1. Mensagem do António Rosinha:
Data: 25 de abril de 2018 às 10:36
Assunto: 25 de Abril, Somos ingratos?
[ António Rosinha, foto à direita, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande]
(i) beirão, tem 110 referência no nosso blogue;
(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como como autor e comentador;
(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;
(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;
(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);
(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';
(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;
(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';
(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';
(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]
2. Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55) > 25 de Abril: somos ingratos ?
Os guineenses entusiastas do PAIGC, doutrinavam os jovens da JAC, Juventude Amílcar Cabral, que o nosso, (do tuga) 25 de Abril se devia aos Combatentes da Liberdade da Pátria, o PAIGC.
Daí a minha surpresa de boca aberta, que tive dificuldade em a fechar, quando um colega meu guineense, topógrafo, que tinha vindo de Kiev com o seu curso, me atira à cara:
"Vocês os portugueses fazem uma festa tão grande com o 25 de Abril, e não têm vergonha de nem nos agradecerem aos guineenses, pois que fomos nós os responsáveis por essa vossa revolução."
Isto nos anos 80, em que a história ainda estava muito a quente, fiquei sem reacção, e ainda hoje não tenho qualquer reacção muito lógica a uma tal questão posta por um balanta, topógrafo formado em Kiev.
Com toda a sinceridade e sem cinismo e sem nacionalismos, aprendi muitas coisas com os filósofos africanos, guineenses e angolanos, com quem nós, portugueses, convivemos 500 anos.
E continuamos a conviver com imensos africanos, nós e toda a Europa.
Também os africanos tiveram muita influência na vida de Portugal durante mais de metade da nossa existência como Portugal.
Dá que pensar, naquilo que fazem de nós, aqueles com quem nos metemos. Isto para o bem e para o mal.
Quando se fala que foi a "luta" dos trabalhadores e progressistas...etc., (o nosso discurso oficial, anual), que fez o 25 de Abril, temos de facto que distribuir a responsabilidade por todos, do «Minho a Timor».
Porque, penso eu, a luta deve continuar e não parar no tempo.
Uma reacção minha a isto tudo, é que se o 25 de Abril se tem dado em 1961, não tinhamos feito a Guerra do Ultramar (13 anos), e não tínhamos 5 PALOP.
Isto eu não disse ao meu amigo topógrafo, e não sei se lhe dissesse tal coisa, se ele me agradeceria de todo o coração, ou se não acreditava nessa tão grande responsabilidade do português.
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Nota do editor:
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18536: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (54): no tempo em que havia uma irmandade 'intercolonial' e um cabo-verdiano, um são-tomense ou um goês se sentia em casa num país como Angola
4 comentários:
Obrigado, António... Acabas de atingir as 110 referências no nosso blogue... Mantem essa energia positiva e a capacidade de fazer pontes lusófonas...
Um bom dia 25 de abril para ti e família. Mantenhas, Luís.
Rosinha, as mudanças de regime (ou de sistema ou de sociedade) são processos extremamente complexos, não têm uma só causa, ou fator desencadeante... Iremos continuar a procurar compreender e explicar o 25 de Abril, depois desta capicua dos 44 anos, que se celebra em 25 de abril de 2018... Muitos anos, dezenas de anos depois, se não mesmo centenas... Será que ainda hoje é consensual a "reconquista cristã aos mouros", nos séc. XII e XIII ?
Não concordo contigo sobre a data-ideal para o 25 de abril... Para mim, não era 1961, ou o golpe, palaciano, do gen Botelho Moniz, nem o terramoto político do gen Humberto Delgado, em 1958...
Para mim, a minha "utopia" era ter nascido, em 1947, num regime democrático, republicano... Mais uma vez, tal como em 1974, fomos vítimas da geopolítica, neste caso, do início da guerra fria... que dividiu, perigosamente, o mundo em dois blocos que poderiam ter-se destruídos pela guerra termo-nuclear... E tivemos à beira de...
Foi uma pena Portugal não ter apanhado o comboio do fim dos nazifascismos e do restabelecimento das democracias na Europa Ocidental.. A sobrevivência política de Salazar tornou-se anacrónica... e um pesadelo para a minha geração. Apos 14 anos, no 1º trimestre de 1961, eu tive a clara consciência, ou a terrívek premonição, de que a "tua" guerra de Angola iria sobrar também para mim... na Guiné, em 1969, aos 22 anos... Completei lá os 23 e os 24 anos... E levei mais cinco, até ao 25 de abril de 1074, a "arrumar# as ideias, os sentimentos, as vivências, as memórias... se é que alguma vez na vida ainda as vou arrumar...
Eu sou capaz de entender-te, Rosinha... Tu olhas para o 25 de abril como um "perdedor": és um "retornado", um "espoliado do Uktramar"...Foste vítima de terramoto com tsunami que destroçou a tua vida, matou o teu futuri... Mesmo assim, és um caso notável de sobrevivência, de luta contra a infelicidade, passaste pelo Brasil, pela Guiné... Felizmente estás vivo e lúcido... E. apesar de tudo, apesar de teres perdido a tua segunda pátria, Angola, tens esta comunidade de velhos tontos que te respeitam e acarinham, mesmo quando nem semore concordam contigo (nem têm que concordar)...
O mais bonito da Tabanca Grande é que não rezamos todos pelo mesmo missal e vamos a missas diferentes, os crentes e os não crentes... E todos vamos à missa... É pena não poderes ou não quereres ir à nossa próxima "missa" em Monte REal... Podías apanhar uma boleia... Onde é que moras ?Tem piada, não sei do teu paradeiro, e há anos que falo contigo, por email e nesta caixinha de comentários....
Queres que te arrange uma boleia, a partir de Lisboa ? Tu foste em 2007 ao nosso encontro em Pombal... Depois disso, "auto-exilaste-te"...
Fica bem. Luis
Quem nasceu em 1947, aí já eu tinha escrito a primeira data na escola em 1945.
Se Norton de Matos tem ganho as eleições, em 1949, inimigo de Salazar, mas também colonialista de coração e vocação, como seria?
Os velhos (muitos analfabetos) votavam onde lhe indicavam.
A mesa das eleições era na escola onde eu andava, e vi aquilo.
Norton de Matos desistiu à última hora, "dizia-se que por doença", mas se tem ganho, não ia desistir das colónias, com apoio de toda a maçonaria, antes pelo contrário, ia transferir além de transmontanos e açoreanos, mais meio país para colonatos em Angola e Moçambique.
Apreendi essa ideia em Angola.
Mas nesse tempo estava ainda tudo muito verde, para mim, o Estado Novo caiu quando tudo estava mais maduro, já não houve estragos aqui na metrópole.
Cada um com a sua ideia.
Luís, almoços prolongados já não combinam com indicações médicas há uns anitos para cá, uma das razões de não comparecer em Monte Real.
Habito temporariamente entre Alverca hoje, Torres Vedras amanhã, 50/50.
Um abraço
Amigos e camaradas-de-armas,
Quando aconteceu o 25 de Abril eu já estava em terras do Tio SAM. Confesso que eu e muitos outros ficámos extremamente apreensivos com a catalupa de acontecimentos que se seguiram e que nada auguravam de bom. Em Portugal, o nosso país, infelizmente ainda se confunde muito libertinagem com democracia.
O 25 de Abril e ou outra data qualquer teria sempre acontecido por si, sem qualquer revolução e sem cravos. A história mundial que se seguiu é bem mais acertiva que tudo o quanto possa escrever sobre este assunto.
Dito isso, julgo que é da mais elementar justiça saudar e respeitar aqueles que continuam a lutar pelos direitos fundamentais das pessoas. Todavia, nas denocracias pugentes os deveres dos cidadãos sobrepõem-se aos direitos. Para muitos isso ainda é um trilho muito difícil de ppercorrer.
Cumprimentos transatlânticos.
José Câmara
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