CONTRAPONTO
55 - GUERRA E CHARME (sem história de amor lá dentro)
Pensei escrever assim qualquer coisinha com charme sobre a guerra, a nossa guerra colonial, as nossas guerras coloniais.
Então, coloquei uma folha A4 debaixo do nariz e entalei o lápis entre os dedos. Olhei as profundidades do papel, naquele ponto central onde se cruzam as duas diagonais imaginárias que vão de canto a canto da folha. Fiz força, força, força… mas nada saía.
Então, olhei em volta, à procura da “ideia”. Acabei por fixar-me no espaço da estante onde, bem juntinhos, estão “Os Centuriões”, “Os Mercenários” e “Os Pretorianos” de Jean Lartéguy. Larguei o lápis e puxei os livros. Folheei-os, folheei, folheei, procurando aquela passagem que, há muitos anos (antes da experiência da Guiné), me marcou muito. Não consegui localizá-la. Era assim: em Dien-Bien-Phu, um oficial francês, dentro de um abrigo, ouvia um jornalista que o interrogava e falava largamente sobre guerra. O oficial, saturado da conversa, respondeu-lhe, mais ou menos, isto:
- A guerra seria aceitável se eu pudesse sair deste abrigo e berrasse: ”A guerra acabou. Os mortos podem levantar-se.”
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Agora, tantos anos passados depois desse escrito de Jean Lartéguy, questiono-me se não terá sido essa afirmação do oficial francês que inspirou o criador do “paintball game”.
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Nota do editor
Poste anterior de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16440: Contraponto (Alberto Branquinho) (54): Literatura da guerra colonial, o que é?
2 comentários:
"Era assim: em Dien-Bien-Phu, um oficial francês, dentro de um abrigo, ouvia um jornalista que o interrogava e falava largamente sobre guerra. O oficial, saturado da conversa, respondeu-lhe, mais ou menos, isto:
- A guerra seria aceitável se eu pudesse sair deste abrigo e berrasse: ”A guerra acabou. Os mortos podem levantar-se.”
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Agora, tantos anos passados depois desse escrito de Jean Lartéguy, questiono-me se não terá sido essa afirmação do oficial francês que inspirou o criador do “paintball game”.
(Alberto Branquinho)
É verdade, Alberto, o cinema é ficção, e a guerra é a guerra...No final da fita, os atores "mortos" levantam-se, tomam um banho, perfumam-se e voltam para o "glamour" dos seus dias, os que são estrelas de cinema, que nºo os pobres dos figurantes... Na guerra, os mortos ficam lá, e não se levantam mais...
Não há charme, não há glamour na guerra...É por isso que eu não gosto de ver filmes de guerra, nem de ler romances de guerra... Tinha razão o comandamte do CISMI, de Tavira, em 1968 quando nos proibuiu, a mim e a mais camaradas instruendos, que contuinuássemos a montar uma exposição (didática) sobre a II Guerra Mundial... Argumentava ele, para justificar a sua prepotência de censor:
- Para guerra, já basta a nossa!
"War's hell"
William Tecumseh Sherman
General of the Army of the United States
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