O Paulo e a Conceição Salgado na Guiné-Bissau, como cooperantes, em 1991.Foto de perfil, na página do Facebook, do nosso camarada Paulo Salgado-
1. Mensagem de boas festas do nosso amigo e camarada Paulo Cordeiro Salgado:
autor de "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor" (Moncorvo, Lema d' Origem, 2016);
casado com a economista Conceição Salgado, também nossa grã-tabanqueira, e que se associa a esta mensagem]
A todos - penso para mim: será que estarão todos incluídos? - de que guardo lembrança, por esta ou aquela razão marcante - desejo (a minha mulher acompanha-me) um Feliz Natal e um Ano de 2018 com harmonia e paz e solidariedade junto dos que vos são queridos.
Decerto que o poema que se segue é conhecido de vós. Mas não será demais lembrá-lo. De um poeta que tinha uma sensibilidade social muito profunda.
A minha mulher lia este poema aos nossos filhos quando eles começavam a compreender que o pensamento do "doce Jesus" não se coadunava com tanta coisa que ia e vai por aí.
Pedindo desculpa pelo BCC tão envolvente e facilitador (!) - aliás, temos de seguir o que a tecnologia, a dominadora tecnologia facilita - envio um abraço.
Paulo Salgado
Paulo Xavier Fernandes Cordeiro Salgado
Administrador Hospitalar - ENSP/UNL
Pós-graduado em Administração Pública - UMinho
Pós-graduado em Direito dos Contratos - UCP
Mestre em Gestão-Especialização em Gestão e Administração de Unidades de Saúde-UCP
2. Dia de Natal, poema de António Gedeão
[, pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho (1906-1997);
o poema «Dia de Natal» é publicado em 1967 num jornal de estudantes do Liceu Camões que é apreendido pelo reitor]
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
[Fonte: com a devida vénia, extraído de:
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/dia_natal.html ]
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Nota do editor:
Último poste da série > 20 de dezembro de 2017 > Guiine 61/74 - P18111: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (2): Que pelo menos nesta quadra festiva não tenhamos a mente entanguida e pensemos um pouco no próximo (Ernestino Caniço, ex-al mil cav., Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissaui, 1970/71)
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Nota do editor:
Último poste da série > 20 de dezembro de 2017 > Guiine 61/74 - P18111: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (2): Que pelo menos nesta quadra festiva não tenhamos a mente entanguida e pensemos um pouco no próximo (Ernestino Caniço, ex-al mil cav., Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissaui, 1970/71)
2 comentários:
Luis
Gostei de ver este "Dia de Natal" aqui no blogue.
Haverá, no entanto, que actualizar o "relógio de pulso antimagnético", de quando António Gedeão escreveu o poema, para a grande trapalhada de bens (úteis e inúteis) que se compram e... se oferecem por estes dias. Infelizmente, tudo o mais que nele consta, continua A SER, inclusive "a metralhadora".
Um abraço e Bom Natal (à antiga portuguesa!)
Alberto Branquinho
Alberto, obrigado pelo teu comentário. A seleção do poema é do Paulo Salgado, e vem muito a propósito dos dias de hoje, e desta quadra "festivaleira" mais do "festiva"... Em 1967, o poema tinha outra acutilância, dada a grande "hipocrisia social" da época... E, lembras-te ?... estávamos em guerra...
Em Bambadinca, todos sabíamos cantar, de cor e salteado, a "Pedra Filosofal", do António Gedeão... (aliás, um discreto professor de liceu).
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