviço militar obrigatório, e só depois se seleccionavam os voluntários.

Até para Bombeiros devia haver serviço obrigatório mínimo.

Voluntários seria uma sequência, conforme as circunstâncias.

Esta ideia não é minha, copiei-a e aceito-a.

Manuel Luís Lomba disse...

Subscrevo o que o Carlos Martins Pereira e o C. Martins escreveram, mas adito uma observação.
No referente aos "pseudo-instrutores", o ditado diz "não sirvas a quem serviu"...
Contrariando a maioria e o previsto nas fichas de instrução, o meu instrutor em Tavira, o profissionalão aspirante Simões, nunca nos meteu nas salinas.
E quanto aos erros médicos, por diagnóstico ou negligência?
Serve para todas as situações: Não são as instituições nem as suas funções que contam - são os seres humanos que as exercem.
AB
Manuel Luís Lomba