quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18301: Da Suécia com saudade (57): Algumas coisas que um tuga tem que saber quando vier à Tabanca da Lapónia (José Belo)


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > O José Belo com as seus "canitos" de estimação"... "a caminho da praia". (Chamei-lhes "renas", dou um "lapsus lingau


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > A "praia"... [Há dias estavam por lá 48º graus abaixo de zero...]


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > "Home sweet home" ou a "minha alegre casinha" (na versão dos "Xutos & Pontapés")...  A morança, que funciona como sede da Tabanca da Lapónia, de que o José Belo é régulo e, por enquanto,  o único membro vivo e registado.



Suécia > Sápmi [Lapónia] > s/d >  "Laponas", diz o régulo  [Samisk kvinna]...

Fotos do arquivo do José Belo / Tabanca da Lapónia  (2018). Cortesia do autor.[Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo, português "assuecado", 
que vive na diáspora:

[Foto acima à direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem  125 referências no nosso blogue]

Data: 6 de fevereiro de 2018 às 02:14
Assunto: Respostas às tuas perguntas quanto à Lapónia

Desde os finais de 1700 o termo "lapão" foi usado tanto na Suécia como na Noruega e Finlãndia, como um termo profundamente depreciativo para com os locais. Ao mesmo nível do que o termo "negro" é hoje encarado nos Estados Unidos.

Lapão em Sueco diz-se "Lapp", que também significa exatamente "remendo". Com conotações facilmente associadas a "pobres remendados",e também tendo em conta as roupas tradicionais fabricadas com tecidos de cores separadas que, a querer-se ir por aí, pode dizer-se aparentarem ser feitas por diferentes "remendos".

Facto é que o termo "Lapp" e "Lapónia" não é hoje usado pelos locais, nem pela maioria dos suecos mais jovens. Isto apesar de o termo continuar a ser usado a nível administrativo central (!) como referência geográfica à zona.

Lapónia para os lapões é... Sápmi.

Lapöes é... Samer

Um Lapão é... Same

Mulher da Lapónia é... Samisk kvinna.


Os lapöes estão divididos em vários grupos e subgrupos,  sendo 4 os principais, dispondo também de dialectos próprios.

Os que vivem nas zonas mais ao sul da Lapónia têm as suas renas guardadas em currais,enquanto os do centro norte mantêm os animais em liberdade total e integrados em vastas manadas, mas imediatament reconhecidos pelos donos por marcações efectuadas à faca nas orelhas que,e por muito que possa parecer incrível, todas são diferentes.

As tiras de cores diverssas existentes nas mangas e colarinhos dos vestuários tradicionais ( usados em festas familiares, festas locais,cerimónias oficias, festas religiosas, funerais, e em todos os trabalhos ligados à criação de renas) indicam todas as referências familiares, geográficas e de grupo ou subgrupo, tornando obviamente fácil a identificação imediata de toda a "história" do indivíduo.

Quanto à criação de renas em grandes números, a mesma só é permitida (por lei da administração central sueca) aos indivíduos de origem lapónica.
Actualmente só cerca de 14% dos Lapões vivem da criação de renas apesar de a carne ser vendida a preços muito elevados em toda a Escandinávia e na Alemanha que é o maior importador. (Felizmente que a minha dúzia de renas de trenó e "estimação", não é número a ser abrangido por lei!)

É erro tradicional, cometido por turistas ou mesmo visitantes de outras zonas da Escandinávia, o perguntarem ao criador de renas quantos são os animais que constituem a sua manada. A resposta sempre brusca e irónica é do tipo :"Olhe lá! Eu perguntei-lhe quanto dispõe na sua conta bancária?"

O criador paga imposto ao Estado por cada uma das renas da manada; daí não estar interessado num número "exacto"....impossível de ser verificado por as renas viverem em estado totalmente livre todo o ano, por montes,vales, estepes e florestas. Só há possibilidade de as contar (sempre mais ou menos!) quando as mesmas são anualmente reunidas para abate ou venda.

Há sempre um número considerável de renas ,tanto adultas como jovens, que são mortas pelos númerosos lobos, ursos e outros predadores locais, assim como ao atravessarem linhas dos caminhos de ferro que dia e noite transportam o minério local.
As estradas e autoestradas são também uma armadilha mortal por serem diariamente preparadas com sal e areia para facilitarem o tráfego no gelo. O sal é irresistível para estes animais e, nos nevões e neblinas locais, pode-se dispor nos SUV dos faróis mais modernos e potentes...os resultados....


A  Lapónia (a vermelho).
Infografia: José Belo (2018)
De qualquer modo, o Estado paga ao criador o custo dos animais perdidos. Como em toda a parte,as tentativas de fraudes e as histórias à volta delas são infindáveis.
As estatísticas quanto a estas perdas estão registadas desde há cerca de noventa anos,tornando-se fácil para os responsáveis administrativos pagarem somas...mais ou menos certas...para números de animais também...mais ou menos certos. (No fundo, o Estado Sueco tem uma boa economia que permite algumas destas "brincadeiras").

Existem cerca de 80.000 lapões na "Sameland" que engloba os extremos norte da Noruega, Suécia, Finläândia e Rússia Europeia.

Na Suécia-20.000
Na Noruega-58.000
Na Finländia-6.000
Na Rússia o número é indeterminado ao nível administrativo local.

Um abraço.
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 7 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18297: Da Suécia com saudade (56): por não ter existido anteriormente um único "luso-lapão", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico, e duvidando fortemente que outro venha a surgir, sinto-me obrigado a responder às vossas dúvidas sobre a Lapónia, os lapões... e o colonialismo sueco (José Belo)

Vd. também poste de 7 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14228: Da Suécia com saudade (48): (Sobre)Viver na Lapónia (José Belo / Miguel Pessoa)

8 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Senhor Editor.

É ainda cedo pela manhä para que as quantidades de medicina preventiva contra as "frescuras"(em forma líquida e a 96%)estejam a ter os efeitos desejados.

Daí que,e quanto à primeira foto...

Como Lusitanos estamos bem habituados a dar olhadelas criteriosas no respeitante a nádegas.
MAS...confundir as nádegas de cäes de trenó com as das renas... nem mesmo no Monte Estoril da minha infância.

Quanto às fotos das "laponas"...

Se encontrares, hoje em dia, mais de uma dúzia com a "aparência" por nós esperada quando se usa o termo "lapäo", näo terás compreendido o que este Lusitano tem andado por aqui a fazer nos últimos quarenta anos de Invernos de precisamente...9 mêses!

Mais a sério (se possível!),é óbvio que depois de muitos séculos de contactos entre os diferentes grupos étnicos,tanto na Suécia como na Noruega e Finländia,o julgar vir a encontrar um tipo rácico próximo dos enuítas originários...só em bilhetes postais bem antigos.

Um abraco do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Belo: É efeito da idade, estou a perder a acuidade visual (embora ainda não use óculos) e auditiva (embora ainda não use "aparelho", como pro cá se diz...).

Em matéria de "bundas", tens razão, uma rena é uma rena, um "canito é um "canito"...Já está o lapso corrigido... Foi um "lapsus linguae" do pobre do editor,que se levanta cedo... Estavas a falar de "alhos" (renas), e ele deu-lhe para os "bogalhos"... Mas que fique registado: também tens renas (de estimação) para puxar o trenó...

Quanto às "laponas", peço desculpa pela minha "grosseria", fruto da "ignorância" (que na nossa terra ainda é tratada de "santa", "santa ignorância"...). Retiro o que escrevi, na legenda, sobre as caucasianas...Afinal, somos todos da mesma "raça"...

Numa época de regresso do "puritanismo" (em questões de género e de sexo), mas também de "genótipo /fenótipo", é preciso cada vez mais ter cuidado com oque se publica, se escreve, se comenta...

Confesso, que mesmo que seja linguisticamente incorreto, gosto mais do terno "lapona" do que "lapoa", para não falar "lapónica"...Mais logo lembrar a"ameijoa jap´+onica", que é abdundante no estuário do Tejo, e que é a ameijoa da classe operária (hoje, reduzida à AutoEuropa)...

E viva a Tabanca da Lapónia, salvo seja, da Sapmi... Que Lapónia é insulto aos "samis"...

Hélder Valério disse...

Olá!

Gostei de ler, ver as fotos e perceber que o Zé Belo "está vivo", o que muito me alegra!

Quanto às explicações sobre os habitantes dessa região, comummente chamada de Lapónia, tomei nota, aprendi.

Quanto às fotos pois é sempre um regalo observá-las.
Não só por tentar perceber como será um 'banhito' dessa água fresquinha, que bens fará ao corpo (e à mente, já agora), como igualmente visualizar 'ao vivo' o trenó puxado por tantos 'colaboradores'.
Fico com uma dúvida. Tinha a ideia que os telhados, ou coberturas das casas dessas regiões com bastante neve eram mais inclinadas para facilitar o escorregamento da neve e aliviar o seu peso mas na foto vejo que a inclinação é pequena embora toda a estrutura pareça bastante sólida e resistente.
Quanto às fotos das meninas, o que dizer para além de que são lindas?

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

Primeiro enviar um abraço ao José Belo.
De seguida o "sacripanta" do Hélder oa escrever antes de mim já disse tudo ou quase tudo.
Resta-me agradecer os ensinamentos, mesmo na nossa idade são sempre úteis e desejar-te tudo de bom.
Um abraço,
BS

Valdemar Silva disse...

Sim senhor José Belo, até dá gosto ver.
Com 'laponas' dessas quem não gostaria de ser régulo dessa tabanca.
A propósito, julgo que mulher se diz em:

Sueco: Kvinna
Norueguês: Kvinne
Dinamarquês: Kvinde

gostava de saber qual a pronúncia, nessas línguas, dessas palavras, quer-me parecer
que ao nosso ouvido soa muito parecido ao que por cá ouvimos no norte do país.

Saúde e boas noites polares.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hélder, cuidado, tento na língua: "Quanto às fotos das meninas, o que dizer para além de que são lindas?"...

Cuidado que te caem em cimas as feministas de lá e de cá... Não tens que dizer nada!... As pessoas do outro sexo não podem ser "objectivadas", sob pena de te chamarem ribatejano, marialva, machista, troglodita,,, "Lindas" são todas as mulheres, "lindos" são todos os homens... Já o nosso povo dizia, antigamente: "Da cintura para baixo não há mulheres feias"...

Cuidado, pois, com os adjetivos: não há mulheres lindas nem feias... E muito menos as "laponas"... Não se a(s)trevas, pois, a dizer, à moda do Norte, que elas "são boas como o milho"... É uma metáfora misógina...

Hélder, estamos a matar a poesia e o erotismo... Mas isso é outra coisa. Depois da santa inquisição, em que "mulher boa era a que ardia no auto-de-fé", estamos em contra-ciclo, a atravessar o deserto do puritanismo...

Em contrapartida, os "sites" pornográficos da Internet tem milhões e milhões de visualizações...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Zé, pelas imagens que me mandaste...dos lapões e "1aponas"... Vou publicar mais um poste com o material que me mandaste... E a propósito vê estes comentários politicamente incorretos, acima inseridos... ´´E de rapaziada que já não tem emenda, nem em "campos de reeducação"... Na Lapónia também há disso ?...

Não preciso de te recomendar, é só prós tugas de cá: "Camarada, não te engripes, abafa-te, abifa-te e avinha-te"... Xicorações. Luis

Anónimo disse...

Raciocinio local : O frio näo existe......o senhor esta a usar roupa errada!